quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

AÇÚCAR E AFETO PRO CHICO E PRAS FEMINISTAS

Foto de Leo Aversa pro Globo, 2004

Ontem saiu uma matéria no site Metrópoles dizendo que Chico Buarque não irá mais cantar "Com açúcar, com afeto". A segunda linha trazia a informação "A razão são as críticas do movimento feminista ao teor machista da letra". 

Tinha um link embaixo das palavras "movimento feminista", então qual foi a primeira coisa que fiz, antes mesmo de ler o resto da matéria? Cliquei lá. Queria muito saber quem era esse tal movimento feminista (que é tão plural) que considera a letra machista. Seria um grupo que fez um abaixo-assinado explicando os motivos? Algumas feministas que haviam se manifestado individualmente? Quais? Onde? Quando? 

Pois bem. Veja o que aparece quando você clica no link do "movimento feminista": 

"Foi mal! Não achamos essa página". E eu fiquei sem resposta às minhas perguntas. 

Pelo jeito eu fui uma das poucas a ter essas dúvidas, já que o link nunca funcionou. E assim, sei que não é todo mundo que desconfia de afirmativas dobre o "movimento feminista", mas você não fica nem com uma pulguinha atrás da orelha quando lê algo tão genérico sobre o movimento feminista? 

Uma velha tática machista é criar falsas polêmicas em nome do feminismo para deslegitimar os feminismos. Uns anos atrás circulou um texto sobre coisas ultrajantes ditas por uma feminista no programa do Jô Soares. Não me lembro o que ela falava nem o nome dela. O fato é que ela não existia. Haviam inventado uma personagem que seria uma famosa feminista brasileira pra falar altas bobagens. Não há qualquer registro nem da existência dessa feminista, nem do que ela falou, nem de um programa do Jô com ela.

Mascus adoram fazer isso. Lembro quando eles criaram um ato em que feministas iam à praia sem absorvente, com o sangue escorrendo pelas suas pernas, e como, segundo esse grupo feminista, todas as mulheres deveriam fazer o mesmo. Tudo mentira. Mas um monte de gente espalhou o texto, sempre com o propósito de provar como feminista é maluca.

Não estou dizendo que a matéria do Metrópoles seguiu esse roteiro. Ela é assinada por Guilherme Amado, um jornalista sério que eu admiro. E ela dá outros detalhes: Chico anunciou essa decisão na série O canto livre de Nara Leão, em que ele narra que a canção de 1967 foi encomendada por Nara, que pediu uma música de uma mulher sofredora. (Só que faltou dizer que Chico não canta a música há quase 40 anos. Não foi algo que ele decidiu anteontem. Foi até antes da internet!).

Chico foi procurado pela reportagem mas não quis comentar quando tomou essa decisão e se ela envolveria outras de suas músicas. O que sabemos é o que ele diz na série: "Eu gostei de fazer [a canção]. A gente não tinha esse problema. É justo que haja, as feministas têm razão, vou sempre dar razão às feministas, mas elas precisam compreender que naquela época não existia, não passava pela cabeça da gente que isso era uma opressão, que a mulher não precisa ser tratada assim. Elas têm razão. Eu não vou cantar 'Com Açúcar com Afeto' mais e, se a Nara estivesse aqui, ela não cantaria, certamente". 

Bom, eu sou feminista desde os 8 anos de idade, sou autora de um dos maiores blogs feministas do país (esta semana completa 14 anos), e sempre adorei "Com Açúcar, com Afeto". Sempre cantarolei e não pretendo parar. Pra mim a música nunca foi machista. É uma denúncia a uma situação machista que, infelizmente, não ficou no passado. Muitas mulheres hoje ainda vivem a submissão daquela mulher da música. Muito menos mulheres hoje que há 54 anos, ainda bem. Graças a nós e a nossa luta.

Na canção temos uma mulher, o eu-lírico, narrando a sua experiência. Livros, filmes, peças, poemas, histórias em quadrinho, canções -- todas as obras podem incluir personagens machistas, racistas, LGBTfóbicos, capacitistas, etaristas, gordofóbicos etc. Seria até estranho se não incluíssem, já que nosso mundo está cheio de gente assim. E essas personagens podem ser protagonistas dessas obras. Podem ser narradoras. Criar um personagem preconceituoso não faz com que a obra ou o autor seja automaticamente preconceituoso.

E nem toda obra precisa ser empoderadora pra ser feminista. Alertar sobre opressão também é feminismo. Já vi feminista americana dizendo que o grande filme Thelma e Louise não é feminista porque não tem final feliz. Ué, isso importa? Toda a jornada e transformação daquelas duas personagens, a sororidade que formam entre elas, a libertação e o primeiro orgasmo de Thelma -- nada disso é válido? Mas perceba que é possível discordar de feministas sem atacá-las, sem chamá-las de lacradoras ou censoras ou, citando "Com Açúcar, com afeto", sei lá o quê.  

Mas olha só, quando você ouve/lê a explicação do Chico pra não cantar mais a música, no que você pensa que aconteceu para que ele tomasse essa decisão? 1) Uma horda de feministas enfurecidas ameaçaram boicotá-lo, cancelá-lo, deixar de amá-lo (posso dizer sem medo de errar que a maior parte das feministas somos apaixonadas pelo Chico), se ele não jogasse a canção no lixo? 2) Uma feminista mandou pro Chico um email com a foto de sua pistola calibre 45 e a mensagem "Cante essa música mais uma vez e você vai ver o que é bom pra tosse, seu comunista safado"? 3) Terríveis feministas peludas e bigodudas fizeram piquete em frente ao estúdio e foram a um show com cartazes de "Meu Açúcar, Meu Afeto"? ou 4) Ao longo dos anos, uma ou outra amiga feminista do Chico chegou pra ele e disse "Vem cá, você não acha que essa música tá um pouco datada?" 

Minha aposta é a alternativa 4. Então por que tanta gente tá reagindo xingando feministas? O PCO (Partido da Causa Operária), por exemplo, que há anos decidiu que o maior problema da esquerda, e quiçá do Brasil e do mundo, é o identitarismo, falou que as feministas finalmente conseguiram algo que nem a ditadura militar conseguiu: censurar o Chico! Uau, como essas feministas malvadas são poderosas! 

Na minha timeline, várias mulheres, imagino que muitas feministas, vieram manifestar sua revolta contra... as feministas. Uma disse que continuaria cantando "Com Açúcar, com Afeto" a plenos pulmões e mandou as feministas tomarem banho. (Dica: geralmente nos mandam lavar louça). Quem tá te impedindo de cantar, moça? Outra disse que daqui a pouco vamos querer cancelar "Mulheres de Atenas" e "Geni" (acho que não: a primeira é claramente irônica, e o alvo da segunda é quem joga pedra na Geni, nunca Geni). Outra disse que sempre se sentiu incomodada com essa música (arte também é feita pra incomodar). 

Outra disse: a gente vivendo o inferno de um governo fascista, com eleições pra este ano, e as feministas preocupadas com uma música?! Pois é, eu realmente duvido que muitas feministas estejam prontas pra pegar em armas por conta de uma canção de meio século atrás. Mas eu também posso perguntar: a gente vivendo o inferno de um governo fascista, com eleições pra este ano, e o pessoal descendo a lenha nas feministas, nos identitários? Será que esse pessoal não têm nada mais útil pra fazer não?

O fato é que um cantor decidir não cantar mais uma música não é censura. Sting, outro divino e maravilhoso que sempre esteve ligado a causas progressistas, já contou como ficou horrorizado ao ver que a canção mais popular do Police, "Every breath you take" -- a história de um stalker obsessivamente vigiando alguém, provavelmente sua ex --, era vista por muitos como uma canção romântica, tocada em casamentos. Sting não parou de cantar a música porque ela representa um quarto de toda sua renda. Mas ele mesmo a problematizou! Ele está lacrando? Censurando sua própria música? (aliás, dá pra problematizar uma obra e continuar adorando? Depende de cada um. Pra mim dá). 

Teve gente que me informou que Madonna parou de cantar "Material Girl". Não sei. Sei que o Frank Sinatra detestava de coração "My Way", que é tipo a canção favorita de quase todo machista (ou, vamos dizer assim, o hino tocado no velório de tantos avôs). Ele achava que a música não o representava, embora tenha sido adaptada do francês pra ele, e também não aguentava mais cantá-la em cada show em Las Vegas (eu gosto da música, mas cada vez que a ouço, mais penso que ela é irônica, porque não é possível. A parte "devo dizer, não de um jeito tímido" a entrega). Sinatra não pôde deixá-la de lado porque seu público a exigia. Era lucrativa demais pra ser escamoteada.

Uma leitora, a Maria Gamboa, lembrou de outro caso: a banda mexicana Café Tacvba parou de cantar uma de suas músicas mais conhecidas, "La Ingrata", em 2017. O videoclipe de 1995 havia sido escolhido pela MTV como o melhor vídeo latinoamericano do ano. Mas 28 anos depois a banda desistiu daquela canção com uma melodia alegre e dançante que trata de um homem que ameaça e no fim mata sua ex ("Estarei com você no seu funeral", promete ele). Como alegou um dos membros da banda, "Éramos muito jovens quando compomos a canção e não estávamos sensibilizados como essa problemática [feminicídio] como estamos agora". Outro emendou, "Muita gente pode dizer que é só uma música. Mas músicas são cultura, e essa cultura é a que faz com que algumas pessoas se sintam com o poder de agredir, de causar dano". Perceba que demorou 28 anos pra banda se tocar. Nenhuma feminista censora malvadona exigiu. Perceba também que a MTV não viu nenhum problema com a canção na época. Nem a revista Rolling Stone, que elegeu o álbum o melhor da história do rock latinoamericano. 

Um dos primeiros sucessos de Sandy e Júnior, "Maria Chiquinha" (neste vídeo de 1992, as crianças cantam sobre Genaro, que desconfia que foi traído por Maria Chiquinha, e que promete que vai cortar sua cabeça e aproveitar o resto do corpo), ficou fora da turnê comemorativa da dupla em 2019. Durante um show em Fortaleza, o público puxou um coro da música enquanto um problema técnico era corrigido. A dupla cantou um pouquinho, mas Júnior discursou no final: "Com o resto [do corpo]? Para com isso. Isso não é mais aceitável, não são mais os anos 90. Não vou fazer nada com o resto, deixa em paz a Maria Chiquinha. A Maria Chiquinha faz o que ela quiser no mato. Não é muito melhor?" 

Pra ser sincera, eu nem vi feministas problematizando "Com Açúcar, com afeto". O que vi foi o pessoal problematizando o identitarismo em geral e as feministas em particular. Vi gente confundindo a decisão pessoal de um grande artista com censura. Chico tem quase 500 magníficas composições no seu repertório. Ele não tem como cantar todas as 500 em cada show. Escolhe as que quer. Nenhuma vai sumir do catálogo. É fácil encontrar qualquer uma no YouTube.

Existe um termo, snowflake (floco de neve, ou floquinho de neve especial), usado pejorativamente pra classificar gente sensível demais, que se ofende com facilidade (ou seja, pra xingar uma geração ou os identitários). Mas quem critica identitários também parece ser sensível demais, não? Afinal, basta alguém problematizar uma obra que os caras já gritam que é censura, cancelamento, linchamento, lacração! Problematizar, criticar, apontar os preconceitos de uma obra não é censura. Censura é proibir a obra. Ah, censura é também proibir a crítica à obra!

Bom, Chico, agradeço a confiança nas feministas. Por mim, você pode cantar "Com Açúcar, com Afeto" até o final de sua vida, que espero que seja eterna. E se precisar de alguém pra formar um dueto, tamos aqui pra isso. 

UPDATE em 5/2/22: Em entrevista à jornalista Regina Zappa publicada no Brasil 247, Chico conversou sobre a celeuma absurda: "O único feminista que criticou essa música fui eu. Eu disse que não cantava mais 'Com Açúcar, com Afeto', como de fato não canto há muitos e muitos anos. Para mim, essa música é meio datada. Agora, dizer que a cancelei, ou censurei, ou vetei é desinformação ou má fé. Devo ter mais de 400 músicas. Não posso cantar todas. Tem um samba que gosto muito e é uma pena não poder cantar que é o 'Pelas Tabelas'. Não canto mais porque fala 'Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela / Eu achei que era ela puxando o cordão'. Não dá mais. Era situada na época das Diretas Já. Ou seja, todo mundo batendo panela de camisa amarela, se eu cantar hoje... (risos). Ficou datada, não é? Não quer dizer que eu renegue a música. Só não canto mais". 

66 comentários:

Patrícia disse...

Quê artigo maravilhoso. Obrigada, Lola."
Uma velha tática machista é criar falsas polêmicas em nome do feminismo para deslegitimar os feminismos."

Luise Mior disse...

Obrigada Lola por este texto sensato. Estou cada vez mais convencida que tem muita gente usando o termo censura levianamente, pois devo concordar que não é censura não mais cantar uma canção. Movimentos sociais não tem poderes para eliminar qualquer expressão artística. E essa história de não ter link explicando quem são estas feministas me deixa desconfiada. Que Chico siga cantando e se posicionando.

Unknown disse...

Perfeita, Lola. Obrigada.

Unknown disse...

Lola, minha linda, eu simplesmente amo sua escrita e esse texto é mais um exemplo de perfeição. Concordo com você em gênero, número e grau. E esses caras ficam a espreita, esperando por um vacilo de algumas feministas, e seregozijam mesmo que o vacilo seja imaginário.

Anônimo disse...

Adoro a música! Ela foi extremamente importante para eu definir o que não queria da minha vida, verso por verso. Sempre a entendi como ironia, assim como "Mulheres de Atenas".

Unknown disse...

Tão bom ter a sua lucidez num momento como esse. Continue Lola, continue.

Alaiane disse...

Sempre fico desconfiada quando nos colocam, nós as feministas, como o movimento. Somos tão diversas, em nossas ideias e identidades, mas para os mascus é muito conveniente sermos somente as feias de sucção cabeludo que precisam de sexo e que querem acabar com o amor, logo, vamos proibir de cantar com açúcar e com afeto.

Unknown disse...

Show!

Unknown disse...

maravilha, artigo excelente e necessario que falou exatamente o que eu senti ao ler sobre tudo isso . parabéns !

Anônimo disse...

Sou contra qualquer tipo de censura.

Deni disse...

Perfeito !!!!!!

Denise de Castro disse...

Maravilha Lola! Sou csntora e pianista E feminista desde sempre! Musicalmente falando Com Açúcar Com Afeto é uma linda canção. Como toda a obra desse grande compositor que pra nossa sorte é brasileiro e que nos revela tantos universos. Sigamos com pouco açúcar mas com muito afeto!

Gustavo Daher disse...

Ótimo texto Lola, obrigado!!!

Gustavo disse...

"My way" pra mim é da Nina Simone ❣️

Unknown disse...

Aqui encontrei tudo que senti o dia todo e me incomodou profundamente. Obrigada por materializar em suas sábias palavras.

Luiz Prata disse...

Enfim, um artigo lúcido a respeito dessa (falsa) polêmica. Um texto muito bem-vindo.

Roseanne Tavares disse...

Adorei seu texto, Lola. Obrigada.

Raul disse...

Chico parece que ficou ressabiado com o lance meio sem lé com cré em torno de "Sua cantiga".

Gricel disse...

Obrigada! Muito bom contar com seu trabalho para me ajudar a falar do que estou pensando sobre essa treta.

Terezinha disse...

E as/os mais virulentas/os foram as/os macho esquerda

Anônimo disse...

Mais uma falsa polêmica e mais uma vez ela é alimentada por um monte de gente que sequer tem ligação nenhuma com o ocorrido.

Maristela disse...

Sensacional, vou compartilhar, muito agradecida!

Angela Torresan disse...

Perfeito, esse artigo representa exatamente a minha avaliação sobre essa polêmica.

Unknown disse...

Parabéns Lola. Como sempre um ótimo texto.

Unknown disse...

Adorei! Assino com você!😍

Magali Cunha disse...

Maravilha de texto! Grata por.expressar o que ficou engasgado em mim!

Joana Maria Pedro disse...

Lola, me senti representada pela tua postagem. Parabéns.

Frederico disse...

Tem muito tempo que não comento nada aqui, mas não podia deixar essa passar em branco. Obrigado por mais esse artigo genial e muito didático, Lola! É desses que a gente guarda pra poder enviar sempre que alguém fala alguma bobagem sobre o feminismo.

José Bertotti disse...

Arretado o seu texto, li com atenção de quem precisava compreender a falsa polêmica criada por quem nunca foi feminista! Nara, Chico e a música em questão não são e nunca foram machistas! Quem é machista é a sociedade brasileira ainda amarrada ao obscurantismo!

Unknown disse...

Adorei o seu texto! Estava achando a polêmica bastante esquisita, mas você deu uma boa limpada na área. Obrigada!

Canto do Bode disse...

Excelente texto!

Beto Menescal disse...

É isso Lola,
sem mais o que acrescentar.
Suas observações são agregadoras e suas ponderações são uma esperança de luz diante tanto obscurantismo.
Parabéns por mais um texto cirúrgico.
Que a machaiada atrasada desse nosso país possa entender de forma acelerada, a reparação necessária dos danos causados por séculos de sexismo.

Blog da Lu disse...

Que texto, Lola! Que texto! Lucidez, clareza, leveza. Um presente nessa manhã chuvosa em Fortaleza. Sigamos cantando, com Chico, Nara, mas de preferência, como já disseram antes, menos açúcar e mais afeto. Beijão!

Luciano Nascimento disse...

Super pertinente seu texto, Lola! Aliás, na minha leitura, você também disse (mesmo sem escrever) que as pessoas precisam perder essa mania de se acharem aptas pra emitir opinião sobre tudo, né? Eu, por exemplo, me sinto contemplado por cada palavra sua; pra mim, tá perfeito assim, eu não preciso repetir nada, nem fazer qualquer acréscimo.
Em resumo: brigadão!

Juan do Rio disse...

muito obrigado pelo texto!

Unknown disse...

N sei quem é o autor/autora,mas teve fama na voz dd Frank Sinatra,incluindo filme

Unknown disse...

Que texto maravilhoso. Concordo 100% com você. A canção é linda e continuarei cantando.

Luciano Toriello disse...

Adoro essa canção na voz de Nara, principalmente no seu show ao vivo, de 1985.

Sempre a entendi como denúncia, um tom que a própria Nara dá na introdução, antes de cantá-la no show, com a delicadeza que lhe é peculiar.

Palmas para o bom senso!

Sônia W. Maluf disse...

Excelente seu texto, Lola.

Alan Alriga disse...

Isso me fez lembrar do ataque que o mangá/anime de comédia romântica Uzaki-chan wa Asobitai!, sofreu a uns meses atrás, na época parecia ser um "ataque" de grupos feministas, mas ao que realmente parece, foi algo feito por empresas ocidentais do ramo da animação, que gastaram um bom dinheiro para criar milhares de perfis feministas falsos no Twitter, para fazer esse ataque contra a obra; mas quem realmente pagou o pato foram feministas reais, ao ponto de que muitas tiveram as suas contas derrubadas por fãs da obra, mesmo não tendo nada a haver com esse ataque.

Anônimo disse...

Sinceramente, a celeuma toda só aconteceu por um caça cliques do jornalista do Metrópoles.

Paula Simões disse...

Maravilhosa, como sempre! Eu cantarei e continuarei cantando. Tenho muitos motivos prá isso, incluindo a identificação por conta dos abusos sofridos no passado. Chico que decida o que for melhor prá ele. Amo demais e respeitarei a decisão. Bjus doces, Lola, querida!

Veridiana disse...

Nossa. Quanta lucidez e generosidade numa análise. Arrazô, mulher. :)

@contakah disse...

Lolinha, meu amor, obrigada por este texto tão precioso que vou compartilhar agora mesmo com todo mundo! Beijos! Tenho muitas saudades! Kah Dantas.

@contakah disse...

Lolinha, que texto maravilhoso e que vou correr para compartilhar com todo mundo! Beijos! Saudades de você! Kah Dantas 🤍

Unknown disse...

Me sinto incomodada, mas acho linda e também escuto e cantarolo.

Mel disse...

Perfeito o comentário da LOLINHA, amei!!! Adoro a música "Com açúcar e com afeto", adoro Chico.

Mel disse...

Adoro Chico, adoro "Com açúcar com afeto" sempre, muito, perfeita....

avasconsil disse...

Se eu não lesse o blog da Lola eu não ia ficar sabendo dessa "polêmica". Obrigado, Lola, por nos informar. Eu queria assistir ao documentário sobre a Nara Leão. Como não sou assinante da Globo Play, ainda não vi. Enfim... Se eu cancelasse "Com açúcar e com afeto" por causa da letra eu ia ter que cancelar umas músicas cantadas pela Billie Holiday também. Em "My Man" a letra diz que o cara batia na mulher. Saía com outras. Não era confiável. Mas mesmo assim ela o amava. A parte mais doce e encantadora da interpretação de Billie é quando ela declara o amor por "aquele" homem. "Oh my man I love you so, he'll never know. All my life is just a spare, but I don't care... " Billie deixa de lado o tom circunspecto e triste da voz, da 1a parte da canção, e a enche exatamente de açúcar e de afeto. E a música se torna lindíssima. Sai do fel ao mel. O ser humano é contraditório e é impossível eliminar isso da arte. Nunca vou cancelar "My Man" ou "Com açúcar, com afeto".

Anônimo disse...

Com um tiro na sua testa
Fiz sua cabeça aberta
Pra você morrer em casa
Qual o quê!

Com minha faca mais bonita
Você morre, não acredito
Quando diz que não se atrasa

Você diz que é professora
Sai em busca do salário (milionário)
Pra poder nos doutrinar
Qual o quê!

No caminho da UFC
Há um camarada em cada esquina
Pra poder te abater
Sei lá o quê!

Sei que alguém vai te pegar
Você vai pedir socorro
Não teremos piedade

E ficar olhando o sangue escorrendo
De quem vive a doutrinar
Leitões abatidos pelo sol

Vem a noite e cai seu corpo
Sei que choras "ma non troppo"
Você vai querer correr

Na caixinha um novo enxadrista amigo
Vai bater um marido antigo
Pra você sofrer demais

Quando a noite enfim lhe leva
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão
Qual o quê!

Diz pra eu não ficar alegre (te matando)
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração (o seu eu levo)

E ao lhe ver assim caída
Abatida e sangrando
Ainda quis me aborrecer? (te matei)
Qual o quê!

Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato de criança
E abro o seu intestino pra você

Com um tiro na sua testa


Minha homenagem para você, Dolores, retratando o momento em que eu mato você e o Silvinho!

Anônimo disse...

Sério mesmo que vc se deu esse trabalho, Anônimo? Vai arrumar um quintal pra capinar, vai.

Unknown disse...

Ótimo texto! Eu concordo com o Chico. É amoxaibda mais esse cara por nos respeitar, a nós feministas. Recentemente Sidney Magal anunciou que não vai mais cantar "se eu te agarro com outro...porque são outros tempos e ele aprendeu a respeitar as mulheres. Que bom que temos homens como Chico e Magal que aprendem!

Risomar Fasanaro disse...

Sou feminista e amo e sempre amarei Com açúcar com efeto. Vou ouvi-la e cantá-la sempre.Ela é parte da nossa historia.Nao da para apagá-la.

avasconsil disse...

O que se poderia dizer do "poema"? Fedido como a massa marrom que tá dentro do cérebro de quem o escreveu, no lugar da massa cinzenta... Lamento dizer: uma bosta. Com casquinha de tomate e de feijão e umas moscas sobrevoando. PS: Não vai ser negócio pra vocês matar a Lola. A quem vocês vão perturbar assim tão inutilmente? Admitam: Lola é o farol das suas vidas (Bolseboso chamou OC de farol também...). Sem ela vocês ficam com menos luz ainda. Mosquitos completamente perdidos. Haja falta do que fazer, viu?

AlexCA disse...

Estamos assistindo o documentário - gostando.
Vimos o depoimento do Chico, pareceu fora de lugar - talvez sabendo que a música seria lembrada, uma vez que foi feita expressamente para Nara Leão, e tendo um histórico de conflitos neste sentido (com feministas, "feministas" ou auto denominadas feministas) ele tenha achado melhor se precaver, mas ficou estranho. Tudo bem.

Depois, quando o Metrópole publicou a matéria, me pareceu factóide. Distribuí a matéria falando dessa impressão.
E daí me caiu em mãos teu texto.
Achei perfeito, apaixonante. A melhor surpresa do dia.
Que bom.

p.s. vejo que os comentários são moderados...- que coisa horrível a obra perpetrada pelo 'anônimo' ali em cima. Valeria denúncia nas instâncias devidas. Tem dado certo.

Anônimo disse...

Sempre interpretei com açúcar com afeto como uma crítica aos homens casados que não conseguem viver uma vida amorosa com sua sua esposa, curtir sua casa. A vida social deles é no boteco, é com amigos, é numa jogatina. A doçura de sua vida, o seu afeto não estão em sua casa, na sua família.

Eurípedes disse...

Textos são isso, ilumina e escurece, e, de algum modo, avançam na questão. Quem escreve, muitas vezes, aprecia o próprio escrito como a perfeita criação, uma obra prima contra a qual não cabe acréscimo, ou correção. Entretanto opiniões diversas existem desde sempre, nos mostrando que, bem provavelmente, a perfeição talvez nunca exista neste planeta, seja por quem exprima algo, ou por quem critique este algo. A autora tenta salvar o feminismo e, ao mesmo tempo, a dita música de Chico, Com açucar, com afeto. Para isso, na minha opinião, começou bem, com tropeços no meio, mas conclui de modo excelente, quando diz "Bom, Chico, agradeço a confiança nas feministas. Por mim, você pode cantar "Com Açúcar, com Afeto" até o final de sua vida, que espero que seja eterna. E se precisar de alguém pra formar um dueto, tamos aqui pra isso". Bravo! Chico tem todo o direito, e tem percurso para isso, de não querer cantar mais uma música, mesmo que já seja um patrimônio cultural do coletivo, mesmo que, indiscutivelmente, ou discutivelmente, seja defendida por muitos como uma bela canção que mereça ser cantada até que "o sol se exploda". Com relação às reações, alguns acham, como a autora deste texto, que é algo muito ´mimizento`, "muito sensível demais", quando algumas (sim, algumas)feministas sejam criticadas por criticarem "os preconceitos de uma obra". Sim, o direito de criticar é legítimo, mas a contra critica também é, até porque pode-se entender que não haja preconceito algum na obra em questão. Até porque pode-se entender que, sim, há um risco crescente, e se não houver uma contraposição, logo, logo, teremos comemoração de um ala feminista que felicitará Chico por não cantar mais outras musicas magistrais como "Cotidiano", "Cala a boca, Bárbara", "Mulheres de Atenas", "Feijoada Completa", e outras, e outras, seja do Chico, seja de tantas outras pérolas de obras artísticas. Sei não, mas a coisa não parece tão inocente assim como quem diz que a reação à isso seja algo como "snowflake". À crítica, simplesmente a contra crítica. E esta também é legítima. E sim, eu também não vi "feministas problematizando "Com Açúcar, com afeto"", mas vi feminista de destaque dizendo "obrigada, Chico" pela decisão. Não vejo, de modo algum, propriamente, uma censura da crítica à obra, mas uma reação natural dos que acham que ela não procede, dos que acham que este feminismo em específico pode, assim como o o outro extremo do fascismo, ser uma volta à Idade Média. Cada um na luta pelo que julga ser um direito. O bom seria ver a composição cantada pela boca do compositor, que declarou que quando compôs a música não tinha esse problema da crítica das feministas. Se não é possível, paciência, mas é satisfatório saber que outros, como Fernanda Takai, não haverão de deixar de cantá-la em seu shows. Bom, é isso. Que o feminismo, vencendo essas excrescências, siga firme e forte no que é legítimo em suas reivindicações, e que obras de artes como Com açucar, com afeto, de Chico, sigam, merecidamente, perenes, passando mensagens por gerações e gerações. E se a autora deste texto propôs formar um dueto com Chico para cantar esta canção, opa!, tô aqui também para formar um trio, se precisarem de mais alguém. E quem mais se candidata?

Unknown disse...

Tanto que estás aqui a censurar teu próprio nome, né anônimo?

Anônimo disse...

MATA LOGO então Porra! Ou então enfia essa m* no seu c* e some, seu BOSTA medíocre desgraçado FDP de merda covarde medroso! VSF

Rundfunk Hoerer disse...

Muito bom o seu post. Adorei. Essa música do Chico sempre me emocionou. Eu tinha 7 anos quando a Nara gravou e meu pai era fã da Nara. E desde a primeirissima vez que ouvi, com 7 aninhos, já a senti como uma espécie de lamento-denúncia da opressão cafajeste, e sempre a entendi dessa forma. Enfim, cada um entende a arte a partir de sua própria experiência e visão, e comigo foi assim. Muito obrigado.

Patty Kirsche disse...

Oi Lola! Acabei só lendo seu texto hoje. Concordo muito com você. Às vezes o artista reavalia um de seus trabalhos e percebe que mudou de ideia. Ainda mais no caso do Chico, que cria tantas histórias tristes. Pode ser que ele não se sinta bem revivendo o que escreveu num certo momento. E, de fato, vivem tentando emplacar verdades absolutas sobre "as feministas". Alguém precisa criar um SAC. ;)

MaFê Carvalho disse...

Adoro seus posts, Lola!

Rielda Alves disse...

Obrigada! Obrigada! E obrigada! Tive a mesma linha de raciocínio que você e por um momento me senti desamparada. Vi várias pessoas comprando a [falsa] polêmica, sobretudo homens,escrevendo sobre censura, atacando oS movimentoS feministaS (e são muitos, de várias vertentes), além destilar ressentimentos machistas. Nam!
Felizmente li seu texto e senti um alívio, daí pensei, não estou sozinha. heheh Oh o que a Lola está dizendo!

titia disse...

Eu pessoalmente acho ótimo que ele cante essa música, pois ela serve pra mostrar às mulheres como casamento é uma merda. Quanto mais meninas ouvirem isso e pensarem "Quero isso pra mim não, tá louco, tô fora de casar!" melhor. É a mesma coisa da educação sexual nas escolas: quem não quer que as crianças saibam o que é abuso, é porque tem más intenções. Não me surpreenderia se um bando de machos frouxos tivesse inventado essa pra tentar queimar o filme das feministas. E quem sabe se não estão desesperados pra sumir com qualquer coisa que deixe claro pras mulheres que casamento é uma merda? Afinal, eles são machos demais pra lavar as próprias cuecas e limpar o próprio quarto.

08:24 além de ser uma titica (é insignificante demais até pra ser chamado de merda) todo mundo sabe que você não mata nem barata. Mete uma marreta na cabeça que nem o Prof. Pardal dos quadrinhos pra vê se sai alguma ideia daí.

Ana disse...

Eu amo essa música, apesar de sempre ter me incomodado a relação machista retratada nela. Quando vi a notícia sobre Chico não mais cantá-la, fiquei meio triste e até pensei se seria errado eu, que sou feminista, gostar tanto dela. Foi muito bom ler a sua percepção sobre a questão. Gostei do seu texto e concordo contigo. Acho que é possível gostar da música e a encarar como o retrato, ou denúncia, de uma época (ainda não completamente superada) em que o ideal feminino era de submissão. Como uma obra artística, acredito que cada pessoa tem sua relação com ela - há músicas com letras machistas da mesma época que eu não tolero como faço com essa. Talvez eu gostasse menos da música se quem a cantasse fosse um cara declarada e estupidamente machista, e não o Chico, vai saber.

Unknown disse...

Ótimo, obrigada pela leitura.