terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

ESTA SENHORA VEIO AQUI DIZER QUE VAI NOS VENCER NO BOLÃO

Gostei muito de Três Anúncios para um Crime, apesar do título original horrível (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri). Me identifiquei com a história de uma mulher que procura a polícia e denuncia, e a polícia não faz nada. 
Eu tô quase colocando outdoors de "Quadrilha neonazi misógina ataca mulheres, LGBT, negros na internet há cinco anos e ainda não houve uma única prisão?"
Frances McDormand está fabulosa e bem cotada para receber seu segundo Oscar (se bem que Fargo, pelo qual ela ganhou seu primeiro, é um filme melhor). Todo o elenco está bem. E, quando vi o filme, um mês atrás, a trama prendeu muito minha atenção.
Então por que me lembro tão pouco dele?
Ultimamente bastante gente, principalmente ativistas negros, têm criticado Três Anúncios. Afinal, o personagem de Sam Rockwell é um policial racista com direito a um desenvolvimento que suas vítimas não têm. No final, parece que ele é redimido, mesmo continuando a ser racista e ignorante (redundância: todo racista é ignorante). 
O diretor Martin McDonagh, que veio do teatro, defendeu seu filme das críticas: "Não acho mesmo que o personagem de Rockwell é redimido. Ele começa como um babaca racista, e ele ainda é o mesmo no fim, mas, no final, ele vê que tem que mudar. Há espaço pra isso, e ele percebe seus erros até certo ponto, mas de jeito algum ele deve ser visto como algum tipo de herói redimido". 
Isso me lembrou outro filme que eu gosto muito, também com Frances McDormand: Mississippi em Chamas. Assim como Três Anúncios, Mississippi também foi indicado a sete Oscars em 1988 (ganhou apenas um, Melhor Fotografia). Embora certamente tivesse boas intenções -- narrar a história real de três ativistas de direitos civis assassinados pela Ku Klux Klan em 1964 --, os dois detetives brancos do FBI são os heróis e protagonistas do filme, enquanto os personagens negros são majoritariamente vítimas passivas, coadjuvantes. Hoje Mississippi definitivamente não é visto com os bons olhos que o aclamaram em 1988 (apesar da viúva de Martin Luther King ter já na época criticado a ausência de ativistas negros na trama). 
A diferença é que, enquanto o tema central do filme de 1988 era racismo, este não é o principal foco de Três Anúncios, que trata da luta de uma mãe para tentar descobrir quem estuprou e matou sua filha. Mas, pelo jeito, racismo é algo tão arraigado e institucionalizado nos EUA (e não apenas lá), que é impossível que ele não apareça forte numa história policial.
E é desse jeito que Três Anúncios chega ao Oscar como o mais polêmico dos nove indicados a melhor filme. Será que ele tem alguma chance, além de estatuetas pra Frances e talvez pro Sam de coadjuvante?
Faça suas apostas no bolão grátis e no bolão pago (pro pago, tem que seguir algumas regrinhas). O Oscar já é este domingo. E pra participar do bolão, só até as 23:59 de sexta. Participe!



9 comentários:

Anônimo disse...

é claro q a Frances leva melhor atriz, já é dela

sobre o final desse filme: achei um pouco ridículo

Anônimo disse...

Colocar outdoor? Você? Duvido, você é a maior mão de vaca, hahahaha

Anônimo disse...

Ah eu fiz minhas apostas (no bolão gratuito, sou mão de vaca).

Beijos Lola.

Anônimo disse...

Deve ser chato assistir filme, tendo de pensar uma lacração para falar depois.

Eu assisti e gostei, pela trama, pelas atuações, pela produção, etc. Só isso.

Anônimo disse...

A lola voltou a falar de cinema, pois suas incursões pela área do esquerdismo não deram muito certo! kkkkk

lola aronovich disse...

Mascutroll, muita gente acha cinema uma área bastante "esquerdista", tanto que é uma área amplamente estudada na academia comuna. Além do mais, não sei se vc notou, eu estou falando de cinema por causa do Oscar. Foi o que me animou a ver tantos filmes. Mas faça as suas teorias conspiratórias à vontade. Elas sempre são mais divertidas que a realidade.

Anônimo disse...

Ainda vejo Mississippi em Chamas com bons olhos, apesar dos furos. No mais, concordo com a opinião da Lola sobre Três Anúncios para um Crime.

Anônimo disse...

Chocada (#sqn) que o racista tomou o espaço de um negro em um filme. Isso acontece até em 12 Anos de Escravidão, sendo que o livro é em primeira pessoa! Ou seja, só não vê o silenciamento quem não quer ver.

Anônimo disse...

Outra coisa, Lola: avaliar que o cinema é uma área "bastante esquerdista", pelo menos no Brasil, é ignorar pesquisas que mostram o perfil de quem faz cinema no país. Recentemente saiu uma pesquisa grande de um grupo da Uerj (A Cara do Cinema Nacional) que foi um tapa na cara de muita gente, e em vez de lamentarem o quadro, houve cineasta que veio com papinho igual ao de pessoas do nível do MBL. Meritocracia! Só falta agora pegarem nossos financiamentos! O buraco parece ser bem mais embaixo. Veja entrevistas com Joel Zito Araújo, ele sabe do que fala. Até cineastas progressistas como Anna Muylaert já disseram que escalar atores negros significa forçosamente ingressar na discussão do racismo e nem sempre se quer isso. Mas não se quer isso mesmo quando o tema é o trabalho doméstico, feito majoritariamente por mulheres negras? Para mim, pura hipocrisia e, de novo, silenciamento.