segunda-feira, 20 de abril de 2020

COVID-19, INIMIGO DOS CHILENOS E DE SUA FRÁGIL DEMOCRACIA

Publico hoje o relato da jornalista brasileira radicada no Chile Isabela Vargas
Ela é colaboradora da plataforma Brasileiras pelo Mundo e também faz parte da coordenação do Colectivo Mujeres por la Democracia, Santiago, que é a resistência contra o Bolsonaro no Chile. 

Terça-feira, dia 14 de abril, completei um mês sem sair de casa. Moro no centro de Santiago, no Chile. Aqui, a quarentena começou logo que foram registrados os primeiros casos de coronavírus. Até o momento em que estou escrevendo este texto, o Chile teve 7.917 casos confirmados e 92 mortes. 
Trabalho numa agência de marketing digital, então, meu trabalho é compatível com o sistema de home office. Tenho uma filha de 5 anos que vai a um jardim de infância particular perto da nossa casa. As aulas foram suspensas e, por incrível que pareça, esta semana começaram as férias antecipadas de inverno. 
O ministério da educação quer que as aulas sejam retomadas dia 28 de abril. Obviamente, pais, professores e funcionários de escolas são contra essa medida porque esse período será justamente o pico do coronavírus. Além disso, o clima já vai estar mais frio, o que favorece gripes e resfriados, especialmente em ambientes fechados, como as salas de aula.
A vida na quarentena
Meu marido é fotógrafo e trabalha num jornal chileno. Ele sai todo dia para trabalhar, então, aqui em casa, é ele quem faz tudo na rua para não sair mais de uma pessoa e aumentar o risco de contágio. Supermercados, farmácias, feiras e pequenos comércios estão funcionando em Santiago.
As clínicas médicas suspenderam as consultas e atendem somente casos de urgência. Isso é um pesadelo porque aqui o sistema de saúde é privado e caríssimo. Nunca vamos numa emergência, sempre marcamos consultas para não gastar uma fortuna. Um exemplo desse custo é o valor do teste para detectar o covid-19 que tem uma diferença de preço de mais de $ 75.300 (465 reais aproximadamente) entre clínicas e hospitais.  
Quarentena total
Há quase três semanas começou a quarentena total em alguns bairros de Santiago e em algumas cidades do Chile. Quem sai na rua precisa tirar um salvo conducto na internet. É uma autorização que tem validade de 3 horas, tempo suficiente para comprar algo que esteja faltando. 
Nos supermercados, tem filas do lado de fora porque a entrada é controlada. Isso acontece em alguns bairros, como aqui no Centro. Nos setores onde moram os ricos (barrio alto) não é assim. Tanto é que meu marido procura comprar perto do trabalho dele, já que o jornal fica numa área nobre da cidade.
O problema é que não dá para comprar muito já que ele usa a bicicleta como meio de transporte há anos. No trajeto de casa para o trabalho, ele me diz que tem pouca gente nas ruas, mas sempre tem. Nos dias de feira, são os estrangeiros os que se arriscam mais. 
Fique em casa
Os chilenos estão assustados e ficam em casa. O governo se aproveita e tem usado a situação para acabar com o movimento social e as manifestações que iniciaram em outubro do ano passado pedindo mudanças estruturais no país. 
O plebiscito onde vamos decidir se queremos uma nova constituição e como queremos estava agendado para 26 de abril e passou para 25 de outubro. Todos os espaços que tinham passado por intervenções artísticas, ou que estavam pichados com frases de protesto foram pintados e a arte removida. 
O presidente Sebastián Piñera chegou a parar no principal monumento onde os manifestantes se concentravam para tirar fotos na semana passada. O fato foi considerado uma afronta para os manifestantes e mais uma mostra de abuso de poder. 
O exército está nas ruas para controlar a quarentena total e durante a noite há toque de recolher a partir das 22 horas. Nos primeiros dias, tinha panelaço todos as noites para protestar, mas agora, o povo está mais resignado. Certamente as manifestações vão voltar com tudo quando esse período de quarentena passar.
Problemas da quarentena
Por enquanto, alguns dados chamam a atenção. Por exemplo, os casos de violência doméstica aumentaram 145% segundo o disque denúncia local (o telefone 1455 do Ministerio de la Mujer). Também há críticas quanto ao critério usado para estabelecer a quarentena total, já que os setores mais pobres ficaram de fora. 
Agora, a narrativa dos meios de comunicação para encerrar a reclusão seria a de que nas casas com metro quadrado menor e maior número de pessoas (ou seja, nos lares mais pobres) não estaria garantido o distanciamento social. Por outro lado, nas casas com maior metro quadrado e menos pessoas (setores ricos) a medida teria o resultado esperado.
Vizinho varre condomínio de Santiago
Provavelmente, os ricos devem estar cansados de cuidar sozinho dos filhos e assumir a limpeza de casa e das áreas comuns, no caso dos condomínios. No edifício onde moro, o pessoal da limpeza está cumprindo quarentena e somente os porteiros trabalham. Os vizinhos criaram um grupo de WhatsApp com uma escala para organizar a limpeza das duas torres e garantir a separação do lixo para a coleta seletiva. 
Parece simples, mas nem tanto. O condomínio não fornece máscaras, nem luvas ou qualquer equipamento para proteção. É cada um por si mesmo. Mas isso é um pouco da síntese da cultura do chileno. Uma sociedade bem individualista em que o pensamento no coletivo e nos demais despertou recentemente apenas. 
O pior dano colateral do coronavírus no Chile não são apenas as mortes das pessoas -- que tendem a diminuir quando a pandemia estiver controlada --, mas também a frágil democracia que estava começando a ensaiar os primeiros passos. Não vai ser fácil retomar as mobilizações com todas as mudanças que virão depois que o covid-19 estiver controlado. Quem viver, verá. Literalmente. 

7 comentários:

Bruno disse...

Meu, O Luiz Bacci quase condenando uma mulher por matar a filha na TV. A filha tem microcefalia e vários outros problemas. O mais estranho é ver um homem como o Bacci dizendo como é ser mãe, justo ele, um homem. E o que isso importa pras mulheres? Muito, porque agora o STF está perto de aprovar o aborto de fetos com microcefalia. As pessoas acham que é fácil cuidar de filhos assim. A gente tem que criar um site ou algo assim para cair em cima desses patrocinadores. E todo advogado cuzão abandona caso. É bom vocês começarem a se mover, porque apoio de religiosos você snunca vão ter. Vejo até sites de esquerda divulgando vídeo de síndrome de down feito por associações religiosas, cujo vídeo foi até proibido na França porque era ofensivo às mulheres que abortaram. Meu, comece a agir, parem de reagir. Esqueçam o Bolsonaro por um instante, vamos lutar por uma causa e não reagir às causas dos outros. Chega de enquete sobre se estão fazendo sexo na pandemia. Isso não muda a vida de ninguém. Assistam o que o pobre assiste, vocês estão alienados. Saiam da netflix.

Denise disse...

Muito interessante o relato! Incrivel como no Chile mesmo com menos mortes as pessoas estao conscientes da necessidade da quarentena, enquanto no Brasil...

Anônimo disse...

Chamar tirar foto com um monumento de "abuso de poder" é meio ridículo. No máximo é uma provocação.

Anônimo disse...

Matar pessoas com microcefalia ou síndrome de down não é diferente de matar qualquer outra pessoa. Eles são seres humanos também povo. Aliás nem animal deveria ser morto só por ter "defeito". A menos que fosse algo que torna a vida inviável, o que não é o caso nem de microcefalia nem de síndrome de down.

Alan Alriga disse...

"A gente tem que criar um site ou algo assim para cair em cima desses patrocinadores. E todo advogado cuzão abandona caso."
Isso é fácil de se fazer e nem precisa criar site nenhum, vocês só vão precisar de alguma fã de kpop de 12 anos, pelo simples fato que elas especialistas em derrubar contas, recentemente derrubaram o twitter do orochinho que é um Youtuber muito grande.

Então peguem dicas com elas, simples assim.

titia disse...

Consciência política levará o povo do Chile longe. Devemos aprender com eles e deixar de sermos um bando de alienados com o rei na barriga.

22:52 diz isso mas aplaudiu quando defenderam levar "petralhas' pra 'ponta da praia', né? Tudo bem pra você morrer 30 mil inocentes pra defender o país do "comunismo", né? Tudo bem cortar auxílios a famílias com deficientes, né? Tudo bem cortar bolsa-família e deixar os pobres morrerem de fome, né? Escuta, o melhor que você pode fazer nesses casos é ficar calado e não se meter no que não é da sua conta.

Anônimo disse...

Titia lacrou o tópico. Nem o décimo terceiro do bolsa família que o bozo prometeu rolou.