sábado, 28 de dezembro de 2013

GUEST POST: O FEMINISMO ME LIBERTOU DA CULPA

A R. (não é nem sua inicial verdadeira), hoje uma importante ativista feminista na internet, decidiu relatar sua história de horror

Há quinze anos...
Era uma noite quente, uns amigos iriam tocar num bar, fui prestigiá-los. Um dos amigos que estava tocando me apresentou seu melhor amigo, que ficou me fazendo companhia no bar. No meu copo havia cuba libre. Eu não misturava bebidas justamente para não ficar bêbada, sempre odiei perder o controle da situação, mas não foi assim naquela noite.
Fui ao banheiro e quando voltei o amigo havia me feito uma gentileza e pedido outra cuba libre para mim. Na metade da dose me sentia estranha, meio flutuando... 
Falávamos de música antes de eu ir ao banheiro, e ele havia dito que no porta cds do carro dele havia o cd de uma banda que eu gostava muito, e que ele me emprestaria. Ele me pegou pela mão e disse "vamos lá pegar o cd". Mesmo receosa, eu não conseguia reagir. Ele me levava e eu ia com ele como se não houvesse nada que eu pudesse fazer.
Quando chegamos ao carro ele abriu a porta do lado do passageiro e me fez sentar, dizia "Você está bem? Parece meio longe". Mas ele disse isso e começou a me beijar e se colocar em cima de mim. Disse a ele várias vezes: "Não, eu não quero, pare por favor" mas não havia forças em meus braços para empurrá-lo e nem impedi-lo.
Lembro de ouvi-lo dizendo coisas nojentas, pornográficas. Lembro dele dizendo que eu não precisava me preocupar porque ele não havia gozado dentro: "não quero engravidar nenhuma vadia", disse ele.
Ele passou para lado do motorista e ordenou: "se arruma e desce".
Atordoada, sem saber direito o que estava acontecendo, era assim que eu me sentia, consegui sair do carro, ouvi o barulho do motor, ele arrancou e sumiu. 
Sentada na calçada comecei a chorar. Algumas pessoas passavam por mim mas não se aproximavam; afinal de contas, era só uma mulher que havia bebido demais tendo um crise de choro.
Durante anos fiquei me culpando, pensava "isso que dá beber" ou "por que você foi praquele carro?" ou ainda "ele achou que seu não era um sim porque você estava bêbada e não soube se expressar com convicção".
Hoje eu sei que ele sabia exatamente o que estava fazendo. Aproveitou-se da minha fragilidade, ignorou meus "nãos" e fez uso do meu corpo como quem usa um objeto e depois descarta. E para finalizar ainda disse como se sentia a respeito daquilo, quando ele me chamou de vadia, o que ele quis dizer foi que eu era só mais uma mulher "que não se dava ao respeito". E isso justificava ele fazer o que bem entendesse, não só comigo, mas com qualquer mulher que não estivesse dentro dos padrões que ele aceitava como "mulher para namorar".
Nunca mais o vi depois deste dia. Passei quinze anos sem saber que aquilo havia sido um estupro, achava que não. Até que em contato com o feminismo descobri que era. Consegui superar. Minha experiência vai ajudar outras mulheres a identificar canalhas como ele e se forem vitimas, saberem-se vítimas.
O feminismo me deu consciência de que fui vítima, de que não provoquei a situação, de que eu era apenas uma mulher, curtindo a noite em um bar, com sua dose de cuba libre, e ele mais uma machista, que adulterou a bebida que me ofereceu, para tirar proveito de forma criminosa da situação.

Aproveitando, mesmo que isso não tenha muita relação com o relato da R., que não aconteceu numa universidade.
Algumas estatísticas de estupro sobre abuso sexual em universidades (americanas)
Entre uma em cada três e uma em cada cinco mulheres jovens será vítima de alguma forma de violência sexual enquanto estiver na universidade.
85% dos abusos sexuais são cometidos por conhecidos.
O álcool é a droga predatória número um nos campi universitários.
Menos de 2% das denúncias de estupro são falsas. Mais gente finge sua própria morte do que mente sobre ter sido estuprada.

32 comentários:

Anônimo disse...

Lembrei de um senhor - sim, senhor, mais de 50 anos - que tentou me embebedar com whisky para que eu fosse para a cama com ele. Ele é casado, e eu não quis justamente por causa disso.

Fui a pé pra casa e ele me disse varias vezes pra me levar de moto, mas eu não quis. Tive medo que me estuprasse, e eu acho que ia me estuprar mesmo caso eu aceitasse carona. Afinal, "quem manda beber com um homem que não é seu companheiro"?

Anônimo disse...

Acho esquisito esse negócio de "não saber que foi estuprada", de alguém precisar contar. Com 8 anos de idade fui molestada por um tio e sabia exatamente que aquilo era errado e me fazia mal, ainda que a palavra "estupro" ainda não coubesse no meu vocabulário (hoje em dia as crianças já devem saber sobre isso, imagino).

Anônimo disse...

Isso mesmo !! Vamos nos unir contra esses CANALHAS incapazes de conquistar alguém, só conseguem sexo dopando uma mulher (ou homem).

(*obs, tenho muitos amigos, conhecidos homossexuais e ultimamente ouço muitos relatos como estes!!)

Anônimo disse...

"O álcool é a droga predatória número um nos campi universitários."

Não sei se já fizeram algum estudo parecido no Brasil mas ~algo me diz~ que aqui é a mesma coisa, nesse sentido. Até porque a vítima costuma achar que teve culpa em beber demais e dá o silêncio de presente para o(s) agressor(es). O alerta do "beber menos" até pode ser dado, sob esse enfoque.

F. disse...

Eu vivia com essa síndrome da culpa infundada. Fui estuprada por três homens (currada). Eram visinhos, solteiros que me viram nascer. E num dia me atacaram. Me surraram, me arrastaram num corredor e me jogaram num quarto sujo. Pensei que iam me matar. Eu era virgem e fiquei sangrando num canto enquanto riam. Fiquei uma tarde inteira com esses animais. Meu corpo doía e num desespero corri nua e me escondi embaixo duma mesa. E um deles o mais velho me tirou a puxões de baixo da mesa, me ameaçou e me liberou. Fiquei dias sem sair do quarto,não comia, nem dormia,pedi demissão do emprego e fiquei vegetando num quarto. Poucos amigos, sem pai vivo com minha mãe que acha que estupro é para mulher que dar confiança fiquei num vazio. Até que encontrei a Lola e as meninas que escrevem aqui. Tomei uma atitude e hoje sai da cova em que me jogaram. Mudei de cidade estou vivendo. Mas antes eu pensava:
A CULPA FOI MINHA!
EU NÃO DEVIA TER IDO QUANDO ME CHAMARAM.
EU NÃO DEVIA TER ME CALADO DIANTE DE ALGO BRUTAL.
EU DEVO TER PROVOCADO A ORGIA DELES.
EU,EU E EU.
Nem eu nem você nem mulher nenhuma tem culpa da escória humana, são imundos, porcos que nos sujam com sua podridão de espírito. Mas todas somos capazes de superar, embora oprimidas estamos conquistando vez e voz. Não se cale!

Anônimo disse...

"Acho esquisito esse negócio de 'não saber que foi estuprada'"

Acha esquisito por que? Você tem alguma noção do que fazem na cabeça das mulheres? Nós fomos educadas, passamos uma vida inteira formatadas, podadas, para sempre nos sentirmos assim, que nós somos culpadas, que nós quisemos aquilo, que nós temos que "nos dar o respeito".

E quando uma violência como o estupro acontece, a gente tenta entender aquilo, processando como se fosse bem feito por ter bebido demais, ou por ter ido para o carro, ou por ter apagado na festa.

Eu passei 12 anos da minha vida tentando entender que eu fui estuprada e até conhecer o feminismo, eu não achava que tinha sido estuprada, eu achava que a culpa era minha sim. Que tinha sido bem feito pela minha burrice. Mas não, a culpa foi do cara, porque eu falei 'não quero, para, tá doendo', e ele não parou.

Então por favor, Anônimo das 17:00, tenho um pouco mais de noção das coisas que fala.

LOVE GOTIC disse...

O machismo classifica a mulher em:

FÊMEA PARA CASAR
Mulher submissa que diz "sim meu senhor" para tudo que eles querem. Lavam, passam, cosinham, se calam e suportam eles, os amigos deles, as regras deles.

FÊMEA PARA PERSEGUIR
Feministas, modernas, revolucionárias, mulher que exige respeito, direitos. Mulher que diz NÃO as vontades patriarcal, dizem NÂO ao salário desigual, NÃO em brincar de casinha: papai manda mamãe obedece, mulher que veste saia curta, que se diverte na balada, que discute aborto, sexo e menopausa. Mulher que gosta de ser mulher e não mulher de estimação presa na coleira dum machista.

Unknown disse...

LOVE GOTIC é bem verdade, quando a gente tenta se impor num relacionamento se o homem for machista ele te desconsidera... mas tipo, se impor é só exigir respeito, ser tratada como humana!

Por um lado, que bom q isso afasta os calhordas! kkkkkkkkkk! Por outro sempre seremos mais perseguidas que as que se calam.

Erres Errantes disse...

As mulheres não devem se furtar de beber, caso gostem de beber.
Claro, eu digo isso até porque aprecio muito o álcool, e sou uma bebedora regular.
Os homens não têm o direito de molestar mulheres bêbadas - claro que não têm.
Mas enquanto vamos lutando, acho que devemos sim assumir certas posturas, para nos defendermos.
Daqui até que um filho da p*ta desse adquira a consciência de que não deve molestar mulheres, indolentes pela bebida ou não, acho que temos que ficar espertas assumir algumas posturas defensivas.
Tipo: NUNCA, JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA aceitar bebida de terceiros.
Essa bebida que a moça do post aceitou certamente estava batizada com alguma substância bem nociva.
Jamais beber algo que alguém colocou à nossa frente, sem vermos qual a procedência.
É uma regra básica de sobrevivência.

Anônimo disse...

"Acho esquisito esse negócio de "não saber que foi estuprada", de alguém precisar contar. Com 8 anos de idade fui molestada por um tio e sabia exatamente que aquilo era errado e me fazia mal, ainda que a palavra "estupro" ainda não coubesse no meu vocabulário (hoje em dia as crianças já devem saber sobre isso, imagino)."


Puxa, anon. de 28 de dezembro de 2013 às 17:00,. não é só porque sua experiência foi tão, digamos, explícita, é que outras garotas/mulheres não devam estar passíveis de dúvidas também.
Eu mesma tenho uma dúvida.
Um dia, vou compartilhar aqui.

Priscila

Anônimo disse...

Anon 17:00. Tem mulher que acha que a culpa de não estarmos todxs no paraíso é dela, das mulheres, afinal Eva comeu a porra da maçã. De esquisitice esse mundo patriarcal tá cheio.

Anônimo disse...

"Acho esquisito esse negócio de "não saber que foi estuprada"

também acho isso, a mulher achar que teve culpa é uma coisa e infelizmente sempre é assim mas n saber que foi estuprada é estranho mesmo.
como é que alguém n sabe o que é estupro?

Elaine Cris disse...

Fico sempre muito triste com essas histórias, mas é importante que elas sejam divulgadas, como instrumento de conscientização, discussão e talvez até como uma forma de se lidar melhor com o que ocorreu.
O comportamento desse cara apenas mostra como muitas vezes uma violência é fruto de uma cultura que classifica e coisifica mulheres.
Que a autora do post esteja bem.

Anônimo disse...

Era Cuba Libre Virgem? Para haver tonteira e confusão com álcool, é necessário horas de ingestão. Creio que ele pôs gotas de benzodiazepínico junto a uma cuba libre não virgem quanto te fez o favor. Um grande amigo já teve essa ideia, felizmente, roubei o clonazepam dele e troquei por... Própolis! Estuprar as gurias ele não conseguiu, mas ficaram com a garganta impecável. Sou uma heroína mesmo.

MonaLisa disse...

Já passei por uma dessa de colocar coisas na bebida.

Foi um cara que me ofereceu carona pra mim e um amigo voltando da balada e me pediu o telefone pra marcarmos alguma coisa.

No outro dia me ligou e disse que ia fazer uma festa no AP dele. Eu chamei um amigo travesti pra ir junto comigo, o cara ficou puto, mas eu disse que se ele não fosse, eu não ia.

Ai tudo bem, chegamos lá e ficamos na sala, ele trouxe duas latinhas de cerveja abertas. Quando bebemos, eu olhei pra cara do meu amigo e ele me olhou e fizemos sinal que tinha alguma coisa ali. Não tomamos mais, mas eu já comecei a ficar grogue. Depois de uns minutos não me lembro, o cara me levou pro quarto dele e tentava tirar minha roupa a todo custo e como não conseguiu, num surto me empurrou com tudo na parede e xingou, eu assustei e ele veio me abraçando e pedindo desculpas e disse que era melhor a gente ir embora.

Ele nos levou a casa do meu amigo que mora longe de mim, como eu não queria ficar no carro sozinha, fiquei por lá mesmo. E depois de uns 10 minutos resolvi voltar embora sozinha a pé. Mas eu tava piorando cada vez mais, não conseguia enxergar direito a rua, lembro de ter caído e indo me arrastando e chegar em casa.

No outro dia acordei com uma dor de cabeça horrível, meu amigo tbm. Isso pq só tomamos um gole de seja lá o que for aquilo.

Eu vejo aquele traste as vezes passeando com o cachorro pela cidade e descobri que ele é advogado. Deve dar esses golpes e depois se safar.

Mari R disse...

Quem faz algo assim, provavelmente não faz apenas uma vez.
E o pior de tudo é que boa parte das pessoas não acha que isso é estupro.

Fernanda disse...

Mas nós, feministas, não comemos a maçã. Nós comemos a serpente.

:p

Anônimo disse...

Uma vez um IMBECIL da faculdade meio que estava contandinho vantagem pros amigos, que tinha conseguido não sei o quê para por em bebidas e ia usar na próxima festa. Sorte que um amigo meu ouviu e, gentilmente, foi-lhe servido um drinque batizado com rivotril e dulcolax.

Acredito que ele não pensou mais em fazer o que tinha em mente, já que todo o cérebro do bonito saiu por baixo.

Anônimo disse...

Sobre ser feminista (super off): me cadastrei num site de conhecer pessoas - sou dessa - e deixei tão claro que sou feminista e de esquerda que desejo do fundo da mal que esse "aviso" afaste todo o mal. Por enqto deu certo, conheci gente bacana com ideias parecidas.

Anônimo disse...

"Quem faz algo assim, provavelmente não faz apenas uma vez."

Faz sim. Fui saber, esse senhor que tentou me embebedar - sou a anônima do primeiro comentário - já fez isso com outra e foi bem sucedido. Ela diz que não foi estupro, até pq teve um caso com ele por uns três anos depois disso... mas de qqr forma, melhor coisa é não dar de beber pra uma mulher se quer algo com ela. Não confia no próprio taco?!

Talita disse...

Muito legal a função informativa que o blog exerce, porque aqui ficamos sabendo de várias histórias, e vemos que não estamos sozinhas. Toda mulher tem alguma história de abuso na vida, impressionante como algo horrível é tão frequente. Me incluo na imensa maioria de mulheres que já passou por isso (de forma bem mais leve que é contado por aqui, mas tb causando más lembranças) e se sentiu culpada, herança da educação patriarcal que ainda recebemos.
Esse lance de "não saber que foi estuprada" como diz o anônimo de 28-12-13 17h, tem a ver justamente com isso: com 8 anos de idade, vc sabe que aquilo é estranho e te faz mal, MAS ainda não deu tempo de "aprender" que a pessoa que sofre abuso é "culpada" de tudo. Quando a gente fica mais velha, a gente fica pensando que se expôs ao risco (quando bebeu, quando usou um determinado tipo de roupa, e outras baboseiras que xs agentes do patriarcado ficam repetindo por aí), quando na verdade, fomos vítimas da ação de pessoas perversas. Sejamos solidárixs entre nós, minha gente! É um longo caminho percorrido até a gente perceber que não tem culpa de nada!
Obrigada, Lola! Um beijo grande e Feliz Ano Novo pra vc! =)

Anônimo disse...

Foi um estupro. Sempre vão existir pessoas com mal caráter. Por isso, enquanto as coisas não mudam, devemos sempre ter cuidado. É o que os pais sempre dizem: "juízo menina".

Anônimo disse...

Juízo meninO..

Anônimo disse...

um amigo de escola que frequentava minha casa e conhecia minha família e amigos, na primeira oportunidade que teve me drogou, ele colocou no meu refrigerante, como confiava nele bebi despreocupada, a minha sorte é que tenho o costume de beber devagar, só bebi meia copo e meu corpo ficou mole não conseguia ficar em pé, meus braços pareciam pesados, eu pedia pra ele me levar pra casa e ele dizia que me levava depois que eu bebesse tudo, só depois de muita insistência minha ele me levou pra casa, se tivesse bebido tudo teria apagado

Drica Leal disse...

O post, assim como os relatos nos comentários, são realemente assustadores! Sempre soube desses casos de homens dopando bebidas de mulheres estupra-las, só não imaginava que essa fosse uma prática tão comum, pelo que parece. O que há numa sociedade onde tantos homens e garotos não veem nada de errado em cometer esse tipo de covardia? Sim, porque eles parecem que não sentem nenhum tipo de constrangimento em usar essa técnica, tanto que alguns até mesmo revelam para os conhecidos que andam com essas drogas por aí com essa intenção. Mesmo que o estupro não seja consumado, como algumas comentaristas disseram, imagino que nesses casos deva existir algum tipo de punição. Sugiro que mulheres e meninas que passem por isso, de perceber que foram dopadas, tentem denunciar logo que possível, façam exames toxicológicos, deem queixa na delegacia, enfim, algo tem que ser feito ou eles continuarão achando que essa monstruosidade nada mais é que "esperteza" para conseguir sexo, porque mesmo que com vocês eles não tenham conseguido concluir o estupro (infelizmente a autora do post não teve a mesma sorte), eles podem já ter estuprado ou virão a estuprar outras mulheres usando essa mesma prática. Se forem conhecidos, por favor, avisem ao máximo de pessoas do convívio de vocês que os criminosos em questão andam com drogas para dopar mulheres. Porque vemos muitos casos de "boa noite cinderela" na intenção de roubo, mas os homens e garotos que fazem isso com intenção de estupro pelo visto estão aos montes por aí sem que a gravidade disso seja devidamente divulgada, alguns se sentem tão seguros da impunidade que até se gabam disso para amigos e conhecidos. Denuciem, sempre!

Anônimo disse...

"Esse lance de "não saber que foi estuprada" como diz o anônimo de 28-12-13 17h, tem a ver justamente com isso: com 8 anos de idade, vc sabe que aquilo é estranho e te faz mal, MAS ainda não deu tempo de "aprender" que a pessoa que sofre abuso é "culpada" de tudo. Quando a gente fica mais velha, a gente fica pensando que se expôs ao risco (quando bebeu, quando usou um determinado tipo de roupa, e outras baboseiras que xs agentes do patriarcado ficam repetindo por aí), quando na verdade, fomos vítimas da ação de pessoas perversas. "

Bem observado. Eu também sou do time que acha esquisito uma mulher não saber que foi estuprada mas vendo por esse lado, faz muito sentido.

Anônimo disse...

Confesso que eu voluntariamente optei por não beber álcool exatamente por situações assim, acho que não conheço uma única mulher do meu círculo de amizades próximas ou nem tanto que não tenha uma história assim pra contar (bebeu e coisas ruins aconteceram em seguida).

Isso não evitará que coloquem algo no meu refrigerante em um momento de distração por exemplo, mas o qu eu puder fazer pra não me colocar ativamente em situações de risco, o farei e tenho feito desde que tomei consciência do aspecto predatório do álcool e do embebedar-se.

Um saco ser mulher, a gente não pode tomar uma cerveja em paz...

donadio disse...

Eu recomendaria cuidado ao usar "estatísticas" a respeito de violência sexual. A probabilidade de serem "eustatísticas é grande.

No caso das que ilustram o texto, pelo menos um "quem conta um conto aumenta um ponto" é bem visível.

Diz ali que de um quinto a um terço das mulheres experimentam violência sexual na universidade. A estatística que eu conheço é um bocado diferente: é um quinto a um quarto das mulheres experimenta violência sexual até a idade em que se formam na universidade (mas essa violência pode ter sido em outros lugares, ou em épocas anteriores).

Sério, se algo como 25% das estudantes universitárias fosse estuprada na faculdade, quem em sã consciência frequentaria faculdade, ou permitiria uma filha cursar? E no entanto, a quantidade de mulheres cursando universidade só aumenta. Felizmente, aliás.

Anônimo disse...

"Tem mulher que acha que a culpa de não estarmos todxs no paraíso é dela, das mulheres, afinal Eva comeu a porra da maçã. De esquisitice esse mundo patriarcal tá cheio."

Caralho, vai dizer q isso é culpa do machismo tbm, visto que adão tbm comeu a fruta proibida?

lola aronovich disse...

C*ralho digo eu, anon das 14:02. Vai me dizer que vc não sabe que a base da nossa civilização cristã ocidental é esse mito de que a culpa pela miséria humana é de Eva (que representa todas as mulheres)? Vc também não sabia que, por causa de Eva, mulheres foram condenadas à dor do parto por toda a eternidade? Informe-se. Leia um pouco. Vc não conhece nem a narrativa oficial do mundo em que vive?

Anônimo disse...

Lola, eu achei um pouco exagerado o comentário. Quando me falam em "culpa da miséria humana" o primeiro nome que me vem à cabeça é Adão e não Eva. E, sim, eu leio a bíblia, sei das dores do parto e tal (não sabia que vc, como feminista, acreditava na bíblia) mas adão tbm teve suas punições. Me parece que o feminismo é um movimento q tende a minimizar os problemas dos homens e vitimizar a mulher sempre e em qualquer situação, taxando os homens como eternamente "privilegiados" a as mulheres como eternamente "oprimidas".

Fica um vídeo para ilustrar o que eu falei:

http://www.youtube.com/watch?v=lpRcMuwuuCA

Valentina disse...

Não sou uma teórica feminista, sou alguém que se tornou feminista pra poder sobreviver. Feminismo pra mim é um modo de vida, foi o que me libertou da vontade de ser qualquer outra coisa, menos eu. Mas demorei muito tempo até conseguir chamar isso de feminismo, por muitas razões. Então o que vou contar aqui é também parte da minha história. Há muitas coisas que gostaria de falar para outras mulheres, na esperança de ajudar alguém como eu fui ajudada.
Às vezes parece que estamos sozinhas e estas coisas só acontecem conosco, mas muito do que passamos é compartilhado. consulta medico pediatra medico doctor dermatologo veterinario veterinario ask to consulta abogado abogado abogado abogado abogado psicologo doctor psicologo abogado abogado Acredito que o receio que muitas mulheres têm de se dizer feministas, é também o receio de reconhecer que suas vidas não são assim tão únicas quanto imaginam. Que somos, na verdade, seres moldados para a feminilidade e que esta feminilidade é uma forma de prisão. E é claro que a prisão mais eficaz será aquela que as pessoas prisioneiras puderem pensar que gostam, ou que escolheram.