Hoje o jogador de futebol Robinho foi condenado pelo que corresponde à Suprema Corte da Itália a nove anos de prisão. Foi a terceira vez que ele foi condenado (a primeira foi em 2017). Ou seja, acabou. Não cabe mais recurso. Se ele estivesse na Itália, seria preso imediatamente.
Mas não está, e é aí que mora o perigo. Apesar de condenado, é bem provável que Robinho jamais seja mandado pra cadeia. Não pode ser extraditado, pois a Constituição de 1988 proíbe. E há impedimento legal para que ele cumpra pena numa prisão brasileira. Pode ser preso (pela Interpol) apenas se viajar para o exterior. E isso se a Itália emitir um pedido internacional de prisão -- que seria cumprido em qualquer país da União Europeia (o que, suponho, a Itália vai fazer).
Ainda assim, vamos pressionar. E comemorar essa vitória, já que a maior parte dos crimes de estupro não são punidos (veja o caso da Mari Ferrer). Pelo menos, imagino, sua carreira no futebol esteja enterrada. E foi a nossa pressão que fez com que o Santos cancelasse a contratação do jogador em 2020. Quando foi condenado em primeira instância, em 2017, Robinho estava no Atlético MG. Torcedoras do grupo Feministas do Galo colocaram uma faixa dizendo "Um condenado por estupro jogando no Galo é uma violência contra todas as mulheres!". Mas teve pouca repercussão.
Com a pressão de 2020, fomos chamadas de lacradoras e acusadas de querermos incriminar um pobre homem inocente (afinal, a essa altura ele "só" tinha sido condenado em primeira instância ainda). Os advogados de Robinho ameaçaram processar geral, e o jogador declarou que seu único erro havia sido trair sua esposa.
Na época, um leitor querido, Ricardo Fulgoni, que conseguiu que o assassino de sua irmã fosse encontrado, preso e condenado, apontou que, apesar da presunção da inocência, "as provas legitimamente publicizadas -- não o processo, mas as provas -- geram desde logo seus efeitos morais e sociais. Por isso o processo tem de ser, em regra, público. Para que não se retarde os efeitos dos fatos. Os efeitos não penais (sociais, morais, etc), portanto, não advém do processo, mas dos fatos contados pelas provas nele produzidas. Presume-se o réu inocente até o trânsito. Mas os fatos não dependem do trânsito para, ressalvados os efeitos penais, serem considerados verdade".
Em 2013, numa boate em Milão (Robinho jogava na Itália naquela época), ele e outros cinco rapazes foram acusados de estupro coletivo por uma albanesa de 23 anos (Robinho deve a ela uma indenização de 60 mil euros). Um diálogo gravado pela justiça italiana foi importantíssimo para sua condenação. Nessa gravação, um amigo músico que tocou na boate naquela noite disse a Robinho: "Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela". O jogador respondeu: "Isso não significa transar". Segundo a transcrição, Robinho também declarou: "Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu".
Em 2020, quando essas gravações vieram à tona, Cuca era treinador do Santos (que queria contratar Robinho) e o definia como "um exemplo de jogador". Eles tinham bastante em comum. Em 1987, quando Cuca era um jovem jogador do Grêmio, ele e outros três jogadores foram acusados de estuprar coletivamente uma menina de 13 anos durante uma excursão na Suíça. Ficaram detidos por 28 dias em Berna, retornaram ao Brasil e foram recebidos como heróis, com direito a coro de "Puta! Puta!" (referentes à vítima de 13 anos) no aeroporto. A imprensa gaúcha chamava os atletas de "Doces devassos". Foram condenados a 15 meses de prisão, mas nunca foram presos, já que nunca voltaram à Suíça. O crime expirou em 2004.
Talvez, assim como o amigo Cuca, Robinho jamais seja preso. Mas duvido muito que ele tenha uma longa carreira como a de Cuca. Os tempos mudaram. Ainda bem.
A propósito: a vítima albanesa de Robinho e outros cinco afirmou que vai estudar para ser advogada. Quer trabalhar para ajudar vítimas de violência sexual. Assim como Mari Ferrer, que também estuda Direito.
4 comentários:
a) Amei o texto Lola parabéns
b) Este ano tem eleições vamos eleger mulheres progressistas para o campo legislativo ( deputadas e senadoras). Mulheres comprometidas com o combate à violência contra a mulher. Os coletivos feministas são excelentes alternativas
c) Mas meu medo é ele acaba em um realitie como a Fazenda
Se o Robinho fosse caucasiano.... Seria condenado????
É triste e complicado viver em um país onde estupradores são tratados como heróis, celebridades caso as vítimas não sejam crianças, deficientes ou não venham a óbito. O caso do Cuca eu desconhecia até então. O tratamento vip é devido serem pessoas públicas ambos, mas caso você seja anônimo, mas rico e com bons conhecimentos no judiciário, sem problemas. O caso de pobres e que fazem isso existe pacto de silêncio de quem sabe ou suspeita, devido ser uma pessoa conhecida na comunidade, bairro ou local de trabalho, são carismáticos, legais, mas é tudo fachada para cometer perversidades. Eu lamentavelmente conheci alguém assim, organizador de eventos, pobre, mas querido na cidade onde mora, estupra ou abusa de mulheres alcoolizadas nos eventos organizados por ele, porém fica na mesma, tem pacto de silêncio, todos ficam contra a vítima ou quem tenta denunciar, certa vez ele estuprou uma moça na década de 90 e a mesma relatou o ocorrido para algumas "amigas", todas ficaram contra e trataram ela como culpada, nesse dia ele ganhou pelos amigos que souberam do crime o apelido de Jack o estuprador, esperar o que de pessoas que acobertar e até defendem isso? Detalhe: casado e pai de família o sujeito.
Polêmica ridícula a sua!
Todos os companheiros do crê do Robinho são brancos e tiveram penas ainda maiores que ele!
Já o sr Cuca, não foi punido como merecia porque era 1987, e a Suíça tinha penas brandas pra estupradores.
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