domingo, 23 de outubro de 2011

“MEU CASO VIROU MINHA CAUSA”, DIZ RHANNA


Muito boa a reportagem do Fantástico sobre o caso de Rhanna, a estudante de Direito que teve o braço quebrado numa boate em Natal. A matéria, que você pode ver aqui, diz claramente: a abordagem masculina tem se tornado cada vez mais violenta. É banal um rapaz chegar pra uma moça numa balada e pegar no seu cabelo, no seu braço, na sua cintura, e tentar beijá-la à força. Quem lhes deu esse direito?
Ontem à noite recebi por e-mail um texto que vem percorrendo o Facebook. Tentei entrar em contato com Dani, a moça que o escreveu, para pedir autorização para publicar seu relato aqui no blog, mas, como não obtive resposta, vou só descrever o que ela conta e colocar um trecho (o resto, pra quem tem Facebook, pode ser lido aqui). Ela foi a uma boate em Belo Horizonte ver o cover de uma banda. Um rapaz bombado tentou beijá-la à força, ela recusou, ele então apertou sua bunda, ela disse que iria chamar o segurança, ele a chamou de lésbica, apertou seu braço, pôs a mão por baixo de seu vestido e a tocou, jogou energético em cima dela. Enquanto ela foi atrás do segurança, ele sumiu. E reapareceu, dizendo que mulheres tatuadas são lésbicas ou p*tas (tá parecendo mascus, que em geral são misóginos, violentos, covardes, marombados, e chamam tatuagem de “carimbo de p*ta”). O segurança falou com os dois e decidiu não fazer nada. Apareceu outro que igualmente liberou o agressor. Ela foi falar com o dono da boate, que a aconselhou a se divertir, e ainda lhe desafiou: “pode chamar a polícia”.
Dani, revoltada, pergunta: “Até quando vai ser assim? Até quando as mulheres serão obrigadas a conviver com a violência? Até quando a nossa palavra não terá validade? O que sofri foi uma violência que me lesou em todos os aspectos! Fui desrespeitada por todos os homens que procurei para pedir ajuda. Sinal que todos são capazes da mesma atrocidade. Para eles, não foi nada de mais!” Dani diz que vai processar o estabelecimento.
E ela repete o que tantas moças, assustadas com essa violência, esse sentimento masculino de entitlement (merecimento), dizem: que é melhor ir a boates gays, porque lá são respeitadas. Lá os homens não dão em cima agarrando, ou “partindo pro abate”, no linguajar dos mascus.
Uma das leitoras que me mandou o e-mail disse que seu pai veio lhe perguntar o que era isso “da moça que teve o braço quebrado”. Ela contou, e o pai não conseguiu acreditar que um sujeito deu um golpe que quebrou o braço de uma menina só porque ela lhe disse não. Pra esse pai, devia ter mais coisa aí (assim como para o estudante de Direito e amigo da Hellen, que escreveu o guest post de ontem). Acho que a reação do pai da leitora é comum. Os homens parecem não fazer a menor ideia do mundo em que vivem as mulheres. Um mundo em que qualquer mulher sozinha é considerada à disposição e, portanto, não têm o privilégio de escolher, ou de negar, companhia. Um mundo em que uma mulher passa de objeto de desejo à p*ta (que merece ser agredida) em questão de segundos. Um mundo em que existe toda uma estrutura pra passar a mão na cabeça desses machinhos, que só estão agindo assim por instinto, e porque têm certeza que, no fundo, mulher gosta mesmo é de “pegada”.
Rhanna, a moça de Natal que será advogada, disse uma frase linda: “Meu caso virou minha causa”. Em outra ótima entrevista, esta à Tribuna do Norte, ela diz que não tem medo e que vai fazer a sua parte para combater a violência contra a mulher. Parabéns a ela e a Dani, que optaram por não se calar e a lutar contra seus agressores. O caso delas, e de tantas outras, reflete a velha história de sempre: homens lembrando mulheres que lugares públicos não são pra elas. Só pra eles. 

UPDATE: Boa notícia! Cinco anos depois, o agressor de Rhanna foi condenado a três anos! E Rhanna é pré-candidata à vereadora em Natal!

231 comentários:

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Flávio Brito™ disse...

Liana:

De fato você tem razão.
Mulheres são alvos preferenciais mesmo. Com crianças então nem se fala.

Lord Anderson disse...

Pelono menos vc reconhce que foi machismo nesse caso, mas então pq desviar o assunto?

Não sei se todos os homens que vc citou são uma ameaça, mas muitos são sim. basta ler os jornais, as noticias.

aliais o carinha se enquadra na categoria ou não?

então nesse caso, o protesto da Lola, da vitima e das demais comentarista está mais do que correto.

Claramc disse...

Flávio,

Homens, ou para ser mais clara, pessoas do sexo masculino, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA.

Essa é a resposta para todos os seus questionamentos.

Se não fossem tão violentos, não estariam presos. Não seriam expulsos de casa pela família. E etc.

Flávio Brito™ disse...

ClaraMC:

Pessoas do sexo masculino, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA.

Hum entendi. Então uma pessoa do sexo masculino só envolve com crimes por serem violentas né?. Não tem nada a ver com falta de educação, uma cultura machista, falta de afeto e de oportunidade por parte do estado e da sociedade, ou pobreza e miséria né?
Simplesmente as pessoas do sexo masculino são violentas e por isso vão parar na cadeia?
Então meu pai, eu e todos os homens da minha família devem ser do sexo feminino já que não somos violentos e nunca fomos presos.
E quanto às mulheres assassinas, traficantes, assaltantes essas só são violentas por serem mulheres do sexo masculino?
Puts...
Você também é um troll?
Permita me usar sua frase:

Pessoas NEGRAS, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA = Racismo;

Pessoas gays, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA. = homofobia;

Pessoas mulçumanas, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA = intolerância religiosa.

Pessoas do sexo masculino, colhem o que plantam: VIOLÊNCIA. = ?

Patricia disse...

Aqui em Floripa teve o caso de duas meninas que foram agredidas por um cara. Uma delas teve até um afundamento na testa em decorrência do soco que o cara deu. O pessoal do bar não prestou socorro às vítimas. Nem sei no que deu esse caso!
Dá para entender melhor a história nesse blog:
http://www.tijoladas.info/garotas-agredidas-na-casa-noturna-vecchio-georgio-lagoa-da-conceicao-florianopolis-dono-marginal-deu-cobertura-para-o-agressor-lucas-felicissimo/

blackstar disse...

Flávio, você foi correto no comentário a seguir:

"Então uma pessoa do sexo masculino só envolve com crimes por serem violentas né?. Não tem nada a ver com falta de educação, uma cultura machista, falta de afeto e de oportunidade por parte do estado e da sociedade, ou pobreza e miséria né?"

Os homens são vítimas do machismo, você mesmo reconhece isso. Então em vez de insistir nisso de quem é mais ou menos culpado, como se isso isentasse de alguma coisa, como se um erro justificasse o outro, que tal fazer algo para mudar essa realidade? Se você acha que as mulheres também são machistas, porque não escrever um texto relatando o machismo das mulheres e como você sofre com isso?

Enquanto você continuar a acusar as mulheres ao invés de tentar mudar algo, tudo vai continuar a mesma coisa.

blackstar disse...

(rolou o maior pollyannismo da minha parte no comentário anterior, mas ainda acredito que as pessoas possam mudar)

Mundo Bárbaro disse...

Olá meninas... também vi essa matéria pelo Facebook. Realmente fiquei bravo, pois todos nós somos pessoas que se indignam mediante uma situação dessa. Eu sou professor de Artes Marciais, mas não sou pit-boy, dou cursos de Defesa Pessoal só para mulheres, e percebi que algumas de vocês por questão de defesa também reagem com força por conta de uns "moleques" que tentam se aproveitar. Como já foi dito por alguns aqui em cima, "violência gera mais violência" e é verdade, e querer vingança todo homem com brio sentiria esse ímpeto, mas sempre vão existir duas mulheres sensatas do lado desse homem para coagi-lo, provavelmente uma mãe e uma filha. Minha dica meninas, se tentarem abusar reaja, mas apenas para se livrar e buscar ajuda competente, não se sinta rogada de chamar a polícia se achar que isso é necessário. Se seguranças não fazem nada, é porque não são seguranças, são rapazes de academia que ganham um dinheiro por fora fazendo um bico, e estabelecimentos podem ser processados por não ter segurança profissionalizada. Mesmo sendo professor, mas sou contra a violência, a arte que eu prático é por esporte. Paz a todos.

Roxy Carmichael disse...

Flavio meu jovem, eu entendi o que você quis dizer. A questão economica e a má distribuição de renda é talvez uma das grandes responsáveis pela violência urbana que atinge homens e mulheres pobres (ricos nem tanto, e quando acontece é muito mais noticiado, todos ficam sabendo, chamam especialistas na TV pra dar uma resposta confortante porque o povo fica meio desesperado). Tanto é que os crimes que você cita, todos tem esse denominador comum que é o dinheiro: assalto, trafico de drogas etc., tudo bem, ok, super concordo. agora eu não sei se você percebeu, mas estamos falando de outro grande problema social que é a violência e/o crimes de gênero. a questão economica é terrivel, a desigualdade social gritante e temos problemas muito complicados e estruturais por causa disso. o que não significa dizer que os problemas da sociedade se resumem a isso. da mesma forma quem disser que a questão de gênero é a única problemática e ignorar a questão socio-economica, também está incorrendo num erro. o que você pode fazer é relacionar o capitalismo ao patriarcado, o que algumas teóricas fizeram, mas não é necessariamente o caso aqui. um outro detalhe importante: discutir a questão de gênero não implica necessariamente em um esquecimento das outras problemáticas sociais. assim como assumir um discurso e uma postura crítica em relação a desigualdade economica também nao deveria implicar uma indiferença em relação a outros problemas, como por exemplo a questao de gênero (lembrando que você se insere nesse ultimo caso). estamos debatendo um crime ocorrido dentro de uma boate, de um homem contra uma mulher, não porque ele queria roubar a bolsa dela, mas porque ele queria forçá-la a beijá-lo. será que agora ficou mais claro?

Roxy Carmichael disse...

não flasht, não vale.
mas aprecio a sua boa vontade
continue tentando
uma dica: vá buscar sociólogos, antropólogos, cientistas sociais enfim, vá buscar estatísticas sérias e depois a gente conversa. enquanto você vier com videozinho do youtube e reportagem do T E R R A ninguém vai te levar a sério, nem aqui, nem em lugar nenhum.

Anônimo disse...

Meu comentário não foi desconsiderando a violência. Eu apenas gostaria de ter trazido alguma reflexão ao assunto. De qq maneira, não mais postarei comentários qdo o post tratar de assunto que gera polêmica.

Luiz disse...

Daniela,

Sabia que alguém ia pegar em armas para combater os riscos da reprovação. O muro de Berlin caiu em 1989 mas a cortina de ferro continua intacta em muitas Faculdades de Educação brasileira. Há mais vermelhinhos nos campus da USP do que em toda a China.

Fiz meu Doutorado na Alemanha. Ralei pra caramba lá e na escola que estudei aqui. Vi alunos de ensino médio e graduação comerem caderno nas escolas e faculdades de lá e mesmo assim a reprovação comia solta. Não vi nenhum alemão sentado pelos cantos e reclamando da vida. Não vi lá na Alemanha ninguém fazendo apologia a cultura do coitadismo como dia sim dia também ouço por aqui. Lá eles ensinam que se você quer algo tem que ralar muito para conseguir. E que tem coisas que mesmo que você queira você não vai ter. As mulheres em Berlin são muito respeitadas, por que as pessoas aprendem que elas não terão tudo que querem e que ninguém é obrigado a dar algo para elas simplesmente porque elas querem. O número de assaltos também é muito baixo. Ao contrário daqui onde as pessoas acham que pode tudo. Quem quiser defender o contrário terá que me mostrar que a educação (Em todos os aspectos. Inclusive nos comportamentos sociais) está melhor no Brasil comparado com a Alemanha. Nunca tive notícia de ninguém quebrando braço de moça nas boates de lá porque ouviram um não de um homem. Maioria deles certamente ouviu um monte de nãos dos patrões, dos professores. E eles falam não com muita facilidade!!!

Roxy Carmichael disse...

não lembro flasht...será que foi: eu sou muito jovem e é assim que eu acho que tô adquirindo conhecimento, pelo terra, pelo uol, pela página inicial do hotmail ou do yahoo, é assim que eu fundamento as minhas opiniões?HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

gata disse...

http://mghb.homenshonrados.com/2011/10/contagem-regressiva.html

Muahahahahhahahahahahahahahhiahahahahah

Roxy Carmichael disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roxy Carmichael disse...

gato, já te dei o toque:
vai estudar sério...olha, não dá pra defender nenhuma opinião à partir unicamente da sua experiencia pessoal, você vai cair em generalizações e o seu argumento vai cair por terra muito facilmente. a internet deu uma boa democratizada na informação, mas ainda não resolveu alguns problemas da antiga mídia.hoje você tem uma variedade maior de informação, de fontes mas alguns sies são grandes conglomerados que continuam reproduzindo um discurso muito pouco confiável, que não está muito preocupado em checar as informações só pra reforçar a linha editorial adotada pelo veículo, que tá longe de ser imparcial. divulgam essas noticias porque sabe que ninguem vai leva isso muito a sério. isso é só a ponta do iceberg. você nao vai conseguir desenvolver o seu potencial pensante e crítico (acredito que você tem um e que tá sendo mal utilizado) só recortando notícias frívolas de sites de variedades. tem críticas ao feminismo?pois busque conhecer grandes teóricas feministas como a simone de beauvoir, a susan brownmiller, entenda o período histórico em que elas desenvolveram seu pensamento, leia também a crítica que foi feita a essas teóricas. quer defender a psicologia evolucionista, pois vá pesquisar com maior profundidade. sério, você tá querendo bancar uma discussão que você não tem capital intelectual suficiente pra bancar, fica um pouco ridículo sabe? e sim, seu exemplo vai ser ignorado não porque ninguém aqui quer admitir culpa nenhuma, mas simplesmente porque há uma desigualdade gritante aqui em termos de conhecimento. você nem disfarça que toda a sua argumentação vem do senso comum e do hábito (preguiçoso) de recortar reportagens bem fraquinha de veículos de comunicação com pouquíssima credibilidade.
desejo o melhor pra você, querido. pense sobre o meu conselho e boa sorte

Francisca disse...

Daniela,

Não entendi a parte da crítica radical ao capitalismo. Nós deveríamos mudar para outro sistema econômico? E porque esse outro seria tão melhor que o nosso atual?

Não estou dizendo que mudar seria ruim. Nós mudamos muito nos últimos 2 séculos. Saímos da cultura de um governo monárquico e irresponsável para um sistema democrático. De execuções públicas de pessoas que seguiam determinadas religiões para o Estado laico e a liberdade religiosa etc. A questão é saber exatamente em que rumo serão essas mudanças, porque o capitalismo tem muitos defeitos, mas também tem seus aspectos positivos.

Sobre o caso da dupla jornada da mulher. Essa é uma questão que envolve muita hipocrisia. As mulheres toleram maridos que não dividem as tarefas domésticas, mas culpam a sociedade por trabalharem mais que os homens. É o tipo de situação em que a mudança deve começar dentro de casa. Digo sempre às minhas amigas: "Não admitam que eles não dividam as tarefas da casa com vocês, porque no casamento se divide tudo, sempre!"

Anônimo disse...

Esse caso me fez imaginar a Atenas da Grécia Clássica, em que as mulheres viviam restritas ao òikos (lar) e somente homens tinham direito a sair e conversar nas vias públicas. Desejo que a justiça não vende os olhos ao caso de Rhanna.

Anônimo disse...

Lola, por favor, dá uma olhada nessa notícia:
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2011/10/funcionaria-da-casas-bahia-deve-ser-indenizada-por-uso-de-broche.html

Andre Kenji disse...

"Não, ao recomendar isso o que estão fazendo é culpar a vítima, sim. É dizer que depende da mulher ser ou não estuprada. Que ela está 'procurando', 'querendo', 'provocando'. É dizer que o errado não é o homem, ele apenas está caindo na tentação, a culpa é da mulher, essa oferecida que provoca o pobre coitado do estuprador."

Não, não é isso que estamos falando. Inclusive porque eu estou citando a Yasmin Alibhai-Brown, dificilmente uma autora masculinista.

"E, sabe, não é verdade. Mulheres vestidas como santas são estupradas todos os dias. A roupa da mulher não evita nada."

Ninguém diz que evita. Está-se simplesmente apontando que em várias situações sociais vestir-se de forma excessivamente convidativa não é sábio.

Assim como andar de Rolex no Centro Velho de São Paulo não é. Em nenhum dos casos você vai culpar a vítima, mas não incentivo ninguém a isso.

Daniela Rodrigues disse...

Cara Francisca,

Sim, quando escrevi meu comentário imaginei bem que alguém faria o questionamento que você fez. Então, vamos lá:

Quando falei da crítica ao sistema estava me referindo a exatamente isso: crítica. Não propus e não proponho nada em substituição ao capitalismo (pelo menos não como uma receita mágica, que possa acabar com todos os males sociais).

Mas você há de concordar comigo que estamos vivendo um fato inédito na história da humanidade: vivemos numa sociedade incapaz de criticar a si mesma. A suposta universalidade do capitalismo conseguiu fazer com que as pessoas acreditem que suas bases são ontológicas, ou seja, intrínsecas à natureza humana desde sempre e para sempre. Principalmente depois do fim da União Soviética, qualquer crítica que se faça ao sistema é tomada como um delírio comunista. E isso é muito perigoso, não acha? Eu não acredito que esse marasmo intelectual possa durar ainda muito tempo, e espero que não dure.

A riqueza, é claro, sempre existiu e a cobiça está presente até nas antigas narrativas bíblicas. Mas há uma enorme diferença entre a inveja inspirada pela riqueza de uns poucos, poderosos personagens e a luta geral pela riqueza difundida entre a sociedade. Este fenômeno, a motivação-lucro como a conhecemos é tão velha quanto o "homem moderno". E é isso que não podemos perder de vista: a temporalidade do capitalismo. E ele, apesar de se vender como ontológico, não está, nem pode estar, imune à crítica radical.

Espero ter esclarecido a questão.

Abraço.

Daniela Rodrigues disse...

Caro Luiz,

Entendo o que você diz, e pessoalmente tendo até a concordar com alguns pontos, mas não posso evitar reflexões como a feita neste texto do Ghiraldelli, por exemplo: http://zelmar.blogspot.com/2011/07/felizes-por-direito-por-que-nao.html (eu não gosto de 80% do que ele escreve, mas neste caso o achei bastante sensato).

Eu vivo na Suiça, conheço bem a Alemanha e, portanto, a veracidade do seu ralato. Mas acho que uma sociedade assim só pode ser criada a partir da inclusão. Quando você lamenta o fim da seleção pelo vestibular está ignorando o contexto em que você vive - aí no Brasil, lembra? Está tendo a mesma atitude dos professores de uma escola norte-americana, representados no lindo filme "Escritores da Liberdade", que recomendo muito a você.

A meritocracia é uma das armas utilisadas pelo sistema para fazer com que as pessoas se sintam um lixo. E é muito útil também para culpar o aluno pelo fracasso escolar. Se, de um lado, meu discurso pode te parecer uma tentativa de vitimizar ou eximir de responsabilidade o aluno, de outro o seu desejo de "selecionar" evidencia, na minha opinião, um elitismo contido, um medo pequeno-burguês de se misturar e total incapacidade de lidar com a diversidade e de educar PARA TODOS.

Claro que existem diferentes personalidades, claro que o indivíduo é capaz de modificar sua história, de fugir ao determinismo social, mas estamos falando de toda uma sociedade extremamente desigual em todos os sentidos, acostumada a estigmatizar e excluir. Por mais que hajam exemplos pontuais de superação, o país precisa de um sistema inclusivo. Concordo com você que hoje ele funciona muito mal, mas não vejo como solução a exclusão, nem mesmo a reprovação.

Anônimo disse...

'Se, de um lado, meu discurso pode te parecer uma tentativa de vitimizar ou eximir de responsabilidade o aluno, de outro o seu desejo de "selecionar" evidencia, na minha opinião, um elitismo contido, um medo pequeno-burguês de se mistura'

Vc também seleciona quando escolhe qualquer produto mais eficiente, quando escolhe um médico que acredita ser competente, quando resolve morar num lugar que é melhor pro futuro dos seus filhos.
As pessoas tem problemas desde que o mundo é mundo, se vc vai resolver, ótimo, se não, elas vão vou procurar quem resolva.ISSO é meritocracia, esse negócio de 'a meritocracia quer que as pessoas se sintam mal' é um vitimismo ao cubo.

Daniela Rodrigues disse...

Nooossa, crowley321! Que gracinha sua comparação! Tudo a ver com a "seleção" que estávamos discutindo... Parabéns, você é muito inteligente ;)

Liana hc disse...

Daniela Rodrigues, concordo com a crítica capitalismo-feminismo e com a questão da meritocracia. Essa não é a melhor maneira de lidar com o aprendizado de crianças e adolescentes. Não é excluindo que se educa ou se passa valores maiores como ética. O que eu concordo do que o comentarista falou é que as coisas estão muito frouxas, tanto da parte das famílias quanto das instituição educacionais. As particulares, por ex, estão virando meras empresas, difícil praticar e cobrar respeito quando se trata o ensino e o aluno como produtos e o objetivo principal é decorar pra o vestibular. Tudo isso precisa ser revisto.

Muitas são as maneiras de se desafiar alguém que está ali para aprender, gosto em particular da Escola da Ponte, em Portugal. Também há mérito neste caso só que sem o sistema excludente, mas para quem está habituado ao modelo tradicional deve ser difícil engolir aquilo :)

Anônimo disse...

@Daniela
Ah com certeza, inteligente é quem
1)se escora em argumentum ad hominem,

2)generaliza e depois finge que não estava falando daquilo
E como vc disse mesmo?
'A meritocracia é uma das armas utilisadas pelo sistema para fazer com que as pessoas se sintam um lixo.'

Então vc fala que eu sou burro pq comentei sobre meritocracia e n sobre o vestibular, só que esquece que foi VC que generalizou e botou essa palavra no meio, com todas as letras.

Anônimo disse...

O mais engraçado disso tudo é que no tempo do FHC, aquele maconheiro inconsequente e irresponsável, o governo veio com a tal da avaliação seriada, passando de ano o aluno que não soubesse p nenhuma, e a esquerda, PT e cia, eram os primeiros na fila morrendo de criticar.

Daniela Rodrigues disse...

"Vc também seleciona quando escolhe qualquer produto mais eficiente, quando escolhe um médico que acredita ser competente, quando resolve morar num lugar que é melhor pro futuro dos seus filhos".

Ahhhhh... Aí você estava definindo meritocracia, ou discorrendo sobre?

Desculpa intão. Só me resta reconhecer a sua sagacidade intelectual.

Boa vida, crowley321.

Daniela Rodrigues disse...

Liana, eu fui professora e concordo com você, existe mesmo uma certa tensão. O mundo está sofrendo mudanças, mas elas não são lineares e não ocorrem da mesma forma, nem ao mesmo tempo em todo lugar. O novo convivendo com o velho, e uma terceira coisa sendo produzida a partir dessa relação, por vezes conflituosa. Eu entendo isso, sei que é complicado.

Mas tudo isso está incluido no que eu disse sobre as críticas que precisamos fazer à forma que organizamos - historicamente - nossa sociedade. Por que as escolas hoje estão cada vez mais se transformando em empresas, como você disse? Quais os valores que estamos perpetuando? Qual o papel da escola num mundo globalizado?

Acho que a escola é uma reprodução da sociedade onde está inserida, um microcosmos onde se refletem, guardadas as devidas proporções, as contradições e os conflitos do mundo lá fora. Não dá para um professor entrar na sala de aula e querer que este seja um ambiente neutro, o sagrado recinto do saber, onde os alunos são apenas cognição, deixam de lado quem são, o que são e a realidade ao seu redor.

Mas sim, há muitos professores que, enquanto transmetem o conteúdo programado, sonham secretamente com este mundo ideal. Eles olham para os alunos e se sentem quase que agredidos por serem obrigados a lidar com "certo tipo de gente", lamentam o fim dos "bons tempos" em que o vestibular (ou qualquer outro instrumento de exclusão da nossa sociedade vergonhosamente desigual) selecionava os "melhores".

Não romantizo o ofício do professor, não acho que ele tem que estar alí só por vocação ou se propondo a salvar aqueles pobres desafortunados compartilhando um pouco da sua imensa sabedoria e sendo falsamente benevolente, ou condescendente. Não, é muito justo que um profissional deseje e cobre boas condições de trabalho em termos humanos e materiais.

Porém, acredito que essa indignação comum e muitíssimo justificada entre os professores brasileiros deva motivar uma luta por mudanças estruturais, políticas e sociais. Quando ela se transforma em ressentimento em relação à criança, ao jovem educando, ninguém ganha.

Francisca disse...

Daniela,

Nunca pensei que sua proposta fosse o comunismo. Imaginei que era alguma outra coisa e fiquei curiosa.

Concordo com você. Nossa sociedade tem vivido um marasmo de ideias, mas não acho que ela hoje seja incapaz de autocrítica. Muita gente tem criticado o modelo atual, mas geralmente essas críticas são vazias e não acrescentam nada a uma reflexão sobre nossos problemas. Apenas repetem chavões.

Acho que, com exceção dos idiotas, ninguém perdeu de vista a temporalidade do sistema capitalista. Recentemente, em uma discussão sobre o mercado de capitais e taxas de P/L, abri meus olhos para a importância do percentual de lucro para as empresas. Num mercado em que o investimento necessário para manter o negócio é altissímo, como a aviação civil por exemplo, uma margem de lucro muito pequena significa o fim da empresa. Há ainda a questão do mercado de ações. A maioria dos investidores são pessoas com poucos recursos, classe média, que investem para a velhice e esperam um retorno razoável. Então, buscar bons lucros significa viver ou morrer para as empresas.

Todavia, entendo se, na sua crítica, você está se referindo a atual cupidez de muitas pessoas. Há mesmo uma horda com uma ganância desenfreada e não só em Wall Street!

Y ♥ disse...

Sou uma das que passou a ir a boates gays pela segurança. E pelo respeito da própria equipe das boates.

Infelizmente apenas nelas eu achei um ambiente aonde não é não sem retaliações e os seguranças estão sempre prontos (e preparados) para ajudar sem agredir ninguém.

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