terça-feira, 21 de julho de 2009

UMA MENINA DE 10 ANOS REVOLTADA

Eu com 7 ou 9 anos. O desenho abaixo é meu também. Minha mãe pediu pra eu desenhar um cinto e eu... ahn, eu entendi errado.

Quando eu digo que sou feminista desde a mais tenra infância ninguém acredita. Mas sou. O legal é que não é fantasia minha, não é que eu reconstruí o meu passado pra me fazer precocemente feminista. Eu tenho provas. Escrevo desde os sete anos, e guardei muitos relatos que podem ser considerados feministas. Ou pelo menos que mostram uma certa inquietação. Encontrei outro dia, mexendo nos meus papeis, este poeminha de maio de 1978. Eu tinha dez anos.

A Menina

Menina que sobe e que desce,
Que come e engasga,
Que vê o céu claro e escuro,
Que ri e que chora,

Que toca viola e cantarola...
Qual será a dança dessa vida?

O que me destinará?
Que resto me sobrará?

Qual será o meu destino só porque não sou menino?
A menina sobe e desce,
Será que ela vai cair?

Eu gosto de como o poeminha, da metade pro fim, deixa de falar numa menina genérica e entra na primeira pessoa. Ou seja, euzinha. Aos quase onze anos. Hoje eu queria saber por que estava revoltada, que injustiça eu havia presenciado. Porque eu tava visivelmente revoltada, né? Que resto me sobrará? Resto é forte.
Vocês que são mães e pais, motivem seus filhos a escrever desde pequenininhos. É interessante a gente poder voltar no tempo e ver como pensava, o que nos afligia, três décadas atrás. E perceber como a gente mudou tão pouquinho.

21 comentários:

Unknown disse...

Amei o poema!!! Muito poético. Sempre fui pessimo em redacoes escolares. Quando terminarava o ano, o primeiro caderno a ir embora era o de Redação. Nao tenho nenhum texto meu guardado dessa epoca. Sempre preferi Matemática.

Giovanni Gouveia disse...

Amei o colorido psicodélico da aquarela...

Se eu entendi bem, "cinto" virou "cinco"?

Anyway, adorei o poema.

Raiza disse...

Gostei do poema Lola.Nunca gostei de escrever poemas então não tenho nenhum guardado dessa época,mas lembro de como eu pensava.Também tinha essa inquietude.Uma coisa que eu me lembro é que eu adorava aqueles desenhos japoneses de lutas sabe?Aí,num belo dia eu estava assistindo a um deses e tive uma epifania:"Ué,peraí,porque só tem homens lutando?".Nunca esqueci disso.Eu devia ter mais ou menos uns 10 anos por aí.

Bárbara Reis disse...

Eu mudei MUITO!

Amém!

Nhon... muito linda a sua foto Lola!

:*

Adília disse...

Gostei do poema sobretudo pela lucidez que revela quanto ao desigual estatuto que ainda hoje existe e mesmo se pretende exacerbar. As minhas memórias sobre o tema não são tão antigas, mas também são fortes e vívidas e levam-me a continuar a lutar, agora através do meu blog, por uma sociedade em que as assimetrias e desigualdades não mais tenham lugar.

Denise disse...

1 vc era uma menina LINDA rs
2 escrevia ja de forma feminina
3 com traços de um feminismo eminente
4 usava as cores com parcimonia e equilibrio
5...entendeu cinco ao invez de cinto e ficou LINDO

escreva lola escreva.sempre que é uma delicia te ler

De

Somnia Carvalho disse...

Lola demais! pena que eu era revoltadinha, mas tonta que so vendo e joguei tudo, absolutamente tudo que escrevia e desenhava...

Lola espertinha Lola!

Paula P. disse...

Que lindo, Lola, adorei o desenho, você soube usar a sua criatividade.
Sabe, eu tenho uma inveja de você. Mal me lembro da minha infância, mas do pouco que lembro o que me vem à cabeça é uma menina nada precoce, bem bobinha e até um pouco tapada.
O máximo que eu tinha de "feminista" era adorar brinquedos de garotos. Tive de tudo, bola, skate, autorama, mesa de bilhar, espada, bonecos dos power rangers, mas eu também lembro que morria de vergonha de admitir. Sabe aquela história de o que os outros vão pensar?
Ah, e eu também adorava escrever, mas, infelizmente, não tenho nada guardado.

Deborah disse...

Adorei Lola ^^

Eu fui uma boba que jogou tudo fora =/

Anônimo disse...

Nossa, adorei essa historia do cinco! De onde vc tirou isso Lolinha do céu?? Morri de rir!!
Eu era tão bobinha quando criança... E nem percebia que o mundo era machista, pq sempre fiz o que quis fazer e nunca nem tinha parado pra pensar que todos os meus herois eram homens. Eu simplesmente me igualava a eles. Não sei se isso foi bom ou ruim, pq depois o choque e a frustração foram maiores!

Unknown disse...

Quando eu tinhas uns 23 anos, minha mãe pegou meus diários que escrvia desde os 16 anos Os diários eram mais uma coleção de idéias, contos, crônicas...Ela não entendeu nada! Pirou o cabeção! Tudo o qu eu havia escrito voltou-se contra mim! Queimei tudo.

Alline disse...

Lola, que menina linda! E que palavras fortes para essa menina... de onde veio essa maturidade, você lembra? Eu escrevo desde os 12, mas era muito mais romântica, coisa que deixei para trás faz tempo. E a papelada tá toda guardadinha, prum dia eu sentar e passar um tempo comigo.
Beeeeeeijo!

Anônimo disse...

Lola, escrever na infância, é tudo, é fundamental.
Tenho filhos e eles escrevem, outro dia ganhei de presente um livro de poemas da minha filha( no Natal), onde eu puder observar toda a sua transformação e entender "o porque" da sua maturidade precose. É fasciante!
Beijos

Gustavo Ca disse...

Nossa! Que poema é esse.. Simples e forte, denso. E todo desenho de criança me lembra aqueles desenhos que crianças fazem em filmes de terror, num sei pq.

Quando criança eu desenhava muito e gostava de escrever, inventar histórias - tbm joguei tudo fora, mas não me arrependo: eu passei a não gostar de tudo isso guardado (pq eu mudei muito, mas lembro muito bem como era), aí comecei a praticar o desapego dessas coisas e fui renovando meu material, deixei de lado os desenhos e hoje só escrevo.

Mas o bom é que meus pais incentivaram, reconheço isso. Ter um meio de praticar total liberdade na criatividade.

Anônimo disse...

Lola
muito válida a sua sugestão para que incentivemos as crianças a escreverem. Acho que o resgate anos depois nos recompõe/recicla/ reestrutura.
De fato muito interessante a sua noção de que ser menina era preocupante.
Lola vc é uma mulher que a cada dia evolui mais para a categoria sujeito.
Quanto ao desenho, ao poema e a sua cara... simplesmente adoráveis.
Abraço da Fatima - de Laguna

Christina Frenzel disse...

Lola, que poema mais forte!
Dia desses, ao encontrar uma pasta de meus "trabalhinhos" na escola que minha mãe havia guardado, comentei com meu marido como eu era bobinha e inocente, e tão cheia de sonhos... E, claro, como, por 'n motivos que não vêm ao caso, desacreditei em tudo.
Queria muito aprender a manter os sonhos da Ciça vivos, mesmo puxando-os para a realidade mas sem destruir por completo a fantasia...
Adorei seu desenho, também!

Beijos

Patricia Scarpin disse...

Lola, você estava com cara de brava, não? :D Os olhos expressivos, do mesmo jeito de agora.
Amei o poeminha - às vezes fico meio p... em como os adultos não dão bola para os conflitos das crianças, sempre acham que é tudo festa e tal. Se um dia eu tiver filhos, quero tentar estar sempre atenta para o que os incomoda e não agir como se só as minhas coisas, o meu mundo fossem importantes.

Merinha M disse...

Oi Lola,adorei!Gosto demais de td que vc escreve.Bjos.Meri.

Unknown disse...

Lola,
Se eu pudesse eu diria aos Pais e mães,que
Incentivem seus filhos a se expressarem, desenhando, escrevendo, cantando,e antes de tudo que escutem seus filhos!

Bj

Paola

Laís de Almeida disse...

ôxe! 10 anos, como pode!???
é, é bom qdo vc é um superdotado!
as minhas coisas só servem p/ eu rir. mas é bom tb. ;D

Anônimo disse...

Sem palavras! Tão pequena e tão a frente do tempo <3