Oi Lolinha! Apesar de nunca ter postado nenhum comentário, leio seu blog todos os dias, e recomendei para todas as minhas amigas, que lêem tb! Gostaria de saber (se não for pedir muito hehe) o que fez com que vc seguisse o mestrado e doutorado em literatura. Falo isso porque também não sou formada em Letras (me formei em Relações Internacionais) mas dou aula de inglês, e minha vontade maior é estudar literatura inglesa. Desculpa pelo pedido super egoísta, mas como estou meio isolada de meus colegas, gostaria muito de escutar a história de alguém que também quis seguir por esse caminho. Obrigada por esse blog, que é sempre ótimo! Beijão! Amanda
Sua pergunta já tem algumas semanas. Espero que você e suas amigas continuem me lendo todos os dias! Então, eu realmente não sei o que me fez trilhar esse caminho. Lembre-se que, ao contrário de muita gente que passa a seguir uma profissão definida na idade adulta, eu abandonei a minha (fui redatora publicitária durante sete anos), e comecei uma nova (professora de inglês), totalmente sem querer. Passei a dar aulas de inglês apenas pra aproveitar meu conhecimento na língua, porque me pareceu um desperdício falar bem inglês e não fazer nada com isso. Mas imediatamente notei que ensinar inglês não pode ser um bico, e decidi investir. Fui a congressos, como o Braz-Tesol, tirei certificados (como o Proficiency, vulgo CPE, da Cambridge, e também o Toefl), e fiz uma especialização em Língua Inglesa. Eu era a única aluna sem graduação (porque havia abandonado a minha em Propaganda na metade, muitos anos antes. Aliás, gente, fica a dica: por pior que seja a sua graduação, acabe. Ou mude de área, aproveite os créditos, mas se forme. Você pode precisar do canudo mais tarde). E fui enganada. Me falaram que, depois que eu me formasse, poderia validar a especialização. Não é verdade. Isso tem um prazo: até um ano depois de terminar a pós, pelo que me lembro. Então minha especialização não melhorou meu currículo, embora tenha sido ótima pra conhecer pessoas muito legais. E durante o curso conheci também quatro professores da UFSC, entre eles meu orientador do doutorado. Ele explicou pra turma como funcionava o mestrado na UFSC. Disse que havia duas áreas, Literatura e Linguística, que havia bolsas para quem se saísse melhor na seleção (geralmente são oito bolsas por ano), e que o aluno não-bolsista tinha a vantagem de dar aulas de inglês nos cursos extra-curriculares da universidade. Fiquei muito entusiasmada com aquilo tudo. Afinal, eu sempre amei literatura. Fazer um mestrado em algo que eu gostasse, estudar puramente por prazer, me parecia um sonho. Mas, claro, eu não era graduada. Portanto, tratei de conseguir um diploma. Na ocasião, eu trabalhava como coordenadora acadêmica e professora de uma escola de idiomas, e gostava. Mas era puxado: todo dia das 14 às 22 horas. Isso significava que meu curso de gradução só podia ser pela manhã. Bem poucas opções, já que quase todos os cursos aconteciam de noite. Optei por Pedagogia (abriu um curso de Letras de manhã um semestre depois, mas eu não estava interessada. Tudo que eu queria era um canudo para poder fazer o mestrado). Não fui uma aluna brilhante de jeito nenhum. Me formei em julho de 2002. Em outubro já tinha que mandar pré-projeto e montes de documentos pra seleção do mestrado. E foi o que fiz. Pedi as duas cartas de recomendação praqueles que tinham sido meus professores na especialização. Estudei um pouquinho pras provas. Em dezembro elas aconteceram. Não fui muito bem: tirei 8,5 na prova de Linguística, 8,5 na de Literatura, e 9,5 na prova oral. Fiquei em oitavo lugar e consegui bolsa da Capes, que em março de 2003 era minúscula (só R$ 720 por mês. Ela estava congelada há quase 8 anos, graças ao FHC. Lula deu três aumentos durante seus dois mandatos, e hoje ela está em R$ 1.200, bem mais decente, mesmo que ainda defasada). Amei de paixão o meu mestrado. Tive professores excepcionais, aprendi muito, fiz ótimos amigos. Bom, pelo menos a primeira parte do mestrado, a dos créditos, eu amei. A segunda, que é escrever a tese, é solitária. Mas enfim, defendi a tese em fevereiro de 2005. Estava na dúvida se seguiria logo pro doutorado, porque pô, quatro anos?! É tempo demais. E também, a nossa renda despenca nessas horas (pra quem é mais novo, sem problemas. Mas quem tem mais de 35 anos costuma receber um salário maiorzinho que a bolsa. O bolso sofre). Além do mais, eu não sabia o que queria fazer exatamente. Não tenho nenhuma reclamação contra a minha orientadora no mestrado, pelo contrário. Mas aquele meu professor da especialização havia me convidado pra ser sua orientanda no doutorado. Eu sabia que a área dele é teatro, só não pensei que tivesse que ser Shakespeare. Apesar de eu amar o bardo, pensava que não conseguiria escrever uma dissertação sobre ele. Porque uma coisa é lê-lo e assistir peças e filmes baseadas nas suas obras. Outra é estudá-lo, pesquisá-lo. Porém, como a linha do meu orientador é Shakespeare in Performance, trabalha-se muito mais com as produções escolhidas que com o texto em si (que também está longe de ser indecifrável). Naquele hiato de um semestre entre o término do mestrado e o início do doutorado, voltei a dar aulas de inglês. E aí, na seleção do doutorado, fiquei em segundo lugar e ganhei uma bolsa do CNPq. É um privilégio enorme ser paga pra estudar.
Recomendo a todo mundo que tenha um bom domínio do inglês a cursar o programa de Pós-Graduação em Inglês (PGI) da UFSC. É um dos melhores do país, sem dúvida alguma. É referência. E, que eu saiba, é o único em que é tudo em inglês (aulas, trabalhos, teses etc). E você fica morando em Floripa por um tempo, o que não é um sacrifício gigante, né? O único porém é esse da graduação. Antes não existia esse troço de que, pra prestar concurso, tinha que ter a mesma graduação da área do doutorado. Hoje este é um grande empecilho. Pelo que eu noto, é possível fazer mestrado numa área diversa. Mas talvez seja melhor mesmo ter, por exemplo, graduação em Letras, mestrado em alguma outra coisa, e doutorado em Letras (fazer doutorado logo após a graduação é pruma parcela mínima). Ou graduação e doutorado em Relações Internacionais, como é o seu caso. Depende muito do que você pretende fazer depois de virar doutora. É pra satisfação pessoal? Ou é pra tentar dar aula numa universidade? É muito difícil ser contratada por uma particular. Elas não contratam, porque podem chamar um mestre e economizar. As poucas que contratam pagam mal. E raramente sobra tempo pra pesquisa. Em outras palavras, doutor que deseja seguir a vida acadêmica tem que fazer concursos e entrar numa federal. Pra gente que é professora de inglês, é a única chance de ganhar salário de rico (R$ 6.700 bruto). E de compartilhar tudo que aprendemos no mestrado e doutorado. Porque, sinceramente, pra dar aula de inglês em curso de idiomas não precisa nem de gradução. Mas às vezes sinto falta da tranquilidade que tinha. Eu era feliz e não sabia? Pior é que eu sabia! (claro que agora que passei no concurso serei ainda mais feliz).
Sua pergunta já tem algumas semanas. Espero que você e suas amigas continuem me lendo todos os dias! Então, eu realmente não sei o que me fez trilhar esse caminho. Lembre-se que, ao contrário de muita gente que passa a seguir uma profissão definida na idade adulta, eu abandonei a minha (fui redatora publicitária durante sete anos), e comecei uma nova (professora de inglês), totalmente sem querer. Passei a dar aulas de inglês apenas pra aproveitar meu conhecimento na língua, porque me pareceu um desperdício falar bem inglês e não fazer nada com isso. Mas imediatamente notei que ensinar inglês não pode ser um bico, e decidi investir. Fui a congressos, como o Braz-Tesol, tirei certificados (como o Proficiency, vulgo CPE, da Cambridge, e também o Toefl), e fiz uma especialização em Língua Inglesa. Eu era a única aluna sem graduação (porque havia abandonado a minha em Propaganda na metade, muitos anos antes. Aliás, gente, fica a dica: por pior que seja a sua graduação, acabe. Ou mude de área, aproveite os créditos, mas se forme. Você pode precisar do canudo mais tarde). E fui enganada. Me falaram que, depois que eu me formasse, poderia validar a especialização. Não é verdade. Isso tem um prazo: até um ano depois de terminar a pós, pelo que me lembro. Então minha especialização não melhorou meu currículo, embora tenha sido ótima pra conhecer pessoas muito legais. E durante o curso conheci também quatro professores da UFSC, entre eles meu orientador do doutorado. Ele explicou pra turma como funcionava o mestrado na UFSC. Disse que havia duas áreas, Literatura e Linguística, que havia bolsas para quem se saísse melhor na seleção (geralmente são oito bolsas por ano), e que o aluno não-bolsista tinha a vantagem de dar aulas de inglês nos cursos extra-curriculares da universidade. Fiquei muito entusiasmada com aquilo tudo. Afinal, eu sempre amei literatura. Fazer um mestrado em algo que eu gostasse, estudar puramente por prazer, me parecia um sonho. Mas, claro, eu não era graduada. Portanto, tratei de conseguir um diploma. Na ocasião, eu trabalhava como coordenadora acadêmica e professora de uma escola de idiomas, e gostava. Mas era puxado: todo dia das 14 às 22 horas. Isso significava que meu curso de gradução só podia ser pela manhã. Bem poucas opções, já que quase todos os cursos aconteciam de noite. Optei por Pedagogia (abriu um curso de Letras de manhã um semestre depois, mas eu não estava interessada. Tudo que eu queria era um canudo para poder fazer o mestrado). Não fui uma aluna brilhante de jeito nenhum. Me formei em julho de 2002. Em outubro já tinha que mandar pré-projeto e montes de documentos pra seleção do mestrado. E foi o que fiz. Pedi as duas cartas de recomendação praqueles que tinham sido meus professores na especialização. Estudei um pouquinho pras provas. Em dezembro elas aconteceram. Não fui muito bem: tirei 8,5 na prova de Linguística, 8,5 na de Literatura, e 9,5 na prova oral. Fiquei em oitavo lugar e consegui bolsa da Capes, que em março de 2003 era minúscula (só R$ 720 por mês. Ela estava congelada há quase 8 anos, graças ao FHC. Lula deu três aumentos durante seus dois mandatos, e hoje ela está em R$ 1.200, bem mais decente, mesmo que ainda defasada). Amei de paixão o meu mestrado. Tive professores excepcionais, aprendi muito, fiz ótimos amigos. Bom, pelo menos a primeira parte do mestrado, a dos créditos, eu amei. A segunda, que é escrever a tese, é solitária. Mas enfim, defendi a tese em fevereiro de 2005. Estava na dúvida se seguiria logo pro doutorado, porque pô, quatro anos?! É tempo demais. E também, a nossa renda despenca nessas horas (pra quem é mais novo, sem problemas. Mas quem tem mais de 35 anos costuma receber um salário maiorzinho que a bolsa. O bolso sofre). Além do mais, eu não sabia o que queria fazer exatamente. Não tenho nenhuma reclamação contra a minha orientadora no mestrado, pelo contrário. Mas aquele meu professor da especialização havia me convidado pra ser sua orientanda no doutorado. Eu sabia que a área dele é teatro, só não pensei que tivesse que ser Shakespeare. Apesar de eu amar o bardo, pensava que não conseguiria escrever uma dissertação sobre ele. Porque uma coisa é lê-lo e assistir peças e filmes baseadas nas suas obras. Outra é estudá-lo, pesquisá-lo. Porém, como a linha do meu orientador é Shakespeare in Performance, trabalha-se muito mais com as produções escolhidas que com o texto em si (que também está longe de ser indecifrável). Naquele hiato de um semestre entre o término do mestrado e o início do doutorado, voltei a dar aulas de inglês. E aí, na seleção do doutorado, fiquei em segundo lugar e ganhei uma bolsa do CNPq. É um privilégio enorme ser paga pra estudar.
Recomendo a todo mundo que tenha um bom domínio do inglês a cursar o programa de Pós-Graduação em Inglês (PGI) da UFSC. É um dos melhores do país, sem dúvida alguma. É referência. E, que eu saiba, é o único em que é tudo em inglês (aulas, trabalhos, teses etc). E você fica morando em Floripa por um tempo, o que não é um sacrifício gigante, né? O único porém é esse da graduação. Antes não existia esse troço de que, pra prestar concurso, tinha que ter a mesma graduação da área do doutorado. Hoje este é um grande empecilho. Pelo que eu noto, é possível fazer mestrado numa área diversa. Mas talvez seja melhor mesmo ter, por exemplo, graduação em Letras, mestrado em alguma outra coisa, e doutorado em Letras (fazer doutorado logo após a graduação é pruma parcela mínima). Ou graduação e doutorado em Relações Internacionais, como é o seu caso. Depende muito do que você pretende fazer depois de virar doutora. É pra satisfação pessoal? Ou é pra tentar dar aula numa universidade? É muito difícil ser contratada por uma particular. Elas não contratam, porque podem chamar um mestre e economizar. As poucas que contratam pagam mal. E raramente sobra tempo pra pesquisa. Em outras palavras, doutor que deseja seguir a vida acadêmica tem que fazer concursos e entrar numa federal. Pra gente que é professora de inglês, é a única chance de ganhar salário de rico (R$ 6.700 bruto). E de compartilhar tudo que aprendemos no mestrado e doutorado. Porque, sinceramente, pra dar aula de inglês em curso de idiomas não precisa nem de gradução. Mas às vezes sinto falta da tranquilidade que tinha. Eu era feliz e não sabia? Pior é que eu sabia! (claro que agora que passei no concurso serei ainda mais feliz).
10 comentários:
A vida tem caminhos que a gente nem pode sonhar. Eu sempre fui professora de francês. Me formei em Letras-francês e a minha segunda paixão durante toda a graduação era linguística. Eu nem sonhava em fazer um mestrado.Eu tinha um emprego q pagava bem para um professor de francês. Mas eu acabei descobrindo q não iria longe sem ser da panelinha. Retomei o contato com uma professora da graduação e ela me convidou para um curso - foi a retomada da paixão. Dois meses depois eu estava no mestrado (sem bolsa), mas feliz da vida.
olá, Lola.
"Antes não existia esse troço de que, pra prestar concurso, tinha que ter a mesma graduação da área do doutorado." Isso me cheira a pressão de Associações e afins. Lembro-me de uma história, na época da faculdade de economia, num encontro de graduações, um cara do conselho, reclamando de engenheiros que faziam pós stricto senso em economia e "viravam" economistas, que o título devia ser somente para graduados blá, blá blá... O josé serra é um exemplo disso, ele fez pós somente, e ele é mais economista que eu, que fiz graduação e nunca atuei na área, nunca pesquisei, nem voltei a estudar o assunto... Parece corporativismo... Uma pena, pq a diversidade de conhecimentos só pode enriquecer uma área.
ah, esqueci de mencionar. Federal ou estaduais né? rsrs. Vejo ótima pesquisa sendo feita na USP, Unicamp e Unesp aqui no estado de SP. E na época que fazia graduação, a bolsa da FAPESP era uma das melhores, não sei se continua assim. Embora o nível de exigência deles beirava o absurdo, com suspensão da bolsa, caso se atrasasse o relatório em 1 dia sequer.
eu de novo. Agora li o link do "troço" hehhe.
Vc ainda está fazendo o curso a distância? (ou à distância??)
meu pai fez mackenzie na década de 70 e tinha um professor que falava para eles. Aqui nessa faculdade, sou como um motorista de taxi, sou pago enquanto em sala de aula...
Ser dedicado é bom... E dindin também ajuda bastante... Eu amo idiomas. Tenho facilidade para aprender sons, modos de falar, distinguir sotaques... Sei cantar em cerca de 20 línguas, e falo bem o àrabe e o espanhol, mas a minha passion mesmo é o francês. Trabalho na Sadia, e o salário por enquanto não permite, mas se algum dia der certo, quero terminar o curso que eu comecei, e rezo para que algum dia possa fazer o curso da Aliança Francesa, por que não?
Na vida, quase tudo depende dos fatores externos à nossa vontade, mas paciência para suportar as coisas e conseguir algo é fundamental. Não sei se teria paciência para 4 anos de faculdade, mas admiro muito quem tem.
Parabéns e boa sorte na tua nova jornada.
Loléte, já que vc está dando essa "consultoria" gratuita, me diz uma coisa. Eu por exemplo, sou formada em Turismo pela Unv Federal do Pará, uma das poucas federais com este curso. Particular tem que nem capim. Tenho especialização na área tb e queria muito fazer um mestrado. Claro que gostaria que fosse a UFSC já que moro em Floripa, mas lá não tem este curso... Então só posso fazer mestrado, em Federal, se ela oferecer o curso de turismo ou similar?
Beijinho.
Lola, deve ser um barato assistir a uma aula sua de literatura inglesa!
Parabéns pelo concurso e pelo salário gorducho. E, principalmente, pelo grande privilégio de trabalhar com o que você gosta.
ego, lola, ego
eu, eu, eu, eu...
senso comum, senso comum...
é quando se começa a cair!
Oi Lola, sou formada em Letras e agora estou fazendo uma Especialização em Literatura e História, moro em Curitiba e a única opção que possuo para fazer mestrado seria pela UFPR, porém a linha de pesquisa deles ainda é tradicional e infelizmente não consigo me encaixar nessa perspectiva, meu TCC na graduação foi uma análise da sociedade inglesa dos séculos XVIII e XIX através de Alice no país das maravilhas e agora estou fazendo a monografia da pós sobre a temática feminista no livro Navalha na liga da Alice Ruiz, o que me parece que é radical demais para o tradicionalismo da universidade, gostaria de saber se na UFSC eu conseguiria dar continuidade nas minhas pesquisas, especialmente a literatura inglesa, pois estaria disposta a mudar de cidade e de estado para fazer um mestrado. Se puder me responder eu agradeço.
Kerolen, acho que tem lugar pra vc sim na UFSC. Eu pessoalmente só conheço o pessoal da PGI (Pós-Graduação em Inglês), e já tem 6 anos que terminei o doutorado lá. Vc pode tentar com o pessoal de Literatura, da PGI, ou até da Tradução. Entre nos sites de cada departamento e veja as linhas de pesquisa dos docentes. Eu acho que tem bastante diversidade. Boa sorte!
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