sábado, 15 de maio de 2010

FOLHA PROVA QUE NÃO FAVORECE NINGUÉM, E MINHA PESQUISA

Sabem a pesquisa que fiz só por curiosidade, perguntando em que vocês iam votar pra presidente? Entre os 561 votos, 287, ou 51%, disseram que votarão na Dilma, do PT. Em segundo lugar veio a Marina do PV, com 86 votos, ou 15%. Em terceiro, um sonoro “Ainda não sei”, com 66 votos, ou 11%. Encostadinho no “não sei” veio o Serra, do PSDB, com 61 votos, ou 10%. “Ninguém – vou anular” recebeu 44 votos, ou 7%, e “outro” (que não sei quem é; será Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL?), 17 votos, ou 3%. Muito obrigada por participarem! Eu bem que imaginava que a maioria vai votar na candidata do PT.
Mas querem saber o que me inspirou a realizar a enquete? Foi uma pesquisa da Folha de SP entre seus leitores, divulgada no início do mês. O Datafolha entrevistou 350 de seus leitores (minha pesquisa teve mais gente e, só pra constar, o sistema do Blogspot não permite votar mais de uma vez), e chegou ao seguinte resultado: 54% votam no Serra, 18% na Marina, 15% na Dilma. Até aí, nada de mais. Até esperava uma vantagem maior pro Serra — afinal, ele é de SP, mesmo estado do jornal. E fico um pouco surpresa com os 15% masoquistas, que não abandonaram a assinatura nem depois do ditabranda ou do artigo afirmando que Lula tentou estuprar um prisioneiro de cela. Mas não foi nada disso que motivou a minha pesquisa, e sim este número do Datafolha: para 74% dos leitores, o jornal não favorece nenhum candidato (13% acham que favorece Serra, e 6%, Dilma). Quer dizer, dois terços dos leitores creem que a Folha é neutra e imparcial! Não é incrível?
Certo, nem sei por que me surpreendo. Tipo, todas as pessoas que conheço que leem a Veja e a levam a sério pensam exatamente como a revista. Não creio que o semanário forme a cabeça delas. Apenas que elas buscam na Veja dados e informações para “provar” seus pontos de vista. E encontram, lógico. Eu não conheço uma só pessoa de esquerda que leia a Veja (a menos que seja para “saber como pensa o inimigo” e poder criticá-lo). Nenhum amigo meu que vota no PT lê a Veja. E, por coincidência, os leitores de Veja que conheço são todos radicalmente anti-PT, anti-MST, anti-sindicatos em geral, anti-Chavez, anti-Evo Morales... Enfim, anti qualquer coisa de esquerda que a direita-que-não-é-direita-porque-essa-divisão-acabou-com-a-queda-do-muro-de-Berlim elege como seu inimigo natural. E o engraçado é que essas pessoas consideram a Veja neutra e imparcial! Assim como elas se veem como perfeitamente justas e equilibradas, apenas do lado da verdade (sim, elas creem em verdade absoluta). Para elas, ideologia é coisa que move os outros — os petralhas, por exemplo. Já elas têm o pensamento que têm porque viram a luz, imagino.
Mas a Folha não é a Veja. Pelo menos ainda não. Apesar da campanha sistemática que o jornal faz ao governo, ela não parece ter um porta-voz tão abertamente declarado como Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi. E os leitores também não são todos de direita (o que quer dizer que estou me baseando na minha experiência pessoal pra declarar que conheço gente de esquerda que lê a Folha. O número diminui a cada ano, mas conheço). Eu mesma li a Folha durante toda a minha vida. Por muitos anos, inclusive depois de deixar SP e nos instalarmos em SC, assinávamos a Folha e o Estadão. Eu preferia o Estadão. Afinal, já que ambos os jornais eram de direita e não me representavam, ao menos o dos Mesquita era mais assumido, enquanto a Folha posava de moderninha. Com o tempo me cansei. Além do mais, duas assinaturas eram caríssimas. Mantivemos apenas o Estadão. E aí decidi que ficava revoltada lendo o jornal, que lá não havia democracia ou liberdade de expressão coisa nenhuma (porque, se houvesse, haveria mais de um pensamento publicado), que nunca havia “o outro lado”, que todos os colunistas pareciam um só, que ainda por cima seguiam exatamente a mesma linha editorial dos patrões, e que, se eu realmente quisesse ler o jornal, poderia fazê-lo de graça, na internet, sem ter que desembolsar 400 reais por ano (era isso? Não lembro). Paramos de assinar qualquer tipo de jornal em 2007, quando fomos pra Detroit. E não sentimos falta (apesar d'a gente gostar muito de ler enquanto come, e nossos laptops não chegam nem perto da cozinha).
Mas voltando a minha pesquisinha interna, fico mais uma vez orgulhosa de ter leitor@s como vocês. Não só porque vão votar na Dilma (ok, isso ajuda), mas porque, se eu fizesse uma outra pesquisa (querem que eu faça?), perguntando se vocês acham que este bloguinho que vos fala é parcial e favorece algum partido/candidata, 95% responderiam o óbvio ululante: sim, dãã. Ou seja, vocês são mais inteligentes que o leitorado da Folha. Ou pelo menos mais honest@s.

28 comentários:

Rê_Ayla disse...

fugindo do post...

ninguém lembrou q a pílula está fazendo 50 anos este mês?

não sei quem aqui lê francês, nem se a Lola lê francês, mas no Le Monde tem um ótimo artigo sobre isso: http://www.lemonde.fr/societe/article/2010/05/12/liberte-securite-previsibilite_1350324_3224.html

aiaiai disse...

É isso lolinha. A diferença entre você e a folha é que vc assume a sua parcialidade, sabe o que quer e diz para todo mundo. Já a folha finge que é imparcial, o que é de uma desonestidade absurda.

Gabriela Domiciano disse...

Há a versão brasileira do Le Monde
http://diplomatique.uol.com.br/

=)

Rê_Ayla disse...

Gabriela, não é no Le Monde Diplomatique, é no Le Monde simples (mas deve ter tb versão em português... google it)

Hugo disse...

A questão mais séria, na verdade, não é a desonestidade da Folha ao se dizer imparcial. É que a Folha, ao contrário da Lola, não deveria ser parcial. Ela é um jornal, um veículo de notícias.

O que a Lola escreve ou não no blog dela é um problema dela, é um espaço criado por ela, com o nome dela, e quem lê está aqui justamente porque quer saber a opinião dela.

Claro que os próprios jornais tem espaço pra parcialidade, como colunas e editoriais, que são pessoais, mas as matérias e a sua seleção deveriam ser o mais imparciais possíveis. Sabemos que é uma utopia, mas eles pelo menos podiam fingir que tentam, em vez de apenas afirmar que tentam.

Anônimo disse...

Lola,
Como seu blog é declaradamente de esquerda, não estranho os resultados dessa pesquisa. Se vc for lançar a mesma pesquisa num blog que fala a favor do PSBD, , acredito que o resultado será outro...
Mas de qqer forma, não acredito que o Serra irá ganhar dessa vez,independente do que publicarem em jornais. Felizmente( olha minha ironia,rs), o PSBD escolheu como candidato uma figura tremendamente antipática, sem carisma algum, e o mais importante: o partido se esqueceu que dessa vez votará o Brasil todo, e não somente o estado de São Paulo, onde tem o maior número de eleitores contaminados por essa lavagem cerebral que fizeram aqui(hahaha!)- em São Paulo até o Serra ganha, mas no restante do Brasil?? Hum, erraram feio ao escolher o mais antipático- tbem fora do estado de sp acredito que Alckmin não ganharia nada, pq é tão antipático qto Serra..., então, dessa vez, eles irão perder, pra minha alegria.Se quisessem ganhar no restante do Brasil tinham que escolher alguem mais carismatico, e felizmente naõ o fizeram!!rsrsrsr
beijos

Anônimo disse...

ps: Não pense que minha alegria é completa, afinal continuo sendo paulista, morando aqui, e infelizmente aqui sei que o PSBD ganha pra governador e vai manter a lavagem cerebral nos paulistas por muitos anos... ahhf... :(

Leila Silva disse...

Ha ha ha. ótimo!

Eu votei aí, adoro essas pesquisas.

Bom domingo.

Abraço

Gisela Lacerda disse...

Eu leio tudo que desejo na hora que desejo ler. Vou até às livrarias, tomo meu café e pronto. Isso inclui desde um "Le Nouvel Observateur", passando por National Geographic, NYT, Veja, Marie Claire, Piauí, Isto é Gente, Caras. Nas últimas vejo as fotos, dou folheada, paro nas páginas pretas e brancas, leio citações, rio, vejo o "jabá" da vida de "artista" e analiso a imagem, a "vida bela".

Leio revista de Decoração, Arquitetura, Casa, assim como artigos de Psicanálise no "Obs". Mesmo assim, evidentemente que tenho uma linha de pensamento, mas acho difícil eu me categorizar de apenas um lado em política, apesar da imensa maioria das minhas posições acabem traçando um caminho "meio esquerda, considerado PT". No entanto, às vezes discordo desse PT que está aí, às vezes concordo. No caso, por exemplo, do Irã, sou a favor da posição do Lula. E contra outras coisas.

Talvez eu vote na Marina porque a admiro e isso pouco ou quase nada tem a ver com questões partidárias, mesmo sabendo que um candidato nunca foge aos desígnios de seu partido/grupo e mesmo sabendo que o pensamento dela sobre aborto é contrário ao meu.

Então o que me resta? Ninguém. ;-0

Masegui disse...

O Hugo disse tudo!

Eu li a Folha durante um certo tempo e depois abandonei de vez. Quanto à Veja (argh!) eu odeio desde (acho) a greve dos bancários de 1986.

Gisela Lacerda disse...

Aliás, não cultuo ninguém. Às vezes gosto de algumas coisas que ele escreve e http://arquivoetc.blogspot.com/2010/05/arnaldo-jabor-sao-muitas-as-sauvas-do.html

esta aqui tem a ver com o que penso atualmente.

Well Bernard disse...

Menina, não sei qual a sua relação com o twitter, mas ontem dei altas risadas. A pesquisa do Vox Populi ficou nadas Trending Topics brasileiras e eram comuns os comentários do tipo "Vox Populi e Sensus são comprados", "A imprensa séria (sic) só pública DataFolha e IBOPE, esses sim são sérios".

Peixos

Vivian S. disse...

Lola, é interessante frisar que uma pesquisa da Folha daria vantagem ao Serra, uma vez que a Folha puxa o saco dele e quem lê a Folha, indiretamente também puxa o saco dele.
Mesma coisa com seu blog: não que aqui não hajam pessoas que discordem das suas opções políticas (aliás, e como há!), mas é natural que mais pessoas que se identificam com o seu pensamento (e com seu voto), sejam leitoras assíduas e respondam à enquete favorável a Dilma.

Nenhuma pesquisa é neutra, né. É bom você fazer um post sobre isso pra alertar os "ingênuos", porque como disseram alguns comentários abaixo "você assuma a sua parcialidade", enquanto alguns meios de comunicação...

Daniel Quaresma Dias disse...

Será que se eu me tornasse estuprador de animais e pessoas, saisse falando ignorâncias e destruindo o meio ambiente, mas no final me filiasse ao PT a Lola me defenderia e puxaria meu saco?

Eita fanatismo chato!

Anônimo disse...

Bem dito, a Folha se passava por moderninha, mas tinha traços autoritários e direitistas. Vale lembrar que a Folha editava o "Notícias Populares", jornal(sic) popularesco que tinha o slogan 'O jornal do trabalhador'. Sim para a elite os elitíssimos articulistas, loas oníricas pró-FHC, para o trabalhador apenas peitos, bundas e sangue...

Carina Prates disse...

Daniel, você acha que quem vota no PT não tem senso crítico, só pq a sua linha de pensamento é outra?

L. Archilla disse...

Daniel, tem um pequeno X vermelho no canto direito superior da sua tela que tem o poder de tirar da sua frente todo esse fanatismo chato do qual vc tanto reclama.

Rê_Ayla disse...

bom, lance da pílula foi só sugestão indireta pra um post sobre o assunto, já q com certeza uma feminista como a Lola pode fazer um post sobre isso melhor do q a maioria de nós.

OBS: critiquem Folha, Veja, o q quiserem... Não existe imparcialidade em nenhum veículo de comunicação (nem em simples blogs). Mas essa coisa de "teoria da conspiração" (e sim, do jeito q falam parece teoria da conspiração mesmo) é um pouco demode né, coisa + ultrapassada.

Gisela Lacerda disse...

Imparcialidade não existe porque o ser humano sabe o valor do dinheiro. Eu escrevia isso e o pau comia na faculdade e nas provas. Caguei pra eles. Nunca passei nesses estágios grandalhões. ;-0 Melhor assumir antes do que entrar e escrever m. e mentir, inventar "personagem", fatos, etc.

Masegui disse...

"ADEMG informa: sai Oliveira e entra Daniel Sabichão"

Dani disse...

Mais triste que a Folha ser parcial, é o povo não ver isso.

Daniel disse...

A uns dias atrás eu ficaria impressionado que tanta gente acha a Folha imparcial. Mas depois que ouvi uma colega minha dizer que a Globo é uma porcaria porque tá sempre favorecendo o Lula eu já não me surpreendo com mais nada...

Ághata disse...

Como é que é, Danut?? Ela disse isso??
Huhauahuahuhauahuahuahuahuahuah...
Essa foi boa!

Gisela Lacerda disse...

Liana, faz tempo que não fuço o Le Monde. Vou lá ler o artigo. Obrigada.

Gisela Lacerda disse...

Na França, toma-se muito a pílula do dia seguinte. Vai na farmácia, pou-pa-pum e compra.

Cada corpo é um corpo e isso não pode se tornar uma questão feminista. Eu não gosto de pílulas e nunca me aconteceu o trivial: dores, inchaços, engordar, etc. Tomei durante 5 anos e uns 5 tipos e todos causam diminuição da libido. Lembrem-se que, segundo a Psicanálise, a libido é a territorialidade do desejo, mas existe uma bio-física aí, um corpo e reflexos nesse corpo. Eu acho importante o prazer. Um coito-interrompido também gera um imenso desprazer e camisinha, enfim, também não é lá essas coisas, mas acho que é a melhor de todas mesmo.

Os conselhos das ginecologistas são sempre fora da realidade: camisinha feminina (mais uma escravidão pra mulher), DIU (já viram esse troço? Eu nunca colocarei isso em mim), injeção (imaginem mil doses de hormônios num só dia?!), 2 camisinhas mais pílula mais não sei o quê?! Cada uma...

Cada um encontra seu próprio caminho. As meninas na França estão iguais as daqui (ocidentais ou não): inseguras e influenciadas pela mídia que divulga a todo momento (com o aval das celebrities, claro) as fotos dos rebentos e suas "vidas maravilhosas". A garota lê isso (tenho sobrinhas adolescentes e jovens) e quer engravidar logo como solução para segurar homem. Afinal de contas, ela viu na sua própria mãe o exemplo. Estuda, faz faculdade e o escambau, mas a mensagem subliminar que fica no inconsciente é essa: por que o trabalho se é melhor ficar em casa cuidando de babies?

Estou dizendo o que vejo e percebo, não um mundo que eu gostaria de viver.

O engraçado é esse trecho:

"Pour cette sociologue, la pilule a néanmoins montré ses limites. La principale est qu'elle s'oublie fréquemment. De fait, alors que la plupart des femmes sont sous contraception, dont 60 % sous pilule, les avortements restent stables, à 200 000 par an. Ce paradoxe a été relevé dans un récent rapport de l'Inspection générale des affaires sociales (IGAS), qui a montré l'inadéquation entre le modèle français du "tout pilule" et l'évolution des modes de vie : aujourd'hui, la vie affective et sexuelle est moins stable et les rythmes professionnels moins compatibles avec une prise de pilule à horaire fixe."

Para a socióloga a pílula acabou mostrando sua real face e vários limites. O principal deles é o "fator esquecimento"; sabemos que um dia pode ser "fatal". 60% tomam a pílula. E a taxa de abortos continua estável, não sai do lugar. O "instituto tal-tal-tal" percebeu que o ritmo acelerado da vida atual "não casa" com o uso da pílula. Ou seja, é bom as feministas pensarem mais a respeito das questões, digamos, mais reais. A Psicanálise está aí para ajudar.

;-)

Gisela Lacerda disse...

Não quis traduzir ao pé-da-letra. Pegar o pincipal já é o suficiente. Sem contar que francês não é chinês, nem árabe nem alemão. ;-)))

Lucas Santos disse...

engraçado. Na minha sala da faculdade o resultado foi parecido. Dilma em primeira, Marina em segunda, indecisos em terceiro, Serra em quarto.

=)

Ale Picoli disse...

Eu sou assinante da Folha desde 88, quando ainda era criancinha e queria ser jornalista. Faz uns 10 anos que não leio o jornal, que agora é exclusivamente para minha mãe. Não sei direito o que aconteceu nos últimos poucos anos, a Folha cansou de fingir que é moderninha? Está um lixo, dá mais raiva de ler do que O Globo aqui do Rio. Andei lendo uns exemplares, fico muito decepcionada e realmente só não cancelo pq minha mãe não tem muita coisa pra fazer e vai sentir falta. Eu só lia o conteúdo de entretenimento, mas agora nem isso mais é decente, leve, divertido. A Revista da Folha, que era tão legalzinha, está um lixo. A coluna de Bichos, que tinha uma visão muito bacana, agora virou desfile de modas de pet shop. E a coluna GLS morreu!