quarta-feira, 17 de junho de 2009

CRÍTICA: SINÉDOQUE, NOVA YORK / Por obséquio, não entendi lhufas

Philip limpa apartamento da ex sem ela saber que ele existe.

Vi Sinédoque, Nova York esses dias (mas não no cinema, que ele não chegou aqui de jeito nenhum), e lamento dizer que depois de “three strikes, you're out” (tá, é um termo de baseball, ninguém vai entender, tipo “três erros e você está fora”), e que agora é oficial: definitivamente não estou entre os fãs do Charlie Kaufman. A primeira vez que ouvi falar nele foi ao ler o roteiro de Quero Ser John Malkovich. Ri bastante com o script, achei bem escrito, mas o filme me decepcionou. Não o achei nada engraçado. Aí vi Adaptação, que eu até gosto - isto é, até a metade. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças tenho que ver de novo pra entender por que tanta gente (confiável, de respeito) acha o troço uma obra-prima. Quer dizer, adoro o Jim Carrey e a Kate Winslet, e o filme é fofo, mas não ao ponto de merecer ser posto num pedestal e eu gritar várias vezes por dia “Ave, Kaufman!”. Agora ele acaba de dirigir seu primeiro trabalho, Sinédoque. E não há como negar que Kaufman seja inventivo, original, um banho de alegria num mundo de água quente. E totalmente distante do cinemão americano. Ele tá mais pra Ano Passado em Marienbad e pro tipo de cinema que era feito (pela vanguarda) nos anos 60. Tem muita coisa que me agrada daqueles tempos, mas também me vem à mente alguns slogans, como “o diretor é um gênio; o filme é uma m****”. Porque alguns filmes eram bem ruins, ou pelo menos soam datadérrimos hoje em dia. Atualmente há diretores pretensiosos que fazem algo parecido. E eu não sinto atração alguma por, sei lá, Viagem a Darjeeling. Nessas horas eu só penso na gozação que fazem com o Michael Gondry, falando que Rebobine Por Favor foi o acontecimento cinematográfico mais importante desde Os Excêntricos Tenembauns.
Então. Não vou fingir que entendi do que trata Sinédoque (ou certas obras do David Lynch), porque estaria mentindo, e eu não minto. Sine começa bem, com o casamento em crise de um diretor de teatro feito pelo grande Philip Seymour Hoffman (que pra mim está meio contido aqui) com a cada vez mais linda Catherine Keener, que faz uma artista plástica que pinta quadros tão pequenos que é preciso vê-los com lupa. A filha deles é uma graça, e posso jurar que é interpretada pela menininha filha da Kate em Pecados Íntimos. E considero tudo uma enorme coincidência, já que estou escrevendo sobre Felicidade, que tem o Philip e a Jane Adams, que tá em Pecados também, e daqui a pouco vou ter que fazer os seis graus de separação com o Kevin Bacon. Tá tudo interligado. Bom, o casamento de Philip e Catherine naufraga, o tempo voa, e eu não consigo distinguir a Samantha Morton (de Minority Report) da Emily Watson (de Dragão Vermelho). Pensei que fossem a mesma pessoa. Eu acho legal que uma delas more numa casa pegando fogo, e é sempre um prazer ver a Jennifer Jason Leigh, ainda mais com sotaque alemão, e a Dianne Wiest (fingindo ser homem numa cena). Mas quando o filme passa da metade e chega um momento em que o Philip recebe um prêmio pra fazer o que quiser, e ele decide montar uma produção teatral que leva dezessete anos, o filme me perdeu. Eu desisti dele. Porque dá a impressão que os dezessete anos passam inteirinhos, na íntegra. Tem uns trinta finais, sabe? O filme não termina nunca, e eu pensando, “Dá licença? Sexta tenho que defender minha tese”. Eu não vejo problema em não entender um filme durante metade do tempo. Mas quando noto que o diretor/roteirista está discursando pra si mesmo e não tem o menor objetivo de clarificar alguma coisa, aí eu já fico com o pé atrás. Os dois pés.
Mas o que se pode esperar de um título como Sinédoque, que 99% da população precisa procurar no dicionário pra saber que significa a substituição de um termo por outro? Este é um filme pra poucos. Se você for um dos poucos, legal, sinta-se especial. Se não for, como eu, bem-vindo à exclusão total. Ando rimando muito ultimamente.

27 comentários:

Suzana Elvas disse...

Engraçado, porque é essa a impressão que eu tenho vendo filmes com roteiro dele: você vai ficando com a respiração cada vez mais curta e rápida até a metade da história e então... dá aquele longo suspiro e pergunta o que tem pro lanche. E o fim do filme... você lembra qual foi? Eu não.

Unknown disse...

O sobrenome do personagem principal é nome de uma sindrome... ta tudo explicado na critica do Rubens Ewald Filho.. alias.. vcs dois sao muito parecidos... o Rubens nao gosta muito de Brilho, nao recomenda pra ninguem Adaptacao e acha mais ou menos Quero ser....

http://www.rubensewaldfilho.com.br/home/cinema_detalhe2.asp?paNFilme=1644

Tina Lopes disse...

Adorei o texto, Lola. Me fez pensar em filmes que adoro mas que náo entendi. Por exemplo, quase todos do David Lynch. Cidade dos Sonhos, pra ficar com um dos últimos, é um daqueles hipnóticos que eu quero ver de novo, mas nem sei por quê. "No hay banda" é uma frase que me dá medo até hoje. Gosto de filmes assim, nos quais a gente larga a razáo já no começo e se solta, sem procurar o fio da meada. Vai deixando que as imagens te faám passar por sentimentos inesperados. Bem, eu sou uma das que adora o Brilho Eterno. Parte da adoraçáo vem dos atores; o nonsense também me agrada - o que nem sempre acontece, como no caso de Caché: incrível como fica uma fome de respostas nesse filme. Voltando ao Kaufman, concordo com a tua sensaçáo e a da Su - "Adaptaçáo" náo acaba nunca, "Quero Ser" me entedia um pouco. Mas vou apostar em "Sinedoque" porque, primeiro, vc já explicou o que significa (rs) e porque tem essa penca de atores maravilhosos - gente, adoro a Catherine Kenner, Philip S.H. etc. A defesa é já nesta sexta? Uau, como o tempo passa. Bjk.

Srta.T disse...

Putz, a Tina me assusta, acho que ela botou detetive atrás de mim. Eu pensei em escrever algo sobre o "Caché" (vi no feriado), ela vai lá e escreve. Eu adoro Brilho Eterno, acho que o absurdo do "método de esquecimento" permite que sejam discutidas coisas muito interessantes do relacionamento. O filme está pra mim como "Closer" está pra muita gente.
Eu gosto do Lynch, mas entendo quase nada (pra não falar que gosto sem entender). Tenho toda "Twins Peaks" mas, confesso, depois que revelam quem é o assassino, o negócio perde a graça. Nem terminei de ver, tá lá em casa, pegando poeira.
Sobre "Caché": óbvio que tive que rever a última cena, porque o "detalhe" me passou despercebido. Mas novamente, incrível como os filmes do Haneke me atingem o fígado: eu sinto ódio genuíno dos personagens.

Lola, já viu "Obrigado por Fumar"? Procurei crítica, mas não achei.

Enfim, continuo curiosa pra ver Sinédoque... mas sabe que não dei conta de ver "Rebobine, por favor" até o final? Achei meio chatinho. Mas vou dar outra chance, a idéia é boa.

Patrick disse...

Cultura inútil: fui procurar o significado da palavra no dicionário Priberam e o resultado é muito curioso. Porque o Priberam apresenta um gráfico das consultas àquela palavra nos últimos 95 dias. Antes do lançamento do filme, ninguém queria saber o que era sinédoque. Depois, chegou a um pico de mais de 400 consultas diárias.

Má disse...

Oi Lola!
Os filmes que vi (os q vc citou) até hoje do Kaufman eu adorei! Não senti que não entendi nada, achei apenas BEM diferente dos filmes q circulam por aí, e bem criativo! Mas concordo q tb não é tipo "A obra prima", no pedestal, é entretenimento.
Agora david Lynch para mim entra nessa categoria q vc disse, não entendo quase nada, e esse deve ser o propósito mesmo. Não gosto muito.
Tem um filme q do Wim Wenders q se chama " até o fim do Mundo". Posso ser a ignorante, mas é um daqueles filmes q não se entende nada tb e como vc disse, parece umas 10 vezes q vai acabar e começa outra história. Sensação de 8 horas de filme! Não veja este filme se não estiver disposta nunca!rsrsrrs...Brincamos aqui em casa q vamos recomendar este filme p torturar os outros...kkkk..
Abração Lola!

Má disse...

Ai,,e queria ver este filme, aliás adoro o Philip Seymour ! Mas vou tentar quando estiver disposta tb....tem filmes q tem
q estar assim p poder ver..;)
(vai ver Lola, vc sentiu isso por causa de sua tese! Eu não assistiria nada muito complexo antes..)

Junior disse...

Lola,

Estou muito curioso para ver esse filme... apenas para fomentar as diferentes opiniões, segue uma crítica onde o autor adorou o filme, ficou completamente apaixonado:

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7444&id_filme=5544&aba=critica

São formas diferentes de ver uma mesma obra.

L. Archilla disse...

achei exatamente a mesma coisa do filme. PARECE ter uma instenção muito legal, ali, mas eu não entendi absolutamente nada passando do primeiro terço; na metade eu já tava bem incomodada e no terceiro terço eu queria desesperadamente desligar o filme. não conheço ninguem q tenha visto algum sentido naquilo até agora. tenho a sensação de q o filme foi feito do Kaufman pra ele mesmo. não gosto de coisas limitadas, assim.

entretanto adorei Quero Ser John Malkovich. pra mim, está entre os melhores da década de 90. Já sobre Brilho Eterno, tenho a mesma opinião q vc. É divertidinho, esteticamente original, mas o roteiro não tem nada de mais. me decepcionei muito, esperava uma obra genial...

Giovanni Gouveia disse...

"Quero ser..." é um desses filmes que falta fôlego no meio da ladeira, e simplesmente pára, parece que acontece o mesmo com esse aí...


Off topic, pero no mucho. Lola conheces algo do cinema argentino? há uns 20 anos +/- eu assisti "Sur" e "Tango, o Exílio de Gardel" e nunca mais vi nada... Aliás Fernando Solanas nasceu no mesmo dia que meu pai

Oliveira disse...

Off topic:

O novo (depois de eleito)Lula.

17/06/2009 - 10h49
Lula defende José Sarney e diz que denúncias não têm fim
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da Agência Brasil, no Cazaquistão
da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (17) a sequência de denúncias no Senado e saiu em defesa do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que discursou ontem no plenário do Congresso Nacional.

"Não li a reportagem do presidente Sarney, mas penso que ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse. "Elas [denúncias] não têm fim e depois não acontece nada."

Eu: sujeito (o Lula) desclassificado!

Mônica disse...

Pois é, Lola, alguns filmes parecem mesmo pertencer à categoria do 'pois é, então': a luz acende e você se pergunta: "Pois é, e então?"

Eu até gosto dos filmes do Kaufman, confesso que nem sei muito bem porquê. Ainda não vi Sinédoque, estou naquela fase de só querer filme facinho, que não vai fazer cócegas nos meus neurônios. Procê ter uma ideia, até o novo do Clive Owen com a Julia Roberts conseguiu embolar o meu meio de campo...

Quanto aos filmes dos anos 60, eu me lembro daquela definição de Cinema Novo: 'uma ideia na cabeça, uma câmera na mão'. E aí veio alguém e completou: 'e uma merda na tela!!!' :-)

bjk.
Mônica
Crônicas Urbanas

Suzana Elvas disse...

Oi, Giovanni;

Dá uma olhada nesse artigo:

http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2507,1.shl

Dos citados, vi "Mundo Grúa", "O Pântano", "Silvia Prieto", "La Niña Santa" e "Família Rodante" (muito bom, lembra "Pequena Miss Sunshine" mas muito melhor). Recomendo fortemente ainda "Pizza, Birra, Faso".
Bjs

Suzana Elvas disse...

Lola, me apaixonei por "A partida", um filme japonês que, pelo visto, já entrou e já saiu de cartaz em coisa de dias.
Sabe qual é?
Bjs

Giovanni Gouveia disse...

Lola, viu isso sobre Lula?

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090615_lulagenebra_pu_ac.shtml

Felipe Guimarães disse...

Eu vi algumas partes do "Brilho Eterno" e não achei lá essas coisas como todo mundo fala. Impressionante, não? Todo lugar que eu vou alguém comenta do filme e fala que é excelente...

Lolla disse...

Eu até gosto de Quero Ser John Malkovich, acho que o filme não é pra ser engraçado, mesmo. Já Brilho Eterno, as indiezinhas acham fofo porque é romanticozinho e a protagonista troca de cor de cabelo mais do que toma banho. Eu sou herege e digo que não gosto da imensa maioria das interpretações da Kate Winslet, quase sempre histéricas e over the top. Eu até queria dar uma olhada nesse filme, mas como vou ter q ir a Londres pra isso, talvez passe.

Priscilla disse...

Olá Lola,

Vou anotar o nome do filme para não correr o risco de ver...
Acho que em Adaptação ele discursou para ele mesmo também, colocando o filme Eu quero ser John M. como pano de fundo.
Mas ao contrário de vc, gostei muito de Quero ser John M e mais ainda de Brilho Eterno. Mas Sinedoque não vou ver não.

Pedro disse...

Lolinha passando só para dar um alo haha vi uma piada que lembrei de ti:

Sentados em um bar, Bin Laden e Saddam Hussein discutem calorosamente, quando chega um repórter da CNN querendo saber o que os dois estavam planejando.

Bin Laden responde:
Estamos planejando a III Guerra Mundial.

E como seria isso? quis saber o repórter.

Saddam responde:
Vamos atirar uma bomba e matar 15 milhões de americanos e 1 esquilo.

Um esquilo? Mas pq 1 esquilo?

Saddam vira-se para Bin Laden e diz com um ar vitorioso e divertido:
Tá vendo? Ngm se preocupa com os 15 milhões de americanos...
"


hOhoho, amanha estou indo para sua terra natal... abração

Priscilla disse...

O jingle das duchas corona, quanto tempo...

Paola disse...

O Shampoo e o condicionador já seguiram viagem, estão a caminho!

Bj

PAola

Mr.Jones disse...

Nao li todo esse post (adoto estilo super sincero) ahahaha. Mas visitei e votei no post da Somnia. E se me perguntarem o porquê. Ela sabe deixar nas linhas dos textos dela (sentimento, sensibilidade, critica e opiniao) que nos leva a sentir a flor da pele. E me levou a ser um visitante assíduo. E pelo blog da Somnia, encontrei o seu. Que também achei IMPACTANTE. Eu sou novato na blogosfera, e me surpreendi com os blogs femininos. Os textos sao excelentes. Isso é bom para mostrar que as mulheres também têm o poder das PALAVRAS.
Parabens pelo seu blog.

Diego (Mr.Jones)

Karen disse...

Hum.. tem filmes que não são mesmo pra compreender... nem sempre a gente gosta. O bom é quando sendo ou não pra entender mexe com a gente...

Eu não vi o filme ainda... mas adoro brilho eterno....

Milena disse...

O que eu acho interessante no Charlie Kaufman é que todo mundo supostamente adora (é super cool gostar do Kaufman), mas na verdade, ninguém tem coragem de admitir que não entende bulhufas dos roteiros do cara. Eu não suporto nada que ele produz. São roteiros pretenciosos e incompreensíveis, teias de acontecimentos sem o menor nexo ou sentido.
Sinceramente, eu acho que ele devia filmar e trancar o resultado num cofre na casa dele, para assistir sozinho, porque ele não faz filmes que sejam minimamente razoáveis para os espectadores. Ele é criativo? Sim, provavelmente. Criativo como uma criança de 5 anos com uma caixa de giz de cera na mão. Kaufman é criatividade infantil demais para meu gosto.

Priscilla disse...

Paola, a referência foi ao jingle?
Então somos da mesma geração!
Só que meu filho não pode votar ainda, tem apenas 5 meses, demorei um pouco para ser mãe...
Então estou sempre sem tempo, o baby exige muito desta senhora aqui...Dei uma olhada no seu perfil e nos blogs, dia deste vejo com mais calma. Tudo de bom p/ vc e para sua filha.

Christina Frenzel disse...

Poxa, acho que você é a primeira pessoa que conheço que não idolatra o Kaufmann... eu particularmente acho os filmes um saco. Exagero, vai... alguns são bons, mas horas depois do fim, eu não saberia explicar detalhes dos filmes.

Beijos

RMF disse...

O filme não é tão difícil assim de entender quando se presta atenção nos detalhes subliminares. Caden Cotard entra em estado de coma e a partir de um certo momento tudo o que ocorre é o “sonho” que ele “vive” nesse estado. O filme é complicado porque muita coisa não é explícita/explicada. Quando ele ainda não entrou em estado de coma, algumas partes são surreais porque o roteirista/diretor não separa a realidade do sonho. Daí por que em alguns momentos certas cenas parecem sem sentido (o sonho que ele tem com a terapeuta de casais, a casa de Hazel em chamas, etc), justamente por não vermos o personagem indo dormir, por exemplo. Ele entra em estado de coma quando tem um AVC e liga pra emergência. O “sonho” do coma começa no momento em que ele folheia a revista com a esposa na capa na sala de espera do hospital. A personagem de Dianne Wiest deixa isso bem claro na parte final do filme, quando assume o papel de diretora da “peça”. Um dos filmes mais emocionantes já feitos!