quinta-feira, 1 de outubro de 2020

DIVULGUEM COISAS BOAS, NÃO LIXO


Algo que eu vivo dizendo: nós, ativistas, pessoas de esquerda em geral, divulgamos muito mais os inimigos que as pessoas como a gente, que querem mudar o mundo e produzem ótimo conteúdo. 

Não acho que devemos parar de denunciar os crimes e preconceitos da direita, mas que tal fazer um esforço? Pra cada tuíte ou comentário indignado sobre a última (infelizmente não é a última) de Bolso, sua familícia e aliados, podemos espalhar um post, um vídeo, um canal, um cartum, um blog, de alguém que merece ser divulgado. 

Eu tento fazer isso. Muitas das 9,204 pessoas que sigo no Twitter volta e meia se surpreendem e ficam agradecidas por eu dar um mero RT em seus tuítes. É algo simples, mas parece que pouca gente faz. Nesses meus quase treze anos mais intensos nas redes sociais, sempre tentei ajudar a divulgar pessoas e projetos que mais gente deveria conhecer. Claro que às vezes é duro. Às vezes soa que só as notícias ruins ganham destaque. E óbvio que não falar de racistas, machistas, LGBTfóbicos etc não vai fazer com que eles desapareçam. Mas sempre devemos nos lembrar daquela máxima: stop making stupid people famous (pare de tornar pessoas estúpidas famosas). 

Faz um tempinho vi uma thread no perfil da Raisa que traduz o que penso. Vou reproduzir o que ela disse aqui:

Percebi um comportamento muito nocivo na internet nos últimos anos. E tem agravado. Vocês não conseguem deixar de promover coisas ruins. Vocês fazem igual à tirinha do Raphael [acima].

Ao fazer isso, perdemos a chance de exaltar algo bom e promovemos algo que não gostamos. E não é porque eu percebo esse comportamento que estou imune a ele. Um tempo atrás um tuíte meu hitou e eu recebi, talvez, centenas de respostas boas, mas a primeira ruim foi a que dei RT.

Hoje mesmo eu vi uma pessoa fazendo VÁRIOS tuítes por causa de UM comentário idiota no Instagram. Nem julgo, já fiz exatamente o mesmo, mas acho que tá na hora da gente reavaliar esse hábito.

Quando a Marielle morreu, fiquei chocada porque eu NUNCA tinha ouvido falar dela. Eu tô na internet todo dia. Sei todos os memes do Desenhista que pensa, conheço o merda do Nando Moura e vejo tuítes da Janaina Brasil diariamente na TL, mas da Marielle eu NUNCA tinha ouvido falar.
E não fui só eu. Vi muita gente pela internet toda falando sobre como nunca tinham ouvido falar da Marielle, mas do Olavo de Carvalho já. Da família bolsocheio, também. MBL, então, nem se fala. Mas quem tá lá no mundo real lutando pelo que importa, nem uma palavra.
Por favor, vamos reavaliar isso. Vamos parar de dar palco e visibilidade pra quem a gente NÃO CONCORDA. Já deveríamos ter aprendido nossa lição com o bolsocheio, mas parece que muita gente ainda não se tocou.
NÃO DIVULGUEM CONTEÚDO LIXO. A mudança se faz com exemplos POSITIVOS.
Quando você for criticar algo, você tem que ir na fonte do problema. Você NÃO deve compartilhar algo que não concorda só pra mostrar quão absurdo é. Exemplo: seu tio postou vídeo do Bolso no Facebook? Em vez de compartilhar com seus amigos (que provavelmente pensam igual a você), vai lá e mostra pro seu tio (e pros amigos DELE) o quão absurdo e sem sentido é aquilo. Desmonta os argumentos dele. Leva informação pra quem é ignorante. Seu tio pode não mudar de opinião, mas alguém que tem uma quedinha pelo Bolso pode repensar isso com base no que você disse.
Só que aí quando em vez de confrontar a fonte do problema, você resolve COMPARTILHAR o conteúdo do cara, o que você faz é espalhar mais e mais a merda que ele disse. Eu conheci o Bolso através de amigos DE ESQUERDA que compartilhavam dizendo só “nossa que absurdo”.
Olha que loucura: os caras COMPARTILHAVAM o vídeo do Bolso e toda crítica que faziam era “nossa que absurdo, deveria estar preso” etc. NÃO é assim que você combate um cara desses, especialmente vivendo numa sociedade tão ignorante e com tanta tendência à barbárie.

7 comentários:

Lara disse...

É o que eu penso também, Lola, está na hora dos no movimentos dito sociais parar com o discurso, deixar o enfrentamento de lado e procurar exaltar os bons exemplos; fazer aliados, buscar compreender e ajudar, mesmo quem não se diz "de esquerda".
Digo isso porque moro em comunidade pobre, pra não falar em favela mesmo, e vejo como luta de classes, socialismo, revolução e coisas assim são fora da realidade, na pobre de verdade não quer nem ouvir falar nisso, só vamos conseguir a confiança se parar de querer xingar quem pensa diferente e começar a estender a mão e levar nossa mensagem a quem realmente precisa ouvir, ou nos adaptamos ou perderemos cada vez mais espaço.

Unknown disse...

Eh vdd Lolla o bozó ganhou a presidência por causa disso a visibilidade q ele tinha naqueles programas sem conteúdos fora as pessoas q eram de esquerda e compartilhava as atrocidade q aquele homem falava pensando eles q a população iria se revolta mas não foi ao contrário começaram a se identificar com ele tbm tem esse quesito por vivermos em um país retrógrado onde tudo demonizam e repudiam o q e diferente... Acredito eu q tudo isso vai passar...

avasconsil disse...

Essa história é bacana:

Há muita gente que não gosta de Yvonne. É chamada de louca. Não entendem o que ela faz e a hostilizam na rua, onde passou anos alfabetizando crianças sem rumo. A raiva por ela vem de longe. Yvonne, hoje com 70 anos, perdeu seu anonimato em 1993 após a chacina da Candelária, quando três policiais militares assassinaram a tiros oito crianças de rua na porta da famosa igreja do centro do Rio. Ela, que na época dava aula para 250 meninos sem lar, foi a primeira pessoa que as crianças chamaram. A primeira a ver os oito corpos massacrados. A primeira a chamar a atenção sobre a barbárie.

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/10/politica/1502381690_502888.html?ssm=whatsapp

Alan Alriga disse...

Na verdade vocês fazem isso por causa da dopamina, e nesse vídeo do canal Cadê a Chave dos queridos Leon e Nilce explicam o do porque disso tudo.
Link: https://youtu.be/WkN1nt9hPHA

Anônimo disse...

Verdade. A gente precisa espalhar mais coisas boas, ainda bem que hoje só compartilhei a boa informação sobre um jovem com síndrome de down que abriu a sua própria marca de brigadeiros e virou influencer no YouTube e no Instagram fazendo suas receitas. Achei tão interessante, prova que nós não podemos deixar que os outros nos digam do que somos ou não capazes.😊

titia disse...

Verdade isso. Até porque gente como o nazipalhaço, a Giromini, o Mamãe Caguei e outros mais querem é atenção. Deixa eles morrerem no anonimato que passa.

Luciana disse...

Lola, sempre amei seus textos, sou leitora antiga, mas dei um tempo por aqui na época das eleições por causa disso. Seu blog é certíssimo nas críticas e nas denúncias que vc faz (taí a prisão do mascu pra provar isso), mas chegou uma hora em que eu não aguentava mais saber do quanto o mundo é ruim. Embora vc fosse uma pessoa do bem, eu precisava achar conteúdos mais inspiradores pra não desistir de tudo. 1 - Amei ver esse texto aqui. 2 - Você continua maravilhosa nas coisas que denuncia/critica 3 - Vamos divulgar mais as boas pessoas!