quarta-feira, 11 de maio de 2016

GUEST POST: O AMOR E O PODER

Lembra de um deputado reaça que falou uma besteira na semana retrasada? (Eu sei, são muitos deputados falando muitas besteiras). 
Este disse no plenário que feministas não são mulheres de verdade, porque mulheres de verdade não querem ser empoderadas, e sim amadas e cuidadas. 
Na hora eu não escrevi nada a respeito, mas Marília Sampaio, servidora pública e militante da Marcha Mundial de Mulheres, redigiu um texto ótimo, que publico aqui:

Ontem eu conversava com uma amiga sobre um meme que tá rolando por aí que diz assim “Namore um homem que não tenha medo do seu poder”. Ironizei que a continuação deveria ser: “Ou seja, amiga: seja feliz solteira mesmo, porque né… risos, tá difícil”, e problematizamos um pouco sobre o que já vinha refletindo há um tempo. Isso de que os homens não tão acompanhando mesmo essa geração de mulheres fortes pra cacete (ou pra buceta, no caso) e tão sim, ficando à margem, aquém, deixando a desejar, enfim, insira aqui (_____) qualquer outro adjetivo que alguém chamará de mimimi mesmo.
Daí vem o deputado com essa fala infeliz: “as mulheres de verdade não querem ser empoderadas, querem ser amadas”, e me veio mais coisa à cabeça.
A noção de amor que nós mulheres recebemos desde a infância é realmente inconciliável com a de uma mulher empoderada.
O amor que nos é ensinado desde cedo é mesmo um amor que silencia e abaixa a cabeça. A começar pela maldição dos contos de fadas que romantizam abusos e introjetam a eterna ideia que devemos esperar (belas, recatadas e do lar) um príncipe vir nos salvar de nossa vã existência. A ideia de princesa, de passividade, do amor como um sentimento romantizado e irreal (É irreal. Felizes para sempre não existe!) é de um fardo e de uma opressão sem tamanho.
Mulheres fortes intimidam meninos.
E excitam homens
Por mais bem-sucedida e feliz que você seja, ainda será (e até muitas vezes mesmo se sentirá) incompleta se não tiver um homem do lado. Os conselhos e mensagens que uma mulher minimamente “empoderada” ouve no decorrer da vida são:
“Não pague a conta”, “Homem se assusta com mulher independente”, “Ele está inseguro, não o assuste”, “Não grite com seu marido”, “Quem vai querer uma mulher que age como um homem?”, “Deixa ele se sentir no comando”, “Você tem que prender ele na cama”, “Ele tem ciúme porque te ama” e tantos outros.
(E eu não tô falando da revista Nova e as “5864 dicas infalíveis de surpreender o gato com um sexo oral incrível”).
Tô falando de mim, das minhas amigas, to falando da maioria das mulheres fodas que conheço. Uma geração de mulheres que até cresceu assistindo Cinderela, mas um belo dia resolveu mudar e fazer tudo que queria fazer se deu conta de seu poder e acabou batendo de frente com uma puta crise existencial:
eu não sei amar sem ser submissa. Ou: como amar e ter voz? Ainda: até tô sabendo amar e lidar com meu poder, mas meu parceiro não.
Mulheres fortes amedrontam
homens fracos
Isso é uma coisa.
A outra é:
Feministas não são mulheres “de verdade” porque “Mulher de verdade”, como diz a música, não é aquela que sequer questiona sua fome? (“Meu filho o que se há de fazer?” -- Ai que saudades da Amélia), imagina se questionará homem um dia, né? E tamo aí questionando tudo.
Também faz sentido ainda chamar feministas de “mal-amadas” numa sociedade que ensina que amor é sinônimo de silenciamento. Realmente, nesse caso, por esse prisma de amor, eu topo. Sou mal-amada mesmo (mal comida. jamais). Ponto.
Não quero também um amor que vez ou outra aparece como causa de um assassinato. Ainda é normal ver manchetes de jornal por aí dizendo “homem mata esposa por amor” ou “mulher é vitima de crime passional”.
Sei que amor não mata. Como feminista sei que o que faz os homens matarem mulheres todos os dias (o Brasil é o 7º no mundo nesse ranking) não é amor, é a sensação de PODER que eles tem sobre nós. (“Se não for minha, não será de mais ninguém”, conhecem essa expressão?).
Você só vive uma vez.
Melhor ser fodona
E aí fica tudo fica muito claro porque não interessa ter mulheres empoderadas e sim mulheres “de verdade” no mundo, né? E porque é tão mais fácil enfiar um conceito de amor passivo e silencioso goela abaixo.
Pra um homem que sabe que poder mata, nada mais assustador que uma mulher com ele (o poder). E nada mais ameaçador para ele (o homem) uma mulher poderosa ao seu lado.
Só que assim como feminismo não é o contrário de machismo (machismo é um sistema de dominação, feminismo é uma luta por direitos iguais), amor é antítese de poder.
Vamos desconstruir essa ideia.
Vamos falar de amor com nossas filhas. Amor, gente. Dá pra ter poder, amar e ser amada, dá sim. Aos nossos filhos vamos dizer que o poder feminino não mata (ao contrário do masculino). A mulher empoderada de hoje é o mito da “vagina dentada” de antigamente. 2016 e ainda alimentamos lenda urbana.
Às nossas filhas, ao invés de contos de fadas, vamos dizer (o que aprendi a duras penas, ainda venho aprendendo e digo pra todas as mulheres que eu tenho oportunidade): amor só existe quando a gente tem voz.
Não dá pra querer amor de quem não considera a gente enquanto mensagem no mundo. Homem que te ama e aceita seu poder é o que se interessa pelo que você tem a dizer, pelo que a sua história diz, que considera a sua singularidade. Qualquer coisa fora disso fora é consumo e não amor. Se você não tem voz, se não pode ser você mesma, é melhor ficar sozinha (e ser chamada de mal-amada).
E é isso que incomoda o deputado lá e seus amigos, né? Conveniente mesmo é ter as mulheres bem caladinhas, “amadas” e felizes fazendo a janta -- que não pode ser sopa -- enquanto eles decidem no plenário sobre o futuro do nosso útero.
Bom, pra citar mais uma música: a gente não quer só ter voz mesmo. A gente quer comida e quer fazer amor.
Amor e poder.

42 comentários:

Anônimo disse...

Esse texto me fez lembrar dessa crítica à música "Exagerado", muito boa por sinal.

Anônimo disse...

http://www.rascunhocomcafe.com/2016/01/analise-da-musica-exagerado.html

donadio disse...

Há dois problemas com essa crítica à letra da música "Exagerado". O primeiro, trivial, é que a heteronormatividade é dada de barato, e parte-se do pressuposto que a vítima do "amor" de Cazuza é uma mulher - quando, conhecendo minimamente o poeta, sabe-se que mais provavelmente se trata de outro homem. O segundo, menos trivial, é que se parte do princípio de que a intenção do poeta é a mesma do "eu lirico" do poema. Para quem conhece um mínimo da biografia do Cazuza - para quem provavelmente um mês era mais longo do que a "eternidade", isso é um absurdo. Como aliás demonstra a própria incoerência da letra da música, que deixa bem claro que se trata de um "amor inventado", que o "eu lírico" representa um papel, um papel ridículo porque determinado por uma visão romântica do amor.

Anônimo disse...

Nossa, adorei o texto. Acho que mulheres tem que ter poder e liberdade, sim. Liberdade para fazer o que quer, ser o quer, casar se quiser, ter filhos se quiser.
Sou da geração Cinderella, mas me libertei, não quero me casar, só quero ser feliz, ser rica, ter saúde e só. Eu me amo, isso basta. Não preciso de homem para me deixar feliz, não coloco minha felicidade e liberdade nas mãos de ninguém!!

Anônimo disse...

"Nossa, adorei o texto. Acho que mulheres tem que ter poder e liberdade, sim. Liberdade para fazer o que quer, ser o quer, casar se quiser, ter filhos se quiser.
Sou da geração Cinderella, mas me libertei, não quero me casar, só quero ser feliz, ser rica, ter saúde e só. Eu me amo, isso basta. Não preciso de homem para me deixar feliz, não coloco minha felicidade e liberdade nas mãos de ninguém!!"

ENDOSSO

B. disse...

"só quero ser feliz, ser rica, ter saúde e só."


Simmmmm!

Anônimo disse...

Anônimo canalha das 13:15, vc não engana ninguém com esse papinho de 'nossa causa'. Tá na cara que vc é homem e que o feminismo não é uma causa tua. Vai pastar!

Anônimo disse...

A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz,
Paz sem voz
Não é paz é medo

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero
Conservar Para tentar ser feliz

- achei apropriado para o post.

Anônimo disse...

Uma das coisas que me intrigaram foi o fato de os homens terem medo de casar se as mulheres correm mais risco de morte por violência, risco de sofrer exploração etc.

Mas vemos uns bobões falando de Marriage Strike, ora, isso devia ser invenção das mulheres que correm mais riscos casando.

Meu sonho é casar com uma mulher concursada que ganhe muito mais que eu, algo em torno de R$ 20 mil por mês, tipo defensora pública, fiscal, promotora ou juíza. Alguns poucos homens inteligentes pensam assim também, querem amor com dinheiro para produzir mais dinheiro, no entanto, infelizmente a maioria quer uma empregada que faça sexo. Esses vão morrer na miséria.

Uma das melhores formas de a mulher se defender é evitando o casamento.

Macho Capitalista

André disse...

Pessoal, quando vierem passear no blog com o pet, tragam uma sacolinha para recolher o ragnar dele. Obrigado.

Antonia disse...

Excelente texto e bem pensado e escrito. Quando o tal deputado fulano-de-tal disse isso, fique pensando... que filh@ da put@, o que ele quer são mulheres tipo vaquinha de presépio, que abaixam a cabeça e dizem amém... Mulher empoderada assusta... quando a tal masculinidade se vê ameaçada, pois não creio que um homem que esteja seguro de si, veja a mulher como uma ameaça em potencial... Parabéns. Gosto muito desse blog.

Deixo aqui o meu, caso se interessar. Agradeço e um abraço!
Concatenando Ideias
http://concatenardeideias.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

A letra de Amélia mostra uma mulher ao lado do homem, não atrás e nem à frente. Não é machista.

Anônimo disse...


Ai, Que Saudades da Amélia
Mário Lago

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!"
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade

Anônimo disse...

Perfeito. O mito do amor romântico entre homens e mulheres(Ao lado da heterossexualidade compulsória) e a forma mais eficaz que o patriarcado encontrou para naturalizar ma mente das mulheres a submissão e o estupro diário que chamaram de "casamento'
Pensem sob uma ótica que englobe todos os fatores, tudo em uma relação feminina para com homens faz mau a mulher, não ganhamos nada nos relacionando de forma afetiva com nossos opressores a não ser como diz o post silenciamento e naturalização da opressão. Ver mulheres ainda hoje programadas para se submeterem ao mito do amor romântico heterossexual, a submissão romântica e como ver zebras sendo programadas a amarem leões.
O feminismo não e um pedido de trégua com o patriarcado como infelizmente vejo muitas manas propondo como caminho a seguir, FEMINISMO E EMPONDERAMENTO FEMININO, e espaço de mundo seguro para mulheres serem elas mesmas e descobrirem seu potencial entre si, terem voz entre si, se amarem entre si, terem prazer entre si, conduzirem suas vidas entre si, explorarem seu potencial entre si.

Anônimo disse...

Enquanto isso, aqui na capital, uma moça lutou contra um bandido que estava desarmado e queria assaltá-la. Quando três pessoas se aproximaram para ajudar, o bandido disse que era uma briga de namorados... Os vermes já sabem direitinho o discurso.

Tô vendo a valentia dos "ômi" de proteger as mulheres. Discursinho de facebook. Quando se deparam com uma situação dessas, o cidadão de bem espancador de bandido sai de fininho

Anônimo disse...

Acho que deveríamos ensinar as meninas desde cedo e tentar convencer as mulheres já adulta que o maior e mais importante amor da vida, aquele que deve vir antes de QUALQUER COISA e QUALQUER UM (mesmo filhos) é o AMOR PRÓPRIO!!!

Sem esse amor, vão ser eternamente capacho e bucha de canhão...

Jane Doe

Anônimo disse...

Ate a própria atração física que mulheres naturalizadas pela cultura patriarcal "sentem" por homens e culturalmente construído. Se for usar a logica feminina o que estas mulheres sentem por atração e constituído na capacidade de "provecção e proteção" plantado na psiquê feminina pelo patriarcado e sua engenharia social milenar, ate porque homens não são naturalmente atraentes sem estes contextos..

natalia disse...

Macho capitalista,
estou nessa faixa de renda, mas já casei.

Anônimo disse...

Anônima 17:04

não sou lésbica, mas não me atraio por homens, acho eles repulsivos.

Anônimo disse...

16:45

nossa que história,, homens falam tanto "mimimi familia bla bla bla", eu penso que é para eles poderem maltratar suas mulheres sem sem incomodados. conheci um rapaz que era a grosseria em pessoa, imaginava como ele era em casa, e ele vivia dizendo "o que acontece dentro de casa é pra ficar dentro de casa" imagino que a esposa dele deve sofrer muito

Anônimo disse...

essa moça que era casada com o cara grosseiro, era linda engenheira civil e a familia dela classe media, não entendia pq ela se submetia a ele, mas ela era timida não sei se tinha problema de auto estima e tals

Anônimo disse...

A verdade e que nesta sociedade machista heterossexualidade faz mau as mulheres, deveríamos abandonar esta ideia.

Anônimo disse...

17:16 te prepare para as pedradas de doutrinadas e doutrinadores do status quo machista, simplesmente por você expressar um sentimento que e natural as fêmeas de todas as especies mas e negada a femeá humana por conta de uma imposição social que nos diz que devemos achar nossos opressores "fofos" e que devemos sentir desejo e atração por algo não tem atratividade alguma.

Anônimo disse...

eu acho homens atraentes e bonitos, deve ser o patriarcado me impondo isso.

alícia

Anônimo disse...

"Mulher empoderada assusta... quando a tal masculinidade se vê ameaçada"

Exatamente vejo isto todos os dia ate mesmo nos movimentos progressistas, e digo com convicção enquanto não for banida da sociedade qualquer vestígio de masculinidade e machismo não tem como ter dialogo com homens em espaço feminino e feminista. Para mim toda masculinidade e o machismo devem ser enquadrados como doenças.

Anónimo disse...

Kkkkkkkkkkkk meu.....triste

Anónimo disse...

Completamente correta,mas errada por esquecer que a reciproca eh vddeira ;D

Anônimo disse...

E vc é psicóloga? Com qual tipo de psicologia vc trabalha e que lhe disse isso? Eu sou psicóloga e sinto atração por homens, apesar de sua ideologia dizer que é só construção social. Apesar de ter muito machista querendo posar de psicólogo, tem muita radfem chata e misândrica (se não for um mascu disfarçado) querendo inventar bases pseudocientíficas para convencer mulheres a forçar uma orientação sexual de acordo com interesses ideológicos. Acho muita falta de respeito tanto com as mulheres lésbicas quanto com a profissão de psicologia.

Anônimo disse...

Olha Lola, parece que os trolls misândricos resolveram atacar de novo.

Anônimo disse...

Interessante como algumas mesmo diante dos inúmeros casos de feminicidios, abusos,desqualificação profissional e todo tipo de diminuição de gênero que o sistema criado, perpetuado e conduzido por homens e em beneficio deles, muitas ainda preferem brigar com as que dizem as verdades inconvenientes mas não com os machistas.
Tudo isto para fender o "môh" E tipo: "todo homem e machista nojento, menos o meu "moh"?
pois sabe o seu "môh" miga? ele não e diferente nem menos machista por ser seu "môh" foi exatamente o mito da paixão romântica descrito no post que te cegou para a realidade, a realidade que seu "môh" e machista, seu môh ja explorou o serviço domestico da mãe, ja assediou mulher em academia balada com o "argumento de que era só uma paquera cantada" Seu môh já constrangeu mulher na rua com palavras e olhares, seu môh já se exitou com a imagem de mulheres objetificadas pela mídia machista,seu "môh" acha que espaços publicos como transporte publico, academias, faculdade, shopping e permitido que seu môh assedie e constranja mulheres om abordagens inconvenientes,seu "môh acha que só porque uma mulher esta em um bar/balada bebendo e conversando com as amigas e permitido ao seu "môh" abordar e constranger ela com cantadas toscas, seu môh e incapaz de lhe dar prazer porque seu môh esta preocupado com o prazer dele que se resume a penetração. E cuidado; sabe aquelas moças que aprecem mortos, agredidas e estupradas na mídia todos os dias pelos 'môh' delas? Pois e elas também no começo acreditavam que o mô delas eram incapazes de fazerem isto, somente o "môh' das outras.

Anônimo disse...

A gente elege nossa candidata, mulher, para a presidência do país, vem um grupo com idoneidade duvidosa, faz acordos para tirar-lhe o poder e ainda começam campanhas: "Bela, recatada e do lar"; "mulheres de verdade não querem ser empoderadas, e sim amadas e cuidadas". Estamos em pleno retrocesso...

Anônimo disse...

Me parece que este grupo de políticos está estimulando as mulheres a serem donas de casa, assim não entram para as estatísticas de desempregados e eles justificam a queda no desemprego em uma mudança de governo. Uma alemã formada em história, ela mesma professora de alemão por falta de emprego na área de sua formação, explicou que isto acontecia em seu país na década de 1990, as creches eram escassas do lado ocidental para que as mulheres ficassem em casa cuidando dos filhos.

Anônimo disse...

Um brinde à composição do ministério do nosso novo presidente. A primeira composição de ministros que, em 30 anos, não inclui uma única mulher!

Acho que ele pensa que todas as mulheres deveriam ficar em casa, caladinhas, como sua bela esposa.

Anônimo disse...

Ministério de Temer pode ser o primeiro sem nenhuma mulher deste o Geisel. Bem progressista esse novo governo, hein?

Anônimo disse...

Belchior sábio:

exibições
565.947
Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar meu irmão
E beijar minha menina na rua
É que se fez o meu lábio
O meu braço e a minha voz

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências, as aparências
Não enganam, não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou enganando

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem

E hoje eu sei, eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando o seus metais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

Anônimo disse...

Carái!
Além de de poderoso nos argumentos, o texto é um primor!
Agressivo e amoroso ao mesmo tempo!
Admirável!
Os textos da Lola também são ótimos, senão não passava aqui dia sim, dia não!
Agora mais que antes, com a onda reacionária institucionalizada, o feminismo é fundamental!
Amo minha esposa empodarada.

Anônimo disse...

O que significa ser "empoderada"? Questão legítima.
O fato é que todos nós, homens e mulheres, somos dependentes de um sistema acima de nós e que controla em muito nossas vidas. Nós quase não temos poder para dirigir realmente nossas idéias, pois em tudo temos de pedir licencinha pro patrão, pras outras pessoas, pro médico, pro etc e tal.

Crianças, não passamos de paus-mandados gastando um tempo grande na escola. Adolescentes, não temos idéia de como vai ser o crescimento e somos pressionados a caçar faculdade e trabalho; adultos, somos escravos desse emprego e, se tivermos família, há um mundo de coisas que temos de pensar 2 vezes ou mais antes de fazer.

Cadê o tal poder?

BLH

titia disse...

Estamos sim passando por um severo backlash. Infelizmente não dá pra evitar já que os desperdícios de oxigênio que rasgam o cu com a unha de raiva por terem que tratar mulheres, negros e gays como seres humanos estão em posições de poder pra tentar mandar tudo de volta pros anos 40. Felizmente, esses acéfalos não vão poder parar a evolução, nessa vida só se anda pra frente. Quantos backlashes já tivemos desde a primeira onda feminista? Vários. O que eles conseguiram no final? Porra nenhuma, exato. No máximo eles alienam os mais ignorantes de uma geração, mas na seguinte todos os esforços desses poríferos com morte cerebral escorrem pelo esgoto junto com os restos mortais deles. O esforço desses bostas é e sempre será em vão, só que vai demorar um pouco pra eles perceberem.

Anônimo disse...

Devemos nos perguntar: quem tira vantagens com o casamento e defende o mesmo pela "familia tradicional "? Analisando de modo racional, o homem possui apenas o total poder de exploração por meio do casamento. Sua Função de provetor depende exclusivamente do nucleo familiar. Ja a mulher pode muito bem ter filhos sem precisar casar, caso queira, e banca-los sozinha.

Anônimo disse...

Golpe? Que golpe?
O golpe constitucional, no qual a lei vigente é cumprida por quem tem competência para fazê lo, corretamente, tal como reconhecido pelo STF?

titia disse...

Os machistas querem fazer o passado voltar porque querem otárias pra explorar. Imagina que legal você voltar pra casa depois do trabalho e não precisar lavar louça, lavar roupa, varrer, passar pano no chão, fazer jantar, cuidar, alimentar, conversar e brincar com criança, lavar a louça e as panelas do jantar, dar banho nas crianças, botá-las pra dormir, ficar só assistindo televisão e tomando cerveja e ainda fazer sexo sem precisar agradar o outro? Melhor ainda, imagine que tudo e absolutamente tudo que der errado na sua casa ou na sua família nunca ser culpa sua por mais merdas que você faça? Pois é isso que os homens querem. Essas múmias machistas no congresso de hoje são da geração que teve suas otárias pra explorar e estão apavorados que, oh, seus amados filhinhos tenham que deixar de ser moleques cagões e assumir suas responsabilidades na casa e na família! Por isso essas campanhas pela volta das "belas, recatadas e dos lares". Mandemos essas desgraças tomarem no cu e sigamos pela luta. Backlash, afinal, passa. E não consegue absolutamente porra nenhuma no final, a história já provou. Os moleques cagões vão terminar tendo que crescer de qualquer jeito, e não há choro, birra, bater pé nem mimimi sobre os tempos da vovó que mude isso.

P.S. pro primeiro que reclamar "Ai, mas e as filhas deles, não vão querer que elas sejam escravas, né?". Não, eles não vão querer que as próprias filhas sejam escravas. Mas aí é só mexer em alguns direitos dos trabalhadores, principalmente dos trabalhadores domésticos, e arranjar escravas pras filhinhas. O barato desses bostas é explorar mulher, por isso eles serão extintos. É só dar tempo...

Anônimo disse...

A diferença BLH é que sob as costas de alguns pesam a desigualdade promovida por machismo, racismo, homofobia e todos os outros tipos de preconceito que as pessoas usam para se sobrepor às outras. Nessa sociedade, uns são mais livres que os outros.