segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O FEMINISMO, FIRME E FORTE, NÃO PRECISA DE NOVIDADES

Eu entre a meninada na Marcha das Vadias de Recife

Uma leitora me avisou no Twitter que saiu a revista especial "Fatores de Mudança", projeto entre os jornais O Tempo e O New York Times, através da Sempre Editora. Eu enviei o artigo abaixo há umas três semanas. Como a revista circula apenas entre assinantes, publico meu artigo aqui.

Em agosto deste ano, a versão brasileira da revista Elle colocou em sua capa: “O novo feminismo: Girl power. Sucesso, liberdade, e louboutins. Sim, podemos tudo!” Eu até fiquei um pouco preocupada: posso continuar me dizendo feminista mesmo sem ter a mais remota ideia do que sejam louboutins?
Em novembro, foi a vez da Cosmopolitan inglesa estampar na capa: “O novo feminismo: Você faria topless para conseguir um aumento?” A matéria em si falava pouco de estratégias para melhorar o  salário, e mais do grupo ucraniano Femen, que sequer se intitula feminista (prefere sextremista, seja lá o que seja isso). 
Também em novembro, a Capricho publicou uma matéria chamada “O girlpower está na moda! Veja as famosas que defendem o movimento”, destacando 17 celebridades que se definem feministas, entre elas Anitta, Miley Cyrus e Preta Gil. A Capricho deve ter sentido na pele o quanto o feminismo está na moda. Em agosto, o site da revista postou um artigo sobre as diferenças entre “menina pra namorar e menina pra ficar”, e foi bombardeado por críticas de garotas revoltadas com o machismo ultrapassado do post.
E agora o jornal O Tempo, em parceria com o New York Times, me pediu para escrever sobre neofeminismo. Logo eu, que de nova não tenho nada (estou com 46 anos)! Logo eu, que nem sei o que é um louboutin!
Repare que nenhuma das publicações citadas se referiu ao bom e velho feminismo, aquele que vem sendo vilipendiado pela reação conservadora desde os anos 80. Aquele, você sabe, de mulheres bigodudas com sovaco peludo e que odeiam homens. Pelo jeito, o neofeminismo é mais jovem, mais consumista. Pena que ninguém saiba ao certo o que é esse tal de neofeminsmo.
Para algumas pessoas, neofeminismo é feminismo essencialista, ou seja, uma celebração da essência feminina (que, imagino, inclui amar sapato de salto alto). Para outras, neofeminismo não é muito diferente da terceira onda do feminismo. Aliás, nem há consenso se o feminismo está atualmente na sua terceira ou quarta onda, ou se já passamos dessa fase e agora estamos no pós-feminismo (eu concordo com a escritora canadense Margaret Atwood, que já nos anos 70 dizia: “os objetivos do movimento feminista não foram alcançados, e aqueles que dizem que estamos vivendo numa era pós-feminista estão tristemente enganados ou cansados de pensar no assunto”). 
Para Hilary Radner, autora do livro Cinema Neo-Feminista, o neofeminismo não é tão novo assim: ele cresceu junto com o da segunda onda. Enquanto o feminismo da segunda onda defendia a intervenção estatal, o neofeminismo seria mais aliado a escolhas individuais, ao neoliberalismo e à cultura do consumo. Daí o fascínio por sapatos, suponho.
Não vejo o feminismo sem prefixos ou sufixos com o filme tão queimado que precisemos de um neo ou pós-feminismo pra chamar de meu. 
Uma ampla pesquisa da Fundação Perseu Abramo de 2010 constatou que apenas uma em cada cinco brasileiras têm uma percepção negativa do feminismo. Imagine só, mesmo com toda a propaganda anti-feminista feita há décadas sem trégua! 31% das brasileiras se assumem feministas. E isso que a pesquisa eliminou respostas erradas, de quem pensou ter ouvido “Você é feminina?” e respondeu: “Claro! Adoro fazer as unhas!” Um terço das brasileiras se ver como parte da luta contra opressões não está nada mau.
Não entendo muito bem as mulheres que não se assumem feministas por acharem que o termo tem uma conotação negativa, como se devêssemos nos deixar definir pelos nossos inimigos. Além do pessoal que pensa em feministas como ogras mal-amadas, há também aqueles que acham que o feminismo é o oposto do machismo. Não é: feminismo é um movimento revolucionário que visa mudar o mundo; machismo é o status quo, o senso comum, o que está aí. 
Não é necessário fazer qualquer esforço para ser machista num sistema ainda muito machista -– basta respirar. Já para ser feminista, é preciso lutar. 
Em primeiro lugar, lutar contra nós mesmas, que também fomos educadas num sistema machista, e portanto internalizamos preconceitos. Concordo muito com a afro-americana bell hooks, que diz que feminismo não é a luta pela igualdade (afinal, queremos ser iguais a que homens?), e sim uma luta contra todas as opressões, incluindo aí as raciais e econômicas. 
E em 2013 lutamos muito. Em fevereiro, várias feministas foram até à cidade baiana de Ruy Barbosa exigir justiça no julgamento dos integrantes da banda New Hit, que em agosto de 2012 estupraram duas adolescentes dentro do ônibus do grupo. O momento mais emocionante das manifestações foi quando as ativistas leram a carta pública das vítimas, agradecendo as feministas por lutarem junto com elas. O julgamento foi adiado para setembro, e novamente grupos feministas se fizeram presentes. 
Em março, a escolha de um parlamentar retrógrado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias fez com que feministas se juntassem a outros ativistas dos direitos humanos e protestassem incansavelmente, infelizmente sem resultado, pois não conseguimos destituir Marco Feliciano. 
Começando em maio, muitas capitais promoveram já sua terceira edição da Marcha das Vadias, um protesto jovem que se consolida por sua irreverência. Para cidades menores, foi a primeira marcha. 
Em junho o Brasil inteiro saiu às ruas, e claro que as feministas não ficaram de fora. Dureza foi ter que ouvir que “o gigante acordou”. As feministas nunca tinham dormido. 
No mesmo mês, feministas também organizaram várias passeatas contra o Estatuto do Nascituro, uma ameaça real que visa acabar com qualquer tentativa de legalizar o aborto no Brasil. O que grupos religiosos querem é proibir o aborto em todos os casos
Em agosto, o encontro internacional da Marcha Mundial das Mulheres reuniu em São Paulo 1,600 mulheres vindas de 40 países. Em outubro foi a vez do Movimento Mulheres em Luta juntar 2,000 ativistas em Sarzedo, MG, para seu primeiro encontro nacional.
E isso que estou falando só no Brasil, e devo estar me esquecendo de dezenas de outras manifestações feministas. Sim, feministas. Nenhum desses protestos se intitulou neofeminista. Porque não precisa. 
Eu me assumo feminista desde meus oito anos de idade, quando descobri o discurso que homem é superior à mulher, e o recusei. Quase quarenta anos depois, continuo me considerando feminista -– sem nenhum prefixo ou sufixo, porque a palavra feminismo em si já me define. Não me considero uma feminista radical, feminista liberal, feminista marxista, ecofeminista, pós-feminista, transfeminista, neofeminista, feminista reformista, e tantas outras nomenclaturas, embora eu concorde com vários pontos de todas elas, e discorde de mais um bocado. 
A cada dia há mais meninas descobrindo o feminismo. E só porque elas são novas não quer dizer que devemos dar um novo nome ao feminismo que exercem. Acho que precisamos de um rótulo que nos identifique e nos una, sem que esse rótulo gigantesco, o feminismo, cale os outros feminismos com afixos. Porque há espaço para todos os feminismos. O feminismo continua sendo um movimento plural, cheio de correntes. Mas isso não é novidade. 

67 comentários:

Marilia disse...

Lola, o que você acha das RadFems? Concordo que há espaço para todos os feminismos, e que principalmente não vivemos uma era "pós feminista", onde o mesmo não seja mais necessário. Mas me parece tão errado negar às mulheres trans o feminismo (como as radfems querem).. Se você já tiver escrito algo sobre isso, me desculpe voltar ao assunto :P

Beijos de uma leitora que te admira!

B. disse...

Muito bom o texto, mas queria fazer três comentários (minha opinião):

* Celebridades se dizendo feministas. Calmaí né minha gente! A Valesca Popozuda, que algumas feministas tanto amam, vcs já pararam pra prestar atenção nas letras dela. ("Tu é empregadinha, lava passa e cozinha, mas a p*** dele é minha") e por aí vai. Não basta se dizer feminista, tem que SER. Muita gente tb diz que Sex and the City é feminista...Não sei aonde...

* A pesquisa diz que 31% das mulheres se dizem feministas. Pergunta: cadê elas? Onde estão essas mulheres? Pq eu conheço meio duzia de gata pingada que foram minhas colegas de faculdade e deu. O restante, infelizmente, é formado em sua maioria por mulheres conservadoras. CADE ESTE 31% que eu quero conhecer!

* Lola, lá no finzinho do texto vc diz "muitas meninas novas estão descobrindo feminismo, etc". Eu admiro, mas não tenho o seu otimismo. Queria ter mesmo, mas não tenho. As vezes, confesso, perco a fé na humanidade, só vejo gente preconceituosa ( a la Sexto Sentido)...

Era isso. Beijos e continue com este blog maravilhoso!

Anônimo disse...

Lindo texto, Lola.

B. disse...

Marilia, entre o Rad e o trans, sou mais o último...acredito que SIM, as mulheres trans tem que ter voz e ver no meio feminista!O radFem me parece meio sectário (minha opinião, claro). Aliás, a Lola falou em neofemiismo, isso pra mim é uma roupagem burguesa nada a ver...

Sara disse...

Lola querida ainda temos muito q lutar até mesmo por respeito a nossa integridade física, que dirá por justiça, no meu ponto de vista ainda estamos muito longe da igualdade de direitos e tratamento com os homens, tb não consigo entender essas novas vertentes que inventam a torta e a direita, se pra mim o mais importante seria unir todas as mulheres que desejam a igualdade de direitos com os homens.
Tentei participar de muitos dos movimentos e protestos que vc alistou, infelizmente não pude ir a todos, mas me esforço, junto com minhas filhas, que com muito orgulho são tão feministas como eu, para somar com as mulheres que se articulam em busca de mais justiça aqui na cidade onde vivo São Paulo.
Deixo aqui meu agradecimento a vc querida por todo esforço que vc tem feito para defender a causa do feminismo Lola, vc é muito importante pra nós.

lola aronovich disse...

Marilia, eu escrevi sobre o conflito entre radfems e transfeministas. Minha opinião é que não sei por que esse conflito foi trazido pro Brasil. Não tinha nada a ver com a nossa realidade! Acho absurdo negar espaço no feminismo para pessoas trans, que tem muito que contribuir. Por outro lado, creio que há pautas feministas que ficam um pouco distantes das transfeministas. E tudo bem! Nenhuma corrente precisa falar de todas as pautas.


B., ah, eu conheço um montão de mulheres que não são militantes ou ativistas feministas e mesmo assim se assumem feministas. Sou otimista sim! Mas também acredito numa pesquisa séria como essa do Perseu Abramo. Aliás, esse número de 30% das mulheres se assumindo feministas é parecido com o número de americanas e britânicas que se assumem feministas. Também está nessa faixa.

Samantha disse...

Uma vez, após escrever um texto, fui chamada de feminista liberal. Até hoje não sei muito bem o que seria esse tipo de feminismo e se me encaixo nele ou não. Olhando a definição da wikipedia, me pareceu um feminismo sensato. Mas não sei a que tipo de pessoas remetemos quando usamos esse nome.

Eu sou feminista. E apenas isso. Tenho ideias que vão de encontro a várias correntes,discordo de outras. Honestamente, não fico anotando convergências e divergências, prefiro me unir sempre. Feminismo deve ser para agregar, nunca segregar.

O que me causa um desânimo é que muitas vezes as correntes feministas preferem brigar entre si do que atacar o verdadeiro inimigo. Veja bem, eu não estou nem aí se uma pessoa é a favor da abolição da prostituição ou contra; se somos ambas a favor do fim da homofobia e pela legalização do aborto, vamos nos dar as mãos e lutar contra isso. Pra que rechaçar uma companheira de luta por que ela não concorda 100% com você? Por que a gente não pode militar juntas no que concordamos e separadas no que discordamos? É realmente necessário esse tudo ou nada?

Como diria o fabuloso filme/livro em chamas, lembre-se quem é o verdadeiro inimigo. E não sou eu, a neo-feminista, a feminista liberal, os homens, as mulheres machistas. O verdadeiro inimigo é o patriarcado e aqueles que lutam para mantê-lo exatamente igual.

Sara disse...

Haaa!!!! esqueci de dizer essa frase do cartaz que vc postou é simplesmente divina (com o perdão da má palavra), vai pra minha coleção.
"IRRITEI UM MACHISTA...HUMMM QUE DELICIA"....

Morgause disse...

Fico muito incomodada com essa mania de dizer que tudo que é feminino é feminista. Não é não. Hoje em dia é moda dizer que livro,filme,série tal é feminista só porque tem protagonista feminina ou mulheres inteligentes.Porque o resto deve ser tudo fraca e burra né?
Essas novas cantoras como Lord, Selena e Miley Cyrus da vida ficam se alfinentando por aí, se dizendo mais feminista do que a outra.
Nisso tudo eu vejo uma tendencia em achar que feminismo é "a mulher fazer o que quiser", e nesse "o que quiser" significa ter atitudes machistas e não ser julgada por isso. É quase a mesma lógica de que o feminismo permitiu a mulher o direito de escolher casar com homem rico, sabe?
Daqui a pouco teremos um "orgulho de ser mulher-objeto" com as ditas falando que o feminismo possibilitou isso...eu não duvidaria...

B. disse...

Oi Lola, que bom pra vc, e em momento nenhum duvido que vc conheça muitas feministas( militantes ou não)...Só falei da minha experiência.

beijão!

B. disse...

"Nisso tudo eu vejo uma tendencia em achar que feminismo é "a mulher fazer o que quiser", e nesse "o que quiser" significa ter atitudes machistas e não ser julgada por isso. É quase a mesma lógica de que o feminismo permitiu a mulher o direito de escolher casar com homem rico, sabe?
Daqui a pouco teremos um "orgulho de ser mulher-objeto" com as ditas falando que o feminismo possibilitou isso...eu não duvidaria"

Falou aquilo que sempre quis falar, Juliana!

Anônimo disse...

"* A pesquisa diz que 31% das mulheres se dizem feministas. Pergunta: cadê elas? Onde estão essas mulheres? Pq eu conheço meio duzia de gata pingada que foram minhas colegas de faculdade e deu. O restante, infelizmente, é formado em sua maioria por mulheres conservadoras. CADE ESTE 31% que eu quero conhecer!"

Comando de caça à carteirinha de feminista: pfvr, não.

Anônimo disse...

Não vejo de uma forma negativa esse tal de neofeminismo, acho que é um jeito que a mídia arrumou de desmistificar aquela coisa de "feminista odeia hômi, não se depila e por aí vai", mudou aquela velha história do "sou feminina e não feminista" e consequentemente, pode até trazer mais meninas para o movimento, que por fim vão perceber que tudo isso é uma grande balela e que podemos ser feministas do jeito que quisermos.

B. disse...

Olha, eu não quero caçar carteirinha feminista de ninguém, aonde vc viu isso no meu comentário? Só disse eu eu, PESSOALMENTE, conheço poucas mulheres feministas, pois a maioria é preconceituosa, reproduzem o machismo, são racistas e homofóbicas. Como alguém assim pode ser feminista? É diferente se for alguém que não se diz feminista, mas o exerce no dia-a-dia, ou seja, não é preciso ser militante pra ser feminista. Mas me recuso a chamar de feminista alguém que reproduz o machismo, o racismo e a homofobia!

Anônimo disse...

É sempre assim, entra o consumismo, vira produto. A tendência do nosso mundo capitalista é essa, transformar tudo em produto. Não conseguiram destruir o feminismo com ataques diretos, politicamente, ideologicamente, agora vão querer transformar as mentes das nossas jovens. Girl Power, as poderosas. Garotas que andam na moda, independentes, fazem o que querem (acham, mas tem uma agendinha de produtos Girl Power para elas comprarem, vão agir exatamente como a moda Girl Power mandar), compram tudo que é Girl Power, compram tudo das cantoras Girl Power, assistem filmes Girl Power, e nessa alienação, nessas baladas Girl Power, tantas revistas, curtição, vão fazer feminismo postando no Face e outros apps, e assim o capitalismo mantém todas as feministas do futuro Girl Power, em casa. Nada de ir às ruas. Tudo sob controle.

Anônimo disse...

Haaa!!!! esqueci de dizer essa frase do cartaz que vc postou é simplesmente divina (com o perdão da má palavra), vai pra minha coleção.
"IRRITEI UM MACHISTA...HUMMM QUE DELICIA".... 2

Adorei a frase tb. Toda vez que eu irritar um machistóide, vou usá-la. E sobre o post eu só posso dizer: FEMINISTAS UNIDAS JAMAIS SERÃO VENCIDAS. Que venham os canhões.

Sara disse...

As vezes me pergunto qual objetivo dessas "feministas" que insistem em classificar, segregar, outras mulheres e pessoas que desejam a igualdade para todos, determinando rótulos e formas que achem mais apropriados para si como os únicos dignos de crédito e respeito, a quem interessa esse tipo de atitude??? certamente não é a causa do feminismo com certeza.
Dividir para conquistar, é uma máxima tão velha como o próprio patriarcado.
Me da um cansaço imenso ver esse discurso furado ser repetido a exaustão, sabe...

@teacher.anajessica disse...

Belissimo texto, parabéns.

Patty Kirsche disse...

Eu acho que existem mensagens que são progressistas, mas não necessariamente feministas. Um produto cultural pode cutucar alguns preconceitos, mas validar outros. Imagino que esse seja o caso de Sex and The City.

Com relação ao feminismo, acho que a propaganda anti-feminista tem um efeito razoável. Eu tenho amigas que são obviamente feministas no comportamento e nas crenças, mas dizem abertamente que "não se consideram" feministas. Parece que elas têm vergonha ou medo da reação das pessoas. Acredito que isso aconteça um pouco porque se vc é feminista, vc não aceita fingir que não vê a discriminação e acaba se tornando uma pessoa incômoda. Um outro pouco é porque boa parte das mulheres querem manter o direito de praticar slut-shaming, algo incompatível com ser feminista.

Unknown disse...

Lola, a muito tempo leio seu blog, porém só agora resolvi criar um perfil e comentar.

Dito isso:

Não gosto muito desse papo de "neofeminismo", pra mim parece uma tática de distração, algo para confundir e desinformar, pura cortina de fumaça.

Um amigo (meio reaça/meio tonto por maioria de votos) disse estes dias que "esquerdista" tem mania de ressignificar palavras para manobrar o povão e que a maioria dos novos significados não passa de uma nova interpretação para sinônimos diretos....

Isso me fez pensar sabe? Os reaças também não estariam adotando essa "tática"? Ressignificar algo, para tirar seu sentido original? [redundância, adoro. ahuauehuae]

(Achei essa crítica da ressignificação descabida, mas ok, dá sempre para aproveitar e fazer uma engenharia reversa)

Particularmente não gosto de "neo" em nada, parece que dá sentido que este algo é "novo" portanto "melhor" do que o anterior que é "ultrapassado"

Ultrapassado é tentar de todas as formas manter os status como está mesmo que para isso vc tenha que vestir a pele do inimigo.

Anônimo disse...

Os grupos feministas de hoje em dia defendem propósitos totalmente alheios à realidade da mulher negra e de baixa renda. São grupos feitos por e para mulheres brancas, de classe média-alta ou ricas. O ideário é totalmente fútil para a maioria da realidade das mulheres negras, de baixa renda e fora das grandes cidades: “pelo direito de andarmos peladas, bêbadas, de não fazer depilação, viva a obesidade...", e ai de quem não se identifica com essas causas fúteis, as líderes feministas especialmente as blogueiras mais conhecidas e suas seguidoras caçam as carteirinhas. Sabemos que as preocupações das mulheres negras, de baixa renda e das zonas ruais estão muito além disso, tem assuntos muito graves e não existem muitos grupos que representem estes anseios.

Ainda tem também o ecofeminismo que não se identificam com tantos comentários de superioridade especista que suas seguidoras fazem.

Então pode ter certeza que muitas mulheres negras, pobres e fora das capitais também não se identificam e não se sentem representadas com tudo proposto em seu feminismo e das suas companheiras, vcs também não são donas do feminismo e também tem suas regras e suas seguidoras também gostam de atacar quem não se identificam e não seguem essas regras.

Espero que vc passe a perceber isso e suas seguidoras a terem mais humildade e empatia a quem não seguem seus padrões e tem outras causas que acreditam ser mais urgentes do que as de vcs.

Seja feliz com o seu feminismo, mas respeita também outras pessoas.

Elaine Cris disse...

Fazendo uma analogia, esse "neofeminismo" promovido pela mídia me passa a ideia de uma fábrica ganhando rios de dinheiro vendendo camisetas com o rosto do Che Guevara estampado...
Muito legal o seu artigo. Mais legal ainda que ele esteja publicado em uma mídia conservadora, voltada pra um público conservador, porque é uma mensagem que precisa mesmo chegar até eles.
Abçs e ótima semana pra vc.

Sara disse...

anon 19.43hs a mulher negra e de baixa renda não deseja a igualdade de direitos para todos os seres humanos ????
Será que são tão inflexíveis que não exista pelo menos um ponto de concordância para que juntemos forças e tenhamos mais representatividade e voz???
Acha mesmo que é viável essa segregação que propõe, que beneficio pode trazer a mulher negra e de baixa renda???
Concordo com vc que não são todas as pautas e reinvindicações que tenham interesses ou sejam relevantes para os diversos grupos que se formam de mulheres, pois somos muito diversas.
Mas o desejo de igualdade e a luta contra a violência bem que poderiam ser fatores que nos unissem, não desprezo sua luta, muito pelo contrário, mas sua intolerância é totalmente incompreensível.

Nih disse...

Lola, acho que pegou muito mal você praticamente igualar essa bosta de "neofeminismo" com correntes realente sérias do feminismo.

Sério que você acha razoável comparar ~neofeminismo~ com transfeminismo, ou anarcafeminismo? Tipo, WTF?

Anônimo disse...

Anon. 19.43hs é homem e com certeza frequenta algum blog ou fórum realista.Já li diversas vezes nesses fóruns machistas que o feminismo só beneficia mulheres brancas e de classe alta.

Não me engana,tentam de tudo para derrubar o feminismo,mas como foi dito pela Lola,o feminismo continua firme e forte.

Maria Fernanda Lamim disse...

Eu ia responder ao comentario da anonima, mas a Sara ja disse o que eu penso. :)
E acho uma pena essas "rivalidades" entre os diferentes frminismos. A opressao e bem unida e forte! Pq nos vamos nos "rachar"?
Outro dia vi uma discussao onde algumas feministas mais jovens diziam que violencia obstetrica nao era uma causa feminista. Cono assim?
Na verdade, me ficou a impressao de que afirmavam isso por ignorancia a respeito do problema (provavelmente, a maioria nao tem filhos). Eu sempre lamento qd vejjo esse tipo de disputa. A opressao atinge a todas, de formas diversas. A unica saida e a sororidade.

Baboseiras e Afins disse...

Desculpa, mais não sou tãão nova (tenho 21 anos) e descobri o feminismo esse ano :)

lola aronovich disse...

Desculpe, Mordred, mas não igualei nada. Eu só disse que, pra mim, um feminismo sem prefixos ou sufixos me basta. E, ainda assim, eu jamais chamaria qualquer tipo de feminismo -- inclusive o neofeminismo -- de bosta.


Não acho que o anon das 19:43 é mascu, não. O feminismo de forma geral sempre foi muito criticado por ser um movimento majoritariamente branco, de classe média, e -- surprise surprise -- hétero. Só acho que é plenamente possível fazer parte de várias outras correntes feministas sem desmerecer o feminismo de forma geral. Concordo muito com o comentário da Samantha lá em cima. Agora, anon das 19:43, eu acho que estou entre essas blogueiras mais conhecidas. Eu já cassei carteirinha de alguém?
(e gente, caSSar carteirinha feminista é com SS, não com Ç. Todo mundo escreve errado!).

Anônimo disse...

Idem! Mas alguns exalam tanto preconceito que oprimem xs feministas mais novxs, recentes... seja por não conhecer a teoria toda, a diversidade, ppr não ter lido muitos livros feministas, e mais alguns detalhes irrelevantes.

Erres Errantes disse...

"Celebridades se dizendo feministas. Calmaí né minha gente! A Valesca Popozuda, que algumas feministas tanto amam, vcs já pararam pra prestar atenção nas letras dela. ("Tu é empregadinha, lava passa e cozinha, mas a p*** dele é minha") e por aí vai. Não basta se dizer feminista, tem que SER. Muita gente tb diz que Sex and the City é feminista...Não sei aonde..."

Concordo com a B. e também me lembrei dessas celebridades que se dizem feministas, na passagem do post que menciona a moda do girl power. Uma vez li num blog feminista um post dizendo que a Beyonce era feminista, eu comentei dizendo que discordava e me responderam que a Beyonce é, sim, feminista, porque se ela diz que é, então ela é mesmo. What???? Acho que uma postura revolucionária está também no que se diz, mas principalmente no modo como se age. Não apenas a Beyonce (que é casada com um homem supermachista, o Jay-Z), mas todas as celebridades vivem de perpetuar padrões que oprimem as mulheres há várias gerações. Não sei onde está o feminismo delas aí.

Thais disse...

Lola, me adoro o seu blog! E me identifiquei muito com essa passagem "embora eu concorde com vários pontos de todas elas, e discorde de mais um bocado" pois é por isso que não me considero feminista, concordo com algumas coisas e com outras sou contra.
E gostaria de contar dois casos que presenciei:

Eu curso engenharia, um curso onde a maioria são homens, durante o meu tempo na faculdade me senti duas vezes vitima do machismo:

A primeira foi quando estava concorrendo a um estágio e não consegui pelo fato de ser mulher, alegaram que não saberia lidar com peões de obra. E a segunda é que tem uma certa pressão para as mulheres do meu curso se "comportar" senão ficam mal faladas.

Eu me sinto mais pressionada pelas mulheres do meu curso, que são a minoria, do que os próprios homens. Se uma mulher ficar com mais de um homem na chopada, por exemplo, as mulheres comentam o quanto isso é errado mais que os homens.

Ironico isso não acha?

No final, Lola, você escreveu que muitas mulheres estão descobrindo o feminismo. Eu não vejo isso. Ainda existe muitos preconceitos sobre as feministas. Muitos ainda têm aquele pensamento que a mulher feminista é lesbica, anda peluda, entre outros.

Anônimo disse...

"(e gente, caSSar carteirinha feminista é com SS, não com Ç. Todo mundo escreve errado!)."

Lola, o meu é com Ç mesmo, é o "comando de caça", que caça as feministas para rasgar carteirinhas.

Estava conversando com meu amigo ontem sobre as diversas vertentes do feminismo (e tb da esquerda). Pensamos que há muita discussão (no sentido de briga mesmo) em vez de união nos pontos em comum. O que vcs acham? É isso que meio que "enfraquece" os movimentos? Pq nos parece que, enquanto brigamos, o opositor se une nas intersecções e continua mantendo o status quo de boa...

Anônimo disse...

Eu também concordo Erres, ser feminista não é só dizer que é, tem que mostrar com atitude. Da boca pra fora todo mundo é o que quer, inclusive da boca pra fora ninguém é machista, ninguém é racista etc. São as atitudes que mostram quem é quem.

Para mim essas Girl Power não tem nada de feminista, pelo contrário, são o sonho de consumo de todo homem de balada. Para mim isso é um veneno no meio do feminismo, guarda isso, e no futuro vcs vão ver, é uma tentativa de alienação das meninas. Não conseguiram nos vencer, nunca vão conseguir, então vão tentar nos alienar, transformar o feminismo em produto. Dizer que feminismo é se vestir igual a Anitta, ser "poderosa", andar sempre na moda ditada pelas celebridades Girl Power, magra igual a elas, usar a marca delas.

Concordo que não deve haver segregação, só lembro para abrirmos os olhos para uma tentativa de alienação das futuras gerações.

B. disse...

"Uma vez li num blog feminista um post dizendo que a Beyonce era feminista, eu comentei dizendo que discordava e me responderam que a Beyonce é, sim, feminista, porque se ela diz que é, então ela é mesmo. What??? Concordo com vc Erres Errantes. O mesmo já falaram da Valesca...se ela se diz feminista, então ela é. E de fato, a Valesca já disse mesmo ser feminista...mas fazendo músicas cheias de slut-shaming?

Lola,não acho que o anônimo seja mascu não...ele falou uma grande verdade que observo em alguns redutos feministas (não tô falando do seu blog). Lugares totalmente voltados para mulheres classe média/alta, que fazem mestrado ou doutorado, imagino que algumas mulheres pobres e tal se sintam ETs dentro destes espaços.

Tb concordo que o Sex and The City foi inovador em muitos aspectos, mostrava mulheres independentes, falando de sexo , etc. Porém, ele adquiriu um aspecto meio burguês , sabe? Poder mesmo, feminismo mesmo é trabalhar numa baita empresa, ou em um jornal badalado, ter tempo pra mil atividades, comprar Louboutin (é um designer de sapatos, Lola! rsrsrrs), subir no salto, etc.

beijos

B. disse...

"No final, Lola, você escreveu que muitas mulheres estão descobrindo o feminismo. Eu não vejo isso. Ainda existe muitos preconceitos sobre as feministas. " Pois é, Thais, é disso que eu falei mais lá em cima...

Anônimo disse...

É o feminismo hierarquizado e acadêmico que afasta as pessoas.

Esse neofeminismo é atraente pq fala mais a linguagem do povão, coisa que as feministas de Universidades Federais ainda vão levar muuuuuuuuuuuuuuuuitos anos para aprender.

fui, me julguem se puderem ;D

Amana disse...

Ei Lola, VALEU!

Esses textos bons e didáticos que 1-se opõem a uma moda que parece "inevitável" e 2-circulam em veículos mais conservadores são imprescindíveis pra gente elevar o nível do debate.

Tenho lido muita teoria crítica feminista. Me delicio com a diversidade de olhares e causas. Gosto de conhecer diferentes perspectivas, refletir sobre minha posição, perceber o quanto de luta e briga está por detrás do que luto hoje, e também quais os privilégios envolvidos (por isso o feminismo negro é fundamental para nossa formação; o transfeminismo; o feminismo marxista...).
Mas o exercício das diferenças, que é fundamental para qualquer área, não pode ser apropriado por uma lógica capitalista que vive de criar novos nichos de mercado para... vender mais.

Li hoje, por coincidência, esse post aqui sobre o novo disco da Beyoncé e o fato dele estar sendo vendido como "feminista". Achei excelente (pena estar em inglês): http://realcoloredgirls.wordpress.com/2013/12/15/the-problem-with-beyhive-bottom-bitch-feminism/

"Is a feminism sponsored by the corporate music industrial complex as big as we can dream? Is the end game a feminism in which the glass ceiling for black women’s representation only reaches as high as our booties? Can’t we just love Bey as an amazing corporate artist without selling out the hard won accomplishments of our black feminist and womanist foremothers? Can we not love her for the gorgeous and fierce mega pop star she is without appropriating her for some liberal, power feminist agenda?"

beijo grande!!

Anônimo disse...

Se dizer feminista não quer dizer grandes coisas.
Minha colega diz "sou super feminista" e acha que é isso pq ela trabalha. Mas é completamente machista 8D e diz pra filha casar com cara com grana pra não ter que trabalhar que nem ela 8D


Ou até várias amigas que realmente se dizem feministas, compartilham mil coisas, e não tem vergonha nenhuma de usurpar a grana de namoradinhos ricos.

Sei não, eu que não me considero feminista (não ser feminista não quer dizer ser machista. Feminismo é um movimento e eu não me sinto sempre representada por ele), vivo muito mais de acordo com ideias feministas que elas.

Junior disse...

Anna

Essa estratégia de ressignificar termos é velha e é, em geral, usada por quem está no poder.

É meio parecido com o "Se não pode vencê-los junte-se a eles", só que com um plano.

Eles passam a utilizar os termos, as datas, os símbolos, mas as atitudes não são alinhadas com o movimento. Então esse movimento passa a ficar descaracterizado e confuso até minguar e se tornar inexpressivo.

Anônimo disse...

A Beyouncé se declarando feminista e a Regina Casé se declarando do povão.

KKKKKKKKK eu ri!

B. disse...

Para o anônimo das 9:31...não concordo com vc sobre o neofeminismo ser bacana e tal, mas uma coisa que vc falou eu concordo muito: o fato do feminismo academico não atingir as camadas mais pobres. Muitas das feministas que conheço são universitarias, algumas fazem mestrado, doutorado; vejo na internet artigos feministas escritos por pesquisadoras norte-americanas, etc...e como isso vai chegar na mulher pobre, pobre mesmo, que precisa trabalhar o dia inteiro, sustentar filhos, ralar e tal, como, sem poder ir aos encontros e debates feministas que acontecem por aí.
Fui no encontro do MML e lá vi uma grande quantidade de mulher pobres e/ou negras. Mas, no feminismo acadêmico, nenhuma; é um feminismo completamente classe média, branco, limpinho, trancado em gabinetes de pesquisa nas universidades, que escreve artigos de não sei quantas páginas com linguagem acadêmica, etc.

Dia desses, o blogueiras feministas publicou um texto falando sobre a lei da regulamentação das prostitutas. legal, mas ele tava num juridiquês brabo, eu mal entendi no final. E as prostitutas pobres, da esquina (pq, ao contrario do que algumas feministas "na bolha" acreditam, nem toda prostituta é Bruna Surfistinha ou a Monique que escreveu pra cá), estas prostitutas vão se sentir representadas num texto daquele?

beijos

Anônimo disse...

"Logo eu, que de nova não tenho nada (estou com 46 anos)! "

Menos Lola, menos...Nessa idade também não é nenhuma anciã.

Dani.

lola aronovich disse...

Hello? Só queria lembrar, B., que este blog aqui é feito por uma dessas feministas acadêmicas que vc critica. E o blog não tem linguagem acadêmica. E ele é porta de entrada pro feminismo pra muitas meninas, meninas mesmo, meninas de 12, 13 anos, que ainda estão bem longe da universidade. Eu duvido muito que o blog tivesse média de 260 mil visitas mensais se fosse um blog acadêmico. E só porque uma pessoa dá aula numa universidade federal e faz pesquisa (algo que parece ser pecado!) não quer dizer que ela esteja presa num gabinete. Por exemplo, um dos tripés da universidade é justamente a extensão. Eu (e tantxs outrxs) oferecemos cursos de extensão abertos à comunidade. Eu considero o meu blog e a maior parte das palestras que dou como uma forma de extensão.
E outra: estudos de gênero é uma área que vem crescendo muito. E várias alunas já vem de camadas mais pobres da população. E as universidades estão começando a deixar de ser exclusividade da classe média branca.
Eu também fui no encontro do MML. Muitas das meninas negras e pobres que vc viu lá cursam ou ainda cursarão universidade (vc fala como se isso fosse ruim!). E muitas fazem cursos técnicos e são operárias (uma das maiores delegações que tinha lá era a de mulheres da construção civil, vindas majoritariamente do Ceará). Todas estavam num encontro feminista.

B. disse...

Oi Lola, obrigada por me responder! Nossa, nunca falei- e nunca vou falar- que seu blog é acadêmico ou inacessível, pelo contrário! O seu blog é um dos mais acessíveis que conheço e através dele aprendi muito!
Peço desculpas pela generalização- de fato, pelo meu comentário ficou parecendo que TODAS as pesquisadoras são presas no gabinete: não, não acho que todas sejam, mas assumo que generalizei no meu comentário. O que quero dizer é que tem sim feministas de "gabinete" que não fazem extensão com vc e muitas outras fazem...

No encontro do MML, tinha muita menina pobre/negra que vai/está na universidade, e estas da construção civil que conseguiram ir lá; eu falava da mulher tipo, sei lá, empregada doméstica, pra quem é dificil deixar de trabalhar um ou dois dias e viajar pra um encontro...só isso.

Beijos e continue com seu blog...em nenhum momento quis te ofender, nem nada assim.

Sara Marinho disse...

Meu maior choque aqui foi a Lola falando que se escreve caSSar e não caÇar.
Foi tipo "eu escrevo errado a vida inteira, socorro!"
Mas em breve pesquisa cheguei a conclusão de que os dois servem. Eu não sabia que cassar era uma palavra, se reparasse em algum lugar acharia que era um erro.

Caçar é capturar, perseguir
Cassar é invalidar, anular

Acho que os dois servem para a expressão, mas o primeiro fica informal

Posso tentar Capturar a "carteirinha de feminista", persegui-la (fica mais violento também)

Ou cassar, achar que posso anula-la

Bem, de qualquer modo, tentemos não achar que temos o direito de caçar ou cassar "carteirinha de feminista" de ninguém, não existe selo de autenticação gente, basta se considerar assim, muitas vezes podemos achar esse se assumir feminista contraditório a diversas posições das pessoas, mas isso não significa que o meu feminismo é melhor ou está em posição de desconsiderar o de alguém.

lola aronovich disse...

Sei que vc não quis ofender, B. É só que a gente tem que tomar cuidado para não ter um discurso anti-acadêmico, que não leva a nada. Imagina só se a gente tivesse um discurso, sei lá, anti-operário? Se a gente adotasse aquele discurso preconceituoso (e típico da classe média e alta) de que só quem faz ensino superior "presta", que o resto é tudo burro e preguiçoso que não quer trabalhar e até se auto-mutila pra poder parar (falam isso do Lula direto!)? Esse discurso de que certas profissões são mais importantes que outras... Então, assim como o discurso anti-trabalhador é preconceituoso, o discurso anti-intelectual também é! Generalizar dizendo que acadêmicos ficam presos em gabinetes é preconceituoso. Dizer que o que acadêmicos falam é inacessível é preconceituoso. Até porque eu vejo muita gente na academia fazendo um grande esforço pra que esse discurso "difícil" seja deixado de lado.
Enfim, é aquele negócio: ninguém vai mudar o mundo sozinho. Todo mundo é importante.

B. disse...

"Generalizar dizendo que acadêmicos ficam presos em gabinetes é preconceituoso. Dizer que o que acadêmicos falam é inacessível é preconceituoso."

Eu acho que alguns acadêmicos são assim, não todos. E que bom que ta tendo esse movimento para que o que é produzido na academia não fique só nos muros da universidade...e vc é uma destas pessoas, sem puxa-saquismo. Vc é de universidade, superinstruída e escreve de maneira acessíve, e é uma pessoa acessível (eu te abracei no encontro do MML, mas vc abraçou tanta gente que não sei se lembra rsrsrsr). beijos

Anônimo disse...

Lola e B.

Nossa causei sem querer! kkkk

Sou a anon das 9:31 :D oi, ahuahue.


Não critiquei você Lola, aliás não crítico ninguém por estar praticando o feminismo, estudando, defendendo, que seja.

Critiquei quem vive na "bolha" como a B disse, que faz discursos que não dialogam em nada com o interlecutor mais necessitado e menos instruído. (o que não é pecado nem culpa).

Mas é foda ver gente defendendo o direito de ser complicada, de escrever difícil e ainda exigir dos outros repercussão, "reverberação" do que disse. (reverberar...kkkk).

tchau, bjo :D

Anônimo disse...

Sawl - The Rebel

Referente ao tema, eu apresento o oposto o "anti-feminismo" que nada mais é que o machismo disfarçado.
Gente eu NÃO acreditei quando li sobre a mensagem de opressão e machismo que essa MULHER passa para os outros.
Torço muito pra que ela não tenha tido filhas, se não coitadas das garotas!!
Só três palavras pra definir a senhora italiana da reportagem: BURRA, PRECONCEITUOSA e RIDÍCULA:

http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2013/12/16/guia-para-recem-casadas-escrito-por-mulher-sejam-submissas-518350.asp

Sawl

Anônimo disse...

O Fluminense com tapetão ficou na séria A e vc's ai discutindo bobagens como neofeminismo, platãofeminismo, por favor! Por favor! Menos e menas.

Anônimo disse...

Lola vc não vai falar nada sobre o Tapetão do Fluminense?

Anônimo disse...

LOLA o feminismo precisa se pronunciar sobre o Caso Fluminense!

lola aronovich disse...

Anon (deve ser a mesma pessoa!), não acompanho futebol (só na Copa). O que aconteceu com o Fluminense, e por que essa é uma pauta feminista? Explicaí!

Anônimo disse...

Ah pq o Fluminense é um time de "Flor". Portanto é uma pauta feminina.

Anônimo disse...

Neofeminismo é o feminismo transformado em produto de consumo. Tipo a camiseta do Che Guevara vendida shopping Iguatemi.
(Academizando um pouquinho rsrs) na sociedade pós moderna, um dos maiores trunfos é transformar qualquer possibilidade de luta ou afronta vira produto. Aconteceu com o punk, de certo modo com a homossexualidade ("cabeleireiro bom mesmo é gay") e com o comunismo.
E note que sempre assume um caráter bem acrítico, pasteurizado, entre o bobo, o alienado e o preconceituoso.

Hoje vi o tosco programa ser mulher do canal bem simples falando sobre a maquiagem, o penteado e a moda hippie. Exemplifica, né?
Ou seja, acho neofeminismo meio perigoso, mas difícil de impedir.

Anônimo disse...

Acabei de lembrar de algo que me incomoda... Eu sou do RS e aqui tem um programa de rádio muito famoso chamado Pretinho Básico. Eu queria ter o dom de conseguir me expressar direito e mandar um e-mail pra eles se tocarem das piadas deles. A última que me anojou, que foi enviada por um ouvinte, é a seguinte:
Pq o homem que pega todas é campeão e a mulher que pega todos é vagabunda? Pq uma chave que serve em todas fechaduras e chave-mestra e uma fechadura que serve com todas as chaves não serve pra nada.
Numa das sociedades mais machistas do Brasil, com altos índices de violência doméstica, é isso que eles falam no ar? Ainda, a maior parte dos ouvintes deles são jovens de até 30 anos...
É claro que... como sempre... é só uma piada...

Marilia disse...

Obrigada, Lola!

Realmente essa treta com as RadFems não tem nada a ver. Acho que concordo bastante com você no outro texto.

Aliás, cansei de presenciar transfobia em grupos de discussão feministas. Feminismo tem que ser interseccional, tem que dialogar com os lugares de classe, etc. Mas pensar que podemos nos unir apesar de todas as discussões é um bom começo. Vejo muitas brigas entre as próprias feministas, isso me chateia bastante.

Kittsu disse...

Ele tá testando a tese de que você vai falar de qualquer coisa, desde que seu publico peça e se isso der "ibope"

crocheteira iniciante disse...

"Dia desses, o blogueiras feministas publicou um texto falando sobre a lei da regulamentação das prostitutas. legal, mas ele tava num juridiquês brabo, eu mal entendi no final. E as prostitutas pobres, da esquina (pq, ao contrario do que algumas feministas "na bolha" acreditam, nem toda prostituta é Bruna Surfistinha ou a Monique que escreveu pra cá), estas prostitutas vão se sentir representadas num texto daquele?"

A questão é o baixissimo letramento da maioria, é analfabetismo funcional mesmo. Enquanto isso tem muita doutora q se diz feminista mega arrogantes. Inclusive as doutoras negras, é a crença tipica de paiseco colonizado, se tem doutorado acreditar-se superior aos reles mortais; e as caçadoras de carteirinha feminista estão confundindo sororidade com rasgação de seda.

Unknown disse...

Vou dar meus dois centavos para questão do "feminismo de gabinete".

Criticar por criticar o feminismo praticado e cultivado nas Universidades não vai trazer resultado algum, bom ou ruim, aliás críticas por críticas sempre ficam no campo vazio da opinião.

Se o feminismo das Universidade em um primeiro instante parece distante, complexo e guardado dentro de uma bolha, cabe lembrar que há pessoas das mais diversas características sociais que levam esse discurso aprendido para FORA da universidade, e quem conta um conto, aumenta um ponto, tira uma vírgula...ajeita um termo ali, outro acolá.

Ou seja:

O Feminismo de academia é como fruta, brota, cresce, é consumido, dá sementes, germina...cresce de novo.... basta que hajam pessoas dispostas para "regar" com conteúdo e transportá-lo para quem que há de interesse, possa.

Sobre "as pessoas pobres, pobres que não entendem nada".

Vejo aí um preconceito velado de que pessoas pobres não são versadas no português, o que muito me surpreende, conheço pessoas que não tem muito estudo formal mas possuem um português muito bem falado e escrito por sinal, e não precisa ir longe, basta ir a qualquer concentração de gente.

Acho que não existe discurso "difícil" ou interlocutor que "coitado não entende nada", o que existe é uma mensagem mal formatada para aquele público em específico, esta mesma mensagem pode ser excelente para outro grupo de gente.

O que importa é o que se diz e não como se diz.

@dddrocha disse...

ARRASOU, LOLA

Espero que seu artigo voe alto.

Rafaela disse...

eu sou feminista e defendo a liberdade de padrões para mulheres... físicos, comportamentais, etc. Não defendo mulher que sai com short mostrando metade da bunda, blusa sem sutiã, se chamando de vadia e falando que isso é elogio. Po, to nem aí se isso se inclui no feminismo que eu conheço. Feminismo é liberdade, se vestir de "vadia" é o oposto disso, é servir aos olhos e fantasias alheios! É ter o corpo como objeto novamente... É querer transformar as feministas em "vadias", como se autointitulam. Não to nem aí se alguém quer vir criticar minha postura... Isso no feminismo NÃO me representa! E essas famosas que se dizem feministas SÓ porque andam peladas (tipo a cyrus), não são feministas, são qualquer coisa, mas isso não. Se ao menos elas defendessem outras causas, mas só andar pelada... Feminismo?!?! Triste.

christiano disse...

Sabe Lola,

Outro dia estive visitando seu Blog em outros Posts....achei um Falando sobre as Gordas com analogia aos baixinhos, esse sobre o Feminismo......

Vou te dizer o que eu acho :

Tenho dado "gargalhadas" com as proprias regras que foram criadas pelo Feminismo ao longo dos anos e as suas consequencias nos relacionamentos atuais...

Lí também sobre aquela Atriz (que eu acho um mulherão) -Monica Martelli - pela qual elas agora solteira reclamava que ninguém chegava nela porque ela era "alta" demais e Homens nào se sentiam confortaveis, confiantes...

Bom, isso tudo é Vitimismo acentuado....

É a analise do machismo de um lado da Moeda

Mas do outro lado da Moeda (o que o feminismo teria a ver com isso tudo = ninguém fala nada......impressionante....

Vou resumir o que têm se passado comas supostas "regras" Feministas e o que isso têm causado no "Mercado do Amor"

Regra No 1 Feminista : Mulher nào fica com Homem mais baixo que ela...sem exceção

Regra No 2 Feminista : Mulher Nào fica com Homem que ganha menos que ela (sem exceçào)

Regra No 3 Feminista : Mulher Virgem nào perde a Virgindade de jeito algum com outro Homem Virgem

Regra No 4 Feminista : Mulher Gorda Odeia Homem Gordo e Nerd (se for pior)

Regra No 5 Feminista : Mulher só fica com Homens mais velhos (essa é a que mais prejudica elas proprias !)

Agora Minhas considerações sobre o que isso têm a ver com o outro lado da Moeda Feminista :

Recado a Monica Martelli :

Desculpa gata, mas essa regra foram vocês mesmas que criaram....tanto você quanto os Baixinhos estào fora da Média Criada pelo Feminismo.....e ambos sofrem...Pois a regra é clara : Mulher alguma nào fica com Homem Mais baixo.....e vc sendo alta demais nào fica de jeito algum com os que mais existem....que é a média de 1,75 (média do Brasileiro)...enfim...é estatistico.....

Mulheres Solteiras que reclamam depois dos 35/40 que nào acham Homens Decentes que queiram coisa séria.......

mesma analogia da reclamaçào da Monica Martelli - O Feminismo criou a regra básica - MUlher alguma namora com Homem da mesma idade ou mais novo...só mais velhos....

Agora a Mulher de 30 ou 40 anos nào se deu conta que tem que competir com as gatinhas de 20 e poucos......só lamento !

Foi o Feminismo que criu essa regra !!!!!!

E não para..........Não gosto de escrever demais sobre coisas que as pessoas nào querem se dar conta que existe.....

Os fatos estão aí.....Relacionamentos Ruindo por causa dos 2 lados da Moeda sendo que o Mundo todo parece sempre apelas ver o lado Da Mulher....

Nunca o do Homem....

Solução ???

Simples - DESFAÇAM DESSAS REGRAS TOLAS !!!!

ESQUEÇAM DELAS !!!! CRIEM OUTRAS !!

SABE LÁ DEUS QUANDO !!!!!

lola aronovich disse...

Eu conheço NO MÍNIMO uns dez casos pra cada uma dessas regras "sem exceção" que vc decretou. Vc precisa sair mais, Christiano, conhecer mais pessoas. Aí vc verá que, apesar dessas regras ainda serem socialmente aceitas, elas estão mudando. Por exemplo: no Brasil, a mulher é mais velha que o marido em um a cada quatro novos casamentos. Não é a maioria, mas está bem longe de ser a regra "sem exceção" que vc decretou. Outra: quase 39% dos lares brasileiros já são chefiados por mulheres. Muitos desses são de mulheres que cuidam sozinhas dos filhos, mas muitos também são de mulheres que ganham mais. É uma proporção que cresceu mais do que 4 vezes nos últimos dez anos, indicando algumas mudanças rápidas e profundas. Essas mudanças culturais têm sim influência do feminismo. Agora, as outras... são frutos de um sistema patriarcal -- que é péssimo pra homens e mulheres.
E essa Monica Martelli aí que vc citou, não conheço. Ela é feminista?

Priscila disse...

Esse Christiano é louco... até onde eu sei mulher feminista quer que ela e o homem sejam livres.

Eu mesmo já namorei anos um cara que ganha muito menos que eu e vou casa com um que ganha menos. Culpa minha que sou workaholic. Meu noivo é mais novo que eu. Meu noivo é barrigudinho e nerd (e eu gordinha).

De onde raios você, Christiano, tirou essas regras? De meia duzia de amigas que cinhece? Faz como a Lola disse e tenha mais amigos, conheça mais gente.

Se liberte das amarras do machismo você também. Ficar sofrendo achando que tem que ganhar mais, que tem que ser mais alto, que tem que ser mais rico... isso é tudo coisa do machismo que obriga mulheres a serem mais fracas e homens a bancarem os durões. Seja você mesmo e procure uma moça que seja ela mesma. Pronto, você será mais feliz. #ficaDica

PS: não precisa procurar uma mulher que ganhe mais que você. Só não se preocupe com isso caso ocorrer.

Anônimo disse...

christiano, fui casada por 10 anos com um cara que era 15 cm mais baixo, nerd, mais novo e que ganhava metade do meu salário. E ambos éramos virgens.

Mas sei lá, eu não devo existir, já que não há exceção.

Maraysa Carvalho disse...

Lola, como vai, querida?! Sou sua leitora há alguns anos, embora quase nunca comente, e gostei muitíssimo dessa postagem. Queria saber como citá-la (foi publicada em uma revista, certo?), pois estou fazendo um projeto de pesquisa para ingressar no mestrado e falarei justamente sobre Feminismo e as redes sociais. Se puder me ajudar nisso, serei muitíssimo grata!
Aliás, voltarei aqui mais vezes, porque você é uma grande inspiração para minha escolha, te admiro demais e tenho muito orgulho em saber que você dá aulas da UFC, aliás, um amigo meu é seu aluno, na turma de Secretariado Executivo. ;)
Forte abraço!