Apresento o guest post da Carol, que tem 24 anos, é mestranda da FGV em marketing, e dona de um blog que está do outro lado do meu espectro político. Ela pediu para escrever um post respondendo à reclamação da Maíra sobre a instalação de um parque tecnológico numa federal, e ei-lo aqui. Quero lembrar que o propósito de guest posts é justamente este: publicar ideias diferentes das minhas. Geralmente os guest posts trazem experiências e conhecimentos que eu não tenho, muito mais que opiniões contrárias. Mas acho interessante trazer um ponto de vista diferente para termos um bom debate.
Antes de qualquer coisa, agradeço a Lola pelo espaço em seu blog. Em segundo lugar, antes de entrar no assunto, eu gostaria de dizer que, apesar de não concordar com muita coisa que a Lola escreve (claro que há coisas com as quais concordo também!), eu sou leitora assídua deste espaço. E qual o principal motivo? Exatamente o ponto de vista diferente. Em minha opinião, entender como o outro pensa é muito mais importante do que ler opiniões que só reiteram nosso ponto de vista. Dito isso, vamos ao que interessa.
Esse texto é um contraponto ao guest post da Maíra, publicado na semana passada. Quando li o texto dela, percebi que ela estava emitindo uma opinião mais moral que utilitária. Nada contra, mas acho que analisar a questão sob um ponto de vista mais pragmático ajuda a entender o problema.
Existem assuntos cuja discussão presume a presença de imperativos categóricos morais: pena de morte é um deles. É impossível discutir isso sem analisar o imperativo de que a vida humana é inviolável, uma verdade para grande parte das pessoas (eu, inclusive). Mas será que esse é o caso da presença da iniciativa privada na universidade brasileira? Não creio.
Para começar porque não estamos falando aqui do indivíduo, mas sim da forma como organizar uma construção humana. E organizações evoluem conforme mudam os fatores que as cercam. Isso aconteceu em universidades européias. Hoje, na Itália e na Alemanha, por exemplo, universidades públicas cobram mensalidades (baratas, e claro que há bolsas para quem não pode pagar). E há um movimento no Brasil de mudança da academia. A própria defesa da Maíra em relação a produzir para a comunidade é um sinal disso: as universidades tendem a deixar de serem as torres de marfim que eram antigamente. Hoje, pesquisa tem que trazer resultados práticos, mesmo que no longuíssimo prazo (quantos de vocês não escreveram alguma coisa como “contribuir com o desenvolvimento... em seus trabalhos de conclusão de curso?). E isso é bom.
E é exatamente para isso que existem centros tecnológicos: para fazer o conhecimento gerado na universidade ir para a sociedade. O pesquisador tem seu trabalho patenteado (e ganha com isso), os estudantes têm oportunidade de estagiar em sua área e novas empresas são criadas. Qual o problema nisso? Também já escutei muitas pessoas de diretórios estudantis condenando as fundações com uma justificativa moral de “privatizar a universidade”. Nunca entendi a razão. Na minha faculdade funciona uma fundação que fornece cursos latu sensu. Os professores chegam a ganhar o mesmo tanto dando aulas na fundação do que ganham com um mês de trabalho na USP. A fundação banca entidades estudantis, bolsas de pesquisa, infra-estrutura física, parte da limpeza do prédio e, além disso, como os professores têm contatos com profissionais da área, ficam atualizados com as práticas. No mais, os horários das aulas não batem com os das aulas convencionais e ainda surgem oportunidades de estágio para os alunos, que continuam estudando de graça, só que em uma faculdade melhor. Qual o problema nisso?
Outro ponto que Maíra aborda é o das pesquisas financiadas por empresas. Também não entendo o problema moral aqui. Diz-se que o retorno nesse caso não vai para a comunidade. Ela até usa o exemplo da Avon de que resultados de pesquisas poderiam ser usados pelo governo para fazer protetores solares baratos. Mas será que isso faz sentido ou é só mais um julgamento moral? Na prática, o óbvio é que não, nem governo nem universidades vão conseguir criar um protetor solar mais barato que o da Avon. Simplesmente porque a Avon tem milhares de funcionários pensando o dia inteiro em como criar um protetor solar barato (não nos esqueçamos que a Avon é uma empresa voltada para as classes média e baixa). Como nem governo nem universidades conseguiriam (simplesmente porque têm competências diferentes), o custo acabaria saindo dos cofres públicos. Então vejamos: se a Avon patrocinar minha pesquisa, eu ganho, a empresa ganha e os consumidores ganham com um produto mais barato SEM ATRAPALHAR ninguém. Porque já ouvi argumentos do tipo: “ah, empresas controlariam a pauta de pesquisa”. Bom, isso não faz muito sentido, porque mesmo com empresas patrocinando, a Capes, a CNPQ, a Fapesp, etc. continuariam ali financiando os melhores projetos.
Dados tais exemplos, teorizo. Por que o governo deve financiar as universidades? Têm de existir uma questão utilitária por trás desse financiamento, ou seja, isso tem de trazer algum benefício à sociedade, já que não faz sentido o governo financiar coisas que não beneficiem o todo, certo? Bom, a idéia é que o governo financia o universitário para que ele traga externalidades positivas para a nação (externalidade positiva é uma consequência de uma ação que é boa para todos, ainda que não seja o fim per se dessa ação). Mas sabe-se pouco o “quanto” de externalidade positiva que é produzida. E foi por isso que alguns países decidiram que estudantes deveriam pagar, pois o governo investia demais para estudantes terem resultados individuais altos e sociais baixos. No Brasil é diferente. Não temos a renda per capita da Alemanha e, portanto, não faz sentido pensar nisso ainda. Mas vale a pena pensar em como nós, universitários públicos, somos privilegiados e sempre pedimos mais.
Sim, a palavra é privilégio. Vou falar da USP porque é a universidade na qual me formei, mas a situação das federais não difere muito. Quem banca a USP é o ICMS estadual (9% do total). O ICMS é um imposto cobrado nos produtos, ou seja, diferentemente do IR que varia conforme a renda, todo mundo paga o mesmo tanto de ICMS quando compra determinado produto, seja rico, seja pobre. Exemplo: se, em uma cesta de produtos, o ICMS totaliza R$ 10, tanto o cara que ganha R$ 100, quanto o cara que ganha R$ 10.000 pagam o mesmo tanto de impostos. Só que R$ 10 representa 10% da renda do cara que ganha R$ 100 e somente 0,1% da renda do cara que ganha R$ 10.000. Isso se chama imposto regressivo, ou seja: imposto que penaliza os pobres. E parte dessa arrecadação vai para bancar a alimentação dos estudantes da USP, que não pagam nem estacionamento, mas pagam desde 2004 R$ 1,90 no restaurante (isso porque tivemos uma inflação de mais ou menos 20% no período). Basicamente: o dinheiro da tia da limpeza bancando o dinheiro dos bonitos de classe média que reclamam da falta de vagas para seus carros (eu, inclusive, que vivia reclamando disso).
E não achem que em federais o esquema de imposto é diferente não. No bolo geral estão IPI, IOF, todos sobre importações, etc. que são também regressivos.
Enfim, vale a reflexão: será que não está na hora de deixar as coisas acontecerem pensando na prática, tentando diminuir o peso tributário para os mais pobres e realmente devolvendo alguma coisa para a sociedade em forma de, por exemplo, novos remédios, protetores solares acessíveis e maquinários para as indústrias brasileiras produzidos aqui? É isso que a universidade pública precisa buscar. É isso que a interação entre empresas, pesquisadores e sociedade pode trazer.
39 comentários:
Me preocupa uma empresa privada pautar uma pesquisa em uma universidade pública,sim, mas o que mais me preocupa é a posição dos seres humanos em relação a outros seres humanos. Tantos alunos reclamam de empresas privadas em universidades públicas, mas será que esses mesmos alunos pensam na comunidade? Será que estão estudando para garantir somente o próprio sucesso ou para fazer algo que possa tornar esse país melhor? Estudo em uma universidade particular com bolsa federal pelo ProUni, me sinto privilegiada, e penso todo dia como minha formação pode ajudar meu país e até o mundo, talvez por isso tenha escolhido jornalismo, para ajudar a fortalecer a democracia nesse país que já sofreu tanto com a repressão pela ditadura. Também penso em meu próprio sucesso, mas não sou adepta do capitalismo selvegem, nem do sucesso a qualquer custo, quero ter uma vida tranquila com a certeza que estou fazendo algo para melhorar a sociedade, sei que parece demagogia, mas é o que realmente penso e sinto.
Muito bonito na teoria, mas na prática não é bem assim que funciona.
A relação entre universidades e empresas é importante que exista, incluindo até o financiamento de pesquisas. Acredito sim que a universidade deva estar integrada à sociedade e num país capitalista a iniciativa privada é parte da sociedade.
Só que na prática a forma como isso ocorre nas universidade públicas está longe de ser o ideal(conheço o caso da UFRJ, onde estudei, e acredito que não deva ser diferente nas demais).
O fenômeno que eu percebiase enquadrava em nosso famoso patrimonialismo. Alguns grupos que conheciam vender seus trabalhos(pesquisas, consultorias, cursos) se beneciavam utilizando o espaço e a marca da universidade, sem que isso se transformasse em melhorias para a universidade como um todo. E não se trata de competência de um contra incompetência de outros. Há ramos de pesquisa e campos de conhecimento que são mais atrativos para negócios que outros.
No Instituo de Economia, podíamos ver que de acordo com o sucesso mercadológico do grupo de pesquisa ele ia se expandindo, inclusive fisicamente, em detrimento de outros grupos. Muitos deles comandados por professores praticamente desconhecidos em sala de aula, mas que estavam mais ocupados cuidando de seus negócios.
E na Universidade forar se formando fortes contrastes entre as áreas que conseguiam arrecadar recursos e as que não conseguiam.
Acredito que a associação com empresas(privadas ou estatais) so será realmente benéfica quando usada em prol da Universidade como um todo.
Nunca comento (embora sempre leia) mas hoje resolvi comentar, já que sou estudante da UFRGS, onde teve aquele rolo todo do parque tecnológico.
O problema não era o projeto em si, e sim o fato de tentarem aprová-lo durante as férias, sem exposição, sem discussão.
Qualquer um que acompanhe política (sob qualquer ideologia) sabe que aqui no Brasil o que precisa ser aprovado por detrás dos panos, é porque alguma sujeira tem. Ninguém vota uma coisa que vai ajudar a comunidade sem berrar a própria generosidade pra todo lado. Então, se vão decidir alguma coisa que é "de interesse dos estudantes", que seja do conhecimento de todos, pombas.
O barulho foi para abrir a discussão, e funcionou. Os estudantes são o alicerce da universidade, mas infelizmente, se não protestarmos, nos tratam como água que corre pra qualquer lugar onde for canalizada.
O projeto acabou aprovado, eu mesma tenho pouca objeção a ele. Mas que poder a gente teria se, por exemplo, tivessem mudado os critérios para escolher esses "melhores projetos", se o Parque tivesse sido implantado sem nenhuma discussão?
Carol, será mesmo que governo não tem capacidade de produzir, seja lá o que for, com preços abaixo dos ofertados pela iniciativa privada?
Veja bem, a iniciativa privada coloca, em cima dos seus preços uma coisa chamada LUCRO, que numa política pública pode ser facilmente suprimida, ou, no mínimo reduzida ao extremo.
Outra distorção magnífica é a própria patente.
Pesquisadores receberam durante o período em que fizeram a pesquisa pelo trabalho de desenvolver o produto/serviço/avanço tecnológico. Se estão numa instituição pública eles utilizaram também os equipamentos para a confecção desse produto/serviço/avanço tecnológico... Mas, ao invés desse conhecimento ser colocado à disposição da instituição que apoiou e deu as condições necessárias para esse trabalho, os lucros ficam exclusivamente com o pesquisador master, digamos assim, não havendo, usualmente, sequer para toda a equipe de apoio uma recompensa por isso, o tanto pior, a sociedade que pagou por isso, como você bem lembra através de seus impostos também terá que pagar por uma coisa que ela já pagou, ou seja além de pagar o imposto que garantiu que o projeto fosse desenvolvido, também terá que pagar para o "dono da patente" para se beneficiar.
Um tanto pior quando uma empresa privada se utiliza dos recursos públicos (salário da equipe, instalações, know how...todos pagos com o dinheiro de nossos impostos) a custos baixíssimos ficar com a propriedade dessa patente. Ora se eles têm equipe trabalhando diuturnamente na desenvolvimento, porque eles vêm a uma instituição pública para fazer o que eles poderiam realizar dentro de seus domínios?
Por certo, a utilização do espaço público privilegiando parte da sociedade, em especial a parte que menos precisa, é ruim pra sociedade. A conta será paga duplamente.
É, o que eu ia falar o Gouveia já falou...
O que eu achei engraçado foi o título "Hora de repensar a utilidade das Universidades Públicas"...
Nananina, hora de relembrar qual a função das Universidades Públicas...
Ah, esqueci de comentar. A autora do tópico acha que só quem fez um julgamento moral foi a aluna que protestou contra o parque tecnológico. Talvez, a autora considere repensar suas ideias para descobrir que ela também faz um julgamento moral, só que no seu julgamento os valores são outros, diferentes da outra que se insurgiu contra o parque.
Na teoria é bonito mesmo.
Giovanni Gouveia,
A questão não é se o estado tem ou não a capacidade de produzir o que quer que seja com um custo abaixo do oferecido pelo mercado; é só que esse não é - ou não deveria ser - o papel do estado.
AH!
Excelente texto: totalmente de acordo!
E como ficam os cursos não tão "lucrativos", como os da área de humanas?
Hoje, na úniversidade pública que nós temos, um estudante de História tem a mesma chance de ver seu projeto ser aprovado tanto quanto um aluno de Engenharia Mecânica, por exemplo (teoricamente, um curso bem mais favorável à produção de bens, portanto mais "lucrativo").
Não sei se aplicar a lógica empresarial à universidade pode ser uma coisa boa, uma vez que, no meu ponto de vista, o tratamento isonômico aos estudantes pesquisadores de qualquer área não estaria mais garantido. Além disso, é ingênuo pensar que os benefícios dessa junção seriam divididos em partes iguais para a universidade e para a iniciativa privada. O fato de ter mão de obra qualificada com custo bastante baixo é bem atraente a quem visa o lucro.
Acho que existem outras formas de se fazer uma conexão entre as universidades e as empresas (como programas de estágio mais atraentes para os estudantes, por exemplo), não acho que o espaço do "livre-pensar" universitário deva ser invadido. Como bem pontuou a Ághata, é essa a função de uma universidade pública.
Nunca comentei no blog, mas gostei do assunto tratado e resolvi aparecer. Bom, tenho a impressão que a perspectiva do post parte de uma visão funcionalistas: cada parte contribui, desenvolvendo sua função. Toda a sociedade ganharia com isso. As desvios seriam "anomalias" do sistema. Só que o todo social não é harmônico e sim conflituoso (diria conflito de classes mesmo). Como já comentaram, esse tipo de pensamento tem um esquema lógico que na teoria pode parecer coerente para alguns, mas que não resiste se olharmos atentamente a realidade. A finalidade do empresariado é o lucro, obviamente - o que tentarão satisfazer a despeito do desgaste ambiental, por exemplo, que isso custe, e por aí vai...
Há duas visões clássicas de Estado:
1- O estado como mantenedor única e exclusivamente da propriedade privada.
2- O estado que garanta as condições de sobrevivência da população.
Sem dúvida alguma defendo a segunda forma de Estado, caso contrário o Estado será, apenas e tão somente, patrimônio de uma parte da sociedade(aqueles que têm condições de ter uma propriedade).
É, Sabrina, se a divisão social do trabalho, tal como tio Émile, o Durkheim, pensou, funcionasse, não haveria conflitos de espécie alguma, inclusive este, ora em tela.
Faz tempo que não comento por aqui, mas também sou da UFRGS e preciso me manifestar. Quero fazer uma ressalva, em primeiro lugar, que eu sempre vi uma certa ideia, com a qual eu não concordo, de querer fazer um oásis fora do capitalismo na universidade, de achar que militância é protestar contra a lancheria privada lá dentro e tal. Vivemos no capitalismo e, de uma forma ou de outra, haverá relações com empresas, o que pode ser bom, desde que seja SEMPRE discutido com a comunidade, o que não foi o caso do parque tecnológico, como a Mariana pontuou muito bem. Agora, que isso pode sempre trazer dois probleminhas muito sérios em uma universidade pública, a desigualdade entre os cursos e a ingerência nas pesquisas, ah, pode. A Patrícia falou muito bem, existem cursos, como o de Letras, que foi o meu também, que não receberiam um milésimo do investimento caso as empresas privadas interferissem mais, reproduzindo a falta de interesse que acontece na sociedade por essas áreas. Eu pergunto, qual seria o resultado disso em alguns anos, não agravaria muito mais a formação pouco variada que se recebe nas escolas, por exemplo? Essa desigualdade já acontece um pouco na prática, pois cursos como o de Administração na UFRGS acabam recebendo muitas melhorias da iniciativa privada, enqunto a Letras tem uma salinha de computadores montada pela Universia e olhe lá. E ficar em projetos nos quais o retorno é um produto é muito confortável para o ponto de vista da Carol. Mas e quando for um projeto que envolver ensino, por exemplo? Uma empresa privada poderia, por exemplo, fazer uma parceria para aulas de português para os funcionários, e você diria que isso é uma maravilha. Mas e se eles achassem que as nossas ideias de ensino, que sempre privilegiam uma formação mais de leitura e debate, não servem aos interesses deles e insistirem em algo mais "utilitário"? Aí o retorno que um curso de Humanas vinha construindo para a sociedade, de trazer ideias e conceitos além dos que a sociedade já produz, iria por água abaixo. E quando o texto questiona qual retorno os formados em universidade pública trazem para a sociedade, daí é que eu preciso discordar frontalmente da Carol. No mínimo, a academia forma um mercado de trabalho mais qualificado, e as públicas o fazem cada vez mais dentro de uma população que não poderia entrar em uma faculdade privada. Além disso, como eu já disse, com a liberdade de poder ousar e pensar o que a lógica do mercado talvez não permitisse. Vamos pegar o exemplo da Alemenha (que a Itália, hoje em dia, não é exemplo de nada). Se, além de haver mais pessoas por lá que podem pagar (o que você fez muito bem em reconhecer, Carol), eles decidirem que já há qualificação suficiente no país de um jeito ou de outro e que a academia não vai ficar "atrelada" assim, diminuindo, na verdade, a necessidade de apelar para a iniciativa privada, beleza. Mas esse não é, nem de longe, o caso do Brasil, e mesmo em países com a situação parecida à da Alemanha essa ideia não vingaria - vai propor isso na França para ver o que acontece, e algumas das melhores do mundo estão por lá. Enfim, desculpem pelo comentário longo, mas estou gostando muito do debate, e, apesar de não concordar com a Carol, acho que ela expôs muito bem seus argumentos.
Posso escrever um Guest Post respondendo a este Guest Post, Lolinha?
Também estou gostando muito do debate! E gostaria de poder participar, mas não dá. Esta semana está punk! MUITAS coisas pra fazer. Inclusive, estou dando um minicurso sobre ironia em Lolita. Se alguém quiser aparecer amanhã (das 9 às 12), é na Semana de Humanidades, no Benfica, no prédio da Biblioteconomia/Psicologia, sala 8. Não convidei antes porque há um limite de vagas. Mas como tá sobrando vaga, podem comparecer. E é em português.
Pois é, eu vejo como problema pensar em educação como algo que deve ser util. Porque o que é útil pra uma pessoa pode não ser o que é útil pra mim. A gente sabe que, se dependesse da visão utilitária da direita, as universidades formariam apenas as profissões "úteis" - engenheiros, médicos e advogados (pra proteger o patrimônio privado). A minha área, Literatura, nem existiria. O minicurso que estou lecionando não é útil. Qual a utilidade de discutir ironia, de analisar filmes e livros? Aliás, qual a utilidade de filmes e livros? Nada disso precisaria existir.
Ai, ai. Esta foi a segunda vez em uma semana que vejo a defesa da cobrança de mensalidades na universidade pública (a primeira foi na entrevista do Paulo Renato, ex-ministro da educação do FHC, atual secretária em SP). Prestem atenção no que vem por aí se o Serra ganhar...
Claro, Mari, pode escrever um guest post!
Oi Lola, nem vou entrar no debate, q está mto bom por sinal, só passei pra dizer q achei ótimo vc pôr um texto de alguém q tem ideologia política diferente da sua no blog. Isso é tão raro! Não me lembro de outro blog q tenha feito isso dessa forma tão pacífica. Geralmente quando um blogueiro publica uma opinião contrária à sua é só pra "descascar" o adversário. E aqui, vc deixou claro q discorda mas não foi ofensiva. E a Carol tb, pois ao invés de trollar, mostrou sua posição contrária através do debate, do diálogo. Parabéns às duas pela maturidade e pela promoção de um debate inteligente. Abs
Um rápido comentário (embora muitas outras questões merecessem ser abordadas com mais tempo), acerca dos custos das universidades públicas européias, "semi"-privatizadas (sobretudo após o processo de Bolonha): não, não é barato, e sim, há muitas pessoas que não tem como custeá-las. Acompanho de perto essa realidade porque estou inserida nesse contexto já há algum tempo. São valores altos até para os padrões daqui. E, paralelamente, a generalidade dos cursos sofreu uma perda flagrante de qualidade: os mestrados funcionam agora como uma espécie de extensão da graduação, se os cursos antes duravam 5 anos, por exemplo, agora duram apenas três, sendo os dois últimos anos considerados como um mestrado integrado. Então são salas de mestrado repletas de alunos que, pelos padrões anteriores, sequer teriam terminado a graduação. Imaginem, portanto, a profundidade de boa parte dessas aulas. As universidades públicas agora dirigem claramente os alunos exclusivamente para o mercado, num esquema fast-food, seja diminuindo o prazo das licenciaturas, seja escamoteando o chamado ensino voltado para o ensino (e pesquisa), mestrados e doutorados, que vão perdendo lugar e sendo criticados pela "falta de pragmatismo" (particularmente no âmbito das ciências humanas). Ou seja, a universidade pública dirige-se muito menos para a produção de conhecimento de qualidade do que para a rapidez das saídas profissionais. Os resultados veremos realmente a longo prazo, embora já agora sejam facilmente previsíveis.
Oi pessoal.
Lola, obrigada por deixar que eu participasse ai do debate!
E passei porque quero comentar os comentários do pessoal, mas hoje realmente não tive tempo, então farei amanhã.
Abs.
Universidades "públicas" que cobram mensalidade? só o que me faltava... não veria vantagem em uma pessoa ir estudar em uma das universidades ao invés de uma particular. Enfim, esse texto me fez lembrar que preciso estudar.
E ah, Avon classe média baixa? então estou abaixo da linha da pobreza, porque acho tudo muito caro.
Adorei o guest-post, aliás esse é um principio básico de toda aula de economia. Onde está a tecnologia está o desenvolvimento e a riqueza. Promover a tecnologia, é algo que só vai ajudar o Brasil. se fosse cobrado valor nas universidades, não seria problema, aqui no Sul, por exemplo, a UFRGS têm em sua maioria alunos podres de ricos. E os pobres? Estão nas particulares com a bolsa do Pro-Uni. Ironia, não?
Olá, só vou comentar sobre o que eu realmente sei ou tenho, digamos, quase 100% de certeza.
O primeiro é sobre o próprio post: "não nos esqueçamos que a Avon é uma empresa voltada para as classes média e baixa". Mentira. Isso era nos tempos em que minha mãe (in memorian) era professora primária, palhacinha, "fazedora" de festas para crianças, atriz (teatro de fantoche), esposa do meu pai (não deixa de ser uma profissão), minha mãe (!! Foi até os 9 anos, mas foi) e... revendedora da Payot, que era direcionada aos mais afortunados. E hoje é mais popular. Diferentemente da Avon, que no passado era extremamente popular e hoje é considerada chique, até porque convida top-models e atrizes hollywoodianas conceituadas (ao menos no mercado) para campanhas publicitárias milionárias com essa coisa, essa imagem do politicamente correto só para fingir que ainda tem a aura do popular - vox populi vox dei. E há também aquela estratégia de anos "ah, comprei uma casa com meu maridon e isso sendo revendedora da Avon". Ui! Acreditem se quiser.
No mais, adorei o texto, mas concordo bastante com o que nosso amigo aí em cima, o Bruno Stern disse.
Na verdade, o que o anúncio quer dizer é o seguinte: "enquanto eu vendia Avon e economizava para ir ao salão de beleza, meu marido ralava pra burro para o leite das crianças e ele comprou o apartamento e como nos casamos em comunhão de bens, o apartamento é meu."
A lógica é meio estranha mas ela se sente dona do apartamento e ainda sente que a Avon que ajudou em 80%. Freud perde, né? ;-))
Eu concordo totalmente com a Patricia. Na UFRJ, por exemplo, a ECO (Escola de Comunicação) está sempre jogada às traças. Até Psicologia é mais bem tratadinha.
O capitalismo é hilário sempre. Per fevore, isso não é um panfleto! Existe centro, Lola! ;-))
Enfim, mudando de assunto um pouco, ou indo para outro viés: não tenho plano de saúde desde 2002 quando fui morar na França (nem pretendo ter tão cedo)e conheço um pouco a realidade e o tratamento nos hospitais públicos. Fiz uma mini-cirurgia em 2004 no Hospital de Servidores no Rio de Janeiro. Foi tudo perfeito. E não é essa coisa ruim que falam. O problema é quem depende diretamente deles e para coisas mais complicadas. Aparelhagem antiga e pouco médico para muta gente. Aí é o sofrimento real, q todo mundo vê.
Na Santa Casa Misericórdia (no centro do Rio), por exemplo, (referência em Dermatologia no Brasil), há a "parte terceirizada" onde a consulta custa 40 reais (tudo arrumadinho, "paredes" estilo redação de jornal) e a parte furreca, pelo SUS, a galera se amontoa (eu tava tão mal de grana que quase fui nessa), espera cerca de um mês SOMENTE para agendar uma consulta e mais uns 2 meses para ter a própria.
Entrei nesse assunto só para todo mundo ter noção de que é muito bonito no papel e o que vemos é diferente. Áreas de pesquisa teconológicas são sempre melhor vistas. Conheço isso de perto através de uma pessoa da família.
Totalmente diferente de comunicação. Já Marketing... são ouros 500 LITERALMENTE.
Lógica empresarial realmente não cabe em universidades; que se limite à parte administrativa. É como um ex-namorado meu que tentou me ajudar nas aulas particulares que eu dou (já vai virar passado daqui a pouco!) e quis aplicar sua lógica de vendedor aposentado (se bem que um vendedor já nasce sim; morre assim) nas minhas aulas. Não deu certo. Pacotinho isso e pacotinho aquilo. O povo olha, analisa, pensa, repensa, e não volta mais. Não existe isso. É pagar na hora, baratear às vezes ou perder cliente. Ou simplesmente fazer mais barato se ele mostra fidelidade, senão é mandar passear e não ter lá muita paciência para gente que deseja q a prof. seja babá da criança. Aí sim entra meu lado frio, calculista! Mercado! Acho que é um bom exemplo esse.
...as pessoas acham que porque o capitalismo estimula o desenvolvimento industrial, isto significa que temos desenvolvimento científico.
As pessoas confundem tecnologia com ciência. Tecnologia é o intrumento/produto da ciência, não se confundem.
O capitalismo Atrapalha o desenvolvimento científico, a distribuição e o acesso livre a conhecimento e informação. Faz núcleos de pesquisa rivalizarem entre si para ter a patente e a fama por terem desenvolvido uma vacina/fórmula/sistema/máquina.
E vamos lembrar que a esmagadora maioria dos países 'ricos' que autoproclamaram 'desenvolvidos', exploraram/exploram nações - as que eles chama de 'subdesenvolvidos' - e recursos naturais.
E é muito difícil desenvolver qualquer área de conhecimento quando se tem que superar uma história de dominação e exploração.
Esqueci ainda de explicar: países com domínio de algumas técnicas e pesquisas avançadas não dividem o que sabem com outros países porque é lucrativo para eles monopolizar o conhecimento.
Capitalismo é competição.
O modo operante é o mesmo das empresas quando vão para uma universidade pública. Estão dispostas a fazer um parque tecnológico, laboratórios, melhoras aqui e ali, mas não há intercâmbio de conhecimento. A empresa não transmite o know how dela. Só disponibiliza material, o que é o mínimo do mínimo - se vocês querem saber.
Nós ainda não compreendemos que o que é realmente valioso não é o parque tecnológico, é o que será descoberto ali, é a informação. Informação esta que será reduzida a lucro de empresa, a capital...
E nós ainda creditamos que quando a empresa se apropriar deste conhecimento, pelo menos, teremos acesso a ele pelo mercado (dane-se não é mesmo? Poderei pagar, e como estarei pagando, poderei reclamar, problema de quem não puder pagar) o que é outro engano.
Aliás, já digitei demais, vou ficar por aqui. [Ia exemplificar esta última parte com remédios e cosméticos mas não precisa].
Olha Carol, entendo sua perspectiva, mas discordo que tanto a "estatização" da pesquisa acadêmica, quanto sua "privatização" possam ser amplamente defendidas da forma como estou vendo aqui.
No início do seu post você comentou sobre imperativos, o que imediatamente me lembrou de Kant. Irônico é o contra ponto que história de vida deste filósofo faz frente a defesa de "intervençao" privada na pesquisa acadêmica. Só pra relembrar, Kant passou 10 anos isolado, sem fazer uma publicação. No final da década do silêncio, ele publicou a Crítica da Razão Pura, obra que levou mais uns bons anos para ser digerida pela sociedade e se tornar o que é hoje, por que ninguem entendeu o que ele quis dizer...
Já imaginou Kant tendo que esclarecer um administrador da AVON que sua pesquisa influenciaria toda a filosofia dos próximos 200 anos?
Meu ponto é que, pesquisa pelo "bem da sociedade" é um argumento oco, principalmente acompanhado de termos mercadológicos como "resultados". Pelo bem do sistema econômico capitalista não há dúvidas: vendam as federais ao preço simbólico de R$1,00 e permitam que os benefícios da pesquisa privada possam fluir pelas vidas de todos, todos os que puderem pagar por ele.
Outra coisinha que me lembrei lendo alguns comentários: Hitler iniciou uma onda de criação de escolas técnicas (e o Sr. Getúlio Vargas gostou tanto da idéia que foi acusado [injustamente?] de proximidade ideológica e política com o regime nazista, enfim, história pra quem gosta de história).
A idéia máxima de uma escola técnica é ensinar a fazer. Uma universidade deve se orientar por outra idéia, ensinar a pensar. Os nazistas não queriam uma sociedade pensante, para seu próprio bem.
Será que conseguiriamos apontar quem não quer uma sociedade brasileira pensante?
Ághata, vc matou a charada:
desenvolvimento tecnológico x produção de conhecimento científico.
"você tem fome de quê? Você tem tem sede de quê?"
(...)
"A gente quer inteiro e não pela metade".
É querer muito?
Prity, tenho que concordar com você. O ensino fundamental/médio publico é extremamente falho, então somente os ricos que podem pagar seus estudos conseguem passar nos vestibulares dificílimos das universidades públicas. (Ou alguns sortudos como eu, que tenho bolsa de 100% em uma particular, mas isso é raro)
Márcia, a very long time ago, quando eu fazia ME, a gente cantava isso...
"SOS, UNIVERSIDADE, A GENTE QUER INTEIRO, E NÃO PELA METADE"
Foi mal aê, danee, mas isso é puro senso comum.
A maioria das públicas vem da classe média, esse discurso só se aplica a alguns cursos mais concorridos.
Tive vários amigos oriundos de escola pública na universidade (pública federal), eu incluso
Oi pessoal.
Primeiramente, gostei muito do rumo que a conversa tomou. Sei que é cliché dizer isso, mas acho que foi um exemplo de como as pessoas podem discordar num blog sem cair em má-educação. E isso é muito importante, porque sabemos que há muitas pessoas que logo partem para ofensas pessoais.
Alguns pontos que eu gostaria de esclarecer, que foram citados aqui:
1- Sobre a questão de o lucro intervir ou não na eficiência empresarial em produzir mais barato que um núcleo governamental: a experiência mostra que, mesmo com lucro (ou prejuízo, não nos esqueçamos que essa possibilidade existe e acontece) que a economia de escala faz com que a produção seja mais barata. É complicado dissertar longamente sobre isso, mas se alguém quiser se aprofundar, a melhor forma é ler sobre micro-economia (o livro do Pindick é bom).
2- Sobre a questão da universidade não ter o retorno da pesquisa. Salvo engano, o modelo de patentes hoje já prevê que uma porcentagem fique com a universidade, ou seja, ela tem sim o retorno. No mais, acho que se esse modelo fosse explorado, os contratos entre as partes (universidades e empresas) poderiam envolver somas de investimentos em materiais, afinal, concordo que é questionável uma empresa usar todo o aparato técnico de uma instituição e colher somente os resultados.
3- Sobre a questão dos cursos menos “técnicos”, ou seja, os cursos de humanas puras, tais quais história ou letras, eu concordo que teriam mais dificuldades em angariar recursos. O que não significa que não conseguiriam recurso nenhum. Existe público, com certeza. Mas há de se considerar que um curso de letras custa muito menos que um curso de agronomia, afinal, o primeiro precisa de bons acervos e salas confortáveis, ao passo que o segundo precisa de animais e grandes áreas para plantações.
Por fim, o debate acabou indo para o papel da universidade na sociedade. Acho o debate interessantíssimo e, como em todas as questões acadêmicas, sei que não há consenso. Acadêmicos devem cultivar “engaged scholarship” ou o conhecimento deve ser construído aos poucos? Devemos ter total liberdade para pesquisar ou devemos seguir uma agenda determinada por professores (e por nossos orientadores)? Devemos ter um viés tecnocrático, analítico ou uma mistura dos dois?
Eu, particularmente, e como futura acadêmica, acredito em engaged scholarship. Mas isso acontece porque sou estudante de uma ciência social aplicada, ou seja, que demanda relevância prática. Acredito tanto em técnicas, como em análise, porque eu, como preciso da relevância prática, acredito que não posso só pesquisar e ensinar: tenho também que encontrar soluções para problemas reais e atuais.
No mais, sobre os que falaram que na “teoria é lindo”. Bom, tudo é. O sistema atual também é. Mas sempre vai existir um elemento político forte em qualquer organização social. ímpossível fugir disso, é um dado. Ou seja, a prática nunca vai ser perfeita, ainda que possa ser repensada e, espero, melhorada.
É isso. Abs.
Viste meu blog e ganhe seu Prêmio Dardos
Indicação de blog ao Prêmio Dardos
Carol, me perdoe, mas você acha mesmo que podemos aprofundar um debate sobre papel da Universidade, aí inclusos ensino, extensão, produção de conhecimento e avanços tecnológicos, apenas pela curva normal de demanda e oferta?
discordo: que resultado prático as teses em ciências humanas trazem, por exemplo? a lógica aristotélica não trouxe avanço nenhum em dois mil anos, mas foi graças ao estudo da lógica que hoje temos computadores. A primeira obrigação da pesquisa é produzir conhecimento, se isso vai ter aplicação pratica é outra estória. esse argumento é mais uma forma de querer mercantilizar a ciência. veja que não estou negando o direito que um engenheiro patentear algo que ele fez, mas se o estado investiu dinheiro nele, a universidade deveria receber royalties também por isso. mas a discussão toda nao cabe num comentário pequeno. só acho que não é tão simples assim também.
Postar um comentário