ISSO É TÃO SÉCULO 14...

Do excelente tumblr da Feminista Cansada: O rei diz: "Você é um príncipe, e vc se casará com uma princesa!". O filho responde: "Pai, você vive no passado. Já estamos no século 14".

Uma leitora me enviou esta capa da revista argentina Notícias. Eu, boiando, tive que ir atrás. Parece que é assim: The Rockadictos, uma banda argentino-venezuelana que vive nos EUA, fez um videoclip com desenho animado que mostra Cristina Kirchner, primeira e única mulher a ser eleita presidenta da Argentina (Isabelita Perón não foi eleita; chegou ao poder como vice), masturbando-se. Tem uma hora que Obama aparece no quarto, mas não entendi o que ele tá fazendo ali, se é uma fantasia de Cristina ou o quê.

A tradução da capa : “O gozo de Cristina. Mostra-se cada dia mais desinibida, mais sensual e até sem-vergonha. A submissão do outro já é um requisito indiscutível da sua liderança. Por que o exercício do poder e o contato com as massas atuam como fatores erotizantes? Comic proibido. O polêmico video picante da presidente.”
Que poder é afrodisíaco, deve ser verdade (é só pensar em JFK, Bill Clinton, Berlusconi e tantos outros). Mas mostrariam o presidentes se masturbando se ele fosse homem? Se Cristina ainda estivesse casada com o ex-marido Néstor, morto em 2010?

Nada de errado numa mulher se masturbar, muito pelo contrário. Mas tanto o vídeo quanto a revista fazem crer que Cristina tem tesão por submeter o povo aos seus caprichos. Falar da vida sexual de uma presidenta não me parece muito bacana, até porque soa como invadir o espaço privado de uma mulher pública (e mulher pública obviamente não tem o mesmo signficado que homem público).

Lembro que alguns anos atrás fizeram um documentário de mentirinha em que o então presidente Bush sofria um atentado. Mas nas raras vezes que a presidente de um país é mulher, para criticã-la se fala das roupas, dos filhos, de sexo...

A australiana Clementine Ford escreveu sobre o erro que é esquecermos que Chris Brown não é o único cara famoso que já foi abusivo com mulheres. Achei tão bom que decidi traduzir este trecho: 

“E temos Charlie Sheen. A história sórdida de Sheen inclui atirar em Kelly Preston [hoje mulher do John Travolta] com uma pistola calibre 22, jogar cadeiras em sua então esposa Denise Richards,  ser processado por uma aluna da UCLA por supostamente bater nela com uma cadeira depois que ela se recusou a fazer sexo com ele, estrangular pelo menos duas das suas ex-namoradas e ser um babaca misógino de modo geral. Mas nada disso importou para Chuck Lorre e as outras pessoas que fizeram zilhões de dólares do bem sucedido Two and a Half Men, um peido televisivo que não só conseguiu ofender pessoas pensantes em todo lugar mas também legitimizou Sheen como algum tipo de bobo da corte ordinário. No final, Sheen foi despedido não porque ele é um ser humano asqueroso com um histórico medonho de violência contra mulheres, mas porque ele teve um problema com drogas e foi rude em público com seu patrão”.
Enquanto isso, a carreira de Kristen Stewart está ameaçada porque ela traiu o namorado.

Os mascus brasileiros já tem seu novo herói. Não, desta vez não é Charlie Sheen, nem Berlusconi, nem Bolsonaro. É o Coronel Jesuíno, personagem interpretado por José Wilker em Gabriela. “Novo” é modo de dizer, já que a novela se passa na Ilhéus dos anos 1920. Mas pros mascus isso não faz diferença. Um dos fóruns designou o vídeo em que o coronel diz a sua esposa “Deite que eu quero lhe usar” como Real (o movimento dos Guerreiros da Real) Antiga. Depois Genuíno estupra a mulher, e finalmente ele a mata (e o amante também) para lavar sua honra. Pros mascus, claro, ele é ídolo. Eles deixaram comentários assim no fórum (sic):
- “De vez em quando surge um personagem macho de verdade nessas p*rras.”

- “F*da!”
-  “Jesuino é mito. Qdo eu tiver um filho ele se chamará Jesuino”.
- “Esta é a época que as mulheres eram mais felizes cuidavam do marido da casa dos filhos e obedeciam o homem na hora que ele queria transar não tinha nenhum feminismo para encher a cabeça delas de m*rda .Os homens daquele tempo podiam não ter muita tecnologia mas pelo menos tinham esta vantagem .”
De fato, se tem uma coisa que a novela mostra claramente é como as mulheres daquela época eram felizes. A personagem de Maitê Proença acaba morta, verdade, mas era feliz porque não tinha essas coisas nefastas como feminismo para lhe encher a cabeça. E Jesuíno, então? É o retrato da felicidade em pessoa! Ele só não anda rindo à toa e com um sorriso estampado de orelha a orelha porque, sabe como é, macho não ri nem sorri.

E, last but not least, o tweet de um machistóide popular na internet. Precisa dizer alguma coisa?

Chega logo, século 15!