quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

TEM QUATRO RODAS? É CARRO

Visitei o NAIAS (North American International Auto Show,) um dos maiores salões automotivos do mundo, porque acontece aqui em Detroit, e achei que fica mal que jornalistas venham do Brasil pra prestigiar o evento, e logo eu, que tô morando aqui, não compareça. Então com muito esforço desembolsei 12 dólares. O maridão foi também, bem mais entusiasmado que eu, lógico, porque ele é homem. Sério, deve ter alguma coisa sobre carros, velocidade e potência que apela quase que exclusivamente ao sexo masculino. Quero dizer, conheço várias mulheres – praticamente todas, pra ser franca – que entendem e gostam de carro mais do que eu. Eu não sei distinguir marcas ou modelos, apenas cores, e algumas são meio parecidas. Já confundi uma Kombi com um Fusca (só uma vez!). Na minha opinião, carro é só um meio de locomoção pra me levar de um lugar a outro. Não sei se estou sendo clara sobre como ir a um salão desses representa tanto pra mim como ir a uma convenção de jujubas amarelas ou a uma feira de degustação de frutos do mar (não como esses troços).
Mas o NAIAS atrai mais de 6 mil jornalistas de todo o planeta e acrescenta uns bons 100 milhões de dólares à combalida economia de Detroit. Provavelmente só eu penso que a combinação de carros e modelos magérrimas decorando os automóveis lembre a ante-sala do inferno. Inclusive, quando vi o maridão gritar “Ahh! Um Rolls-Royce!” e correr em direção ao trambolho que custa meras 495 mil verdinhas, percebi que sou uma voz clamando no deserto. Ainda disparei um “Te conheço?!”, mas ele já estava babando ao lado do carrão e tirando dezenas de fotos. Um segurança, tentando ser gentil, me perguntou se eu gostava daquele carro. Eu respondi a verdade, que carro pra mim não é sinal de status nem nada, e eu nem sabia o que estava fazendo ali, e ele carinhosamente fez “sim” com a cabeça. Ignoro se sua reação foi por ele também pensar assim ou por ter ouvido a vigésima-quinta resposta igual no dia vindo de uma visitante-mulher pra lá de entediada.
O que mais impressiona nos EUA é a enorme quantidade de pickups circulando pelas ruas, e no salão é parecido. Só tem carrão, desses que consomem montes de litros de gasolina, e que os ecologistas juram que daqui a pouco serão tão vilões quanto o cigarro é hoje. Um veículo pequeno, como o Uno-Mille que eu tinha no Brasil, não existe aqui. No NAIAS havia somente uma exposição de um mini-carro, o Smart, acho que da Subaru. É pra dois passageiros e é uma gracinha, o tipo de carro que eu gostaria de ter, ainda mais se fosse movido a energia solar (meu sonho de consumo). Custava a partir de 11,500 dólares. Nas paredes dessa exposição havia vários cartazes escrito “Abra sua mente” e “Pense diferente”, porque, realmente, pra fazer americano comprar um carrinho desses, só com uma grande mudança de valores ou uma subida radical no preço do combustível. Suponho que essa última alternativa virá antes. (Aguarde uma coluna minha em que comentarei o excelente documentário “The End of Suburbia”, que explica como os subúrbios nos EUA estão fadados ao fracasso quando ficar caro demais dirigir um carro. Outro documentário que planejo discutir chama-se “Quem Matou o Carro Elétrico?”).
Deve ter sido o mesmo pessoal que matou o transporte público em Detroit. Ou seja, as empresas automobilítiscas americanas, que produzem carros mais caros, mais poluentes, e menos eficazes que suas rivais asiáticas, fecham fábricas em Michigan para abri-las no México, pagando um décimo dos salários, e ainda têm a cara de pau de distribuir sacolas dizendo “Buy American” (algo como “Compre Produtos Americanos”), como a Ford fez durante o salão. Esse é um slogan tão da década de 80...

Enquanto isso, em Nova York...
Tô chutando, mas imagino que Nova York seja a única cidade americana em que a maior parte da população não tem carro. Em Manhattan, pelo menos, poucos edifícios vêm com garagens, o que quer dizer que, pra guardar o carro, é preciso pagar um estacionamento. O preço disso varia entre 200 e 1,300 dólares por mês. Só pra estacionar! Fora o gasto com gasolina, impostos diversos, e o próprio valor do carro. Compare com os 2 dólares que sai a passagem de metrô, e a gente começa a entender por que nos filmes do Woody Allen todo mundo só anda de táxi.

10 comentários:

Anônimo disse...

viiiiiva! vc agora tem um blog, Lola! Saiba que vc é 'ídola' minha e do meu marido. Adoro td que vc escreve, de cinema a opiniões. Nós nos identificamos muito com vc.


Vc é a melhor!

vou ler seu blog todo dia!!!

bjs bjs bjs

lola aronovich disse...

Puxa, Nídia, que amor! Obrigada mesmo pelos elogios. Sejam bem-vindos, vc e o maridão, e comentem sempre... inclusive quando discordarem de alguma coisa. Abração!

Anônimo disse...

O que??? Eu li direito? A Lolinha no Salão do Automovel? Gente!, a Lola abandonou as crônicas e criticas e esta escrevendo ficção!! :)

Mas da pra ver que o Salão te marcou bastante: smart da Subaru? So se nos EUA o smart pertencer a um outro grupo. Na europa, se eu não me engano, é dos relogios Swatch e da Mercedes Benz... rs

Eu estive no Salão do Automovel de Paris em 2006, foi beeeeem bacana. Uma vontade de levar o Volvo XC90 pra casa e assumir minha identidade de monstro poluidor! :)

Lola, parabéns pelo blog, é uma delicia! Eu estou tendo uma overdose de Lola por aqui, lendo um apos o outro todos os artigos ja publicados :D

Na falta de uma companhia pro poker e com uma saudade imensa das conversas e risadas, pelo menos tem o blog confirmando a cada artigo: ah! Essa é a Lolinha de sempre!

Abraço enorme Lola! Pra ti e pro maridão (o nome dele pode ser citado neste blog ou ele fica realmente so como o coadjuvante anônimo mais maltratado e injustiçado do planeta? rs...)!

Elton Jones
(yes, I still exist, I'll send news through email ;) )

Andrea disse...

Muito legal vc falando desse passeio. Quando estive em Detroit lembro de ter ido em algum lugar com carros, acompanhando amigos do sexo masculino obvio, pq sozinha tb nao iria a esses lugares, nem pq todos os jornalistas do mundo estao indo visitar... uhauhauhauhauha...

E sim, precisamos descobrir o que de tao interessante existe nos carros que só os homens sabem o que é...

Liris Tribuzzi disse...

Eu sempre quis ir a um desses salões e a Lola esnoba!

Laíza disse...

ei já lia seus textos no lost art e agora, com o blog, tem a possibilidade de ver você desenvolver outros assuntos como... carros! adorei mesmo o texto e acho que essa coisa do carro como uma ameaça poluente é mais real do que a gente imagina. me desloco prioritariamente a pé, pego ônibus pra quase todo lugar e carona sempre que possível. não tenho carro, mas não faço questão não. acredito que pequenos sacrifícios ajudam o planeta e eu quero ter parte nisso!

;*

lola aronovich disse...

Eltinho querido, o sumido! Como vc está? Obrigada pela mensagem. Que bom que vc tá prestes a ser despedido e mandado embora da França por ficar todo o tempo em que deveria estar trabalhando lendo o meu blog. Sinto-me honrada! Comente mais, e não desapareça. O maridão pode ser chamado de Silvio ou Silvinho. Ele não tá se escondendo... pelo menos por enquanto. Quando eu começar a revelar TODOS os podres dele, talvez aí ele passe a usar pseudônimo. Por exemplo, podre 1. Sabia que hoje tá nevando um monte aqui em Detroit? As escolas estão fechadas. Parece que tem 8 inches de snow nas ruas. E o maridão diz: "Você vai se divertir!". Só pode estar querendo ver o meu cadáver. Hoje não saio daqui de jeito maneira.

lola aronovich disse...

Andrea: é um mistério! O que atrai os homens aos carros? Eles devem ter sofrido uma lavagem cerebral na infância.
Liris: vc tambem sofreu uma lavagenzinha? Vai, vai a um desses saloes e depois me conta... Sei lá, a única coisa que tinha pra mulher por lá era um stand que vendia brownies. Era caro demais, mas fiquei perto aproveitando o cheiro. Que cheiro!

lola aronovich disse...

Lah, concordo contigo! Dá pra viver sem carro sim. Na minha infância e adolescência meus pais não tinham carro. A gente só andava de táxi (e mais tarde, ônibus). Parece caro, mas se colocar na ponta do lápis, sinceramente, acho que sai mais barato pruma família de 5 pessoas pegar táxi do que ter 2 ou 3 carros. Carro é caro! Não dá pra calcular só a gasolina e o valor do carro, tem que incluir IPVA, seguro, estacionamento, limpeza, manutenção... Mas não posso falar muito, porque quando voltar pra SC vou comprar unzinho (um Uno). Só que tem muita vantagem não ter carro! Acho legal que vc se sacrifique. Onde vc mora?

Leila disse...

Não só nos filmes de woody allen, em um mooooonte de filme e seriado o pessoal q mora em ny só usa taxi ou metro, o q eu acho super! de verdade!

eu ia falar q o smart car é o sonho de consumo do meu pai, nao tanto o meu, mas meu sonho de consumo é um carro eletrico ou a energia solar, o q eu acho suuuuper!!!

Mas pra falar a verdade eu gostaria tbm de um carro grande pq quero viajar bastante entao tem q caber as malas, mas no Canadá o mais interessante é fazer viagem de trem ou avião que é mó pexincha!

Mas smart car é um ótimo carro