Ok, ok, sei que tô sendo injusta. Mas este “Diário de uma Boba” certamente não vai acrescentar nada ao seu currículo (além do fato, triste, que a Scarlett ainda não consegue ser sozinha um chamariz de bilheteria). Eu li o livro uns dois anos atrás, e ele tampouco era memorável. Mas fez grande sucesso em Nova York ao xingar os milionários. É a história de uma (metida à) antropóloga recém-formada que tenta sua sorte como babá de um menininho rico e mimado. A gente até tem vontade de chutar o garoto, mas acaba ficando é com ódio mortal da mãe, que não faz nada o dia todo, e ainda assim não dirige nem um “oi” pro filho. Não dá pra generalizar e achar que todo ricaço é desse jeito, mas vi algo parecido ano passado, numa pousada de luxo em SP. Toda criancinha tinha babá. Os pais dormiam num quarto, os filhos em outro, óbvio, com a babá, e no café da manhã pais, filhos e babás se esbarravam no restaurante, um sorria educadamente pro outro, e suponho que não se viam mais até a manhã seguinte. Não parecia ser o relacionamento mais amoroso do mundo. Se bem que é possível desvendar o dia-a-dia de pais e filhos de classe alta lendo qualquer livro do Bret Easton Ellis. “Psicopata Americano” traz muito mais insight sobre esse tema que “Diário”.
Em “Nanny Diaries”, o bestseller, a babá é tolinha, mas pelo menos sua narração em primeira pessoa é irônica o suficiente pra que a gente a perdoe. No filme também tem narração em off. O problema é que a personagem em carne e osso predomina, e a gente não consegue acreditar nem por um minuto que existe alguma vida inteligente naquele corpo. Ou seja, a personagem e a narradora não se encontram. E muito em breve a gente começa a querer chutar não apenas o menininho e sua mãe (feita pela Laura Linney, num papel não tão diferente da mulher do Jim Carrey em “Truman Show”) – a gente se desesespera pra chutar a babá sonsa também, pra ver se o cérebro dela pega no tranco.
Existem outros personagens, como o bonitão rico (Chris Evans, o Tocha Humana de “Quarteto Fantástico”) que logicamente vai namorar nossa heroína – porque quem aguenta ver uma babá cuidando de um guri mimado por mais de dez minutos? –, a melhor amiga da mocinha (dizem que interpretada por uma cantora chamada Alicia Keys), e a mãe da babá, essa sim uma mãe dedicada, lutadora e carinhosa, só por ser de classe média baixa. De que adianta ser tão maravilhosa se a filha vai mentir descarademente pra ela? No entanto, nenhum personagem é tão vil e ordinário como o pai do menino. Nem um ótimo ator como o Paul Giamatti (“Sideways”, “O Ilusionista”) pode salvar um milionário antipático que despreza o filho, trai a mulher, e tenta apalpar a babá. Se “Diário” fosse uma aventura de ação, esse cara morreria no fim da forma mais cruel possível.
Mas quer saber por que “Diário de uma Baba” se torna mais detestável ainda? Não é nem tanto a desonestidade de nunca contarem pra gente qual é o salário incrível que a babá recebe pra aturar tantos maus tratos. É o final feliz indicando que os ricos podem, sim, ir pro céu. Ah, vai! Uma trama inteira contando os podres dos grãfinos pra no finzinho redimi-los? Isso é desonesto!
P.S.: Tem o lado social também. Dá pra escrever um tratado sobre o que leva as patroas a tratarem tão mal suas empregadas. É o medo de repartir sua morada com uma outra mulher? Bizarro...
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