quinta-feira, 28 de maio de 2015

GUEST POST: TER FILHOS TRAZ FELICIDADE

A Marina me enviou este relato pra contestar um post antigo que escrevi:

Li o texto que você escreveu, "Mentiram para mim: ter filhos não traz felicidade" e gostaria de te escrever o que penso, baseado na minha experiência de vida.
Quando eu era mocinha (hoje tenho 32 anos), eu não gostava de pensar muito em casamento e nem em filhos, era a que dizia que casaria mais tarde da turma, e a única que dizia que teria apenas um filho.
Por fim eu engravidei do meu primeiro namorado, fui a primeira a casar e a primeira a ser mãe. E para uma menina que teve seu primeiro namorado aos 17 anos, isso foi um choque para toda a família.
Eu contei para minha mãe, que contou para meu pai, que ficou dois meses sem falar comigo, mas depois me perdoou. Aguentei frases ofensivas da minha mãe até completar três meses de gestação e casar.
Morei um ano e meio de aluguel, e depois me mudei para uma casinha, no quintal da minha sogra, "um presente de casamento para o jovem casal". Eu e meu marido éramos universitários quando eu engravidei, eu cursava o terceiro semestre de Fisioterapia e tinha acabado de pedir as contas do meu primeiro emprego (operava telemarketing). 
Meu então namorado casou comigo, e assumiu de cara uma garota da mesma idade que ele, universitária, desempregada e grávida. Ele saía de casa as 6 e pouco e só voltava depois da meia noite. E por assim foi a rotina por seis anos. 
Eu estudei até o oitavo mês de gestação e emendei férias com o parto, depois passei um semestre em casa e depois voltei normalmente aos estudos.
Me tornei uma aluna muito melhor depois da maternidade, de medíocre para a segunda melhor da sala, uma sala de jovens solteiros e bem providos financeiramente pelos pais. E eu pobre, dona de casa e mãe de bebê, e superei a todos nos resultados acadêmicos.
Consegui isso me amparando em toda ajuda que podia, de mãe, sogra a babá, tia, vizinha, etc. E da mesma forma que me formei, dei continuidade a tudo que gostava de fazer antes. Sair com o marido, cinema, sair com as amigas. Eu não me limitei e nem me restringi. Eu era jovem e não tinha vergonha de pedir favor para as avós. 
Foi difícil, hoje eu sei, mas eu me surpreendo ao perceber de como fiz parecer fácil.
Eu amei minha filha no momento que descobri que estava grávida. Ia e voltava de ônibus para a faculdade, carregando muitos livros, e achava fácil, ia em pé, ninguém me dava lugar.
Ser mãe foi uma experiência fantástica. Se os filhos trazem felicidade, sim trazem sim, e trazem também muitas contas, dívidas e preocupações. O que posso te dizer é que compensa. Mas por que compensa? Como explicar isso?
Caso você já tenha tido um filho, você já descobriu, mas caso não tenha tido eu vou tentar te explicar. Quando a gente tem um filho, a gente passa a amar outro ser, mais do que a gente ama a nós mesmos. O sentido da vida muda. Eu me tornei uma aluna melhor porque comecei a levar a sério a faculdade, pois vi nela uma forma de conseguir melhorar a minha vida financeira e desta forma dar uma qualidade de vida melhor para minha filha, que ainda não tinha nem nascido.
Depois que a gente passa a amar tanto um ser assim, a vida muda, mas a gente pode ser e manter coisas que fazíamos antes, tudo dependerá do apoio que recebemos e se estamos dispostos a aguentar certas coisas. É um jogo de ganhos e trocas. De escolhas.
Eu levei dez anos para ter outro filho, um menino, e nesta segunda gestação tudo foi diferente. Nesta eu planejei, nesta eu estava 10 anos mais velha, e nesta eu já tinha perdido a prática de cuidar de bebê e de tudo que temos que abrir mão quando temos um filho pequeno. 
Meu filho nasceu com refluxo, teve terror noturno e tem até hoje dermatite atópica, e com eles as coisas foram diferentes. Eu me limitei muito. Mas volto a falar, é um ser que a gente ama mais do que amamos a nós mesmos, então como imaginar nossa vida sem eles? Só enquanto a gente não os tem, depois que temos não tem volta, e não queremos que tenha. 
Os filhos em si trazem felicidade. Agora, se ser mãe torna a nossa vida mais feliz, vendo por um contexto mais complexo, eu não sei te dizer, se completa algo, também não saberia dizer, pois não tive tempo de sentir esta sensação de que falta alguma coisa como alguns casais sem filhos falam. 
Agora uma coisa eu sei, a natureza chama, acho que tudo isso é instinto. Instinto de perpetuação da espécie. Ele que gera este imenso amor, sensação de que vale a pena apesar de todas as dificuldades, e de que no final o percurso compensa.
Sendo mais fria e calculista, os filhos precisam se virar e cuidar dos pais quanto estes ficam velhos. 
Minha mãe juntamente com os dois irmãos estão fazendo "vaquinha" para pagar a clínica que minha avó reside. O mesmo ocorreu com o meu pai: ele e o irmão pagavam uma clínica para minha avó residir. E a avó do meu marido é idosa, mora sozinha, e os filhos revezam as visitas para que ela não fique só e tenha tudo que precisa, pois seu marido já faleceu. 
Filhos, quando crianças e adolescentes, trazem muitos gastos financeiramente falando. Mas no futuro eles entram com o retorno, a ajuda que os pais precisam, nem que seja de amor e carinho ou atenção. Mas em algum momento precisarão entrar com algum tipo de suporte, pois todo mundo envelhece e nem todo mundo tem o privilégio de viver são e independente até o último suspiro.
Ter filhos é uma experiência única, incrível, difícil, compensador. Ver os filhos crescendo, se desenvolvendo, não tem preço que pague. Mas quem fala que tudo são flores está mentindo.
Tem muitos casais que não estão bem e resolvem ter filhos, com toda certeza não dará certo, pois vários desafios serão acrescentados na vida de um casal que já não estava bem. Mas um casal que está firme e forte, e de repente sente que a hora chegou, acho que pode ser uma experiência muito positiva e que acrescentará.
Bom, desculpe o livro, espero que você tenha gostado.
Cada um escolhe se quer ter filhos ou não, e não sei o quanto isso irá acrescentar ou subtrair na vida de cada um, e nem se trará felicidade.

Meus comentários: Marina, continuo convicta na minha decisão de não ter filhos. Agora estou velhinha, vou fazer 48 anos, então mesmo que eu quisesse, não poderia mais. Mas não quero, nunca quis, e não me arrependo nem um pouco. Não acredito em instinto materno. Eu tive muita sorte. Decidi cedo que não teria filhos, encontrei um homem lindo com o mesmo desejo que eu, e conseguimos não engravidar. 
Não temos medo do futuro. A vantagem de não ter filhos é que se economiza bastante. Com esse dinheiro poupado, poderemos nos manter na velhice e na doença, espero (infelizmente, filho não é garantia que alguém cuidará da gente mais pra frente. Há inúmeros casos em que os filhos não ajudam). 
Acredito sim que filhos podem trazer felicidade. Meu post de cinco anos atrás foi mais uma provocação, baseado num artigo interessante cheio de dados que desmentiam o clichê de que ter filhos é uma maravilha. Você sofreu bastante preconceito por ter engravidado cedo e sem planejamento. Eu, como uma mulher que não tem filhos, sofri pressão constante para tê-los. Pressão que meu marido, por ser homem, não sofreu. 
E a pressão se dá através do senso comum de que eu sou uma mulher incompleta e infeliz por não ter cumprido minha missão na vida, minha plenitude como mulher. Balela. Eu me sinto muito completa e feliz. Conheço várias mães e pais incríveis, e as admiro pelo amor incondicional que dedicam aos rebentos. Mas essa não foi minha escolha. E eu tive o privilégio de poder escolher.

228 comentários:

«Mais antigas   ‹Antigas   201 – 228 de 228
Ci disse...

Concordo contigo. Não é todas as mães que tem uma experiência legal assim.
Experiências, são únicas.

Anônimo disse...

Mas isso não é regra, traz felicidade para quem se sente feliz com os filhos. Eu vejo minha vida e meus sonhos se desmoronando quando penso em casamento em filhos.
E essa história de que depois os filhos dão retorno para os pais quando crescem...acho melhor não esperar por isso. Todos conhecemos exemplos de que não funciona bem assim. Tenha consciência de que são outras pessoas. Eles podem não ligar para nada do que vc fez e te deixarem sozinha...

Anônimo disse...

Natália Van den Eynde
É o que vejo tmbm, gente que sempre foi amarga e que depois dos filhos só fez piorar, gente que não conseguia administrar as finanças desde sempre mas acham que são os filhos que consomem todo o dinheiro, enfim N possibilidades de botar a culpa nos filhos, mas botar a mão na consciência nem pensar.
Gente falando das maravilhas da liberdade da vida sem filhos, mas quando vc vai ver a vida da pessoa de perto não é essa série americana linda não.
Um casal muito próximo da minha família teve 2 filhos um seguido do outro e sabe porque? Porque eles acreditaram naquela de que desde que ela estivesse amamentando não teria perigo engravidar kkk (as chances die a vida sexual deles continuo tão bem obrigada depois do filho que logo veio outro kkkkkkkkkkkk, no começo foi um baita sustão para eles claro, mas hoje os meninos estão maiorzinhos e eles acham o máximo a idade próxima pois os dois são bem companheiros. Virou meio que piada entre os familiares e amigos esta história de que a vida sexual morre depois dos filhos, esse casal é sempre lembrado kkk, sei que não é assim com todo mundo, e não há problema nisso, mas as vezes cria-se muitas paranoias e depois o casal percebe que levando as coisas com naturalidade é muito mais fácil.

Soraia

Juba disse...

Natália, 3x por dia é lá nos 20, onde a quantidade ainda supera a qualidade e temos mais tempo livre... Sim, há uma fase em que sexo é a décima prioridade, e tem casais que ficam bem assim, outros não. Pessoalmente, sempre me surpreendo com casais que engravidam novamente depois de 4 meses do nascimento do bebê, nessa fase não tínhamos pique para isso não. Depois, sim, claro.

O fato é que não dura para sempre, nem dura 20 anos, a menos que um dos dois já estivesse muito insatisfeito antes e acabe usando a situação para não ter de retomar a vida sexual.

Sobre o post, acho super legal que a autora tenha tido uma rede de apoio de tal porte. Se todas pudéssemos ter, seria ótimo. Aqui não tivemos tanta ajuda, mas houve maior participação masculina. A única coisa que dependia exclusivamente de mim era amamentar, para todo o resto o pai teve e tem total iniciativa. O avô ajudou de outras formas, o senhor vizinho também nos socorreu algumas vezes. Eu me limitei sim, e em parte por escolha, para viver plenamente, mergulhar no universo da maternidade. Só que essa limitação também só dura para sempre se você quiser. Cada fase é muito diferente da outra. Com o primeiro filho a gente pira algumas vezes, porque não tem essa perspectiva.

Sobre creches... Já trabalhei em uma creche pública e tem muitas coisas boas, mas as ruins eram de horrorizar. Só colocaria em extrema necessidade. Sou privilegiada por poder fazer essa escolha, eu sei. Sei também que creches públicas, de qualidade, são uma necessidade gritante.

Anônimo disse...

Juba

Esse casal que falei engravidou do segundo quando o primeiro tinha uns 7 meses, mas tmbm não acho que eles viviam fazendo sexo umas 4 vezes por dia kkkkk só acho importante desmistificar o pânico que se criou sobre o ter filhos.
Achei o máximo vc falar de homens participando mais, muito legal mesmo.

Soraia

Anônimo disse...


a) Tenho 37 anos sou professora e afirmo muitas mulheres não nascem para ser mãe eu vejo no meu trabalho, vejo mulheres que não trabalham fora e educam mal, os filhos são extremamentes problemáticos e vejo mulheres que levam a dupla jornada e os filhos muito educados.

b) Jamais pensei em ser mãe priorizei faculdade e trabalho mas agora estou apaixonada e quero formar uma família e sinto- me pronta.

c) Uma coisa não aceito mulheres que não tem filhos maltratam as mulheres que são mães, eu sinto um tom de ironia em alguns textos, como se filhos fossem sinônimos de infelicidade, gente o feminismo é o direito de escolha da mulher, se ela quiser ser mãe ela tem este direito. Eu sinto uma guerra nos locais de trabalho entre as mulheres com filhos x sem filhos, vamos nos respeitar

Anônimo disse...

Vocês que vivem falando mal da maternidade, nunca leram o ótimo blog da Lygia? Ela é feminista, mãe e uma pessoa culta:

http://www.cientistaqueviroumae.com.br

Hamanndah disse...

Anônimo das 11:08 com problemas de interpretação de texto: ninguem aqui é contra a maternidade e, sim, contra ser obrigada a ser mãe(Eu sou contra o aborto, o que não quer dizer que sou contra a mulher que nao quer ter filhos doá-lo para adoção). Entendeu, ou quer que eu desenhe?

Anônimo disse...

Eu sou o anônimo das 11:08. Hamandah, você tem certeza que leu os mesmos comentários que eu?

"E tem mais uma coisa: fazer um filho é o maior crime que você pode cometer. Você está condenando um ser à mortalidade, à dor da consciência humana. Seu filho não pediu pra nascer. Você foi egoísta e condenou ele a uma existência de dor. (...)"

"Também acho o ato de ter filhos biológicos uma das coisas mais egoístas. Condenar um ser inocente a viver nesse mundo violento e injusto só pelo capricho de ver seu rosto em outra pessoa."

"A coisa que mais tira poder de uma mulher na sociedade patriarcal é ter filhos. O oposto do empoderamento."

"Escolhi pra transar. Filho foi fatalidade, burrice e ingenuidade (no meu caso)."

"A mulher realmente inteligente e esclarecida não procria. Não em uma sociedade de merda como a nossa, não correndo o risco de colocar uma filha mulher pra dar continuidade ao sofrimento."

Está bom, ou você ainda acha que ninguém nesses comentários está condenando a maternidade?

Raquel Matos disse...

Pelo que que vejo aqui, mulher só pode ser feminista se não quiser ter filhos ou, se já os tem, não gostar de ser mãe.
Engravidei sem planejar, mantive a gestação, amo minha filha e adoro ser mãe. Simplesmente curto estar com a minha filha.
Tenho muitos problemas, mas tudo na vida tem seu lado bom e o ruim.
Ah, e filho não me impediu de viajar. Conheci vários países com a minha filhota nos braços. Me odeiem.

Raquel Matos disse...

Feminismo é defender a escolha da mulher....
Desde que esta escolha não seja parir.

lola aronovich disse...

Pelamor, Raquel e outras pessoas que disseram que o feminismo é contra a maternidade. Não tem nada disso. A maior parte das feministas não acredita em instinto materno, isso é fato. Elizabeth Badinter já mostrou que isso não existe. Mas reconhecer que "amor de mãe" é algo construído, não natural, não é ser contra a maternidade. Eu sou contra a maternidade compulsória, a maternidade como obrigação para que uma mulher seja considerada completa, íntegra, realizada. A maternidade como missão na Terra, sabem? Só isso. Eu não quis a maternidade pra mim, mas acho lindo e ótimo quem faz essa escolha. Em março eu, com muito orgulho, dei uma longa palestra numa ONG sobre Parto Humanizado, em Maceió, falando das muitas ligações entre ativismo materno e feminismo, dizendo que são lutas que caminham juntas.
Mas este post em si é uma resposta à carta da leitora, que está (pelo menos parcialmente) reproduzida acima. Não acho que fiquei na defensiva nem nada. A leitora não seguia meu blog, não sabia que eu não era mãe, e eu respondi que não era. Ela ainda me mandou um outro email depois da minha resposta, tudo numa boa. Tem gente que tá vendo animosidade onde não existe.

Carol A. disse...

As pessoas se esquecem de algo óbvio: Filhos não serão crianças e dependentes dos pais pra sempre. São pessoas únicas e complexas e podem ou não ter afinidade com seus pais. Vão crescer, ser independentes e ter opinião própria (nem sempre igual a da familia). Pois é, em toda discussão sobre maternidade/paternidade nos esquecemos disso e ligamos logo a palavra "filhos" a crianças (no máximo adolescentes). Será que esse romantismo todo vai continuar quando não se tem mais controle sobre a vida dos filhos? Basta olharmos pra nossos pais e saberemos a resposta.

Anônimo disse...

Sou uma mulher privilegiadíssima em inúmeras esferas, mãe de 4 pestinhas planejados, amo meus filhos mas concordo que, a menos que você viva em um contexto muito beneficiado financeira e socialmente, ter filhos pode ser sim um ato de imenso desempoderamento feminino. É muito difícil criar filho sozinha, eu com maridaço super presente, empregadas, babás, podendo não trabalhar fora, morando muito bem e vivendo melhor ainda já acho complicadíssimo educar um ser humano para a sociedade (que dirá 4 então) agora imagine fazer tudo isso sem uma grande rede de apoio. Que é, aliás, a realidade de grande parte das mulheres brasileiras.

Há muito que não exerço a profissão de psicoterapeuta (pelo menos formalmente) mas naquele tempo, atendi várias mulheres que casaram com o príncipe encantado que virou um sapo logo após o nascimento da criança. Quem tem filhos e é casado sabe o estrago que um recém-nascido pode fazer em um casamento. Tá cheio de homem que não entende isso, que se enciúma, que se julga desprezado basicamente porque sente que perdeu a esposa para o bebê - e convenhamos, durante um bom período perde mesmo. Fora que de fato existe uma cobrança social para a mãe ficar "louca" pelo bebê e nenhum extremo é pequeno demais, é vangloriado inclusive que uma mãe faça qualquer sacrifício ou melhor ainda, todos os sacrifícios e muitas mulheres abraçam essa ideia. Essa abnegação somada à incompreensão masculina geralmente custa-lhes o casamento, e aí a pessoa se transforma em uma mulher só tendo que esmolar "do pai dos seus filhos" o mínimo que é de direito e, normalmente, é só o mínimo que fazem.

Eu ri quando alguém aqui falou que "é só saber escolher bem o marido". Ri mesmo. Sabe tão, tão, tão pouco da vida...

Essa realidade independe de dinheiro ou classe social, isso eu posso falar com propriedade. O que não falta é homem rico que não paga pensão.

Agora, tem a realidade que depende de dinheiro sim. Qual é o empoderamento social que mulher tem se ela:

- teve uma gravidez não planejada
- se indesejada, não teve oportunidade de fazer aborto seguro e legalizado
- não consegue vaga em creche
- tem oportunidades de emprego reduzidas por estar em idade fértil ou já ter filhos
- é obrigada a ficar em um emprego que odeia basicamente para não deixar os filhos passarem fome, além dela própria
- é abandonada pelo pai da(s) criança(s)
- não pode contar com babás, empregadas, sogras e mães para cuidar do filho enquanto está trabalhando
- gasta sabe-se lá quantas horas em deslocamento do trabalho para casa e chegando lá, tem absolutamente tudo para fazer (dupla jornada)

Digam-me, como sinceridade, que mal há em reconhecer que a vida não é maravilhosa para todo mundo? Por que isso precisa ser um tabu?

O ideal é que TODAS mães, de qualquer nível econômico e social pudessem ter apoio antes mesmo da gestação acontecer, com educação e planejamento e que nenhuma criança fosse sacrificada pelos aspectos econômicos e mercadológicos que levam seus pais na corrente da empregabilidade. Essa é uma luta importante, perfeitamente possível de ser vencida. Porém, o que impede de se discutir essa questão de desempoderamento sobre as mulheres já que ser mãe implica cobranças imensas que aos homens simplesmente não existem? Se duas pessoas fazem um bebê, por que só uma delas tem que ser a santa abnegada que não come enquanto o bebê não come, que acha lindo sofrer e que padece no paraíso com o avental cheio de ovo?

Diferenças no tratamento social dos gêneros deixou de ser objeto de análise do feminismo desde quando?

A única utilidade de um tabu é ser quebrado.

(Desculpem eventuais erros de digitação)

DeniseM disse...

Bate aqui, irmãzinha! HAHAHAHAH!

Belle disse...

Sobre Precisamos falar sobre o Kevin, não acho que existe um clichê de que gravidez não desejada resulta em maus filhos (ou filhos maus). Para mim a mensagem é de que você simplesmente não sabe o que ou quem vai ser aquele ser humano que é outro, não é você. Claro que uma boa criação diminui as chances de algo "ruim" acontecer, mas o que é uma boa criação? Largar o emprego, se anular para ficar dentro de casa dando toda atenção do mundo ou se sentir culpada por deixar o filho na creche?

Parece que qualquer esforço que a mãe faça depois vai ser usado contra ela... (no caso do Kevin, literalmente). Então o que ficou marcado pra mim do filme e do livro é: a escolha em última instância tem que ser da mulher e genuína, não por pressão social ou tédio ou porque o marido quer... A mulher é quem arca no fim das contas com o ser humano que o filho se torna, mas o filho não é ela própria...

Então assim, ficou na minha cabeça ao ler/ assistir que se você tem dúvida de ser ou não mãe, é melhor pesar bastante também os lados extremamente ruins que podem existir (tipo seu filho ser um psicopata assassino ou você não amar a pessoa que ele é...) porque geralmente a sociedade só te ensina o que é bom ou trata o que é ruim como se fosse "fofinho"... E essa decisão também deveria nos estar disponível quando engravidamos por acidente por meio do aborto...

Anônimo disse...

nao consegui ler todos os comentários, mas como o post e alguns dos comentários tratam de temas muito próximos da realidade resolvi falar um pouco.
sou feminista há muito tempo e mãe de um menino há um ano e três meses. meu marido ganhou bolsa do governo pra estudar quatro anos na Inglaterra, vim com ele e tive meu filho aqui. meu marido não "ajuda" com o bebê. ele faz a parte dele. não tivemos rede de apoio porque conversamos e sabendo como as pessoas pensam preferimos ficar só nós dois mesmo e fazer as coisas do nosso jeito. ele trocou todas as fraldas do nosso filho no mês que ficou em casa e todas as fraldas quando estava em casa depois disso. ele deu o primeiro banho do bebê e todos os seguintes, mesmo pessoal falando que homem não tem jeito. ele coloca o bebê pra dormir desde o desmame noturno (e nós 3 fizemos o desmame juntos). noite adentro quando é preciso. eu viajei, ele ficou em casa. eu vou começar a estudar em outra cidade por alguns dias da semana, a criança vai ficar com o pai e com a creche. que escolhemos, dentre vários motivos, porque contrata também funcionários homens.
e eu devo ser uma das piores mães do mundo porque nunca entendi todo esse blá blá blá de maior amor do mundo. eu amo meu filho muito, demais, mas como eu amo muito demais minha avó que já morreu, minha mãe, minha irmã, meu marido. amores completamente diferentes uns dos outros; todos enormes. e perder minha vó foi o que me fez querer ter meu filho: eu precisava de mais família. o que eu acho mais único é que ser mãe ou pai é uma experiência muito única. não consigo comparar com nada que já tenha vivido. e faz parte da sua identidade. é que nem, sei lá, ser ou não casada; ser professora ou dentista. se a pessoa não foi, dá para imaginar como é, mas não dá pra saber de fato sem ter passado por esse tipo de experiência.
e não abro mão de coisas que eu considero centrais na minha vida "pra" ele. acho isso colocar o maior peso nas costas da pobre criança. "não fiz isso por causa de você!". se abro mão de alguma coisa é por mim, é escolha minha, é porque isso me faz mais feliz mesmo que seja de forma indireta (porque faz bem pra ele eu fico feliz, mas o centro e sujeito continua sendo eu). e tenho certeza de que ter uma vida própria e lutar pelo seus sonhos te torna uma pessoa que teu filho vai admirar e amar. ou pelo menos odiar de forma diferente na adolescência.
maior problema do feminismo nesse tema de maternidade, na minha opinião, já foi apontado por betty friedan: maioria das mulheres tem filhos, vamos tratar disso dentro do feminismo. senão acontece o que está acontecendo hoje em dia: um forte movimento de mulheres-mães que pouco se identificam como feministas e idolatram um pediatra que fala que elas vão traumatizar a criança pra sempre se elas, e só elas como mães, não ficarem ao menos 2 anos grudadas no infante. bleh.
e li "we need to talk about kevin" e vi o filme. livro bem melhor que o filme. acho que nem a Eva nem o pai dele eram os pais que o kevin precisava. provavelmente ele já nasceu com algum tipo de distúrbio psíquico porque ninguém comum coloca (spoiler) ácido no olho de uma criança e ele não sofreu severos abusos que justificassem isso, mas eles também não ajudaram muito a identificar, tratar e acolher uma criança como ele. mas ótima reflexão sobre a maternidade (o foco da história é na mãe). eu morria de ódio dos adultos enquanto lia. porque uma criança não pode fazer muito pra se ajudar, pode?

Raven Deschain disse...

Credo. Ngm falou que pra ter voz precisa ser infeliz.

É só que é fácil ser feliz estando em uma posição privilegiada.

E se vcs querem contestar isso, bom... Talvez seja hora de reverem os próprios privilégios.

E ow anon babaca chupador de rola! A parte de que eu amo meu filho mas a gravidez foi acidente, vc convenientemente não leu neh?

Anônimo disse...

"Quando eu era mais nova acreditava que nessa idade mais ou menos eu já teria vontade de ter filhos, estaria com a carreira encaminhada, etc. A vida, entretanto, nos surpreende muito. Além da minha carreira ainda não ter engrenado, hoje eu tenho certeza de que não quero filhos de jeito nenhum. E quanto mais convivo com casais que os têm, menos vontade eu tenho"

História da minha vida.

E o DESEJO de ter filhos nada mais é que PRESSÃO DA SOCIEDADE.
Aprendi isso com a vida também.

Anônimo disse...

Também sou mãe, de gêmeos de um ano e meio. Cuido deles com muita felicidade. Dá trabalho? Óbvio. Tenho algumas restrições? Óbvio. Mas não troco a presença dos meus filhos por nada. Esse terrorismo com as mães, essa coisa de "ah, no futuro vc vai ver", é bem babaca. Só fica mais fácil.
E essa coisa de dizer que a maternidade não traz felicidade plena é outra idiotice. Carreira traz? Casamento traz? Viagem traz? Nada traz felicidade plena. Colocar expectativas assim em alguém ou alguma coisa é bem frustrante.
Enfim, concordo com a Maria Fernanda.
Mari

Anônimo disse...

Isso! Perfeito!

Anônimo disse...

A maternidade foi boa pq ela foi privilegiada ,não tem comparação com a minha história ou de varias outras por ai.
Sou mae amo muito meu filho, mas se eu pudesse voltar no tempo jamais teria engravidado,e Definitivamente não espero q ele seja meu seguro previdência.

Anônimo disse...

Gente parem de exagerar. Não tem ninguem com arma na cabeca de vcs pra forcarem a ter filhos, a autora só compartilhou a experiência dela, só pq vcs preferem posts de como ser mãe destruiu a minha vida não significa que todas se setem assim.
algumas pessoas não deveriam ter filhos e não querem, sabe o melhor ? Ninguem estâ forcando então parem de inventar motibos pra dramatizar e vamos lutar por coisas reais, como forcar a mudanca de leis fracas.
se esse movimento parasse de mimimi iria lonje
camila

Anônimo disse...

Eu nao quero nunca amar alguem mais do que eu amo a mim mesma. Se nem EU me amar acima de tudo, quem amara? E se um dia eu ficar contra essa pessoa que eu amo mais que a mim mesma? ou vice-versa? Quem escolher? Eu escolherei EU. Odeio essa ideia estupida de "abrir mao de si mesmo", como se fazer sacrificios em prol dos outros te tornasse mais nobre. Encho o peito pra dizer: EU ME AMO ACIMA DE TUDO E FAREI TUDO POR MIM MESMA, antes que ninguem faça nada por mim, afinal, estarao me fazendo mais bem ao fazer bem a si mesmos, pois eu mesma os amo mais....

Anônimo disse...

Muitíssimo melhor do que ser mãe é ser avó.

Anônimo disse...

Raven, MUTIA gente ficou falando "ah, mas é sim facil, pois ela é privilegiada". E DAI? Ela não está falando que não é privilegiada, mas sim que gosta. Quem dise que ela não é priviligiada?

Veja a anonima das 02:05, loogo abaixo d evocê: "A maternidade foi boa pq ela foi privilegiada ,não tem comparação com a minha história ou de varias outras por ai."


veio desqualificar o relato da moça porque ela é privilegiada. Como tantas outras. PArece que ser privilegiada é pecado. Não pode. Senão tudo o que você disser é "sim, mas é facil porque você é privilegiada. não pensa nas irmãs que não estão na sua posição."

Parece aquela historia: nao posso falar de gravidez para não ofender quem não tem utero. Agora não posso falar que sou feliz sendo mae porque "pra você é facil, queria ver se....".

yara

Maria Fernanda Lamim disse...

Gente, nao e questao de quem e "mais" ou "menos" oprimida. senao vira Olimpiadas da Opressao, como a Lola muito bem colocou uma vez. e eu nao disse que o feminismo e "contra " a maternidade, disse que ele nao acolhe como deveria as mulheres maes.

e outra: afirmar que "a maternidade desempodera a mulher" me lembra um pouco o classico "saia curta causa estupro". quem ta errado, a mulher em se tornar mae ou a sociedade em nao respeita-la e reconhecer suas demandas? e isso que eu falo que e um tiro no pe....

Unknown disse...

Boa tarde!
Meu nome é Juliana, tenho 24 anos, noiva!
Meu noivo já tem duas filhas, e nenhuma foi da vontade dele, eu não tenho filhos e não quero, simplesmente não quero. Sou completa, me amo, nos amamos e não vejo como um filho poderia melhorar minha vida.
Quando me perguntam qual o motivo pelos quais não quero ter filho, cito todos esses que falei.
Mas as pessoas não respeitam nossa decisão, nos enchem de perguntas, acusações, nos olham torto e muitos se afastaram de nós. Isso dói! Sou mulher e dona do meu corpo, meu noivo me ama e vive essa decisão junto comigo. Na minha família as pessoas não aceitam minha decisão. Li seu texto e me senti tão amada. Obrigada!

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