A Rayara, estudante de Publicidade e Propaganda aqui em Fortaleza, me enviou este guest post. Ela tem um blog sobre dança do ventre.
Meu nome é Rayara, tenho 17 anos e sou estudante e bailarina de Dança Oriental, ou Dança do Ventre, como é mais popular. Tenho contato (aulas, facebook) com várias bailarinas muito sérias da área aqui no Brasil, que desenvolvem um trabalho belíssimo. A Dança do Ventre chegou ao Brasil em geral junto com os imigrantes sírio-libaneses e de outros países árabes, e começou a se desenvolver mais significativamente da década de 70 para 80. Nasceram aqui então bailarinas que hoje têm reconhecimento internacional e são referência no que fazem.
A maioria de nós (as bailarinas comprometidas, digamos assim) estuda muito. Somos artistas dedicadas, que representam uma cultura que não é nossa e têm noção da responsabilidade que isso acarreta. Assim, estudamos técnicas orientais da dança, além de outras técnicas ocidentais que se inseriram na Dança do Ventre. Estudamos cultura árabe, algumas até mesmo aprendem a língua quando há oportunidade. Estudamos técnicas teatrais, investimos em cursos, viagens, figurinos... Tudo isso para tornar nossa arte cada vez mais rica e bem representada, juntamente com toda a sensibilidade que colocamos na nossa dança.
Mas, infelizmente, não é essa a imagem que a mídia muitas vezes passa. No dia 2, sábado passado, a Globo mais uma vez apresentou a Dança do Ventre numa ótica sexista e banalizada (veja aqui a cena). Essa arte tão encantadora que valoriza a mulher e estimula a autoestima das suas praticantes foi apresentada como um mero meio de entretenimento machista. Foi ao ar uma cena na novela Avenida Brasil de uma luxuosa despedida de solteiro regada à muita bebida alcóolica, onde os únicos convidados presentes eram homens brancos.
Para o entretenimento destes, havia algumas bailarinas de dança do ventre dançando e sorrindo, enquanto os convidados as olhavam da mesma forma que um animal carnívoro olha um pedaço de carne. Algum tempo depois, chegam strippers para "completar" o time, e todas prosseguem rebolando em cima das mesas e se insinuando para os homens com um sorriso estático. Mais uma vez, mulheres retratadas como objetos sexuais que não falam, não pensam, não sentem. Apenas servem.
Para o entretenimento destes, havia algumas bailarinas de dança do ventre dançando e sorrindo, enquanto os convidados as olhavam da mesma forma que um animal carnívoro olha um pedaço de carne. Algum tempo depois, chegam strippers para "completar" o time, e todas prosseguem rebolando em cima das mesas e se insinuando para os homens com um sorriso estático. Mais uma vez, mulheres retratadas como objetos sexuais que não falam, não pensam, não sentem. Apenas servem.
É deprimente sermos desrespeitadas dessa forma. Nossa arte sempre é retratada com toda essa ignorância e sexismo nas novelas globais. Em geral o padrão se repete: ou é a mulher que dança para conquistar/agradar o marido/namorado/afins, ou é a bailarina que tem o papel de entreter muito mais com o seu corpo do que com a sua dança.
E é essa a imagem de nós, bailarinas sérias, que é muitas vezes passada para as pessoas. Das muitas bailarinas que conheço, não são poucas as que já foram abordadas de forma ofensiva, que já sofreram piadinhas machistas, que já foram chamadas para fazer participação em programas sensacionalistas ou para realizarem "show particulares". Eu também já passei por tudo isso. Ainda assim, nós conseguimos divulgar essa arte da forma como ela merece ser divulgada e mudamos a mentalidade de muita gente que tem essa visão errada da Dança Oriental. Como se já não bastasse o preconceito que a sociedade tem com o artista, ainda temos mais esse para lutar contra.
E é essa a imagem de nós, bailarinas sérias, que é muitas vezes passada para as pessoas. Das muitas bailarinas que conheço, não são poucas as que já foram abordadas de forma ofensiva, que já sofreram piadinhas machistas, que já foram chamadas para fazer participação em programas sensacionalistas ou para realizarem "show particulares". Eu também já passei por tudo isso. Ainda assim, nós conseguimos divulgar essa arte da forma como ela merece ser divulgada e mudamos a mentalidade de muita gente que tem essa visão errada da Dança Oriental. Como se já não bastasse o preconceito que a sociedade tem com o artista, ainda temos mais esse para lutar contra.
Enfim, fica aqui um desabafo, um protesto que não é só meu, mas de muitas bailarinas que também se indignaram com uma emissora ignorante, preconceituosa e sexista, que ofende artistas sérias que colocam tanto amor e dedicação no que fazem (assine o abaixo-assinado). Ainda assim, eu acredito que as coisas podem melhorar sim, cada vez mais. E isso depende muito de nós, artistas. Não me calo diante disso nem nunca vou me calar, porque tenho a certeza do meu direito de protesto.
209 comentários:
«Mais antigas ‹Antigas 201 – 209 de 209fabio, a REAL é q vc é um dos guerreiros de um real, e isso por si só já é brochante e desanimador pra qlquer mulher.
Querido Fábio
Para você o que é feminilidade e masculinidade?
Você acha, realmente, que ser uma mulher meiga, como sua noiva, ela deve ser sempre submissa a você e se colocar em último lugar e você em primeiro?
O pré-requisito para um relacionamento saudável, Fábio, é que ambas as pessoas se amem profundamente antes de amarem e dedicarem-se a outra pessoa, assim, nenhuma das pessoas da relação domina a outra
Mas, vocês, masculinistas, não acreditam em relação de amor saudável e sim em relação de poder unilateral sobre o outro
Boa sorte para você e sua noiva
Hamanndah
Eu acho a dança do ventre uma coisa belíssima, adoraria fazer se tivesse tempo. Sobre o texto, eu concordo que as novelas colocam as coisas de maneira sexista mas foi a repetição da idéia de "Bailarinas Sérias" o que mais me chamou a atenção. Então nem todas as bailarinas são sérias, assim como nem todas advogadas, médicas, dentistas e o equivalente masculino de tudo isso aí, é importante que os "sérios" se unam contra quem macula a classe a que pertence mas esse "bailarina séria" aí ficou esquisito, pareceu pra mim que a seriedade tinha menos a ver com dedicação e estudo e mais com "outra coisa", essa coisa que as moças que dançam não querem que pensem delas. E isso eu achei um pouquinho preconceituoso, machista até, como se as mulheres não tivessem o direito de serem não-sérias por conta do que os outros vão pensar.
Miriam
Quando se fala em DV logo as pessoas, principalmente os homens, a associam ao comércio sexual e despedidas de solteiro. Triste! Td bem enxergar o toque de sensualidade da dança, até porque, td dança tem isso, haja vista o tango, a salsa, a lambada, mas daí enxergar apenas isso é muita pobreza de espírito, né não? Falta de informação é dose.
Ai, ai, considero a dança bem sensual, não nego. Acho linda esta arte e cheia de simbolismo. Talvez o fato de, como as gueixas, as odaliscas serem vistas como um distante objeto de desejo, aquele inatingível e misterioso seja o ponto chave deste preconceito, do mau uso da dança (como qualquer outra). Agora imagine eu, enfermeira, ter que aguentar, fudida, mas calada, um monte de fantasias de enfermeiras no carnaval e fora dele. É muita cara de pau. É o lixo cultural.
Eu tinha a imagem que mídia faz dessa dança e por isso pensava em nao colocar dançarinas do ventre no livro que escrevo.
Ainda bem que existe e vi esse post pra ver a real.
Com ou sem Globo, se uma dançarina do ventre exibir sua arte na frente de um homem, ele será estimulado sexualmente. A dança em si possui movimentos e figurinos que tem certo apelo sexual. Assim, da mesma forma que um bombeiro ou general ganha destaque no imaginário feminino por ter qualidades que agradam as mulheres (tais como força, coragem, e outras características de um protetor), a dançarina do ventre atiça o imaginário masculino por colocar em evidência partes de seu corpo que a demonstrem uma boa parteira.
ola vcs gostam de dança?
entam dem uma olhada no blog do grupo de danla imydance
ele foi criado hj!
1º) o nome Dança do ventre, não é de origem árabe... e sim do Imperador Napoleão que assim o nomeou quando foi ao Egito com suas tropas. Lá conheceu a dança Raqṣ sharqī (árabe e literalmente "dança da região", e, por extensão, "dança popular". As ciganas Gawasis que dançavam. Algumas foram levadas para a França para dançarem para a corte. Anos depois chegou aos USA que foi modificada para o teatro burlesco, sendo introduzidos elementos novos, como o véu, a espada, a cobra. Nos anos 30 várias bailarinas egípcias aprenderam balé, jazz e incorporaram a dança do ventre. Atualmente não é mais considerada folclórica e sim uma dança popular, devido a esses acréscimos de elementos que não provem da cultura árabe, e não adianta chiar mais, pq é uma arte que o mundo inteiro já assimilou e modificou. A globo é apenas mais um veículo de comunicação, que faz sua interpretação da dança.
Postar um comentário