sábado, 19 de abril de 2008

AS OPINIÕES DE UM JORNALISTA FAMOSO

Bob Woodward e Carl Bernstein na redação do Wall Street Journal, anos 70

Semana passada vi uma palestra muito interessante na universidade. Bob Woodward veio falar a um auditório lotado de Detroit. Ele é o jornalista do Washington Post que virou celebridade por cobrir o caso Watergate, na década de 70, que culminou com a renúncia de Nixon (o único presidente americano a ter renunciado). Woodward é vencedor do Pulitzer e de praticamente todos os prêmios jornalísticos, autor de inúmeros best-sellers, a pessoa que mais entrevistou Bush Jr – e, se tudo isso não bastasse, ele foi interpretado pelo Robert Redford em Todos os Homens do Presidente.
Eu confundo o Woodward com seu colega, Carl Bernstein, e nunca sei qual é qual. Mas existe uma dica infalível: veja o filme A Difícil Arte de Amar, de 1986, com a Meryl Streep e o Jack Nicholson (que ainda marca a primeira atuação do Kevin Spacey no cinema). O livro, escrito pela Nora Ephron (roteirista de Harry e Sally, diretora de Sintonia de Amor e afins), é uma saborosa lavação de roupa suja em público. Nora era casada com Bernstein (não Woodward), que a traiu enquanto estava grávida. Hoje, aparentemente, nenhum dos dois fala com ela. Opa, isso não tem nada a ver com a palestra!
Bom, Woodward me ganhou pelo humor. Aprecio quem consegue ser engraçado ao falar de temas sérios. E, com toda sua experiência, Woodward é um colecionador de anedotas. Ele conta que estava num hotel quando viu pela TV que Gerald Ford “absolveu” Nixon em público, em 1974. Bernstein, também no hotel, veio correndo ao seu quarto e resumiu tudo numa só frase: “O fdp perdoou o fdp!”. Hoje Woodward tem certeza que Nixon foi derrubado pelo ódio e pequeneza de seus atos, por ter usado a presidência para se vingar dos inimigos. No entanto, o jornalista acha que pelo menos o presidente teve a grandeza de se dar conta do que o corrompeu. Hmm... Ouvir as palavras “Nixon” e “grandeza” na mesma frase me causa arrepios.
Outra anedota reveladora é o que Woodward pensa de Bill Clinton: “Perto de Clinton, Reagan era um amador”. Ele narra que, das vezes que entrevistou Clinton (nunca chegou perto de Bush Pai porque ele era presidente do partido republicano durante Watergate, então ainda hoje nutre ódio mortal dos jornalistas que cobriram o caso), ficou impressionado. Segundo ele, Clinton tem o poder de parar o tempo um pouquinho e fazer com que a pessoa sinta que ele não tem nenhuma pressa, nada mais importante pra fazer do que falar com ela. E ele trava contato visual sempre. Pra Woodward, não há dúvida que Clinton começou a treinar para ser presidente com cinco anos de idade, e que um dos treinamentos incluía nunca tirar os olhos do interlocutor. Mas não de forma desafiadora, e sim simpática. O jornalista diz que, em uma das entrevistas, Clinton aproveitou uma pausa em que Woodward checava suas anotações para beber água. Mas que atrás dos cubos de gelo, estavam lá os dois olhos, fixos, olhando pra ele. É uma piadinha fofa, embora contraditória: Woodward havia dito que, numa entrevista com Clinton, você tá no lucro se conseguir fazer uma pergunta. Com Bush Filho, ele faz quinhentas. Então pra quê checar anotações com um político que fala sozinho? (Como este texto ficou enorme, vou dividi-lo em dois posts. O próximo, que publico amanhã, trata da Guerra do Iraque).

6 comentários:

Anônimo disse...

Que estranho um post desses sem comentarios HEHEHE. Um pouco serio d+ para o feriadão ou de serio a galera só queria saber do depoimento do fantastico?
(Lolinha que esta de fora, do pai e madrasta da guria, que foi assassinada pela midia para que eles trabalhassem menos). hahahaha

Para contrair os descontraidos,

"...
Maira: ah sim, claro

aehueahueae

tinha esquecido disso

do quanto eu NECESSITO que vc veja
8:32 PM
me: pois é

e agora ?

Maira: ¬¬

se jogue pela janela
8:33 PM
me: por favor né lão

eu não faço isso com os mortos
8:34 PM
logo eu, roubar a atenção da midia da coitada da Isabella heuaHueaHueahuea... e outra o corte na grade da minha janela teria que ser bem maior AEHUEAHU mto trabalhoso
8:35 PM
Maira: aeuaehueaeuae corte na janela?

arrombar parede!

aehueaheauheaueahueuea

me: HEUHEAUEAHUHEAUEHAUHEAUEHAUEAHUEAHEAUHUEAHUEAHUEAUH
..."

Estou começando a cogitar fazer isso, mas não cmg é claro, talvez jogar a maira, alguem mais se candidata ? hahaha A midia já ta enchendo, o caso da mãe que matou os tres filhos com uma serra eletrica sendo que todos pequenos, cena parecia de filme de terror, não teve tanto destaque.

Abr Lolinha

lola aronovich disse...

Pois é, Pedrinho, obrigada por pelo menos deixar um comentariozinho. É tão triste não receber nenhunzinho. Na realidade um texto parecido com este foi publicado no jornal no sábado, e recebi dois emails elogiosos. Mas aqui, nada. Eu havia esquecido completamente que hoje é feriado no Brasil. E sobre o caso Isabella, não estou acompanhando muito. Só acho que a mídia faz um carnaval em cima... Eu fico cansada de "notícia evento", quando parece que só tem aquilo acontecendo no Brasil e no mundo, só se fala nisso durante 10 dias e depois a mídia cobre a próxima notícia evento.
Mas o importante mesmo vc e a Maira nao contaram: e aí, gostaram de Quebrando a Banca?

Igor Garcia disse...

Oi Lola!!!! Até eu tive misericórdia com relação a (falta de) comentários!! E tb vou acabar com essa pão-dureza, leio seu blog a muito tempo e não comentei. Invejo vc de participar duma palestra com um jornalista desse naipe, ou melhor, ocmo é americano, desse calibre! ;-) Participei do 1º congresso Internacional de Jornalismo Investigativo e devo dizer q a quantidade de anedotas só não era carregadas só de humor negro, porque vinham carregadas das imagens q não saem nos jornais, típicas de um IML!

O que o Pedro comentou é do circo que fazem diariamente, 24 horas, de segunda a segunda de um crime em que a garota foi atirada do 8º andar, supostamente pelo pai e pela madrasta! É a UNICA noticia que rebomba aqui em todos os canais! Ainda bem que a Dengue aqui no Rio acabou, já que não vira matéria de noticiário...até a proxima epidemia!

Bjs n'alma e bom feriado! (quer dizer, aqui no Brasil!)

lola aronovich disse...

Obrigada pela misericórdia, Igor. Na realidade, deve estar havendo uma epidemia de falta de comentários no mundo, porque outro dia um blog que leio quase sempre, o Film Experience, que recebe 75 mil visitas por mês, reclamou que ninguém anda comentando. Tem 5 comentários por post, uma meleca. Não sei o que acontece!
Sobre o caso Isabella, sei do que se trata, e evito entrar nesse clima de catarse coletiva. Eu odeio esse tipo de circo da mídia, que é o que mais tem nos EUA e que, faz uma década, por aí, tomou conta do Brasil tb. É a notícia-evento. Fica todo mundo falando da mesma coisa durante uns 10 dias, e parece que nada mais ocorre no país e no mundo. Só aquilo. Eu detesto! Bom, deixe de pão-dureza e comente sempre. Onde vc estuda?

Paula disse...

Oi Lola
Vi o post no fim de semana, mas não consegui sentar pra comentar, quer dizer, até consegui mas dai eu preferi sentar bem longe do computador por uma questão de saúde mental. Queria ter esse teu fôlego para escrever. Passo o dia lutando com textos e quando, supostamete, eu deveria escrever as coisas que gosto/quero minha cabeça está pedindo misericordia.
Então, sobre o Bob. Sou fã dos dois desde Todos os Homens - e que jornalista não ia querer descobrir um furo desses? Li em algum lugar que depois desse caso houve explosão na procura por cursos de comunicação. Já dizia minha professora de teoria do jornalismo: "O super-homem, o super-homem era jornalista". O que é uma grande pataquada, assim como acreditar que a imparcialidade é possível. O que existe é honestidade. Passar o que tu viu e ponto, sabendo que o que tu viu já um recorte da realidade, que já foi manipulada a partir do momento em que a pauta foi escolhida. Dá uma dor ver que um cara desse nível virou a casaca desse jeito. Me lembra aquele posts dos velhinhos. Será que a gente perde um lado do cérebro com o tempo ou desanima tanto que parece não ter outra saída?

lola aronovich disse...

Oi, Paula, muito obrigada pelo comentário. Não tenho tanta energia pra escrever, não. Quer dizer, pra este blog até que estou tendo, por enquanto, mas que a minha tese não me ouça... Acho que é aquele negócio de escrever por prazer vs. escrever por obrigação (ou fazer qualquer coisa por prazer e por obrigação).
Ah, imagino que todo estudante de jornalismo queira descobrir um Watergate, né? Das profissões que o cinema endeusa, as mais-mais devem ser jornalista e advogado. Imagina quanta gente não se tornou advogado após ver, sei lá, "Justiça para Todos"?
Mas não acho que o Woodward tenha virado a casaca. Não é que o sujeito seja um rábido colunista de direito. Acho apenas que ele é um tanto ingênuo, principalmente em se tratando do Bush.
Também não sei se um Woodward algum dia foi de esquerda...