quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

GUEST POST: MÁ EDUCAÇÃO É ACHAR QUE O PADRÃO REPRESENTA MINORIAS

Acho que sei quem é Daniel Jacó. É um advogado bonitão de terno e gravata que viu minha palestra na Semana de Direito e Gênero, em junho, na UnB. Ele me enviou um email interessante, que compartilho aqui com vocês. E antes que me cobrem, sim, juro que ainda escreverei uma crítica mais detalhada sobre A Pele que Habito, o belo filme do Almodóvar. Mas antes preciso vê-lo de novo. E antes preciso sair de férias! Mas o blog continua, com a grande ajuda desse pessoal lindo que escreve guest posts incríveis.

Depois de ver A Pele que Habito, entrei numa onda de ver todos os filmes do Almodóvar. Férias. Hoje assisti A Má Educação (pra quem não viu, o filme é excelente. Impressionante o jogo de emoções que senti.) Depois de assisti-lo, comecei a ler críticas, um costume meu.
Foi então que me surpreendi: todas as críticas, sem exceção, falavam que o filme era muito marcado pelo “homossexualismo”, traço do diretor, e trazia uma crítica à Igreja. A crítica à Igreja, ok, concordo, embora pra mim isso seja apenas uma tangente que toca o filme. Minha surpresa aconteceu quando li que o filme tratava do “homossexualismo.”
Antes de mais nada, pra quem não está familiarizado com esse debate, “homossexualismo” deixou de ser usado. Google it e descubra as razões. Fala-se homossexualidade.
A razão da minha surpresa? O filme conta, sim, com inúmeros personagens homossexuais. Alguns transsexuais. Há cenas de sexo entre homens. Isso tudo deveria me alertar que o filme trata de homossexualidade. Por que a surpresa, então?
Talvez seja porque eu sou gay. Por ser aberta e orgulhosamente gay, não consegui ver que as histórias de amor (e interesse) que permeiam o filme tratavam “da homossexualidade.” Pra mim, tratavam do amor (e do interesse). Não consegui ver que o abuso sexual que ocorre no filme é um abuso “gay”, mas um abuso. Não consegui ver que a belíssima cena da piscina era uma cena de sensualidade “gay”. Era só sensualidade.
Ah, mas você deveria saber! Quando você vê uma cena de sexo entre homem e mulher, não nota que é uma cena hétero?” Sim, noto. Mas isso não importa. Em geral, estou pensando em outros aspectos do roteiro, ou admirando a beleza da atriz e do ator. Não penso: “Nossa, como esse filme retrata a heterossexualidade!”
Claro, por possuir orientação sexual minoritária, sei que há amor e desejo sexual além da heterossexualidade. Deve ser por isso que, desde sempre, quando via as representações artísticas do amor e do sexo, não via apenas a heterossexualidade. Sempre soube que há um mundo lá fora.
Mas e os héteros, que são a maioria? Pelo menos @s crític@s de cinema que escrevem para a internet não estão sabendo disso não. Ou, se o sabem, ainda lhes causa espanto, a ponto de a bela imagem do (cuidado, quase spoiler) renascimento de um amor infantil interrompido por mais de dezesseis anos (cena da piscina) ser ofuscada pela “temática homossexual”.
Isso me lembra as ideias de uma autora feminista: Iris Marion Young. Diria ela: a imparcialidade é impossível. Qualquer símbolo do amor e do sexo está associado a uma determinada experiência do amor e do sexo, e não representa os amores e os sexos. Da mesma forma que a palavra presidente não representa qualquer pessoa que ocupa esse cargo -– representa os homens.
Não representa a nós, as minorias. Oprime-nos. Serve para dizer que mulheres não podem ser presidentas. E que gays não amam. Nem trepam. As opressões e violências que partem dessas premissas torpes são logicamente deduzíveis, além de nojentas.
São em momentos de surpresa como esse que toda a raiva que sinto dos vetos às representações anti-opressivas volta à tona. Exemplo desse veto: Globo vetando beijo gay na novela. Quanto tempo demorou mesmo pra termos uma protagonista negra, hein?
Héteros, por favor, não me entendam mal: não é errado achar estranho um filme com tantos gays e trans. É errado que haja tão poucos filmes com gays e trans. É errado que haja tão poucas representações artísticas com gays e trans. É errado que haja tão poucas representações artísticas com gays, trans, lésbicas, negr@s que não sejam empregad@s, mulheres que não sejam subalternas. É errado que sejamos tão invisibilizad@s. Que as violências e opressões que sofremos sejam tão invisibilizadas.
Apareçamos!

47 comentários:

Gabriele disse...

Eu não assisti esse filme, mas acho que entendi o que o post quis dizer. Na faculdade de psicologia, em alguns debates nas aulas, certas vezes surgiu essa questão de se colocar muitas vezes a homossexualidade ou transexualidade da pessoa como se tudo na vida dela girasse em torno apenas disso. Acho que nós heteros em geral temos uma tendência a supervalorizar o peso da orientação sexual de um sujeito quando ela é diferente da nossa, e a tratar ainda como algo muito diferente, não necessariamente ruim, mas talvez ainda algo "exótico", "curioso".

Paulo Roberto disse...

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TCHÊ
(resposta a perguntas do post anterior)

O campo de concentração de Guanacacabibes foi idealizado e teve sua construção iniciada em 1960.

No ano de 1962 houve a sua maior lotação e os constantes fuzilamentos. O Ernesto Che Guevara escolheu o local e supervisionou a construção e os primeiros fuzilamentos.

PORÉM O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NÃO FOI FECHADO COM A MORTE DE GUEVARA. Mesmo após a morte de Ernesto Che Guevara o campo de concentração continuou funcionando durantes mais de duas décadas, com o mesmo objetivo.

Na fase inicial o campo de concentração abrigava os presos de consciência, as pessoas que não aceitavam a revolução. Morto os opositores o campo de concentração passou a ser usado para "corrigir" evangélicos e homossexuais.

Em seus últimos anos o campo de concentração foi usado para confinar as pessoas suspeitas de serem doentes de AIDS,

O campo de concentração foi desmontado para eliminar evidências ao final da década de 80, devido o desmoronamento da União Soviética. A península de Ganahacabibes também foi devastada em 2004 e 2005 por furacões de grande intensidade. Hoje muito pouco sobrou desse campo de concentração.

Lembrem-se que em 1991 a União Soviética ruiu e todo apoio e proteção soviético a Cuba desapareceu. Por isso a remoção de evidências de Guanahacabibes foi tão importante nesse período. Ao final da década de 80 Cuba estava entrando no que foi chamado "Perído Especial de Tempo de Paz" pois era o fim do papai soviético que a sustentava.

Letícia Rodrigues disse...

Infelizmente, ao contrário do "campo de concentração do chê", o campo de concentração do Tio Sam em Guantánamo continua funcionando a todo vapor.

Mas o que isso tem a ver com o tema do post?

Paulo Roberto disse...

Letícia

O campo de concentração do Tchê era usado para "corrigir" os homossexuais.

Os homossexuais foram enviados a esse campo de concentração para alterar o seu comportamento, os que não mostravam uma "melhora" foram fuzilados.

Também os evangélicos foram enviados para negar a sua fé cristão e se converter ao ateismo. Os que se negavam também eram fuzilados ou submetidos a trabalho forçados degradante.

A conversa começou porque tem homossexuais que usam a figura do Tchê como se fosse uma coisa fofa e bacana, mas na verdade ele era um assassino cruel e homofóbico.

Roberto Lima disse...

Bom, eu e minha mulher já assistimos a quase todos os filmes do Almodóvar, incluindo " La Piel que Habito". COmo outros autores espanhóis, Almodóvar prima pelos roteiros inteligentes e direção impecável, bem como enredos que passam longe das melosidades e mediocridades hollywoodianas. Mais um filme genial .Claro que há quem tenha detestado, mas aí tem preconceito enrustido...

C. disse...

Sim, concordo. Inclusive já me questionei tb várias vezes, porque algumas atrizes negras SÓ fazem papel de subalternas na novela. Já vi situações assim na tv de forma amiúde. Incrível! ¬¬
Lola, infelizmente - pode ser pessimismo meu -, sempre haverá uma parte que se importará, acima de tudo, com o beijo GAY, o ato de respeito, porém entre GAYS e etc. Infelizmente, algumas pessoas se orgulham da própria ignorância. Aí é que eu digo que o ignorante é diferente do ''burro'' (até porque nunca entendi a alusão ao pobre animal, rs). Pois o ignorante se orgulha da sua alienação, é arrogante por achar que está certo e pronto. Eu acho engraçado é que as pessoas reprimem (de forma nítida, ou dessa forma subentendida) um ato de amor, cumplicidade... Elas preferem ver apenas que são GAYS. SÓ. Sendo que eu mesma já vi na TV, a própria emissora tratando violência contra a mulher (entre um casal hetero) como se fosse algo não tão grave assim. Pois a história trata-se daquela mulher que apanha do marido, mas vez ou outra ainda vai pra cama com ele e no final ainda o perdoa como se nada tivesse acontecido. É quase que dizer que ''no fundo, mulher gosta de apanhar''. E esse tipo de coisa eu não vejo as pessoas vendo com essa indignação. Ou no zorra total, eles usando a mesma visão do Rafinha Bastos, quando uma das personagens é cutucada no metrô por um tarado sem noção e a amiga diz que ela deveria aproveitar, por ser feia. Quantas mulheres sofreram abusos assim nos transportes? Isso não é brincadeira e nem engraçado. É pra isso que as pessoas deveriam usar a indignação.

Beijos.

Starlin disse...

Dilma é presidente, certo? Presidenta é errado, não é?

Luiz Prata disse...

Starlin,
as duas formas (presidente e presidenta) estão gramaticalmente corretas.

Anônimo disse...

Paulo Roberto.

Só pra lembrar, vc afirmou que o mero sinal do sujeito ser soropositivo, ele era fuzilado. VC FALOU MERDA.

Depois, o próprio Fidel já se retratou em relação à política cubana com homossexuais. Vc afirmou que evangélicos e homossexuais eram "fuzilados". Fez uma afirmação categórica. Quais são as provas? Vc não acha que é idiotice vir berrar qualquer merda em um blog claramente de esquerda?

Esse tipo de discurso "irrefutável", cheio de energia, cheio de paixões, não vai levar à muita coisa aqui. Principalmente por que ele é falacioso, o intuito do seu discurso já se revela pelos comentários no post passado, afirmando que, na década de 60, quando a pessoa era diagnosticada como soropositivo, era morta. Por isso que ninguém foi morto, né? Tá aí, entendi, era uma piada sua, saquei.

Daní Montper disse...

É que nem ouvir que as novelas agora estão cheias de viadagem, só porque tem um personagem ou outro que é gay - ainda que nem cheguem a ter um relacionamento mostrado como dos heteros nas novelas - e toda a trama do personagem será reduzida a sua sexualidade.
Ou você conhecer alguém que é gay ou trans e apresentá-l@ a outras pessoas falando que é meu/minha amig@ gay/trans como se essa fosse a coisa mais significante (ou a única coisa) a se falar del@.

Ou então quando as negras que ganham destaque em novelas são aquelas que não têm os traços étnicos tão fortes - parecem mais brancas de tom de pele mais escuro.

Paulo Roberto disse...

--- CABANADEINVERNO ----

Nessa época não se conhecia a causa da AIDS, a síndrome foi estudada durante anos para se levar a conclusão, ainda com ideias dissidentes, de que é causada por um retrovírus. O teste de soropositividade surgiu muito tempo depois dos fatos relatados.

Na Califórnia, antes de se ter conhecimento do retrovírus HIV as pessoas com os sintomas da síndrome, AIDS, era confinada em áreas isoladas, porque havia temor de ser um vírus de alto poder contaminante.

O medo da AIDS surgiu em função dessa primeira abordagem que foi dada, com um potencial risco de vida para toda a população mundial, assim como foi feito recentemente com o vírus da gripe aviárias, o H1N1.

Em Cuba os suspeitos de estar com a síndrome foram levados para esse campo de concentração. Qualquer dúvida basta pesquisar o termo "campo de concentração Guanahacabibes", se possível em francês, pois quem documentou as atividades desse centro foi uma Universidade Francesa.


--- STARLIN ---

Tanto faz. As duas formas, linguisticamente, são corretas e plenamente aceitáveis.

A forma PRESIDENTA segue a tendência natural de criarmos a forma feminina com o uso da desinência “a”: menino e menina, árbitro e árbitra, brasileiro e brasileira, elefante e elefanta, pintor e pintora, espanhol e espanhola, português e portuguesa.

Na língua portuguesa, temos também a opção da forma comum aos dois gêneros: o artista e a artista, o jornalista e a jornalista, o atleta e a atleta, o jovem e a jovem, o estudante e a estudante, o gerente e a gerente, o tenente e a tenente.

Letícia Rodrigues disse...

A unica pessoa que usa a imagem do Chê Guevara aqui nesse blog é o Flávio Brito, que só aparece para postar sempre a mesma frase. Mas como esse post não fala sobre mascus, ele não comentou nem vai comentar sobre.

Depois, quem usa camisa do Chê Guevara o faz pq se identifica com determinados ideais políticos, e não com crimes contra os direitos humanos e homofobia.

No filme "Personal Chê" é mostrado que na China a imagem dele é usada por quem luta contra a a ditadura comunista do país, pq ele é visto como símbolo de luta contra a opressão.

Anônimo disse...

"Nessa época não se conhecia a causa da AIDS, a síndrome foi estudada durante anos para se levar a conclusão, ainda com ideias dissidentes, de que é causada por um retrovírus. O teste de soropositividade surgiu muito tempo depois dos fatos relatados."

Então vc admite que falou MERDA?

Bruno S disse...

Essa discussão me lembra um amigo homofóbico que ficou assustado por ter visto o "Che dando a bunda" em Má Educação.

Acho que essa cena, ainda mais protagonizada pelo Gael Garcia Bernal, galã latino dos anos 2000, acabou chamando mais atenção que o resto do filme.

Paulo Roberto disse...

--- LETÍCIA ----

Interessante como o símbolo muda de significa ao longo do tempo. Nos estudos de filosofia existe uma preocupação muito grande com o símbolo.

Os sons da fala são símbolos fonéticos, as letras e as palavras são símbolos. Nós interpretamos os símbolos de acordo com nossa cultura.

E muitas vezes a cultura humana cria um novo símbolo a partir da degeneração do símbolo original.

A imagem do Guevara morto é um símbolo religioso, lá em La Higera ele é chamado de Santo Chê porque os militares deixaram ele na mesma posição que o Cristo era representado na região, aquele quadro do Cristo sendo retirado da Cruz, com Maria se lamentando. Isso o converteu em um santo milagreiro lá na região onde ele morreu.

E pelo mundo afora vem essa representação, infelizmente as pessoas não estudam a história para conhecer esse lado de homocida e homofóbico que esse Argentino tinha.

Eu mesmo fui até a casa onde ele passou a primeira infância, vi as árvores que ele relatou que gostava se subir, tomei água no riacho onde a mãe dele dava banhos de imersão devido o problema respiratório.

Eu conheci a origem e estudei o fim.

Augusto disse...

Sim, concordo muito com tudo que está no texto. Gays são sempre mostrados como gays. O BBB10 foi considerado gay porque tinha um drag queen, um gay e uma lésbica. Nem teve um casal gay. E o fato de ter esses gays fez com que um grande homofóbico ganhasse o prêmio.

Paulo Roberto disse...

--- CABANADEINVERNO ----

Nessa época não se conhecia a causa da sindrome, não havia teste. Os testes de HIV

Nessa época se conhecia apenas os sintomas da síndrome, inicialmente se acreditava que era uma poderosa infecção pulmonar porque os primeiro mortos estudados morreram de pneumonia.

Eu não falei nada errado, você que se recusa a entender o que foi dito.

Nessa época quem desenvolvia os sintomas da AIDS, ou seja, que já tinha o sarcoma de Kaposi e perda de massa muscular, Portanto essas pessoas eram isoladas e estigmatizadas pela sociedade porque havia o temor de ser algo altamente contagioso.

Apenas após a definição dada pelo Instituto Pasteur da França sobre a questão do retrovírus que passou a haver um tratamento mais brando para o HIV / AIDS.

Porém até essa definição, qualquer pessoas com os sintomas da síndrome, ou seja, já desenvolvendo a doença de forma terminal, era fortemente segregada.

Na Califórnia havia um centro de detenção para abrigar as pessoas com a síndrome onde o pessoal do governo usava aquelas roupas blindadas que se vê em filmes.

Cuba resolveu de uma forma mais simples. Mandava todos para Ganahacabibes.

Anônimo disse...

"E pelo mundo afora vem essa representação, infelizmente as pessoas não estudam a história para conhecer esse lado de homocida e homofóbico que esse Argentino tinha.

Eu mesmo fui até a casa onde ele passou a primeira infância, vi as árvores que ele relatou que gostava se subir, tomei água no riacho onde a mãe dele dava banhos de imersão devido o problema respiratório.

Eu conheci a origem e estudei o fim."

Faz-me o favor. É fato histórico que Che lutou contra a repressão de Fungencio, não há dúvida enquanto a isso, assim como não há dúvida que, de birra, EUA embargou Cuba.

O que eu acho interessante é essa tentativa de desmoralizar Che Guevara, quase como uma tentativa de, por consequência disso, desmoralizar o próprio marxismo/comunismo. Ainda mais se baseando em "beber do riacho que ele bebia". Que se foda o riacho que ele bebia.

Anônimo disse...

E vc foi bem claro - Se fosse soropositivo, era morto. Se liga.

A respeito do tratamento que era dado aos homossexuais no início da revolução cubana, como eu já disse que está em inúmeros videos e entrevista, o próprio Fidel Castro se retratou.

É interessante falar sobre Ganahacabibes, por que é como falar do Foro de São Paulo. É uma entidade maligna perversa que só os conservadores e seus estudos conhecem, enquanto a esquerda manipulada nem imagina o que é. O que é fato, é que presos políticos eram mandados para campos de concentração para trabalhos forçados ou, simplesmente, isolamento.

Anônimo disse...

E também vale colocar outra questão:

Rousseau defendia princípios liberais, na vida prática. Somos todos (os que defendemos) idiotas por citarmos Rousseau? Em detrimento de seus princípios liberais deve-se jogar fora todo o restante?

Eu não sei se Che Guevara era homofóbico, nem ligo, mas sei que ele fez parte da revolução cubana. A revolução cubana que é o objeto em questão, não o sujeito que fez parte dela.

Anônimo disse...

Ou melhor,

"não o indivíduo em particular que fez parte dela"

Pandora disse...

Perfeito, texto perfeito do começo ao fim!!!

Roberto Lima disse...

Tem gente que realmente não sabe o que diz:
"No ano de 1962 houve a sua maior lotação e os constantes fuzilamentos. O Ernesto Che Guevara escolheu o local e supervisionou a construção e os primeiros fuzilamentos.

PORÉM O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NÃO FOI FECHADO COM A MORTE DE GUEVARA. Mesmo após a morte de Ernesto Che Guevara o campo de concentração continuou funcionando durantes mais de duas décadas, com o mesmo objetivo."

Bom...duas décadas, então foi de 1962 a 1982. Os primeiros casos que ficaram conhecidos como "Peste Gay" foram em 1982, na América. O primeiro caso diagnosticado em Cuba foi em 1985, e a primeira morte por AIDS em 1986.
Uma delegação americana foi a Cuba em 1988 avaliar a conduta do sistema de Saúde cubano em relação à AIDS, que incluía um período de quarentena em hospitais. Vale lembrar que doenças como a tuberculose e a hanseníase também exigiam isolamento até recentemente.Enquanto não foram estabelecidas as formas de transmissão e contágio do HIV, era algo perfeitamente plausível.

Está havendo uma clara confusão de datas por parte do anti-Che.

Tatiana disse...

Nunca vou entender o incomodo que certas pessoas sentem com a existência de personagens gays em novelas, filmes e seriados. E o mais curioso, é que o dito incomodo só aparece quando homossexuais são retratadas como pessoas normais, pessoas que trabalham, sofrem, amam,beijam (nunca nas novelas da globo),transam (nunca nas novelas da globo again)...
Essas mesmas pessoas não se incomodam quando gays e lésbicas são tratados de forma esteriotipada e precoceituosa em programas humorísticos de péssimo gosto. Porque neles homossexuais aparecem como anormais, como sujeitos fúteis e superficiais que não trabalham, não sofrem, não amam...
Acho que entendo porque esse incomodo desaparece: como gays são retratados como personagens caricaturais, eles se distanciam dos heterossexuais,das "pessoas normais" . Assim, heteros podem dar graças a Deus por não se identificarem em momento algum com o personagem homossexual: "ele é o anormal, é ele que foge ao padrão".
Como vivemos em uma sociedade heteronormativa, alguns heterossexuais (e até mesmo homossexuais) devem se sentir aliviados ao concluir que não se parecem em nada com o gay que mora ao lado.

Tatiana disse...

E perfeito o guest post!

natalie catuogno consani disse...

Sensacional o post!
O Má Educação é um dos meus filmes prediletos de todos os tempos.
Não sou gay, mas acho bem limitado e limitante esses rótulos que se colocam em situações que não representam apenas a maioria.
Má Educação não é um filme gay, trata de emoções comuns à espécie humana (e a outras espécies também, sou contra o especismo, bichos também amam). Nem o Brokeback Mountain eu acho "gay". É um filme lindíssimo sobre o amor, sobre os desencontros amorosos, sobre o preço das nossas escolhas... E as cenas de amor -tanto num quanto no outro- são ótemas.
Muito bacana trazer essa questão à baila.

Lorena disse...

Guest post perfeito, perfeito! Parabéns ao autor!

Já pensei muito sobre isso, já reparei muito nisso, e pra mim também é difícil entender porque a homosexualidade de um indivíduo (seja numa peça midiática ou não) se sobressai tanto sobre o todo do indivíduo, sobre sua história, etc. Talvez essa minha dificuldade em entender isso seja, obviamente, porque eu sou gay, assim como o autor do post e outros que postaram a mesma coisa aqui. Nós, que somos gays e crescemos sem referencial algum da nossa sexualidade, não temos a mesma visão em relação às pessoas heterossexuais; não colocamos sua sexualidade acima de todo o resto, porque sempre nos acostumamos a ver heterossexuais como um todo. Assim, também esperamos que nos vejam como um sujeito completo. Mas isso não acontece, gente, quase nunca.

Eu costumo dizer que se assumir gay é carregar uma marca eterna no meio da testa. Ser homosexual é ser homossexual, e pronto. As pessoas não vêem mais nada, tudo fica ofuscado por essa informação que, teoricamente, deveria ser irrelevante. É assim quando assumimos pra família, é assim quando assumimos pros amigos, e é assim no mundo também.

E é assim com negros e outras minorias, também. Estávamos conversando, eu e a minha companheira, justamente sobre como a mídia poderia ajudar no combate ao racismo(ela é negra e trabalha com mídia) se SIMPLESMENTE se dignasse a colocar negros em papéis e posições de destaque nas suas peças. Exatamente pelo motivo que o autor do texto aborda, porque estar na mídia é "normalizar" algo. Ajuda a construir socialmente a visão de que não há nada de errado em ter negros advogados, médicos, empresários, políticos, pessoas bem sucedidas. Assim como ajudaria muito ver gays e lésbicas tratados com dignidade, como pessoas normais, sujeitos completos. E não apenas como mais um personagem gay que só existe pra ser gay. Isso cansa.

Lorena disse...

E sobre o filme e Almodóvar... adoro Má Educação, adoro Almodóvar e ainda estou esperando a segunda parte da crítica da Lola de A Pele que Habito! :P

Ragusa disse...

Presidente tem feminino: presidenta.
Não é um substantivo comum de dois gêneros. É bom se questionar sobre o porquê da resistência em usar a forma correta. É a primeira presidenta e estamos no ano de 2012. A mesma coisa em relação aos filmes com temática homoerótica. É muita resistência nesse caso - e de fato a pessoa não quer admitir de forma alguma que é homofóbica.

Carol disse...

Amo o Almodovar, mas achei a Pele que Habito uma versão cult de Centopéia Humana. Má Educação é bom, mas acho o tema meio batido (internato, pedofilia, etc.) Mas o Gael fica lindo vestido de mulher.

De qualquer foram, gosto como o Almodovar foca nos sentimentos e angústias femininas e homossexuais, mas acho que ele usa muito os esteriótipos. Brokeback Mountain, nesse sentido, é muito mais terno. É um filme lindo sobre duas pessoas que se amam mas que não podem fazê-lo abertamente.

Do Almodovar, acho Fale com Ela, Volver e Tudo sobre minha Mãe divinos.

Feminazi Satânica disse...

Taí, nunca vi um filme que tratasse do "heterossexualismo". Bizarro. Deixando a ironia de lado, acho que é dessa forma que as pessoas transparecem qualquer traço de homofobia ou estranhamento. Ao interpretar que o filme trata do "homossexualismo", está se deixando de lado o fato das pessoas se identificarem com os personagens, independente de serem homo ou não.

Vi o filme "Como esquecer", o qual a Ana Paula Arósio faz o papel de uma mulher que acaba de terminar o relacionamento com a companheira e passa por todo o drama que TODO MUNDO que já foi deixado ou deixou alguém, sabe como é. A maioria dos personagens desse filme são GAYS, a protagonista É LÉSBICA, e tudo o que consegui enxergar foi uma pessoa que estava tentando esquecer um amor, e me identifiquei com isso, por já ter passado por isso. O nome disso é empatia com o personagem. O não-homofóbico não vai reparar se o casal da trama é homo, hetero, bi ou tri. Vai simplesmente se deixar livre para perceber o que realmente é importante no filme, no caso, como esquecer uma pessoa depois de um relacionamento conturbado (algo que todo ser humano já passou), ao invés de dizer que o filme tem como cerne a orientação sexual de alguém. O cerne é o sentimento humano, e só!

Elaine Cris disse...

Me parece que a maioria não se incomoda com personagens gays em novelas e filmes desde que eles sejam representados da forma mais estereotipada possível e claro, puxando pro lado do humor.
É como o personagem do Marcelo Serrado. As pessoas parecem gostar de rir dos trejeitos, das falas. Mas a partir do momento que o personagem gay é mostrado como um ser humano, que tem suas dúvidas, seus conflitos, não está ali unicamente pra divertir o espectador, aí o velho preconceito vem à tona.
Talvez daí um incômodo de muitas pessoas com esse filme.

Carol M disse...

Alguem que usa o termo homossexualismo a sério não tem nem um pouco de credibilidade...

Anônimo disse...

Dostoievsky, eu nunca pensei que fosse falar isso, mas eu quero que vc vá tomar no seu cu!

Dostoievski disse...

"cabanadeinverno disse...

Dostoievsky, eu nunca pensei que fosse falar isso, mas eu quero que vc vá tomar no seu cu!"

Você está enganada sobre mim, os que tomam no cu são justamente os que são fervorosamente defendidos nesse post. rs

aiaiai disse...

Caríssimo Daniel!!!! Que texto lindo!
O filme do almodovar é tão sobre gay, como o Telma e Loise é sobre mulheres. Mas um "Butch Cassidy and the Sundance Kid" NÃO é sobre homens. Claro, porque falar de homem é coisa NORMAL!!!
Não vi o filme Má Educação. Vou tentar ver já. Mas o que seu texto disse foi além de qq crítica cinematográfica. É uma crítica a forma como a sociedade resiste a perceber realidades que ela não quer que sejam realidades.

Dostoievski disse...

"cabanadeinverno disse...

E também vale colocar outra questão:

Rousseau defendia princípios liberais, na vida prática. Somos todos (os que defendemos) idiotas por citarmos Rousseau? Em detrimento de seus princípios liberais deve-se jogar fora todo o restante?

Eu não sei se Che Guevara era homofóbico, nem ligo, mas sei que ele fez parte da revolução cubana. A revolução cubana que é o objeto em questão, não o sujeito que fez parte dela."

E o que foi a revolução cubana senão uma cagada em cima da outra? Para os apologetas da revolução eu pago de boa vontade uma passagem só de ida pra Havana ou Pyongyang. kkk

Dr. V. Vendetta disse...

A Revolução Cubana é o exemplo máximo do socialismo. O socialismo é algo que funciona enquanto alguém está pagando a conta.

Enquanto os Soviéticos pagavam as contas de Cuba tudo funcionava, quando a URSS entrou em falência na década de 80, Cuba explodiu e milhares de cubanos atravessaram o mar a nado para chegar aos EUA.

Quando a URSS explodiu em 1991 o governo da ilha começou a fazer políticas liberais e abandonar o socialismo bem lentamente, assimo como a China e todos os antigos soviéticos.

Em tempo: quem conduziu a reatação diplomática entre Brasil e Cuba no ano de 1986 foi a indústria Dedini S/A, fabricante de equipamento para usina de açucar e alcool. A reatação diplomática objetivou a venda de equipamentos pesados fabricados pela Dedini para os cubanos que já estavam sem os soviéticos.

A negociação política foi feita pelo deputado Antonio Carlos de Mendes Thame, PSDB-SP e homologada pelo presidente José Ribamar Ferreira de Araújo Costa - PMDB-MA.

he he he he he bem de esquerda os políticos e todo o processo. Entendam que não existe esquerda e direita. O que existe são pessoas que chegam ao poder e fazem a festa.

Anônimo disse...

ah Rousseau Rousseau Rousseau...

escreveu lindamente em prol da educação infantil e os quatro filhos que ele teve com a empregada da casa foram todos abandonados numa instituição governamental de caridade... não se sabe que fim levaram as crianças.

Anônimo disse...

"E o que foi a revolução cubana senão uma cagada em cima da outra? Para os apologetas da revolução eu pago de boa vontade uma passagem só de ida pra Havana ou Pyongyang. kkk"

É isso? Ok, paga pra mim.

Eu te pago uma passagem de ida pra Ruanda.

Anônimo disse...

"A Revolução Cubana é o exemplo máximo do socialismo. O socialismo é algo que funciona enquanto alguém está pagando a conta."

Isso não é uma contradição? O socialismo é algo que funciona quando alguém (outra país socialista) está pagando tudo.

E quem está pagando esse alguém? Um terceiro país socialista? Ad infinitum?

Clara Morais disse...

Putz, que belo Guest Post, hein... Assino em baixo de tudo que esse moço falou.

Mas vc podia ter poupado ele do "bonitão", né? Sei lá, eu não gosto que elogiem minha beleza quanto estou no meio de um discurso ativista, especialmente se é de teor feminista. Os homens não são tão estigmatizados, mas ainda assim seria legal manter o politicamente correto...

Viajei demais?

Anyway, por outro lados temos a homossexualidade feminina retradada de forma a atender a fantasias masculinas heterossexuais que são amplamente aceitas pela sociedade hétero. Algumas mulheres hétero até se prestam ao papel de transar com outra mulher para agradar o maridim vouyer, ou se beijam a contragosto para excitar os espectadores. Aí eu penso que, para atender aos interesses dos homens, até a homofobia se flexibiliza... Na riqueza ou na pobreza, os homens se dão melhor de qualquer jeito... ¬¬'

Mas que mundo, viu...

Clara Morais disse...

*embaixo!! Não sei que me deu que eu botei um espaço ali no meio... Eu não sou analfa não, tá gente? Antes que pensem que sou troll... Ô.Ô'

Anônimo disse...

em inglês sugiro o DVD
"Capitalism at the Crossroads" with Hernando de Soto Polar
http://www.youtube.com/watch?v=06Fd76fV3PI

eu vi o vídeo na TV educativa americana (PBS) com duração de uma hora.

Hernando de Soto (Hernando Soto originally, born 1941) is a Peruvian economist known for his work on the informal economy and on the importance of business and property rights. He is the president of the Institute for Liberty and Democracy (ILD), located in Lima, Peru.[1]
http://en.wikipedia.org/wiki/Hernando_de_Soto_Polar

Anônimo disse...

"The legal system in some developing countries is the main obstacle according to him [Hernando de Soto]." --a comment from BruceFog

here:
http://www.youtube.com/watch?v=tYe7lbT-I8A

Camila Fernandes disse...

Eu tenho que concordar totalmente com o comentário dele, Lola!

Como estou numa correria agora e comentando esse post atrasadíssima, vou me segurar e falar pouquinho dessa vez.

Para mim, um filme que fala sobre homossexualidade é o Milk, do Gus Van Sant com o Sean Penn. Afinal, conta a história de um político gay e sua luta para ser eleito, os preconceitos que ele enfrentou exatamente pela sua sexualidade e o impacto das decisões que ele tomou ao longo da vida na sua carreira política.
Agora, se a gente pensa num filme como o Felizes Juntos, do Wong Kar Wai, eu acredito que não dá para dizer que é um "filme sobre homossexualidade". Também é um filme sobre o amor, da mesma forma que My Blueberry Nights e In The Mood For Love(dos quais eu não me recordo os títulos em português).

Ainda não vi o Má Educação (mas está devidamente anotado aqui, na minha listinha), mas acredito que com o exemplo que eu dei tenha conseguido explicar o que eu penso!

Beijo grande, para a Lola e para o autor desse guest post que eu adorei!

Anônimo disse...

"O não-homofóbico não vai reparar se o casal da trama é homo, hetero, bi ou tri. Vai simplesmente se deixar livre para perceber o que realmente é importante no filme, no caso, como esquecer uma pessoa depois de um relacionamento conturbado (algo que todo ser humano já passou), ao invés de dizer que o filme tem como cerne a orientação sexual de alguém."

Muito pelo contrário. A homofobia não está em reparar a sexualidade, mas em fazer da situação, exclusiva. É óbvio que todos vão reparar na sexualidade, seja pra dar uma de "Olha só! Filme de temática gay" ou pra falar exatamente o contrário "Olha só, um filho da puta homofóbico achando que o filme é de tematica gay!"

Enquanto houver debate sobre homofobia, não haverá essa "sublime moral" de não reparar na sexualidade (neste caso, como exemplo). Não reparar, no fim, é forçar não reparar, o que, no fundo, é reparar do mesmo jeito.