segunda-feira, 18 de julho de 2022

UM INQUÉRITO TÃO POLÍTICO QUANTO O CRIME DE ÓDIO

Não tive tempo de falar sobre o absurdo que foi a conclusão do inquérito referente ao assassinato de Marcelo Arruda na sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu, Paraná.

Como todos sabem, no final da noite do sábado retrasado, dia 9 de julho, o agente penal e apoiador ferrenho de Bolsonaro Jorge Guaranho invadiu a festa temática (com homenagens a Lula e ao PT) de Marcelo, guarda municipal e tesoureiro do PT na cidade, que celebrava seus 50 anos de vida com a família e amigos. Na primeira vez que Guaranho apareceu, ele estava de carro com a esposa e o filho bebê. Com música alta de propaganda bolsonarista, gritou provocações. Marcelo saiu e jogou terra no carro. Guaranho mostrou sua arma e prometeu voltar para matar todo mundo.

Quando Guaranho voltou, sozinho, menos de vinte minutos depois, Marcelo tinha pegado a arma dele no carro. Pâmela, esposa de Marcelo e também policial, mostrou seu distintivo. Guaranho atirou duas vezes em Marcelo. Chegou perto para executá-lo, mas Pâmela, heroicamente, desarmada, conseguiu desequilibrá-lo. Marcelo pôde atirar em autodefesa em Guaranho e salvar a vida de muitos na festa, já que o bolsonarista ainda tinha onze balas na arma.

Marcelo morreu no hospital. A polícia do Paraná vergonhosamente noticiou que Guaranho também havia morrido. Só desmentiu muitas horas depois. Em seguida vimos que a delegada responsável pela investigação era outra bolsonarista de carteirinha. Após várias reclamações, ela foi trocada.

E na sexta-feira veio mais um escândalo da polícia, um festival de cinismo. Demorou apenas cinco dias para a polícia civil concluir o inquérito, sem analisar o que estava no celular do bolsonarista ou seu envolvimento com outras pessoas. E a conclusão foi patética: a delegada Camila Cecconello não encontrou evidências de que foi um crime de ódio. 

"Não há provas de que [Guaranho] voltou para cometer crime político", disse ela na coletiva. "É difícil falar que ele matou pelo fato de a vítima ser petista. Ele voltou porque se mostrou ofendido pelo acirramento da discussão".

Quer dizer, não teve nada a ver a vítima ser petista e o assassino, bolsonarista. Se fosse uma festa temática do Mickey ou da Galinha Pintadinha, o resultado teria sido o mesmo. É a versão oficial dos bolsonaristas sobre o caso, reforçada pelo vice-milico Mourão e pelo excrementíssimo da república, o próprio capetão. Foi uma briguinha como outra qualquer, de dois caras que beberam demais e se desentenderam e atiraram um no outro (armas de fogo à disposição nem foram mencionadas pelos dois armamentistas). 

Essa narrativa combina com a linha de defesa de Guaranho. Como uma de suas advogadas adiantou: "A motivação dele efetivamente foi retornar em razão da primeira e injusta agressão que feriu a honra dele". Olha que honra minúscula tem um bolsonarista -- um desconhecido jogar terra no seu carro porque você foi provocá-lo (e ameaçá-lo com uma arma) é uma agressão que fere tanto a honra que o sujeito precisa voltar pra matar.

A delegada também disse que não foi crime político porque Guaranho não privou Marcelo de seus direitos políticos. Não, né? Ele só matou Marcelo. É uma palhaçada. Mais do que isso: é uma licença livre para matar petistas.

Uma vigia que estava no local, uma entre tantas testemunhas, confirmou ter ouvido Guaranho gritar "Aqui é Bolsonaro, p*rra!" Dois minutos depois, ele começou a atirar. Tomara que esta vigia se cuide. Ontem, numa reportagem do Fantástico, ela aparecia com a cara borrada. Mas seu vídeo circulou nas redes sociais sem o cuidado de ocultar sua identidade.

(Aliás, a única novidade revelada pela reportagem foi um dos irmãos bolsonaristas de Marcelo afirmar que um dos caras que chutou a cabeça de Guaranho depois d'ele ter sido atingido também era bolsonarista).

E hoje ficamos sabendo de outra notícia assustadora: o vigilante Claudinei Coco Esquarcini, responsável pelas senhas das câmeras de segurança na Aresf (onde ocorria a festa de Marcelo), se jogou de um viaduto ontem no Paraná. Provavelmente foi ele quem mostrou as imagens do aniversário a seu amigo Guaranho. Dizem que ele estava se sentindo culpado. Mas nos trending topics do Twitter os internautas mostraram o seu descrédito através da tag "Suicidaram".

Ontem houve atos em Porto Alegre, em São Paulo e em Foz do Iguaçu em homenagem a Marcelo. Nunca esteve tão claro quem é a favor da paz, e quem é a favor do ódio.

7 comentários:

Luise Mior disse...

Este caso expõe o caos que estamos: bolsonaristas armados, instituições protegem os bolsonaristas, esquerda é atacada. Esse pesadelo precisa acabar.

Anônimo disse...

Deve ter coisa nessa associação "recreativa" de "segurança" Aresf. ?!
Será que essas atividades são compatíveis com as funções públicas dos envolvidos?

Anônimo disse...

CAROLINE DE PAULA DINI ASSASSINA DE ELIDIA GERALDO PODE SER JULGADA AINDA EM 2022
https://jornalubaenseonline.com.br/2022/07/12/uba-acusados-de-crime-contra-elidia-serao-julgados-dia-19-de-julho-de-2022/

Anônimo disse...

Jogou terra, Lola? Não teria sido pedra?

Brunno disse...

Essa hashtag "suicidaram" é um desrespeito à família. A esquerda entrou nessa neurose e agora se afunda e revira nessa lama que todos ficam se debatendo quando estão com medo e apontando os dedos uns para os outros. Hoje foi o diretor da Caixa Econômica Federal e novamente lá estão as pessoas da esquerda fazendo coro de "suicidado" (o Orlando Silva, que é pra ser um político maduro, se rebaixando a esse status, essa conversinha de gente piolha, pequena, que quer ganhar likes e views em twitter... francamente). Essa eleição realmente mostra como a esquerda consegue chafurdar na lama da paranoia.

E não tem ninguém adulto para dar um toque nessa gente

Anônimo disse...

a) Lola sou sua fã amo seu blog.

b) Estamos em um momento que todas as forças democráticas devem estar unidas e atentas os bolsonaristas estão dispostos a tudo foi noticiado que o deputado estadual bolsonarista Amorim junto com trogloditas armados tentaram impedir a caminhada de Marcelo Ffeixo que é candidato ao governo estadual do Rio.

c) Neste momento temos que focar na campanha não basta eleger Lula temos que eleger um congresso progressista para auxiliar o presidente. Vamos eleger mulheres progressistas que defendam nossos direitos. Os coletivos feministas são excelentes alternativas

d) Para a Alesp temos a bancada feminista e Mônica Seixas organizou o coletivo Pregas Para a Alerj o Coletivo das Periferias

Anônimo disse...

Na outra ditadura também havia "suicídios" por tortura, em que os milicos pressionavam a pessoa a se matar, e até davam a arma. Sabe-se lá que "alternativa" elem ameaçavam.

Também cabe lembrar o caso do reitor que foi "suicidado" pelo lavajatismo.

Ou será que vamos ter que chamar essas mortes de "danos colaterais"?


É tudo fruto do bolsonarismo. Não tem como negar.