sexta-feira, 18 de junho de 2021

A CLASSE MÉDIA LAMBE AS BOTAS DOS RICOS

Eu sempre me dei conta que a classe média de países não muito avançados como o nosso detesta os pobres e idolatra os ricos. Mas algo que reparei nos últimos anos é como a classe média está muito mais próxima de quem ganha um salário mínimo pra baixo do que de quem ganha, sei lá, 100 mil reais por mês pra cima. Ela sempre se identifica com os ricos. Adora bilionários, crê em meritocracia, e pensa que o pobre é pobre por ser preguiçoso. Quando algum governo ameaça aumentar impostos para os muito ricos, a classe média é a primeira a ser contra essa pouca vergonha. 

Enfim, o cartum do Gilmar resume perfeitamente esse pensamento. 

23 comentários:

avasconsil disse...

A classe média é extremamente aparofóbica. Aparafobia é uma palavra que aprendi há pouco tempo:

Aporofobia é um neologismo inventado pela filósofa Adela Cortina, professora catedrática de Ética e Filosofia Política da Universidade de Valência. A palavra nos parece estranha, seja ortográfica, seja foneticamente, mas tem a proeza de nomear uma realidade nefasta e ignóbil. Foi escolhida a palavra do ano de 2017, pela Fundação Espanhola Urgente.

https://www.justificando.com/2020/02/19/aporofobia-o-odio-aos-pobres-em-tempos-sombrios/

Basta analisar o comentário daquela criatura no post sobre o ataque horrendo de um bozolouco à atendente da padaria no interior de SP, pra a gente ter uma um exemplo concreto da aversão dos brasileiros de classe média aos mais pobre.

O cara diz: Hoje em dia qualquer atendentizinho, qualquer atentendizinha, arroga-se o direito de dar uma de delegad@ ou juíz@ pra exigir o uso da máscara nos estabecimentos. Como é que pode uma pessoa de uma casta inferior exigir de mim, um servidor público do fisco estadual, que use uma máscara? Um absurdo. Uma afronta...

Esse daí se for chamado a atenção por um atentendizinho por estar sem máscara, vai logo perguntar "Sabe com quem está falando?"...

Depois quando a Marilena Chauí diz que a classe média brasileira é um nojo, um monte de gente da classe média ainda tem a cara de pau de se dar por muito ofendida.

Vídeo engraçadinho da Rita Von Hunty sobre consciência de classe, tão em falta no Brasil: https://youtu.be/lmT7H09jR18


Anônimo disse...

a) A classe média pão com ovo e um câncer no Brasil ela e egoísta invejosa ( não passa em um concurso e menospreza funcionários públicos. Não passa no Enem ataca estudantes das federais) racista e homófobica. Preguiçosa ( Não tem dinheiro para pagar empregada doméstica mas chega a crueldade de fingi que adota crianças para explora las em trabalhos domésticos)

Anônimo disse...

Classe média é só "pobre premium", mais nada

avasconsil disse...

Essa reportagem dá uma ideia da distância que separa a classe média dos realmente ricos. O patrimônio da família Safra é de cerca de 90 bilhões de euros, 540 bilhões de reais. Com certeza a família Safra está na lista das 120 famílias que o Prof. José Paulo Netto falou que mandam no Brasil. Pois é. No Brasil votar na direita é dar mais dinheiro ainda exatamente pra esses que já são podres de ricos. Nem sei se só aqui no Brasil. Talvez no mundo todo. https://brasil.elpais.com/estilo/2021-06-19/codigos-secretos-e-acordos-de-600-paginas-assim-vicky-safra-se-transformou-em-uma-das-mulheres-mais-ricas-do-mundo.html

titia disse...

Como disse um trecho de uma pornochanchada que eu não me lembro qual era, mas cujo roteirista tinha mais consciência social que todos os formandos, doutorandos e Phdeuses que gritam "Vai pra Cuba!": Mas essa classe média é uma bosta, né não? Ganha umas migalhas e já acha que é classe alta (essa segunda frase é adaptação minha).

Falo isso como membro da classe média, que é só o pobre com mais condições de se endividar pra comprar coisas inúteis só pra fingir que tá podendo mais que o vizinho. Acham que só porque não precisam limpar banheiro alheio nem ficar abrindo garagem pro carro dos outros na portaria são ricos, quando na verdade são só uns pobres gourmet arrogantes adestrados feito cão de guarda pra proteger os interesses dos ricos mas que ficam fora da mansão. Dá raiva.

Anônimo disse...

Engraçado que tanto a autora do blog quanto os comentaristas que se pronunciam contra a classe média, são justamente os que pertencem à classe média.

Anônimo disse...

Que comentário elitista!
Você esquece que a imensa maioria dos pobres não teve oportunidades de estudar, e por isso não conseguiu passar em conçurso público top e universidades públicas de elite!
Os pobres acabam tendo que pagar para estudar em faculdades privadas de baixo nível.
Esse seu comentário é típico da classe média arrogante que se acha o máximo por ter passado em um concurso público e ter estudado em Universidade pública (que não é gratuita, pois seus custos são pagos através dos impostos pagos por todos, incluindo os mais pobres).

avasconsil disse...

O comentário não tá falando dos pobres, tá falando da classe média, que é elitista sim, aqui no Brasil. Aquele filme "Que horas ela volta?", com a Regina Casé, mostra bem direitinho a mentalidade da classe média brasileira. Muita gente de classe média acha um absurdo ver quem vem de mais baixo tendo acesso aos mesmos ambientes que antes eram exclusividade dos remediados. E sim, muita gente tem despeito com servidor público porque não passou num concurso. Gente da classe média mesmo. Gente que tem horror às cotas raciais e sociais, porque acha muito meritocrático só poder entrar no serviço público quem teve e tem uma família com condições pra manter o concurseiro em regime de dedicação exclusiva aos estudos pra concursos, até a aprovação acontecer, mesmo que demore anos. Uma mesma gente que se identifica com os interesses dos muito ricos, e não consegue enxergar que pertence a mundos bem diferentes. Quem está na classe média depende da sua força de trabalho pra sobreviver e tá bem mais próximo da realidade social dos mais pobres do que dos mais ricos. É sobre isso que essa postagem fala, sobre a falta de consciência de classe da classe média, e de como ela, de bom grado, prefere defender interesses que não são os seus. Prefere defender os interesses dos poucos que ocupam o andar de cima. Quantas famílias no Brasil têm um patrimônio de 90 bilhões de euros? Pouquíssimas. Achar que os interesses de uma família dessas coincidem com os da classe média é falta de consciência de classe. É não conseguir se colocar no seu lugar... É esse o tema desta postagem.

avasconsil disse...

Existe diferença entre pertencer à classe média e ter consciência de classe. É disso que essa postagem trata. Se os pobres e remediados do Brasil tivessem consciência de classe, e se organizassem e articulassem em defesa dos interesses de quem precisa trabalhar pra pagar as contas, mesmo ganhando um salário considerado alto pra a realidade brasileira, aí sim o Brasil estaria em condições de se desenvolver, e de melhorar a distribuição de renda e diminuir as desigualdades sociais. Mas infelizmente essa consciência de classe não existe e talvez nunca venha a existir. São muitas as barreiras ao desenvolvimento dessa consciência de classe. Emocionais e talvez morais. O ser humano não é racional. É dotado de razão mas é irracional. Freud mostrou que Descartes precisava de uma atualização. Que até hoje muita gente ainda não sacou que aconteceu com a descoberta do inconsciente.

Anônimo disse...

Então membros da classe média não podem criticar a escrotice de uma parcela da própria classe média? Coloca esses dois neurônios pra funcionar, você consegue.

avasconsil disse...

São as famílias como a família Safra que querem a reforma trabalhista, a administrativa, o teto de gastos... Essas famílias são grandes credoras da União e querem que a União amplie sua capacidade de endividamento e pagamento de juros, tirando direitos e renda da classe trabalhadora. Todos os espectros da classe trabalhadora, dos mais pobres e dos remediados, em todos os seus degraus. Se a classe trabalhadora fosse unida e articulada - pra isso acontecer teria que ter consciência de classe... - elegeria o presidente e os legisladores que fariam as mudanças na Constituição e nas leis que buscariam no patrimônio desses ricaços o dinheiro pra sanear as contas públicas. Não seria preciso acabar com a propriedade privada. Instituir o comunismo. Bastaria fazer os ricaços finalmente pagarem tributos ou pagarem de maneira proporcional à riqueza deles. Ano passado, juntando todas as alíquotas, eu paguei 20% de imposto de renda. Não vejo ninguém dizendo que isso é socialismo ou comunismo. Então por que o imposto sobre transferências de heranças (ITCMD) não poderia chegar a 40% no Brasil, em vez de no máximo 4%? Gugu Liberato deixou pros filhos 1 bilhão de reais. Se eles pagassem 40% de tributo, ainda ficariam com 600 milhões. O Ivens Dias Branco deixou pra a família um patrimônio de 5,8 bilhões de reais. Por que é normal que eu que tenho infinitamente menos que isso pague 20% de imposto de renda num ano, e eles só paguem 4% de imposto sobre herança? se for essa a alíquota aqui no Ceará. Pode ser até menor. Apesar de as coisas serem desse jeito, a classe média seria a primeira a defender que seria um absurdo fazer rico pagar muito tributo aqui no Brasil. Não acha nada demais em que os servidores públicos e os outros trabalhadores percam direitos e renda. Chamam isso de justiça social. Mas quando se fala na verdadeira justiça social, preferem ficar do lado dos ricos e não do dos trabalhadores. Preferem apoiar os interesses dos ricos, de quem a classe média lambe as bo(s)tas sim. Infelizmente e sem perspectiva de mudança no futuro próximo.

avasconsil disse...

Segundo Rosana Pinheiro Machado, as chamadas classes aspiracionais vêm se conectando com o discurso de Bolsonaro porque deixou de ter por sonho uma carteira assinada num emprego formal. Essas aspirações são "old school". Os sonhos dos jovens de hoje passam por "bombar" no Instagram, no Facebook, no YouTube, no Twitter como "empreendedor individual". Essas pessoas se acham muito "guerreiras" e capazes de vencer individualmente, e que só não vencem porque o "sistema" atrapalha o sucesso delas. O sistema com as leis trabalhistas e tudo "que está aí, tá ok?!". Muita gente deixou de acreditar numa prosperidade coletiva sob a coordenação do estado. Por isso é fácil pra elas ver sentido no neoliberalismo e no estado mínimo. Até porque pra muitas delas o estado já é mais que mínimo há muito tempo: é inexistente desde que nasceram... Cabeça de gente é muito complicada mesmo. Pior que os partidos políticos e os políticos precisam captar o que se passa na cabeça das "massas" se quiser conquistar muitos votos. Parece que a direita estava/está melhor conectada com a "vibe" do momento. A pandemia talvez dê uma mexida nisso por um tempo, por mostrar a importância do SUS e do estado. Do coletivo. Mas só por um tempo. Essas coisas são uma verdadeira valsa. Um passo pra frente, dois passos pra trás. Outro pra frente... E assim a humanidade vai dançando em cima da linha do tempo. A história passando e a gente morrendo...

"É um padrão histórico e sociológico que, em sociedades racistas, estratificadas e que estigmatizam a pobreza, a disputa por status entre a base da pirâmide leve grande parte daqueles que estão acima da linha da pobreza a se identificarem com os de cima, votando na extrema direita numa coalizão de classes que visa a barrar políticas distributivas. O trabalho da cientista política Pavithra Suryanarayan traz evidências sólidas de como isso se mantém na Índia há décadas. Em tempos de fomento de classes aspiracionais, Ravinder Kaur nos mostra, com brilhante capacidade etnográfica, que as classes aspiracionais que ganharam alguma melhora educacional e prosperidade são famintas por mudança e temem perder o recém alcançado status de “não ser pobre”.

No Brasil, muitos pesquisadores estudam esse fenômeno há tempos. Laura Carvalho é um dos nomes que sempre apontou a necessidade de se olhar com atenção para as dinâmicas econômicas desses setores “atachados” da pirâmide. Meu ponto aqui é também é preciso olhar para a dimensão subjetiva que vem da distinção de classe proporcionada pela mobilidade.
Por fim, não posso terminar esta coluna sem comentar que não é animador tentar entender a lógica dos que se identificam com um genocida. Mas estou convencida que essa tarefa ingrata continua sendo uma prioridade. Mais do que dizer que nas manifestações de bolsonaristas só tinha tiozão de Harley-Davidson (pois isso nos faz bem), seria também interessante olhar a quantidade de moto de entregador de delivery que estava lá. Sim, ela mesmo, a moto comprada na era Lula".
Rosana Pinheiro-Machado é antropóloga e professora de desenvolvimento internacional da Universidade de Bath, no Reino Unido. É autora de ‘Amanhã vai ser maior’ (Planeta).

https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-06-21/o-que-lula-deu-e-bolsonaro-abocanhou.html

Anônimo disse...

Cirúrgico!

titia disse...

10:43 pelo contrário, colega, é lugar de fala. É justamente por sermos da classe merdia, ops, média, que podemos identificar e apontar com precisão cirúrgica a burrice e as escrotices dessa calangada.

avasconsil disse...


A muito fofa classe média brasileira agora tá obrigando os empregados a abrir empresa, pra poder contratar empregado doméstico com CNPJ e não pagar FGTS. Não dar repouso semanal remunerado. Gratificação de férias e os 30 de férias remuneradas. E o 13o salário também. Devem obrigar a pessoa a comer só pão com ovo, se é que fornecem alguma alimentação.

Contratação de uma pessoa pra ser babá de 2 crianças, motorista e faxineira. Sem direitos sociais e salário de 1.600 reais. E na base da fraude, contratação por pejotização (contrata o empregado pessoa física como se fosse uma empresa).

Provavelmente é uma família fã do Sérgio Moro e que votou no Bozogenocida por causa do combate à corrupção...

Reinaldo Azevedo:

"O Brasil segue sendo escravocrata. Um anúncio de emprego publicado em Campinas evidencia o peso do atraso. Será meu editorial em O É da Coisa. Segue abaixo:"

https://mobile.twitter.com/reinaldoazevedo/status/1407421283747479562?s=1006

avasconsil disse...

Nesse vídeo o Reinaldo Azevedo comenta esse horrendo anúncio de um emprego horrivel. É uma oferta de trabalho de uma família de classe média alta (no minimo), do bairro mais caro de Campinas. Segundo Reinaldo Azevedo, regiões desse bairro possuem o m2 mais caro do interior de SP. Ou seja, a ofertante da "oportunidade" de trabalho pode ser gente muito rica. Rica e pão dura. Numa Veja de 2012 (na época eu era assinante...), saiu uma reportagem sobre babás de gente rica, e a dos filhos do Ronaldo Fenômeno, naquela época, ganhava quase 9 mil reais por mês. E acompanhava a família nas viagens internacionais que faziam. Além de ganhar bem, ainda viajava pra fora a trabalho. Tem muito brasileiro e brasileira escrotos. Por isso Bozo foi eleito. Tomara que não seja reeleito. Ter a 2a temporada desse pesadelo, Deus nos livre.

https://youtu.be/6a0-Tsw652g

Anônimo disse...

Concordo parcialmente com você. Acho realmente que uma boa parte da classe média e da elite brasileiras sempre trataram os mais pobres como lixo. Esse anúncio de emprego que você citou é mais um exemplo disso.
Mas isso não é um comportamento apenas da classe média ou da direita. A própria esquerda brasileira também é elitista e age de forma parecida.
O PSOL publicou recentemente um anúncio de emprego muito parecido, onde o regime de trabalho seria através do MEI/PJ. Ou seja, sem carteira assinada, FGTS, INSS, e demais direitos trabalhistas. Muito parecido com esse anúncio da governanta.
Veja essa matéria:

https://comunicaam.com.br/noticia/42820/psol-recua-e-apaga-post-que-anunciava-contratacao-de-pj-ou-mei.html

Ou seja, por trás de um discurso bonitinho de inclusão social, a esquerda brasileira é tão hipócrita e elitista quanto a classe média e a direita.
Não dá pra acreditar em ninguém neste país.

avasconsil disse...

Quando a perfeição não está no cardápio, o jeito é se contentar com o menos ruim. Tava tomando banho agora pensando nas vezes que votei pra presidente(a). Não me lembrei de uma vez sequer em que eu tenha dado um voto positivo. Estou chamando de voto positivo um voto do tipo sim: sim, eu quero este ou esta daqui. Só tenho dado esse tipo de voto pro legislativo. Pro executivo, tem sido sempre por eliminação. Tenho votado no que sobrou, porque nos outros não votaria. Sempre voto no candidato menos neoliberal. Neoliberalismo é bom pros ricos. E eu não sou rico. Se o parâmetro de riqueza for a família Safra então, que tem 90 bilhões de euros, nem um dia ganhando na Mega Sena da Virada eu entro pro mundo dos ricos. Haja dinheiro, né? 90 bilhões de euros. Acho que um dia esse nível de acumulação de riqueza hoje aceitável vai causar vergonha alheia. Vai ser visto como algo tão primitivo quanto as lutas dos gladiadores romanos que a gente pode ver com muito sangue espirrando e tripas caindo no chão em seriados da Netflix. Pelo menos o PSol ia pagar 2.500 reais por uma jornada de trabalho de 20h/semana. Melhor do que 1.600 por uma jornada muito pior. E o pior corrigiu o malfeito depois da repercussão negativa. Já a família do anúncio da babá, acho meio difícil. Pouco ou nada a perder... https://diariodorio.com/psol-emite-comunicado-corrigindo-divulgacao-de-edital-com-vaga-para-pessoa-juridica/

Anônimo disse...

Esse artigo da Rosana no El Pais é uma das coisas mais lúcidas que li nos últimos anos. Perfeito, ela sintetizou muito bem. Vale muito a leitura, para entendermos como chegamos a esse ponto no Brasil.

Anônimo disse...

Que a deusa te ouça, Avasconsil!!

avasconsil disse...

Se o Diabo quiser levar o lacaio dele, tá valendo também. O que importa é ele deixar de ser presidente. Não posso negar que não sentiria muito se ele morresse. Até sentiria muito sim: alívio. Isso eu sentiria.

Anônimo disse...

Engraçado que tanto a autora do blog quanto os comentaristas que se pronunciam contra a classe média, são justamente os que pertencem à classe média.

Não pertencem à classe média, não.

A classe média não é definida pela faixa de renda, mas por uma mentalidade.

Anônimo disse...

Se a classe média não é definida pela faixa de renda, gostaria de saber então como órgãos como IBGE e DIEESE vão fazer pra tabular suas pesquisas.
Fala sério!