JAPÃO NÃO ESCAPARÁ DA PANDEMIA

Pessoas em Tóquio indo trabalhar no dia 26 de março de 2020

Com poucos casos para um país bastante populoso (127 milhões de habitantes), parecia que o Japão podia ter escapado da pandemia. Mas agora se vê que o país está apenas começando. 

Pedi a Katia Hirata, que é intérprete e mora no Japão há 29 anos, para descrever como o país está lidando com o coronavírus. 

Hoje o primeiro ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência para todo o país até o dia 6 de maio. 

O Japão apresenta hoje mais de 10 mil casos positivos do covid-19 e com muitos pontos de transmissão comunitária.

Em uma coletiva algumas semanas atrás, o ministro disse: "Estamos entrando em um túnel muito escuro, e ainda não vemos a saída”. É essa é a sensação que, apesar de tardia, já toma conta da população.

Antes ele anunciou que seriam apenas sete províncias (Tóquio, Saitama, Chiba, Kanagawa, Hyogo, Fukuoka e Osaka) que entrariam em estado de emergência. A cidade em que moro é um foco da infeção aqui na província. Moro no estado de Hiroshima, cidade de Fukuyama, um dos focos no estado. No estado de Hiroshima são 118 casos, sendo que 17 são aqui da cidade de Fukuyama, é só Deus sabe quantos esperando o resultados dos exames. Passamos de 3 casos a 118 em um pouco mais de uma semana.

O governo pede à população que:

- não saia de casa se não for extremamente necessário;

- use máscaras;

- evite o transporte público;

- mantenha distância de 2 metros;

- lave bem as mãos e faça todo o procedimento de higienização;

- não saia em viagens para outras províncias durante o feriado de 3 a 5 de maio (No Japão não existem férias como no Brasil. Temos feriados ao decorrer do ano e 3 deles são chamados de “golden week”, pois vão de 4 dias a 10 dias. O de maio será uma junção de datas comemorativas  como o Dia da Constituição, o Feriado da Cidadania - Kokumin-no-kyujitsu, e o Dia das Crianças - Kodomono-hi).

Fábricas já estão fechadas e outras agora irão fechar pelo estado de emergência e pela rápida propagação do vírus no país. Muitas pessoas já estão desempregadas e passando por dificuldades.

O Japão por uma lei constitucional não pode impor uma quarentena como em outros países, isso feriria o direito do cidadão de ir e vir. Por isso roga a compreensão da população, mas como em todo lugar há os que não acham que aconteceria com eles e por isso não respeitam as recomendações -- o que levou Tóquio a explodir em casos de coronavírus numa velocidade incrível.

Um especialista japonês em infectologia disse que se o isolamento não for imediato e levado a sério, o Japão em poucas semanas apresentará uma média de 850 mil infectados graves e desses 400 mil morrerão, e isso é um perigo eminente em um país onde a maioria da população é idosa, o que os coloca automaticamente no grupo de risco.

Estamos na primavera, uma das épocas mais bonitas na ilha, com a florada das cerejeiras e os canteiros cheios de flores.

Os tradicionais piqueniques da cerejeira (hanashi) foram cancelados, os festivais de primavera foram cancelados, os festivais de verão (matsuri/ Hanazonocho) foram cancelados, 

jogos com torcida estão cancelados, shows cancelados, teatro, salas de cinema, boliches e karaokês estão fechados, bares, pubs e “sunakos” (que são bares onde os homens e mulheres frequentam para conversar com acompanhantes, a maioria sem envolvimento sexual) estão fechados.

O Parlamento está decidindo qual o valor do auxílio que será dado a população, por conta da impossibilidade em trabalhar por esses tempos.

No começo pensaram em 300 mil yens (cerca de 3 mil dólares) por família cuja renda tivesse baixado cerca de 50% desde o início da crise do coronavírus. Mas governo e oposição estão trabalhando juntos e decidiram agora pagar a cada cidadão (não à família) o valor de 100 mil yens (1000 dólares mais ou menos) como auxílio. O governo acredita que esse dinheiro retornará aos cofres públicos através do consumo da população, o que pode evitar uma inflação maior. 

Há também empréstimos. Depois de apresentar os documentos necessários, a pessoa pode conseguir um empréstimo de até 200 mil yens para ser pago dentro de cinco anos. Sem juros.

Isso juntamente com o pedido do governo para que as empresas não demitam seus funcionários e com auxílios para os pequenos e médios empresários e para os autônomos.

Empresas de água, gás, luz, telefonia, imobiliárias e construtoras e financiadoras terão de rever formas de pagamentos durante essa crise.

Aqui estamos nos cuidando e fazendo o máximo para não adoecer. Só peço a Deus que tenha misericórdia, pois o mundo está passando por dias difíceis e que demorarão ainda para terminar.

Área de Dotonbori em Osaka em 10 de fevereiro e em 8 de abril