NESTE NATAL NÃO USAREI CASACO DE PELE

Impressionante! Quase todo dia meus inimiguinhos me atacam. Como é um tanto difícil me atingir, já que sou uma pessoa ética e nunca cometi crime algum, eles falam da minha aparência, como se nunca tivessem saído da quarta série. 

Às vezes me chamam de mentirosa: dizem que eu crio todos os comentários aqui do blog, todos meus quase 15 mil seguidores no Twitter, os guest posts publicados aqui. Dizem que meu lindo maridão é inventado. Outro dia disseram até que euzinha não existia!

E, claro, deturpam direto o que escrevo. Mas até aí, fazem com todo mundo.

Só que ontem fizeram uma coisa inédita. Usaram o maridão pra me atacar. Isso não é nada fácil, considerando que ele é todo certinho, mais até do que eu. Sabe aquela pessoa boa que todo mundo gosta, que não tem inimigos? Esse é o maridão. 

E qual foi o crime hediondo que o maridão cometeu? Este:

Quando vi a página na internet, falei pra ele: "Amor, alguém hackeou a sua página. Porque aqui tá aparecendo que você vende casacos de pele". 

Ele, perplexo, olhou, olhou, e se lembrou: "Não, é um casaco só. Três anos atrás, eu pus à venda o casaco da sua mãe, porque ela pediu". 

Eu: "Ah. E vocês venderam o casaco? Então por que a página ainda tá na internet?"

E aí tive que lembrar o ingênuo que tem gente que fuça qualquer coisa pra me atacar. 

Claro que "maridão vendendo casaco de pele da minha mãe" (Nelida é o nome dela) virou rapidinho "Lola tem casaco de pele". 

Minha mãe, não eu, nem o maridão, teve um casaco de pele na vida. Não sei quando ela o comprou. Eu era criança e hoje tenho 46 anos, então faça os cálculos. Sei que eu e meus dois irmãos mais novos, que sempre tivemos mais consciência ecológica que ela, a criticamos muito por isso, desde que éramos pequenos. Sou totalmente contra casaco de pele. Nunca teria um. Eu sou meio aquela que apoia o pessoal do PETA jogar tinta vermelha em casaco de pele. 

Minha mãe e eu quando jovens

Mas minha mãe é de outra geração, e ela passou por épocas em que tinha delírios de grandeza. Em que ela se considerava classe alta. Claro, quando ela percebeu que não era, que não tinha sequer casa própria, que ia receber um salário mínimo de pensão, que teria que morar com a filha mais velha (eu) porque não podia pagar aluguel, o tombo foi grande. 

Mãe, pudim de café, cauda de gato

Nunca vou me esquecer quando, já morando com a gente (no mesmo terreno, casas separadas) em Joinville, ela chegou uma manhã, esbaforida, trágica, dizendo "Morreu o pai dos meninos!". E eu, pensando que ela estivesse falando de alguém conhecido, já me assustei. "Os meninos" eram os cineastas João e Walter Salles. O pai, que tinha morrido, era Walter Moreira Salles... dono do Unibanco. Ela se achava próxima de um banqueiro! (e olha pra minha cara, pô! Eu sou de esquerda! Nunca vou chorar a morte de um banqueiro!).

Miley com um casaco quase tão
suntuoso qto o da minha mãe

Enfim. Posso falar com toda honestidade que minha mãe é uma pessoa muito melhor hoje. 

Eu nunca a vi usar aquele ridículo (e horrendo) casaco de pele. Claro, né. O Brasil é quente demais pra usar esse tipo de casaco. Mesmo em São Paulo ou em Joinville no inverno. É só pra ostentação. E minha mãe não tinha nada nem para quem ostentar. O casaco ficou guardado, ocupando seu pequeno guarda-roupas durante décadas. 

Armário que guardava o casaco

Quando a gente ia se mudar de Joinville pra Fortaleza, em janeiro de 2010, eu falei pra ela que de jeito nenhum ela poderia levar tudo que tinha, que ela precisava se livrar de um montão de coisas. Entre elas a Enciclopédia Britânica em inglês, que ocupava metade de uma estante sua e obviamente não era lida havia anos. Ela hesitou. Queria levar os sei-lá-quantos volumes (trinta?) de uma enciclopédia de 1977 -- devia ser da mesma época do casaco -- pra conhecer Fortaleza. Eu finquei o pé. Não foi fácil encontrar uma instituição que recebesse a doação de uma enciclopédia. 

Nossas duas casas em Joinville

Acho que nem pensei no casaco. Afinal, eu tinha muito mais coisa pra pensar. Estava tentando vender a nossa casa em Joinville (que consegui vender literalmente no meu último dia lá, e eu tinha que estar presente, porque a casa estava no meu nome). Estava falando com um corretor para tentar alugar ou comprar uma casa em Fortaleza -- isso que eu nem havia sido contratada pela UFC, e não havia garantia nenhuma que seria. Estava mais concentrada na maior mudança que faria na vida (quem lê meu bloguinho faz tempo acompanhou tudo).

Nossa casa pré-reforma em Fortaleza

Minha mãe tem dificuldade pra se desapegar das coisas materiais. Eu sei porque cheguei em Fortaleza uma semana antes dela, do maridão, e dos gatos. O caminhão de mudanças também chegou antes. E enquanto os transportadores traziam as caixas de papelão pra dentro de casa, eu ia ficando com raiva. Eram 60 caixas no total, fora os móveis. 15 eram minhas e do Silvio. 45, da minha mãe. E isso que nem a enciclopédia nem o casaco tinham vindo!

Mas tadinha da minha mãe, que já há três anos nem tem mais o casaco que nunca usou. E eu falando mal dela no natal!

E nem sei porque devo qualquer tipo de explicação pra reaças. Pois é, essa última calúnia não veio dos mascus. Veio de gente de direita, que tem pensamentos muito parecidos aos dos mascus, mas que nunca seriam aceitas como aliadas -- porque são mulheres.

"Conheci" essa mulher, Anna Celico, que deve ter a minha idade, esses dias. Um tal de Martorelli, um reaça assumido, que já foi denunciado várias vezes (por mim e por outras pessoas) por racismo e apologia ao estupro, tuitou na quinta que sonhava me espancar até que eu perdesse todos os dentes. É, é esse tipo de coisa suave e educada que reaças falam de mim. A conversa era entre ele e uma Letícia (outra obcecada por mim, já bloqueada) e essa Anna. Foi aí que tomei ciência dessa criatura obsoleta.

Reaça rábida e amiga da Anna

Curiosa, eu quis ver qual era a dessa Anna, que parecia ter tanta fixação por mim. Porque, se ela não estava puxando o saco de Gentili e Rafinha Bastos, ou conversando com amigos reaças, ela estava falando mal de mim. Admito que isso é bastante comum: gente que eu nunca ouvi falar não parar de me xingar. É meio estranho, mas como existe!

Bom, cheguei ao blog da criatura. Não há muitos posts, mas há uma introdução interminável onde praticamente se lê, em letras garrafais, POR FAVOR ME AME, e um longo post (sorry, vou ter que linkar; leia por sua conta e risco) dizendo que feministas não a representam. O post, que defende o casamento arranjado, começa falando que ela, Anna, tem urticárias quando ouve a palavra feminismo, e inclui ideias fantásticas como "Durante milhares de anos a humanidade convivia com a determinação de papéis e as coisas funcionavam bem". 

Juro que não me choco com essa ideologia reaça. É a mesma dos mascus, a mesma de comentaristas de portais. É o senso comum mais caricato em ação. O que me espanta é que alguém que tenha essas visões retrógradas não se considere conservadora. 

Queimar ou jogar fora um casaco é ótimo pro meio ambiente!

Certamente Anna tem muito tempo livre, porque vasculhou a internet até chegar ao "site" (de um só anúncio) que o maridão fez pra que minha mãe vendesse o casaco dela.

Amiga reaça da Anna adora me mandar carinhos

Isso chegou aos mascus, que supervisionam meu twitter e blog em busca de novidades. O post abaixo foi deixado pelo mesmo mascu que, faz pouco tempo, naquele mesmo fórum, escreveu que iria me caluniar e difamar usando qualquer arma, e que ele não se importava se era verdade ou não. Lógico que o fórum aplaudiu.

E olha só como são as coisas: alguns mascus e channers vivem me ameaçando (de morte, de estupro, de desmembramento). 

Eu e o vendedor de casacos de pele

Eles gostam de me ameaçar postando fotos da entrada minha casa, pra deixar claro que sabem onde eu moro, meu telefone residencial, tudo sobre mim, até no nome de quem estão os documentos. Mas o carro até agora eles não acertaram! O carro está no nome do maridão (quando vivíamos em Joinville, estava no meu). A casa está no meu nome. As contas, uma está no meu nome, outra no nome do maridão, outra no da minha mãe -- pra que cada um possa ter seu comprovante de endereço. 
Mas, né, eu e o maridão estamos juntos há 23 anos. O que é meu é dele, o que é dele é meu. Vivemos de acordo com a igualdade de gênero que defendemos. Simples assim. 

Não sei como o mascu Chris -- aquele que prometeu que vai acabar sozinho com o feminismo -- ainda não falou do "meu" casaco de pele. 
Tá dormindo no ponto, hein, Chris? Ele dedica em média três posts por dia pra me atacar (sem exagero! Esse tem ainda mais tempo livre que a Anna). Quase sempre são pra me chamar de gorda balofa e expor que, como eu não desperto o seu desejo sexual, obviamente não desperto o desejo sexual de ninguém. 

Meu zelador preferido

Logo, a conclusão racional é que eu sou virgem e que meu marido (primeira vez que Chris fala do meu marido!) é um zelador contratado pra ser meu marido. Algo assim. Tente entender (eu nunca sei se eu sustento o maridão ou se ele me sustenta. Os mascus me confundem).

Chris também anda postando muitas fotos minhas pra convencer seus leitores (eles devem existir) que travestis são mais atraentes do que mulheres cis, e que seu símbolo sexual é uma tal de Domino. 

A gente fica um pouco sem entender o que as preferências sexuais de Chris têm a ver com o combate ao feminismo, mas ele é um gigante intelectual, então deve saber o que está fazendo. 

Bom, esses foram três ataques isolados que colhi só ontem. Vamos ver se no natal eles dão uma folguinha. 
Hoje uma leitora me deixou uma sábia mensagem:

Ela tem razão. Não podemos perder la ternura jamás. Mas é que às vezes eu me canso de ser tão meiguinha e de fingir que não é comigo.
Que vocês tenham um lindo natal! E sem pele!