Dei pulinhos de alegria ao receber o fantástico livro Mulheres, e mais ainda quando perguntei se poderia entrevistar a magnífica Carol Rossetti, e ela aceitou.
Eu demorei uma semana pra mandar as perguntas, mas Carol, eficiente que é, respondeu no mesmo dia! Foi ontem (clique nas imagens para ampliá-las):
Lola: Carol, desde que vi suas ilustrações pela primeira vez, adorei. Você está de parabéns pelo seu belo trabalho, tão completo e inclusivo. Fiquei muito feliz em receber o seu livro, e é um prazer te entrevistar. Já trocamos algumas ideias também, e sei que a admiração é mútua. Bom, antes que alguém grite “Get a room!”, vamos lá: conte como nasceu seu amor pela arte. Foi mesmo aos três anos quando você começou a rabiscar as paredes da casa dos seus pais?
Carol: Ah, pois então. Não sei exatamente quantos anos eu tinha. Gosto de desenhar desde que sou capaz de segurar um lápis. Mas isso é verdade: aos três anos, meus pais fizeram um pacto comigo. Eu podia desenhar nas paredes, contanto que respeitasse a fronteira do meu quarto. O resultado era o meio metro de rabiscos (até onde meu bracinho alcançava) por todas as minhas paredes, hehehe!
E quando foi que esse amor pela arte se transformou numa profissão?
Bom, eu sempre quis que minha profissão fosse relacionada ao desenho. Muita gente dizia que eu devia fazer belas artes, mas eu não queria ser artista, não gostava desse título. Me falaram para fazer arquitetura, mas eu não tinha o mínimo interesse em desenhar planta baixa e planejar casas. Eu gostava de desenhar mulheres. Aí, quando eu estava no ensino médio, uma amiga minha que estava cursando design começou a me falar sobre o curso. Depois de ela ter me garantido que não tinha matemática, eu achei que fosse um boa ideia. Eu me formei em design gráfico em 2011, mas percebi que a profissão não envolvia tanto o desenho quanto eu gostaria -- apesar de ter me apaixonado pelas outras possibilidades do design. Eu percebi que, se queria ser ilustradora, precisaria desenvolver meus projetos pessoais e criar um portfólio por mim mesma.
Como surgiu a ideia de fazer esses desenhos de empoderamento? Você começou a divulgá-los logo no Facebook?
O projeto Mulheres surgiu exatamente nessa minha empreitada de criar um portfólio. Um dia, eu me propus um auto desafio de fazer um desenho por dia, e para garantir a disciplina, fiz uma página no facebook para postá-los. Na época, só meus amigos mais próximos e alguns familiares me seguiam. Eu já vinha lendo bastante sobre feminismo, já vinha observando algumas situações cotidianas que aconteciam com todas as mulheres de uma forma ou de outra, e resolvi criar umas mensagens positivas em relação a isso. Como só os meus amigos viam meus desenhos, não hesitei em usar uma linguagem super intimista. E assim eu comecei a postar os desenhos.
Uma das coisas que mais gosto no seu trabalho é como você é inclusiva. Acho que você foi capaz de representar uma diversidade enorme de mulheres. Ao mesmo tempo, você não reduz suas personagens a uma característica especial. Por exemplo, você fala que Jéssica é magrinha, e desenha uma mulher sem um braço. Você fala que Lana não tem vergonha de usar short, e desenha uma moça com vitiligo. Como veio essa preocupação com mostrar a diversidade?
Acho que é aquela história de que o que foi visto, não pode ser desvisto. Quando você começa a ler sobre feminismo interseccional, começa a observar melhor a questão de padrão de beleza, não tem como voltar atrás. Cada vez que eu estava no caixa do supermercado e olhava a estante de revistas, eu ficava incomodada de ver apenas mulheres brancas, jovens, magras e quase sempre seminuas. Isso sem falar das manchetes e chamadas.
Chegava em casa pra ver uma série, o elenco era de 4 homens brancos, um homem negro, 2 mulheres brancas. Sempre uma proporção desse tipo. Isso começou a me incomodar, o problema de representação era muito explícito e ninguém estava falando sobre isso. Eu, como profissional de comunicação e imagem, senti que eu tinha a responsabilidade de mudar isso, pelo menos no meu trabalho. Não tenho como mudar o mundo inteiro, mas tenho como tornar meu trabalho mais diversificado e, quem sabe, inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Chegava em casa pra ver uma série, o elenco era de 4 homens brancos, um homem negro, 2 mulheres brancas. Sempre uma proporção desse tipo. Isso começou a me incomodar, o problema de representação era muito explícito e ninguém estava falando sobre isso. Eu, como profissional de comunicação e imagem, senti que eu tinha a responsabilidade de mudar isso, pelo menos no meu trabalho. Não tenho como mudar o mundo inteiro, mas tenho como tornar meu trabalho mais diversificado e, quem sabe, inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Eu não esperava nada! Eu tinha minha página, só umas 150 pessoas acompanhavam, era isso aí. E tava legal. Quando a coisa cresceu, foi tudo muito rápido e foi tudo muito legal. Eu recebo sempre muitas mensagens carinhosas, positivas, muito amor. Não tem nem como reclamar!
Mas óbvio que há críticas, imagino. Você poderia resumir quais as críticas que você mais ouve ao seu trabalho?
Tem críticas, sim. Acredito que existam dois tipo de críticas: as construtivas e as destrutivas. As primeiras são pessoas que me davam toques ótimos, sugerindo uma forma melhor de me expressar em relação a alguma coisa, chamando atenção para um grupo de pessoas que não estava sendo mostrado, ideias de como tornar o trabalho mais diverso, sugestões de palavras que evitassem uma dupla interpretação... Enfim, discussões que visam o crescimento do próprio projeto. E tem gente que só quer chamar pra briga, quer xingar, ofender, etc. Em geral, vinham de pessoas com interpretação de texto bem duvidosa, me acusando de incentivar as mulheres a abortarem (oi?) ou a odiarem os homens (mas gente?).
Vi que seu trabalho ficou tão popular que reaças e mascus decidiram parodiá-lo, trocando o que você escreveu por mensagens preconceituosas. Tem como impedir isso? Como você se sente ao ver sua obra sendo deturpada?
Ah, pois é, tem isso. Foi uma página criada com o objetivo exclusivo de fuguetar (como diz minha cunhada) meu trabalho. Todos os dias eles postavam várias imagens com texto trocado. Quer dizer, havia um comprometimento e ume dedicação em pegar minhas imagens, tirar o texto no photoshop, criar uma nova mensagem, montar a nova ilustração, postar no face e administrar a página. Aí eu me pergunto, SÓ EU QUE ESTOU TRABALHANDO, MUNDO?
Bom, eu entrei em contato com um advogado e estou devidamente orientada sobre meus direitos autorais. A página citava na sua descrição a lei de liberdade de expressão, mas esqueceu que a lei também protege os direitos de autor. Bom, aquela página já foi removida, mas algumas dessas imagens continuam circulando pelo face em outras páginas. Sempre que eu vejo (ou que alguém vê e me avisa), eu denuncio para o facebook por desrespeito aos meus direitos autorais e eles tiram do ar em poucas horas. Mas esse povo é teimoso! Tem uma galerinha defensora da moral e dos bons costumes que A-DO-RA desrespeitar os direitos autorais dos outros, impressionante! Confesso que no começo fiquei chateada, hoje em dia já acostumei. Todo domingo à noite tem a hora da denúncia! :D
Bom, eu entrei em contato com um advogado e estou devidamente orientada sobre meus direitos autorais. A página citava na sua descrição a lei de liberdade de expressão, mas esqueceu que a lei também protege os direitos de autor. Bom, aquela página já foi removida, mas algumas dessas imagens continuam circulando pelo face em outras páginas. Sempre que eu vejo (ou que alguém vê e me avisa), eu denuncio para o facebook por desrespeito aos meus direitos autorais e eles tiram do ar em poucas horas. Mas esse povo é teimoso! Tem uma galerinha defensora da moral e dos bons costumes que A-DO-RA desrespeitar os direitos autorais dos outros, impressionante! Confesso que no começo fiquei chateada, hoje em dia já acostumei. Todo domingo à noite tem a hora da denúncia! :D
Você diz que, apesar de ser feminista, você demorou pra falar especificamente de feminismo num desenho, e que você explica que essa demora foi para não afastar as pessoas que têm uma ideia errada e negativa do que é feminismo. Eu fico impressionada que alguém deixe de perceber já no primeiro contato como sua obra é totalmente feminista. Você não?
Não. Ao longo do tempo, feminismo se tornou uma palavra com uma carga pesada e um suposto significado muito distorcido. A maioria das pessoas não sabe mesmo o que é feminismo. Na verdade, acho que pouca gente vai se identificar como feminista desde sempre. Eu sei que se me perguntassem se eu era feminista aos 15 anos, provavelmente eu diria alguma bobagem tipo, "não sou machista nem feminista, sou humanista", e ia achar que tava arrasando. Quando meu trabalho começou a aparecer mais na mídia, minha mãe me ligou um dia e falou comigo, "Carol, tão falando que seu trabalho é feminista", "Aham", "Mas não é, não, né?", "Claro que é mãe, totalmente feminista", "Mas você fala de muito mais coisa do que igualdade entre homens e mulheres", "E feminismo é isso também, mãe!", "É?", "É!", "Olha só que coisa... não sabia..." .
Quem já está no movimento tem sempre a grande questão: como furar a bolha? Como falar de feminismo para minha tia que não deixa meu primo brincar com bonecas? Não dá pra manter o diálogo apenas entre ativistas. Eu percebi que os conceitos básicos do feminismo relativos à igualdade, ao respeito, à dignidade eram coisas que as pessoas sempre tendiam a concordar, mas na hora de aplicar dava um nó na cabeça e a coisa não dava certo.
Então eu resolvi falar de tudo aquilo que a gente fala dentro do movimento com vários nomes e conceitos através de história, de vivências, com personagens que soassem humanos e despertassem a empatia, a identificação. Para quem já era feminista, era tudo muito óbvio. Para quem nunca tinha pensado muito sobre feminismo, foram ilustrações legais que falavam de coisas que elas entendiam -- ou, quando não entendiam, elas tentavam entender. Foi uma abordagem muito simpática e não agressiva. Quando eu finalmente usei o termo "feminismo", muita gente falou tipo, "Ah, feminismo é isso? Acho que sou feminista então"! Foi um resultado fantástico.
Então eu resolvi falar de tudo aquilo que a gente fala dentro do movimento com vários nomes e conceitos através de história, de vivências, com personagens que soassem humanos e despertassem a empatia, a identificação. Para quem já era feminista, era tudo muito óbvio. Para quem nunca tinha pensado muito sobre feminismo, foram ilustrações legais que falavam de coisas que elas entendiam -- ou, quando não entendiam, elas tentavam entender. Foi uma abordagem muito simpática e não agressiva. Quando eu finalmente usei o termo "feminismo", muita gente falou tipo, "Ah, feminismo é isso? Acho que sou feminista então"! Foi um resultado fantástico.
Carol Rossetti com Fátima Bernardes |
Ah, pois é. Muita gente disse que meu tom era condescendente, sim, recebi essa crítica de alguns. Na verdade, o tom do texto foi muito natural. É como eu converso com minhas amigas e amigos, e como eles conversam comigo. Quando comecei os desenhos, só meus amigos viam minhas coisas. Era natural para mim. Eu gosto de pensar em sempre ter uma linguagem não de ordem, não de conselho, mas de acolhimento. A questão para mim é incluir, acolher. Eu não quero que a mensagem final seja "você tem que fazer isso", mas sim "tudo bem, sua vivência é válida, seus sentimentos são válidos, você merece respeito. vamos buscar juntas uma solução, você não está sozinha".
Como você escolheu os nomes das personagens?
Tudo aleatório! Mentira, um ou outro não foi. A Amanda, que não se depila, foi uma referência clara à Amanda Palmer diva da minha vida. Maya, que tem a pele bem escura, foi uma referência a Maya Angelou. Alguns nomes foram escolhidos por pessoas no Instagram: eu postava a foto da carinha da personagem (sem o texto) e pedia sugestões. Algumas foram pessoas que pediram pra ver o próprio nome no trabalho, e eu falava que tudo bem, mas que o tema seria aleatório.
Adorei como o livro foi dividido, em seções como “Corpo”, “Moda”, “Identidade”, “Escolhas”, “Amores”. E a introdução também está ótima. Mas senti falta do número da página. Por que essa decisão de não numerar?
Ah, isso foi uma coisa que defini com a editora Sextante. Não foi propriamente para não numerarmos, mas queríamos colocar várias imagens sangradas na página, e aí o número da página às vezes não caía bem com o layout. Aí tiramos o número, mesmo.
Seus lindos desenhos já foram traduzidos para quinze idiomas, e os direitos do livro foram vendidos para EUA, Espanha e México. Você acha que sua obra tem apelo universal? O que nos une enquanto mulheres de todo o mundo?
Acho que sim, a luta por igualdade ainda é uma questão mundial, embora aconteça de forma diferente em cada país. Cada lugar tem suas especificidades, suas lutas e sua forma de lutar. Mas a questão das histórias é universal. Pode ser que nem toda mulher que não se depila passe pela mesma vivência da Amanda, mas isso pouco importa. A Amanda não é todas as mulheres, ela é Amanda. Algumas vão se identificar, outras, não. Mas todo mundo pode se sensibilizar com a história dela.
Acho que seu livro seria ideal para ser adotado em aulas de gênero nas escolas, para adolescentes. Quero dizer, se conservadores e religiosos permitissem que a existência dessas aulas. Você pensa em fazer uma obra mais didática para crianças e que lide com gênero e diversidade?
Sim! Na verdade, meu novo projeto que devo apresentar na semana que vem é exatamente isso. Vão ser tirinhas em quadrinhos, voltado para todas as idades (vulgo público infantil, mas os adultos vão gostar), tratando ainda dessas questões de gênero e diversidade. O projeto vai se chamar Cores (Colors), e vai ser bem fofinho!
Mensagem da Lola: Comprem o livro da Carol, em todas as livrarias! É uma obra de referência mesmo, pra olhar e motivar sempre. Ah, enquanto estava ilustrando este post, vi uma entrevista que ela deu em inglês.
Mensagem da Lola: Comprem o livro da Carol, em todas as livrarias! É uma obra de referência mesmo, pra olhar e motivar sempre. Ah, enquanto estava ilustrando este post, vi uma entrevista que ela deu em inglês.
37 comentários:
Lola, te mandei um email.
Bjus!
Que projeto bacana!
Quando ela fizer o livrinho pra crianças, divulga aqui, Lola? Quero comprar pros meus meninos.
Bj!
Mari Caroni
Arrancaram o antebraço direito da Jéssica tadinha.
Quando o assunto é sexo as mulheres recebem críticas o tempo todo. Se faz sexo casual é criticada, se está há muito tempo sem fazer sexo pode ser criticada tbm. Se não é virgem é criticada, mas se ainda é virgem a partir de uma determinada idade é criticada tbm. Várias críticas vem tanto de homens quanto de mulheres tbm. Inclusive tem machistas que usam o feminismo para pressionar mulheres a fazerem sexo com eles alegando que por ser feminista ela deveria ser "mais liberal" e fazer sexo com ele. E tem muita mulher que cai nessa.
Muito legal, parabéns!
Não sou muito de livro de imagens, mas o trabalho é bem bacana mesmo.
De fato, Anon 14:17, dia desses li um texto/depoimento de uma mulher falando sobre a falsa ideia de liberdade sexual que vem com o feminismo. Ela falava, a partir da própria experiência, sobre como muitas meninas estão começando a vida sexual cada vez mais jovens, imaturas e propensas a serem manipuladas pelos homens a fazerem o que eles quiserem. Claro que não se aplica a todas, mas acredito que esse é um ponto de vista que devia ser mais discutido.
Já conheci o trabalho da Carol via facebook e acho muito bacana a forma como ela consegue contemplar todo mundo (mostrando que diversidade de representação não vai fazer cair a mão de ninguém).
Eva e anonimo de 14h17, de uns tempos para cá comecei a pensar se toda a liberdade sexual que as mulheres conquistaram não estão se voltando contra elas. Me soa como "agora que a vadia está transando, vamos arrumar um jeito de humilha-la por isso".
Realmente as meninas estão começando a vida sexual mais cedo (os meninos meio que já começavam antes). Só que a liberdade sexual, a meu ver, não está sendo acompanhada de conscientização sexual. Hoje, vendo uma matéria sobre Bailes Funk e os filhos do funk (cheia de machismo e elitismo, eu sei), me veio o questionamento da ideia de sexo que é tida hoje em dia, como algo banal e sem consequências. Quem entende alguma coisa de políticas públicas sabe que é preciso dialogar com esse nicho, mas os índices de gravidez na adolescência e a disseminação de DSTs não estão regredindo. Além do que, infelizmente, as consequências da gravidez e/ou DSTs para as meninas são bem mais fortes, os rapazes pulam fora, e elas é que têm de ser pai e mãe ao mesmo tempo.
Mila,
E quando há alguma tentativa de conscientizar os jovens sobre DSTs e métodos contraceptivos, aparece um monte de coxinha pra dizer "ain, educação sexual pra crianças? Ainn, que abéçuuuuuuurdo! Vai incentivar! Meu filho não vai ter aula disso não! Tão destruindo a família brasileira! Vamos marchar pela família com deus, mimimimi!
...Como se jovens hoje precisassem de mais incentivo pra começar vida sexual... Como se já não estivessem expostos o suficiente. Se estão expostos, deveriam pelo menos ter informação pra se protegerem.
Carol, sua lynda!
Sucesso!
Penso o mesmo Rê.
Jovens estão fazendo sexo mais cedo, é um fato. Mas ao invés de tentar evitar um monte de adolescente grávida (e com isso os problemas de evasão escolar, baixa escolaridade, sub-emprego) e adolescentes - homens e mulheres - com DSTs, o povo prefere acreditar que é mais fácil reprimir a garotada.
E como um monte de filho sem pai e guria de 15 anos tendo que cuidar de bebê abandonando os estudos fosse a perfeição da família brasileira.
Uma coisa é dar aula de educação sexual para adolescentes, outra é dar esse tipo de aula para criança e tem gente que quer que elas tenham essas aulas.
Eu n vejo lógica nisso, elas nem vão entender as coisas direito. Por que uma criança tem que ficar sabendo de dst, gravidez???
A Carol é maravilhosa. Já encomendei o livro.
E gente, ela tem razão. É mais fácil falar de feminismo com qualquer, sem citar a palavrinha. Aí vc vai explicandinho. Hahaha
Anon das 18:45 uma aula de educação sexual pra crianças seria focada em prevenção de abusos, tipo ensinar a criança que ninguém pode tocá-la sem a permissão dela, que ela não precisa beijar nem abraçar ninguém se não quiser, que elas devem sempre contar qualquer coisa que as incomode para os pais, a reconhecer e evitar pedófilos. Conversas principalmente sobre pedofilia são importantes. Enfiar a cabeça no buraco e fingir que esse tipo de coisa nunca vai acontecer com seu filho/sua filha não funciona e nenhuma criança vai saber se defender de pedófilos se um adulto não ensinar, crianças não aprendem por osmose. Assim como educação sexual pra idosos se centra em saúde, prevenção de DSTs e qualidade do sexo durante a terceira idade ao invés de prevenir gravidez-algo que não os afeta mais, educação sexual pra crianças seria pra ajudar as crianças a se protegerem de abusos.
Tem gente que faz um escândalo quando se fala de educação sexual que parece até que vão passar filme pornô pra criança de 7 anos em sala de aula. Nem ao menos perguntam O QUE seria ensinado numa aula de educação sexual pra crianças.
Anônimo 18:45,
O que você chama de criança? Tem muita gente que acha que o filho de 14 anos é uma criaaaança, inocente, tadinho, não pode falar de sexo com ele... E nem imagina que o moleque já ta lá estuprando a coleguinha no banheiro da escola ou fazendo revenge porn.
Quanto a assuntos relacionados a sexualidade e gênero, existem variações de tema e de abordagem para cada idade.
Para crianças é importante alertar sobre situações de abuso, para que elas saibam que se algo assim ocorrer, podem pedir socorro e que a culpa não é delas. É importante combater desigualdades de gênero e falar de respeito às diferenças.
Se na escola ela aprende sobre sistema respiratório, digestivo, etc... Qual a necessidade de censurar sistema reprodutor? Pra que omitir a informação "de onde vêm os bebês" e criar um tabu em torno do tema? É só explicar de forma técnica e dizer "é coisa de adulto". Você acha mesmo que criança hoje em dia ainda acredita em cegonha? Se você não dá a resposta, ela procuram na internet... E informação de internet vêm sem filtro algum.
Para pré adolescente, tem sim que falar de sexo e suas consequências, de DST e métodos anti-concepcionais, pois tem molequx de 11 anos aí que já ta se aventurando e pai e mãe não vigia 24 horas por dia. E é nessa idade que costuma vir a primeira menstruação, as primeiras mudanças no corpo e é importante que esses pré adolescentes entendam o que está acontecendo e tenham apoio, com quem conversar nessa fase.
"Eu n vejo lógica nisso, elas nem vão entender as coisas direito. Por que uma criança tem que ficar sabendo de dst, gravidez???"
Ninguém falou em educação sexual para criança, o que a rê bordosa falou é que esse argumento ("e as crianças!?!?") é o comumente utilizado.
Mas de toda forma, educação sexual vai muito além de "o pênis entra na vagina e aí gravidez e DST". Não se oferece a uma criança informação além do que ela tem a capacidade cognitiva para lidar, e ninguém está defendendo isso. Educação sexual para crianças, sabe o que é? Ensinar que existem adultos ou outras crianças que podem querer um contato que a criança pode considerar indesejado, e que ela pode recusar isso indepentende de quem seja e do que este indivíduo fale, e que a criança deve falar para os seus pais imediatamente, pois isso é o certo e ela será protegida a qualquer custo. É ensinar higiene das partes íntimas, é ensinar que certas coisas não são adequadas para acontecer em público, que não se deve fazer avanços nos amiguinhos se eles estão incomodados com essa postura.
Algumas dessas coisas podem salvar a criança de um estuprador, algumas dessas coisas (como a higiene e o respeito) ela levará para a vida toda e pode evitar um câncer de pênis, pode ensinar a reconhecer uma DST logo cedo ou uma outra anormalidade pois será uma pessoa acostumada a zelar pela sua intimidade desde sempre. Pode tornar essa pessoa mais humana no futuro a ponto de reconhecer que estaria abusando de alguém se fizesse algo contra a vontade daquele (! sim.)
As crianças não devem ser subestimadas em sua capacidade de lidar com informação de qualidade. Apenas deve-se tomar o cuidado de não extrapolar no que é exposto e nem omitir o que pode ser necessário. É um equilibrio bem tênue, mas possível.
Uma graça o livro da Carol!
Agora quanto a questão da gravidez na adolescência. ...acho que deve ser estudada mais a fundo.
Eu trabalho com saúde pública e, há 2 anos, fizemos uma pesquisa com mais de 200 jovens entre 14 e 20 anos que já eram mães, muitas vezes mais de 1 filho.
Impressionante: mais de 75% delas afirmaram que a gravidez foi planejada!
Eu já vi também, muitas vezes, adolescentes com 15 anos ou menos (uma vez uma tinha 12 anos! ) procurarem o posto de saúde porque tinham "se juntado" (muitas vezes com homens bem mais velhos, o da de 12 anos tinha 30) e queriam engravidar logo!
Vejam bem, eu não estou desmerecendo a educação sexual ou a oferta de anticoncepcionais. Só acho que a discussão sobre gênero é muito mais importante para essas adolescentes! Elas tem que saber que tem outras opções porque o maior problema me parece a perspectiva de vida.
Para essas jovens, ser mãe cedo é o caminho natural. A história de vida das suas mães, tias, primas, irmãs e amigas é a mesma: a maternidade precoce. E muitas delas já cuidam da casa e dos irmãos mais novos desde muito cedo, acaba sendo uma ascensão social para elas cuidar da própria família.
Essa realidade que eu conheço é de jovens carentes da capital e do interior do Ceará mas acredito que se repita em muitos lugares.
É um tema muito complexo e, até para as jovens com condições econômicas melhores, o papel da mulher é ser mãe (apenas deve ser adiado para estudar, opção que as carentes nem sempre tem).
E os brinquedos para meninas? Não são pra brincar, são pra treinar desde sempre a dar mamadeira, trocar fralda e colocar bebês pra dormir!
Não sei se ficou confuso (estou no celular) ou se fugi muito do post mas acho que tem a ver com discutir gênero com crianças e jovens, tema do próximo trabalho da Carol, né?
Agora que eu vi os comentários antes do meu (é que está com moderação, né? ) acho que dá pra acrescentar:
Eu acho que discutir gênero e desconstruir esse "papel da mulher" (ser mãe ) como única alternativa seria muito mais efetivo para diminuir a gravidez na adolescência!
" Por que uma criança tem que ficar sabendo de dst, gravidez???"
Eu sou um ET ou ninguém aqui tem filhos? Não, porque a minha filha, com 4 anos me perguntou de onde vem os bebês. Será que ela é anormal? Pelo amor de Deus, gente, criança pergunta! Vocês querem explicar que foi a cegonha que trouxe? A gente fala, sim, para crianças, quando elas perguntam, sobre gravidez! Que ideia bizarra a de esconder algo tão simples e natural!
Aliás, meu terapeuta na época recomendou uma coleçãozinha muito legal sobre sexualidade para crianças, não lembro o nome nem a editora, mas era uma graça, tudo ilustrado com desenhos lindinhos, minha filha adorava e releu muitas e muitas vezes ao longo da infância. Há várias publicações bem feitas por especialistas da área, indicadas para o público infantil.
Vamos deixar de ensinar apenas o lado ruim do sexo, vamos falar de prazer também. Prevenir o abuso é muito bom, mas prevenir uma visão deturpada e reprimida da sexualidade é bom também.
Kittsu e Odara,
Exato!
Falar de sexualidade vai muito além de falar de pênis e vegina.
E com certeza é algo pra ser discutido dentro do contexto social.
Envolve falar do próprio corpo, de saúde e de perspectiva de vida.
Que incrível esse livro! A abordagem é leve, tão despretensiosa que nem parece tratar de temas tão complexos e ignorados pelo senso comum. Excelente iniciativa buscando inclusão e uma discussão franca sobre pautas feministas sem ranços, imposição de extremismo ou ideologias. Parabéns à Autora.
Eu fiquei pensando. ...
Será que não dava pra trabalhar com uma nova denominação para a "educação sexual" nas escolas? Usar um outro nome que remetesse a perspectiva de vida que não fosse imediatamente associado ao debate sobre gênero?
Como foi a construção do espaço da Carol: falar de feminismo muuuiito mas sem nominar assim.
Eu vejo (até aqui nos comentários) uma rejeição e uma incompreensão muito grandes das pessoas com o termo "sexual" do "educação sexual", parece que se trata de aula de relação sexual. E "gênero", para essas mesmas pessoas, é um termo de feminista e, se duvidar, comunista também :(
Aí nem se ouve as idéias, é só preconceito.
Não sei se eu estou ficando paranóica. ...mas parece que é uma jogada de marketing do patriarcado: usar termos cheios de significados emocionais sempre a favor da opressão. Tipo "pró vida" ou "educação sexual". Alguém que não tenha tido oportunidade de pensar sobre o mundo de modo crítico (por falta de conhecimento ou sei lá o que acontece com esse povo) vai escolher o que? Ser a favor ou contra a vida? Ser a favor ou contra o ensino de sexo para criancinhas?
Deveria ter aula pra tratar de igualdade, de inclusão e de responsabilidade social.
Aula de tolerância :)
Odara,
Realmente o preconceito e o moralismo besta acontecem, até no meio feminista. Muda a ideologia, mas não muda o discurso... Exemplo: se uma moça veste minissaia e usa batom vermelho é insultada dos dois lados: os machistas a chamam de vadia, sem valor e feministas extremistas a chamam de alienada, fútil, mico de piroco, cadela de macho, que ta mostrando o corpo e se enfeitando pra atrair homens (basta ver comentários de postagens anteriores para constatar isso). Há esses julgamentos vazios, que tomam o lugar dos questionamentos... Movidos pela demonização do corpo e da sexualidade.
A sexualidade e o corpo incomodam... A sexualidade e o corpo da mulher incomodam mais ainda. Em torno disso criam-se tabus, daí não se pode falar sobre isso! E sem o poder de informação e questionamento, perecemos na ignorância.
Pode ser uma boa estratégia de marketing criar eufemismos, abordar os temas de maneira mais suave, para não assustar os puritanos, como um cavalo de Troia... Mas também acho válido adotar estratégias contundentes, que choquem, que quebrem tabus, que tirem as pessoas de suas zonas de conforto e confronte o status quo acerca da sexualidade. Acho que as duas abordagens podem seguir em paralelo, são válidas.
Odara e a Rê Bordosa,
O que acham de amadurecer essas ideias para um projeto em escolas? Poderia ir além e partir para a conscientização de pais de alunos também. Quando falo sobre feminismo e direitos das mulheres também evito o termo. Pela minha experiência, fica muito melhor de se comunicar com as pessoas, porque parece que assim que ouvem "feminismo", a mente fecha e, pronto, não entra mais nada.
E sobre os jovens se iniciarem sexualmente mais cedo, sei lá, eu devo ser a única pessoa que meio que discorda? A cultura brasileira sempre empurra gente bem jovem ao sexo. É comum se levar o garoto aos 13, 14 anos ao puteiro para se ter a primeira vez. Muita menina antigamente era empurrada ao casamento com mais ou menos essa idade pra não "se perder".
Nossa cultura se não é historicamente pedófila, chega bem perto.
Lindo o trabalho da Carol!! Amei!! parabéns e muito sucesso!!!
As gurias tem ótimos insights!!! Talvez termos mais adequados afugentem menos e sejam mais apropriados.
Porém, saber que existem tantas pessoas que acreditam piamente que educação sexual é ensinar "putaria" na sala de aula, me faz perder (ainda mais) a fé na humanidade...
Como diria Einstein - "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta".
Jane Doe
Às vezes tenho a impressão de que a sociedade está regredindo... Lembro que quando eu tinha uns 12, 13 anos assistia na escola (pública) palestras sobre DST e gravidez na adolescência, e isso foi mais de 10 anos atrás. Eles juntavam várias turmas de ensino fundamental no auditório e vinham uns grupos de voluntários palestrar (creio que eram estudantes de medicina, enfermagem, etc). Eles falavam tudo bem abertamente, mostravam fotos das doenças nos órgãos sexuais, explicavam a importância do preservativo, ensinavam como usar, davam cartilhas educativas, até camisinha eles distribuíram uma vez! Lembro de um dos rapazes 'vestindo' uma camisinha no braço pra dizer a nós - garotas - que não acreditasse caso um namoradinho viesse com a conversa de que os preservativos não cabiam nele, já que ninguém é tão avantajado assim.
E não me lembro de ninguém ter reclamado que éramos crianças demais para ser orientados sobre o tema. Agora existe uma onda tão conservadora no Brasil que eu me pergunto se até isso já está sendo vetado nas escolas.
Verdade. Na minha época de colégio já faziam terrorismo ao tratar de aborto, com fotos de bebês já formados (e portanto bebem além daquele período anterior à formação do cérebro) mutilados. Era o que os professores mostravam, também. Demonizando, não esclarecendo e discutindo.
Mas nessa época uma professora descreveu o que ocorria com o corpo feminino durante um estupro e porque os danos desse crime seriam fisicamente tão extensos, que era coisa que eu não fazia idéia. Não sei se teria gente erotizando estupro se soubesse que literalmente rasga por dentro e a coisa toda...
A (des?)educação sexual que eu recebi na escola mesmo, foi de chorar sangue...
Imagina só numa cidadezinha pequena do interior como a coisa era tratada.
Pílula era tratada como a droga mais perigosa da face da terra. Nas aulas de religião (pq essa p**** existe???) sexo era só depois do casamento e para se ter filhos. Nas aulas de ciência, nos traziam aquelas mapas anatômicos com os genitais desenhados em corte lateral bem pequenos lá no cantinho. Nessa mesma aula do mapa, nos foi dito que o corpo feminino não era feito pro prazer.
Resumindo - sexo que não é feito dentro do casamento pra procriar era do mau e trazia DSTs que te matariam muito dolorosa- e lentamente.
Clitóris?
Menstruação/Ciclo menstrual?
Contracepção efetiva?
Sexualidade?
Isso non ecziste!!!
E pelo andar da carruagem, vai continuar " non eczistindo" por muuuuuuuito tempo!!!
Jane Doe
Anônima das 09:27:
Eles estavam certos.
Errado é o pensamento torpe de hoje.
Por isso o mundo está amaldiçoado como está hoje.
E a culpa é de quem infla essas atitudes contra a família.
Bjs.
9:38 você não engana ninguém, não convence ninguém. Você exala cheiro podre de olavete e bolsonete.
Rê, Odara, Kittsu:
Sou filho da década de 60 (rs) e lembro de na escola primária termos uma matéria chamada algo como "Program de Saúde" ou coisa similar. Não lembro exatamente do conteúdo, mas acho que seria uma boa pedida para fazer a abordagem que vocês propõem (que acho fantástica) para tratar desses temas. De fato, a linguagem e a maneira como a usamos têm muita força e são muito carregadas ideologicamente. E, na mente de pessoas que não pensam criticamente, a simplificação e o reducionismo acabam prevalecendo sobre o julgamento.
Anos atrás, através de uma amiga, tomei conhecimento de um projeto surgido no Canadá que buscava orientar não só as crianças, mas também os pais (principalmente as mães) em comunidades carentes sobre coisas como segurança alimentar, cuidados de saúde (coisas básicas, mesmo, como lavar as mãos antes das refeições, lavar legumes e verduras antes de comê-los etc.). Pedi para essa minha amiga me dizer se o projeto ainda está ativo para ver se eles incluem algum tipo de informação sobre questões que envolvem sexualidade nos moldes que vocês sugeriram. Se tiver, posto o link aqui.
Quanto ao trabalho da Carol Rossetti, achei ótimo: é incisivo sem ser agressivo e coloca as mensagens de maneira que provoca identificação. Parabéns para ela.
Abraços
Carlos, o que vc disse é relevante, porém enxergo diferenças cruciais entre a iniciação sexual das jovens de antigamente e das de hoje. Falando sobre as jovens de classe média, o sexo no casamento era algo voltado para a procriação (pq esse recorte? Entre mulheres pobres não tinha muito desse mito do casamento, dotes e coisas assim; sem contar que as mulheres pobres que eram empurradas para o sexo bem cedo) enquanto hoje em dia, o sexo tem conotação de prazer para essas jovens.
Odara, isso o que vc falou é bem relevante. Quando saiu aquela pesquisa sobre casamento infantil no Brasil, li algumas análises sobre garotas de 12, 13, 14 anos "se juntando" com rapazes bem mais velhos, às vezes com o consentimento da família. Essas jovens enxergam no casamento e na formação de uma família uma perspectiva melhor de vida. No entanto, os problemas acontecem quando essas meninas não possuem independência nenhuma em relação aos seus companheiros
Anon das 09:41 então me explica por que no séc. XIX, quando os homens mandavam em tudo, as mulheres não saíam de casa e só cuidavam dos filhos:
Existiam viciados em ópio, roubando e matando pra conseguir uma dose.
Existia, bordéis em que se empregavam crianças pra homens pais de família, héteros, brancos e ricos.
Existia estupro.
Existia velho de 60 anos casando com menina de 12.
Existiam adolescentes de 15, 16 anos grávidas em geral de estupro marital.
Existia violência nas ruas.
Enfim, explique porque vocês machistas sabem que o mundo sempre esteve desse jeito e vai continuar assim por culpa de vocês, mas continuam tentando fazer as mulheres se sentirem culpadas e voltarem a ser escravas? Case logo com outro mascu babaca como você e seja feliz.
Anônima das 12:02:
Porque nós somos cínicos e egoístas.
Fatos não nos interessas apenas as nossas aspirações mesquinhas.
Bjs.
Carlos Daniel,
"assim que ouvem feminismo, a mente fecha e, pronto, não entra mais nada."
É exatamente isso!
E pensando por esse lado das mulheres casando cedo e dos meninos indo ao puteiro aos 12, talvez não tenhamos mudado muito mesmo.
Jane Doe,
Que triste! Não duvido que isso ainda aconteça em algumas escolas religiosas.
Eva e Flávio
Hoje estou com 30 anos. Também tive essas aulas na escola e eu estudei em escola pública. Na 4ª série, dentro da matéria ciências, tivemos aula bem superficial sobre aparelho reprodutor. Da 5ª a 8ª série vez ou outra abordavam os temas "DST e prevenção" e "gravidez na adolescência". Do 1º ao 3º ano do ensino médio havia uma matéria específica chamada "educação sexual", onde falavam de tudo: desde DSTs até campanha anti-drogas/álcool/tabagismo. As aulas eram ótimas, as professoras levavam todo tipo de material ilustrativo e modelos anatômicos, que elas conseguiam por esforço e pesquisa delas, pq escola pública não tinha recurso. Também tínhamos liberdade pra falar com elas depois da aula e tirar dúvidas pessoais.
Nos incentivava a fazer sexo? Não mesmo! Pelo contrário, eu pelo menos morria de medo de engravidar, porque sabia que nenhum método anti-concepcional é 100% e lembrava daquelas longas conversas sobre como era difícil ser mãe na adolescência. E também tinha medo de pegar DSTs, os slides com aqueles pênis e vaginas cheios de feridas eram apavorantes. Então eu pergunto: incentiva o jovem aonde?!!!!!
Naquela época a bancada evangélica não tinha a força que tem hoje...
Eu não trabalho na área de educação. Não sei bem como é hoje, mas uma amiga com filhos em idade escolar já reclamou que o conteúdo da escola ta com foco apenas em vestibular e ta esquecendo de ensinar coisas muito pertinentes a vida em sociedade... Que os coleguinhas do filho às vezes vem perguntar as coisas pra ela pq em casa não tem com quem conversar e na escola tb não. Talvez seja só na escola do filho dela, talvez seja geral, não sei.
Mas eu tb não sei se a minha escola era o padrão de escola pública da época. Porque os professores em geral eram mente aberta e muito engajados. Promoviam gincanas para arrecadar recursos para escola, organizavam eventos que incluíam a comunidade... Hoje devem estar aposentados, mas se estivessem na ativa seriam chamados de esquerdistas, petralhas, hippies...
Não é novidade nenhuma, anon das 14:35, isso todo mundo já sabe. A esperança é que vocês tomem um semancol e parem de exigir que as pessoas sejam gentis e legais com vocês enquanto vocês são uns babacas nojentos. Pra ver se vocês acordam e se ligam que o mundo não gira em torno dos seus pintos, sabe? O mundo não gira em torno do seu pinto e você já devia ter aprendido isso.
Parabéns pelo trabalho !
Maria Valéria
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