Mostrando postagens com marcador virgindade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador virgindade. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 2 de março de 2016

"DESABAFO SOBRE MINHA VIRGINDADE"

Recebi este relato da E.:

Procurando por postagens sobre o assunto na internet e tentando de alguma forma me encontrar, acabei lendo e relendo várias postagens sobre virgindade no seu blog. Tenho 21 anos e sou virgem. 
Confesso que gostaria de perder logo minha virgindade, pois não aguento mais sair com caras com a tensão de que se rolasse uma química, eu teria que me esquivar pois não me sinto bem falando que sou virgem pra todo mundo. 
Tenho medo até onde o tabu ou a compreensão masculina sobre o assunto pode ir, pois não tive boas experiências. Já fiz alguns tipos de sexo que não incluíram penetração. Em todos elas não consegui sentir muito ou quase nenhum prazer, pois o fantasma sobre revelar que eu tinha um hímen me assombrava. 
Uma vez tirei a mão de um cara apressadinho que tentava me dar prazer de um jeito que estava escrito na cara dele que tudo tinha que ser rápido pois ele queria me penetrar logo. Nesta ocasião ouvi um "Você não é virgem, é?". Foi uma pergunta que afirmava que eu não podia ser. Eu não respondi. Ele ainda chegou a insistir dizendo que não iria doer e que eu iria gozar mais rápido. Por pressão psicológica, por aquela ser uma chance de ter alguma experiência sexual, e também com um jeito de acabar com aquilo logo, acabei fazendo sexo oral nele. 
Eu sou uma garota muito introspectiva, e sempre me cobram reações, não só durante minhas poucas relações afetivas/ sexuais. Eu também sou uma pessoa que me encanto por olhares, sorrisos, gestos. Minhas experiências afetivas também foram um tanto traumáticas. Conheci a maioria desses homens com quem tive estas relações em aplicativos de relacionamento. Não saio muito, e em ocasiões sociais não sei como poderia me aproximar de alguém e me mostrar interessante o suficiente pra quando viesse a grande revelação.
Voltando aos traumas, minha primeira experiência em que tive vontade de consumar o ato parecia que iria dar certo, apesar de não morarmos na mesma cidade. Ele se mostrou a fim, e com o tempo tive a coragem de revelar. Ele pareceu lidar bem com a notícia, mas logo depois mudou. Já não me tratava mais como antes. Perguntei se ele não queria mais. Ele afirmava que não era isso. Com um tempo ele sumiu, simplesmente desapareceu. Parou de falar comigo. E eu sofri. Ele tinha outra pessoa. 
Novamente conheci um cara em um aplicativo. Eu estava ainda com o pés atrás por causa dessa última experiência que havia  tido um ano atrás. Mas o conheci. Saímos, tudo parecia bem, tínhamos gostos musicais parecidos. Ele segurou minha mão, olhou nos meus olhos e perguntou se queria passar a virada de ano com ele. Mas um amigo meu me fez o convite antes dele, aceitei, amizade em primeiro lugar. 
Mas passamos o primeiro dia do ano juntos. Foi uma ótima tarde no parque. Depois fomos pra casa dele, ele cozinhou pra mim e fomos assistir um filme no quarto dele. Depois do filme, como todos podem imaginar, ele começou a me beijar. Retribuí, com medo. Enquanto o beijava pensava em interromper e falar logo que eu era virgem. Continuei, com medo. Chegamos em um ponto que não consegui disfarçar meu desconforto e desespero. Para pararmos disse que não estava conseguindo me concentrar nas nossas carícias naquele momento. Paramos. 
Me senti péssima. Tentei disfarçar, cheguei até a pedir desculpas pra ele. Dormimos de conchinha. No outro dia pela manhã começamos a nos acariciar intensamente de novo, apesar das minhas tentativas de fugir e só ficar no carinho mesmo. Dessa vez ele foi mais insistente, mas mesmo assim não consegui sentir raiva nem nada disso. 
O clima quando ele me trouxe em casa era um tanto quanto embaraçoso. Mandei uma mensagem pra ele, agradeci a hospitalidade do dia anterior. E disse que queria mais daquilo tudo. Ele disse que também tinha gostado mas era melhor não forçar. Relutante, eu me vi de mãos atadas: ou revelava ou perdia a chance de ter uma experiência com aquela pessoa que havia me encantado. Revelei. Ele disse que havia imaginado que eu era.
Ele trouxe alguns tabus. Disse que já havia sido o primeiro de alguém e era como "pisar em ovos". Não fiquei calada e desconstruí. Disse que eu me sentia atraída. Ele chegou a perguntar quantas vezes eu havia chegado perto de fazer. Eu declarei que não queria falar sobre o meu passado e que a única coisa que me importava era o que poderíamos ou não ter. A conversa se estendeu mais, o clima era tenso.
Nessa etapa eu já estava um pouco magoada e tentando aceitar que era só mais um flerte que não havia dado certo. Cheguei a desinstalar esses aplicativos e tentar me convencer de que naquela situação esse era um terreno perigoso. No outro dia, ele veio até mim, como quem não quer nada. A partir deste dia nos falamos todo dia. Ele se tornou uma daquelas notificações que quando você pega o celular pela manhã era a que mais importava. Ele estava se mostrando interessado, perguntava o que poderia fazer para me passar segurança. Eu respondi que com o tempo ele me passaria mais. 
Neste ponto já estava envolvida e com o pés atrás, em uma dualidade que não desejo para ninguém. Estava com o pés atrás porque na noite da minha revelação ele também se revelou: tinha conhecido uma garota um dia após o dia em que nos conhecemos. A outra garota também era "muito legal". 
Duas semanas depois, tivemos outro encontro. Fomos ao cinema. Ele andava comigo no shopping como se fossemos "algo". Mãos dadas, carinho e atenção. Ali eu vi o que eu queria e o que tinha medo. Agora o fantasma da "outra garota legal" era o que me atormentava. E eu não conseguia disfarçar. 
Tivemos beijos e carícias neste dia. Eu estava menstruada e havia uma certa distância também. O fantasma número 2 (a outra garota muito legal) não me deixaria consumar, mesmo que fosse num local propício. 
Na semana após este encontro ele estava distante. Não me falava mais como antes. Um dia depois veio a resposta. Ele havia escolhido ficar com a outra. Ela era mais velha, assim como ele, tinha experiências, assim como ele, havia feito o mesmo curso que ele, havia sintonia. Estas foram suas palavras. Neste dia eu desabei um pouco. Por que eu não poderia simplesmente ter a tal "sorte no amor"? Por que minhas histórias tinham que ter sempre um final tragicômico?
É nessa situação que me encontro agora. Quero me livrar deste fantasma, quero perder minha virgindade. Mas quero poder ter perspectivas de que dê certo de alguma maneira. De que haja respeito. Mesmo que seja por uma noite. 
Isso tem me atormentado. Estas relações mal sucedidas e minha virgindade. A não aceitação da sociedade. O machismo. O que poderia ter acontecido se nessas ocasiões em que estive encantada eu não fosse uma "moçoila virgem e frágil". Porque é assim que a maioria vê. 
Eu quero ser vista e aceita como uma mulher. Eu sou de carne e osso. Tenho desejos e também ânsia por carinho e atenção. Só quero me livrar deste estigma. Mas também quero acreditar que posso ter perspectivas na vida, coisa que estas relações me tiraram aos poucos.
Um abraço em especial a todos e todas que lerem e se sentem assim, ou que já se sentiram um dia.

Meus comentários: Querida E., antes de mais nada, admito que não contive o riso ao ler um dos seus flertes dizer que não iria doer e que assim você gozaria mais rápido. A primeira vez quase sempre dói. E deve existir mas, pra ser honesta (coisa que o carinha em questão não foi), eu não conheço uma só mulher que tenha tido orgasmo na primeira relação sexual. Então um bom início é parar de fantasiar que essa primeira vez será mágica, romântica, cheia de amor e orgasmos múltiplos. 
Eu não entendo absolutamente nada de aplicativos de relacionamento, mas pelo (pouco) que ouço falar, nesses lugares as pessoas estão à procura de sexo rápido e sem compromisso. Talvez não seja o local mais adequado pra encontrar o que você está procurando (se bem que não entendi totalmente o que você está procurando). 
Sei que é chato e que há todo um estigma em torno da virgindade, mas não viva sua vida pensando nisso. Quando chegar a hora, quando aparecer uma pessoa bacana, de confiança, com quem você se sinta à vontade, vai acontecer (com camisinha, por favor. Dá pra engravidar e pegar doenças contagiosas já na primeira vez). 
Até lá, faça apenas o que você quiser fazer. Nada de fazer sexo oral pra acabar antes se não é o que você quer. E vá conhecendo o seu corpo. Masturbe-se, veja o que você gosta. 
Ah, e pode apostar que você não é a única pessoa virgem de 21 anos. Não duvido que alguns desses rapazes que você conhece em aplicativos sejam também. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

VIRGINDADE, UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL

Baile da pureza, cerimônia bastante comum nos EUA

Meu querido Flávio me enviou este texto interessante de Wagatwe Wanjuki publicado na Upworthy, que tem muito a ver com este outro, sobre os "juramentos de pureza".

O certificado de pureza de uma mulher viralizou nos EUA. É hora de conversar sobre essa coisa de "virgindade". Parece que o papo sobre virgindade não vai desaparecer. Então vamos colocar as coisas em pratos limpos.
Você é virgem? Certo, a questão pode parecer simples à primeira vista...
Não. Não tão rápido. Quando escarafunchamos o significado real de "virgindade", a coisa fica um pouco mais complicada.
Do mesmo jeito que aconteceu com essa foto que viralizou. Observe: É apenas uma jovem radiante em seu vestido de casamento ao lado do pai em seu grande dia. Não. Não tão rápido. Olhe mais de perto...
Ambos seguram um “certificado de pureza” fornecido pelo médico dela. Agora, eu não estou aqui para criticar o fato de que Brelyn Bowman alcançou um objetivo que era muito importante para ela. Mas tem alguma coisa esquisita em relação à dimensão desse objetivo.
É o seguinte: É impossível “provar” que alguém é virgem usando um teste de hímen.  A base para o teste de Bowman foi saber se seu hímen -– uma membrana no canal vaginal -– ainda estava intacto. Embora tenha funcionado para ela, esse teste já foi desmoralizado há muito tempo como ferramenta para determinar se alguém já fez sexo.
Há duas grandes questões aqui: primeiro, nem todos os hímens são criados iguais. Algumas pessoas nascem com hímens que não estão intactos. E, segundo, mesmo que alguém nasça com ele intacto, o hímen pode romper-se devido a uma variedade de atividades não-sexuais, como andar a cavalo ou ginástica.
Rápido, alguém tire a moça desse cavalo ou ela vai inutilizar todos os obsoletos testes de virgindade!
Ok, então o teste de hímen não funciona. O que funciona?
Espere! Segure esse boi porque estamos colocando-o antes dos carros.
Não existe uma definição estabelecida do que seja a virgindade. As pessoas normalmente dizem  que virgem é alguém que nunca praticou sexo. Mas o que conta como sexo?
Sexo oral conta? Intercurso anal? Convencionalmente, as pessoas tendem a crer que somente a relação pênis-na -vagina conta. Mas então... gays e lésbicas são sempre virgens? E as pessoas que têm outros tipos de contato sexual?
Teste de virgindade é uma afronta
à dignidade de uma mulher
Eu não culparia você por estar coçando a cabeça agora porque tudo isso parece complicado e confuso.
É difícil analisar isso porque a virgindade não é um estado biológico. É uma construção social.
Pense: a valorização da virgindade só afeta mulheres. Não há testes para pessoas sem vagina. Isso porque a virgindade e a pureza sexual emergiram em tempos remotos como uma forma de controlar o comportamento das mulheres. E percebemos isso em todos os padrões duplos que existem entre homens e mulheres.
Apesar de não ser possível provar a virgindade, ela ainda é usada como forma de medir a chamada “pureza” de uma mulher.
Veja o fenômeno dos bailes da pureza: a “santidade” de uma garota é prometida a um protetor masculino (pai) até que seja (presumivelmente) entregue a um marido. (A possibilidade de mulheres jovens jamais se relacionarem com um homem ou se casarem? Impossível).
Não há nada errado em escolher esperar para ter sexo. Mas vamos nos certificar de que damos às pessoas jovens informações factuais que as ajudem a tomar essa decisão. Fornecer educação sexual abrangente, que poderia explicar que um teste de hímen não é uma forma precisa de testar a virgindade, poderia ser um bom começo. Comparar pessoas que têm múltiplos parceiros sexuais à goma de mascar não fornece a base apropriada para se tomar uma decisão amplamente informada.
Um estudo de Harvard revelou que a educação baseada na abstinência não faz um estudante menos propenso a ter uma relação sexual antes do casamento. As chances de haver sexo são as mesmas, mas com menos probabilidade de que métodos contraceptivos sejam usados na primeira relação. Sabe o que de fato ajuda os alunos a adiar o sexo (e a usar métodos contraceptivos desde o início)? Educação sexual abrangente.
Contemple o poder da informação!
A noção integral de que a “pureza” de uma mulher — e consequentemente seu valor — está vinculada a ela ter feito sexo ou não é simplesmente equivocada.
Como diz Jessica Valenti, autora do livro O Mito da Pureza:
"O mito da pureza é a mentira de que a sexualidade das mulheres tem alguma influência sobre quem somos e sobre o quanto somos pessoas boas. Porque, sério, eu acho que todos sabemos que mulheres jovens são muito mais do que se elas fazem sexo ou não. Nós realmente deveríamos ensinar às nossas filhas que nossa capacidade de sermos boas pessoas é baseada em inteligência, compaixão, bondade — e não no que fazemos com nossos corpos".
Não estou julgando Bowman por sua decisão. Em vez disso, dirijo meu julgamento a uma sociedade que perpetua a desinformação sobre sexo e nossos corpos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

"FIZ JURAMENTO PARA ME CASAR VIRGEM E ME ARREPENDO"

Acho que eles querem dizer relacionamento

Meninas em cerimônia de juramento
de pureza nos EUA
Já tem um tempinho que a Lígia me enviou o link de um texto que ela se ofereceu pra traduzir. Agora ela, que é professora de inglês em SP (ligets@gmail.commandou a tradução. Vale a leitura, até porque os "votos de pureza" estão se tornando populares também no Brasil.

“Na fé em que o amor verdadeiro espera, eu faço um compromisso com Deus, comigo mesma, com minha família, meus amigos, meu futuro companheiro, e meus futuros filhos a manter a abstinência sexual de hoje até o dia em que eu me casar perante Deus. Assim como prometo me abster de pensamentos sexuais, toques sexuais, pornografia, e atos que levam à excitação sexual.”
Aos dez anos de idade, eu fiz uma promessa, na minha igreja e junto a um grupo de meninas da minha idade, de permanecer virgem até o dia do meu casamento. Sim, você leu certo: eu tinha dez anos. 
Vamos dar uma olhada em quem eu era aos dez anos: eu estava na quarta série. Eu brincava com Barbies e tomava chá com amigos imaginários. Eu fingia ser uma sereia toda vez que eu tomava banho. Eu ainda achava que garotos eram nojentos e não tinha ideia que eu gostava de meninas também. Eu demorei mais quatro anos até ter minha primeira menstruação e, mais importante de tudo, eu não tinha a menor noção do que era sexo. 
De movimento brasileiro: livros para
eles e para elas
A igreja me ensinou que sexo era algo para pessoas casadas. Que sexo fora do casamento era algo sujo, pecaminoso, e que eu iria para o inferno se eu fizesse sexo. Eu aprendi que, como uma menina, eu tinha a responsabilidade de me manter pura para o meu futuro marido. Seria, no entanto, completamente possível que meu futuro marido não se mantivesse puro para mim porque, de acordo com a bíblia, ele não tinha a mesma responsabilidade. E, claro, por ser cristã, eu deveria perdoá-lo por seus pecados e me entregar a ele completamente, de corpo e alma.
Assim que eu me casasse, seria minha obrigação corresponder às necessidades sexuais do meu marido. Foi me dito, milhares de vezes, até que eu perdesse a conta, que se eu me mantivesse pura, meu casamento seria abençoado por Deus e nunca terminaria em divórcio. 
Eu acreditei em tudo isso. E por que não iria acreditar? Eu era muito nova, e essas eram pessoas em quem eu confiava. Todos sabiam que eu tinha feito voto de castidade. Meus pais eram muito orgulhosos pela filha ter feito uma decisão tão espiritual; toda a congregação aplaudia minha honradez. 
Por mais de uma década, minha virgindade foi como uma medalha de honra para mim. Minha igreja me encorajou a fazer isso, dizendo que meu testemunho iria inspirar outras meninas a seguir o mesmo caminho. A qualquer momento, se o assunto viesse à tona, eu ficava feliz em contar a todos que eu tinha feito um voto de pureza.
Comemoração de pureza em Presidente
Prudente, SP, agora em outubro
Assim que eu cheguei à adolescência, meu voto de pureza havia se tornado minha identidade. Quando eu conheci meu namorado (agora marido), eu disse a ele logo de cara que eu estava me guardando para o casamento. Ele levou tudo isso numa boa, afinal, meu corpo, minhas regras, e ele me amava.
Nós namoramos por seis anos antes de casar. Toda vez que nós fazíamos algo remotamente sexual uma grande culpa tomava conta de mim. Eu sempre me perguntava qual era o limite, pois eu morria de medo de ultrapassá-lo. Ele poderia tocar meus seios? A gente poderia se ver pelados? Eu não sabia o que poderia ser considerado sexual o suficiente para condenar meu futuro casamento e me mandar diretamente para o inferno. 
Uma mistura nada saudável de orgulho, medo e culpa me fez manter meu voto até o nosso casamento. Nas semanas anteriores ao casamento, eu recebi vários cumprimentos por ter mantido minha virgindade por tanto tempo. Os comentários iam dos curiosos (Como você conseguiu aguentar por tanto tempo?) até os mais nojentos (Aposto que sua lua de mel vai ser agitada!). Eu deixei que todos me colocassem num pedestal, como um mascote, uma garota cristã perfeita e virginal.
Eu perdi minha virgindade na noite do meu casamento, com meu marido, exatamente como eu tinha prometido naquele dia quando eu tinha 10 anos. Antes disso, eu me peguei no banheiro do hotel pensando “Eu consegui. Eu sou uma boa cristã.” Não houve coral de anjos, nem uma luz divina vindo do céu. Éramos só eu e meu marido num quarto escuro de hotel, atrapalhados com a camisinha e o lubrificante pela primeira vez.
Clique para ampliar
Sexo dói. Eu sabia que doeria. Todo mundo me disse que seria desconfortável na primeira vez. O que ninguém me disse é que eu estaria de volta no banheiro, momentos depois, chorando por razões que eu ainda não compreendia. Eles não me disseram que eu choraria na minha lua-de-mel, porque sexo parecia algo sujo, errado e pecaminoso, mesmo que agora fosse permitido, já que agora eu estava casada. 
Quando voltamos da lua-de-mel, eu não conseguia olhar nos olhos de ninguém. Todos sabiam que eu não era mais virgem. Meus pais, as pessoas da igreja, meus amigos, meus colegas de trabalho. Todos sabiam que eu estava suja e manchada. Eu não era mais especial. Minha virgindade tinha se transformado em um aspecto tão importante da minha identidade que eu não sabia quem eu era sem ela. 
E as coisas não melhoraram. Eu evitava me despir na frente do meu marido. Eu tentava não beijá-lo de maneira muito tentadora ou muito amorosa, para não parecer que eu estava iniciando alguma coisa. Eu morria de medo da hora de ir para a cama. Talvez ele fosse querer transar.
Quando isso acontecia, eu acabava aceitando. O que eu mais queria era fazê-lo feliz, tanto porque eu o amava quanto porque eu aprendi que era isso que eu devia fazer: era minha obrigação atender a todas as necessidades dele. Mas eu odiava sexo. Às vezes eu ia dormir chorando porque eu queria gostar de sexo, porque nada daquilo era justo comigo. Eu tinha feito tudo certo, eu tinha feito e mantido uma promessa. Onde estava o casamento abençoado que tinham me prometido?
Às coisas continuaram assim por dois anos, até que eu não aguentei mais. Eu contei tudo ao meu marido que, sendo feminista, ficou horrorizado que eu o deixei me tocar quando eu não queria. Ele me fez prometer que eu nunca mais faria algo que eu não quisesse. Nós paramos de transar e ele me convenceu a procurar um terapeuta, e eu fui. Esse foi o meu primeiro passo para me curar.
Garotas de dez anos querem acreditar em contos de fadas. “Faça esses votos para que Deus te ame e fique orgulhoso de você”, eles me disseram. “Se você esperar até o casamento para fazer sexo, Deus te dará um maravilhoso marido cristão, e vocês viverão felizes para sempre”. Ter esperado não garantiu que eu fosse feliz para sempre. Pelo contrário, controlou minha identidade por mais de uma década, me fez sentir uma estranha para mim mesma, e me fez precisar de terapia. Eu tinha tanta vergonha da minha sexualidade e do meu corpo que fazer sexo era uma experiência degradante para mim.
Eu não vou mais à igreja e nem sou religiosa. Conforme eu fui me curando, percebi que não sabia como ser religiosa e ter uma vida sexual saudável ao mesmo tempo. Então eu escolhi o sexo. Eu travo uma batalha diária para lembrar que o meu corpo pertence a mim e não à igreja da minha infância. Eu preciso lembrar que os votos que eu fiz com dez anos não definem quem eu sou hoje. 
Quando eu transo com meu marido, eu sempre me certifico de que estou fazendo isso por causa das minhas próprias necessidades sexuais, e não porque é o meu papel como esposa satisfazê-lo sempre. 
Hoje em dia eu tenho certeza de que o conceito de virgindade é utilizado para controlar a sexualidade feminina. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não esperaria. Eu teria transado com meu então namorado, agora marido, e eu não teria ido para o inferno por isso. Nós teríamos nos casado com uma idade mais apropriada e eu teria me mantido sujeita da minha sexualidade. 
Infelizmente, eu não posso voltar no tempo, mas eu posso deixar minha mensagem. Se você for esperar pelo casamento para fazer sexo, tenha certeza de que está fazendo isso porque você quer. O corpo é seu, e pertence a você, não à igreja. Sua sexualidade é um assunto seu e de ninguém mais.