domingo, 6 de abril de 2014

PRA TUDO SE ENCERRAR COM UM POEMA

Belo protesto Não Merecemos Ser Estupradas. Em Fortaleza, na última sexta

Sexta passada, pouco depois do Ipea divulgar o erro da pesquisa, cerca de 200 pessoas se reuniram na Praça do Ferreira para protestarem contra o machismo. Não foi muita gente, mas certamente marcou presença. E pra todxs que estiveram lá, foi lindo, com a participação do Tambores de Safo e Bate Palmas
A Ana Eufrázio, uma das organizadoras, deixou um comentário aqui contando como foi o protesto, e escreveu um post em seu blog. Foi ela também que me enviou as fotos que uso para ilustrar parte deste post (mais fotos abaixo). Parabéns por mais esta luta!

Pessoas queridas de Curitiba, quarta-feira, dia 9 de abril, estarei aí. 
Será rapidinho, mas terei tempo suficiente para duas palestras. A primeira será sobre Crítica de Mídia às 14 horas, no Auditório do DECOM, na UFPR, uma organização do Programa de Pós-Graduação em Comunicação PPGCom/UFPR. É só aparecer (clique para ampliar a imagem).
Minha segunda participação será na mesa-redonda "Mulher, Discurso e Mídia", que acontecerá no mesmo dia, às 19h, no Salão Nobre do Prédio Histórico, parte do evento Horizontes 2014: Mulheres que Ousam Lutar. 
Para assistir à mesa (e a toda a excelente programação do Horizontes), você deve se inscrever até amanhã (leia as instruções na página do FB, tem que mandar email para horizontesufpr@gmail.com).
Apareçam! É grátis. Já faz anos que muitxs leitorxs perguntam quando estarei em Curitiba. Bom, será minha primeira palestra na UFPR! E acho que desde 2009 que não piso nessa linda cidade (espero que não esteja muito frio. Não estou mais acostumada).

Quinta eu já volto, e na sexta, 11/4, oferecerei o minicurso "Feminismo no Cinemão", das 8:40 ao meio dia, na Casa Amarela, em Fortaleza. O minicurso está na programação do festival Curta o Gênero. Se você é de Fortaleza, deveria participar, já a partir de amanhã. São vários seminários, cursos, shows e filmes. Para se inscrever, é só levar um quilo de alimento. 
Finalizo o post com a colaboração de uma menina de 16 anos. Vitória escreveu este poema enquanto "viajava" no meio de uma aula. Diz ela: "É uma realidade que me indigna muito. Eu sinto demais, Lola, e o único jeito que eu tenho de exprimir isso, de tirar tudo isso de dentro de mim, é escrevendo (e, por vezes, desenhando). Não tem título, assim como as milhares de mulheres que sofrem todos os dias parecem não ter rosto para a sociedade."

Me disseram que eu deveria respeitá-lo
desde a minha mais tenra infância.
que não poderia questioná-lo,
pois ele não precisava controlar a sua ânsia.

Me disseram que eu deveria adorá-lo 
como um deus, um ser perfeito.
Que em sua presença eu me calasse,
pois eu era a única a me arrepender por tudo de ruim que tinha feito.

Me disseram que eu deveria ama-lo
e, apesar de tudo, aguarda-lo
em minha cama toda a noite,
eu merecia, eu deveria querer o açoite.

Me disseram que eu, mulher, era sempre menos.
Castrada, acuada, perseguida, quebrada.
Me disseram que suas carícias eram bem vindas
e que as flores mandadas eram lindas.

Me disseram que eu não deveria lutar.
Que eu me deixasse por suas mãos sufocar,
pois era o meu dever aguentar e afundar
E senti-lo, obrigada, e chorar.

Me disseram que a culpa era minha,
que eu andar pela rua nada tinha.
Eu merecia.
Afinal, havia saído da linha.

Me disseram que eu morri.
Que pena, tão bonita!
Mas vocês me mataram.
Todos vocês. 

12 comentários:

Raven Deschain disse...

Ih esquenta não. Tá um calor do cacete.

Patrícia Santos Gomes disse...

16 anos! E tantxs adultxs não entendem isso. Alma linda a dela!

Ná M. disse...

Uma opinião : nem santa, nem puta, OU (e melhor), santas, e putas.

Unknown disse...

Valeu Lola, obrigada por mencionar nossa luta. Valeu mesmo.
Boa noite!

Edna disse...

Lola! Dia 10 estarei lá, quero foto com vc!! Tá calor, fica tranquila!

Julia disse...

Vitória, o seu poema me emocionou. Parabéns pelo seu talento de saber usar as palavras tão bem mesmo sendo tão jovem.

E parabéns pras guerreiras cearenses que compareceram ao protesto. Estava no Ceará esses dias a trabalho. Até peguei um pouco do sotaque maravilhoso cearense. Força pra vocês!

Anônimo disse...

Me tocou este poema. É tudo que o machismo nos ensina: cale- se para os homens, entregue-se ao marido mesmo que depois tenha que chorar no banheiro, finja que foi bom embora tenha sentido asco. Foi estuprada? A culpa é sua. Quem mandou vestir saia? Quem mandou ter seios? Quem mandou ser mulher? Quem mandou ser menina que nem eu era? E agora? Choro no banheiro, não finjo que não aconteceu , não vou me culpar e sempre direi: NÃO ME TOQUE, NÃO ME MACHUQUE, NÃO ME MATE. MAS ELE POR UN LADO ME MATO, ME MACHUCOU, ME TOCOU, ME HUMILHOU, ME CUSPIU. To viva. Intimidade ferida mas viva.

Anônimo disse...

To ansiosa para ver suas palestras :) Tá calor aqui em Curitiba, mas como o tempo daqui não é nada confiável, melhor se prevenir, hahaha!

Flávia Tunes disse...

Meio fora do tópico, mas acabei de ler:

https://br.mulher.yahoo.com/blogs/preliminares/crime-feminic%C3%ADdio-pode-passar-ser-reconhecido-no-brasil-104208826.html

Esperançosa...

Raven Deschain disse...

Opa! Vou comentar aqui que é mais adequado. Muito legal o evento da Ufpr e a programação de todos os dias tá de primeira. *-*

Chris disse...

Ótimo poema, irretocável!

(Sei que não tem a ver com o assunto, mas Lola, já vistes essa? http://www.brasilpost.com.br/2014/04/04/racismo-unesp_n_5093063.html)

Letícia disse...

Que bom que você virá a Curitiba! Comecei a semana feliz!!!