sexta-feira, 12 de junho de 2015

"DESILUSÃO COM ATIVISMO NÃO ME DESENCORAJA DE TENTAR FAZER O BEM"

Aqui está a segunda parte da tradução que o Luan fez para o artigo de Aurora Dagny. Leia a primeira parte antes.

O anti-intelectualismo é uma pílula que engoli, mas ficou presa em minha garganta e iria salvar-me no final. Ele manifesta-se de algumas formas. Ativistas nestes círculos frequentemente expressam desdém pela teoria, porque consideram questões teóricas como jogos inúteis de sudoku, muito distantes dos problemas do mundo real. Foi o que levou um dos meus amigos a dizer, irritado e descrente: “a vida das pessoas não é mera questão teórica!” Esta mesma pessoa também se declarou adepta de um grande número de teorias sobre a vida das pessoas, o que revela algo importante. 
Quase tudo o que fazemos depende de uma crença teórica ou outra, que variam de simples a complexas e de implícitas a explícitas. Uma questão teórica é apenas uma questão geral ou fundamental sobre algo que consideramos suficientemente importante para pensar a respeito. Questões teóricas incluem questões éticas, questões de filosofia política e questões sobre a natureza ontológica do gênero, da raça e da deficiência. Em última análise, é difícil traçar uma linha clara entre teoria e pensamento em geral. Desdém pelo pensamento é absurdo e ninguém jamais o expressaria, se soubessem que é isso que estavam fazendo.
Especialmente no que tange à esquerda radical, um problema criado por esta inclinação antiteoria é o grande volume de retórica e bazófia, muitas queixas apaixonadas contra o mundo ou algum aspecto dele, sem uma alternativa clara, detalhada e concreta. Havia uma desculpa comum para isto. Como um amigo ativista escreveu em um email, “a atual organização da sociedade prejudica fatalmente nossa habilidade de imaginar alternativas significantes; assim, propostas construtivas terminarão simplesmente reproduzindo as atuais relações”. Esta afirmação está estruturada em linguagem teórica, mas é uma justificativa para não teorizar sobre alternativas políticas. 
Por muito tempo, eu aceitei esta justificativa. Então eu percebi que a mera oposição ao status quo não era suficiente para distinguir-nos dos niilistas. Na indústria de software, um software excessivamente anunciado que nunca é realmente lançado é chamado de “vapourware”. Devemos desconfiar do vapourware político. Se a alternativa de alguém ao status quo é o nada ou ao menos nada muito específico, então do que estão mesmo falando? Estão vendendo vapourware político, criando “conversa de vendedor” para algo que nem sequer existe.
O anti-intelectualismo também opera com força total no campo da antiopressão. Manifesta-se na visão de que não apenas o conhecimento sobre o que é opressão como também o conhecimento sobre todas as questões éticas pertinentes à opressão são acessíveis apenas por meio da experiência pessoal. As respostas a estes questionamentos éticos são tratadas como matéria de revelação privada. No âmbito acadêmico da ética, proposições éticas são julgadas pela força de seus argumentos, uma forma de revelação pública. Alguns ativistas consideram esta abordagem intolerável.
Talvez o princípio mais profundamente adotado por uma determinada vertente da política antiopressiva — que de forma alguma é a única vertente — seja que os membros de um grupo oprimido são infalíveis no que dizem sobre a opressão enfrentada por aquele grupo. Este princípio decorre da sábia regra geral (empírica) que diz que grupos marginalizados devem ser autorizados a falar por si próprios, mas leva esta regra geral a um extremo impraticável.
Deixe-me dar um exemplo. Uma pessoa homossexual está tipicamente muito mais familiarizada com a homofobia do que uma pessoa heterossexual. Além disso, uma pessoa homossexual tem um interesse muito maior no que a sociedade faz em relação à homofobia, de modo que a sua visão sobre o assunto é mais importante. Contudo, não há nada na experiência da homossexualidade em si que esclareça uma pessoa homossexual sobre a ética da orientação sexual.
Pegando um caso muito simples, você não precisa ouvir de uma pessoa homossexual que a homossexualidade é perfeitamente aceitável do ponto de vista ético. Se você é heterossexual e uma pessoa homossexual diz a você que a homossexualidade é errada, você pode concluir, confiante em seu julgamento, que isto não é verdade. Nesta situação, a pessoa heterossexual está certa e a pessoa homossexual está errada sobre homossexualidade e homofobia. 
Homossexuais não têm acesso especial ao conhecimento ético, de forma geral ou especificamente sobre orientação sexual. Homossexuais, de fato, tendem a ter um conhecimento ético melhor sobre orientação sexual do que heterossexuais, mas somente por causa de como as nossas circunstâncias de vida nos fazem refletir sobre isso.
Se eu dissesse a mesma coisa em outro contexto que não é tão simples — quando a opinião correta não é tão óbvia —, eu seria energicamente condenada. Mas a simplicidade do exemplo não é o que o torna válido. As pessoas que pertencem a grupos oprimidos são só pessoas, com pensamentos, em última análise, tão falíveis quanto os de qualquer outra pessoa. Elas não são oráculos que distribuem sabedoria eterna. 
Ironicamente, o princípio da infalibilidade, projetado para combater a opressão, permitiu que o essencialismo ganhasse terreno. A característica que define o pertencimento de um indivíduo a um grupo é tratada como uma fonte de conhecimento ético inato. Isto para não falar no problema maior de como se deve decidir quem é uma fonte de conhecimento inato ou não. Certamente não alguém que “sabe”, de forma inata, que a homossexualidade é nojenta e errada, mas por que não, se você está simplesmente baseando-se na revelação privada em vez de critérios públicos?
Considere os Otherkin, pessoas que acreditam que são literalmente animais ou criaturas mágicas e usam os conceitos e a linguagem da política antiopressiva para falar sobre si próprias. Eu não tenho nenhum problema em chegar às minhas próprias conclusões sobre a experiência vivida pelos Otherkin. Ninguém é literalmente uma abelha ou um dragão. Precisamos avaliar asserções sobre opressão com base em mais do que somente o que as pessoas dizem sobre si. Se eu levasse a sério a ideia da infalibilidade dos oprimidos, eu teria de acreditar que dragões existem. É por isso que se trata de um guia tão indigno de confiança. (Eu meio que espero a resposta: “examine o seu privilégio humano!”.)
É sempre um sinal ominoso quando um movimento político dispensa métodos e abordagens para a obtenção de conhecimento que sejam ancorados na revelação pública e quando, além disso, se torna abertamente hostil a eles. O anti-intelectualismo e a confiança no conhecimento inato são traços distintivos de uma seita ou uma ideologia totalitária.
O anti-intelectualismo era a única faceta desta visão de mundo que eu jamais fui capaz de suportar completamente. Eu era dogmática, fui vítima do pensamento de grupo e tinha uma mentalidade de cruzada, mas eu nunca fui completamente anti-intelectual. Desde criança, eu sentia que a busca do conhecimento era minha vocação. É parte de quem sou. Eu jamais poderia virar as costas para isso, ao menos não completamente. 
E essa foi a fenda por onde entrou a luz. Meu amor pela reflexão profunda e pelo pensamento sistemático nunca cessou. Quase por acidente, eu tirei uma folga do ativismo. Passei um tempo apenas tentando ficar feliz e em paz, bem longe de Montreal. Havia muito, eu não tinha o tempo e a liberdade de apenas pensar. De início, eu puxei alguns fios e então, depois disso, a coisa toda se desemaranhou. Devagar, minha visão de mundo política entrou em colapso interno.
O saldo foi maravilhoso. Um mundo que parecia cinzento e sem esperança encheu-se de cores. Não consigo exprimir quão lúgubre minha visão de mundo era. Um amigo ativista certa vez disse a mim, com plena sinceridade: “tudo é problemático”. Esse era o consenso geral. Muito mais lúgubre foi algo que eu disse em uma ligação a um velho amigo que vivia em outra cidade, fora do meu mundo político. 
Como um número desproporcional de esquerdistas radicais, eu estava deprimida e passava muito tempo suspirando ao telefone. “Não tenho medo de que você se mate”, disse ele. “Eu sei que você quer viver para sempre.” Eu soltei uma risada fraca e triste. “Quando eu disse isso”, respondi, “eu estava muito mais feliz do que estou agora”. Perder minha ideologia política foi extremamente libertador. Tornei-me uma pessoa mais feliz. E também acredito que me tornei uma pessoa melhor.
Acabo de dizer muitas coisas negativas. Mas, é claro, meu objetivo aqui é fazer algo positivo. Estou amaldiçoando as trevas na esperança de ver a luz de um novo dia. Mesmo assim, não quero apenas criticar sem oferecer uma alternativa. Então, deixe-me dar alguns conselhos construtivos a qualquer pessoa interessada no ativismo antiopressivo e/ou de esquerda.
Em primeiro lugar, abrace a humildade. Você pode achar revigorante. As outras pessoas vão achar revigorante também. Seja assertivo, seja veemente, só não fique muito cheio de si. Não acredite cegamente em si próprio. Questione-se tão ferozmente quanto você questiona a sociedade.
Em segundo lugar, trate as pessoas como indivíduos. Por exemplo, não trate toda pessoa que pertence a um grupo oprimido como porta-voz oficial daquele grupo como um todo. As pessoas não estão conectadas a uma espécie de mente coletiva. Tratá-las como se estivessem, além de ser essencialista, também leva a contradições, já que obviamente nem todas as pessoas concordam em tudo. Não há atalho que permita que você evite pensar por si próprio sobre opressão simplesmente aquiescendo às opiniões dos outros. 
Você precisa decidir em que opiniões confiar, o que equivale a julgar por si próprio. Isto faz recair uma enorme responsabilidade sobre você. Enfrente o problema com firmeza. Aceite a responsabilidade e afie seu pensamento. Identifique contradições e falácias lógicas. Quando ouvir uma opinião sobre um tipo de opressão de um membro do grupo-alvo, busque contrapontos entre membros do mesmo grupo e contraponha as opiniões umas às outras. Não tenha medo de ter insights originais.
Vencedor da competição para
ver quem grita "Stella" mais
alto, em homenagem a Um
Bonde Chamado Desejo
Em terceiro lugar, aprenda a ser diplomático. Nem tudo é uma guerra do bem contra o mal. Pessoas razoáveis e informadas frequentemente divergem em questões éticas importantes. As pessoas terão concepções distintas do que implica ser antiopressivo, então se habitue à discordância. Quando se trata de discordâncias morais, incredulidade, irritação e um senso de urgência devem ser esperados — são elementos inerentes à discordância moral. Por isso é que um toque diplomático é tão necessário. Do contrário, tudo se transforma em uma competição de gritos.
Em quarto lugar, adote uma abordagem sistêmica ao espectro político. Trate a busca do melhor tipo de sociedade como um problema de engenharia. Pense em propostas específicas e concretas. Elas realmente funcionariam? Diferencie o que é desejável do que é viável. Refine suas categorias para além de dicotomias simples como capitalismo/ socialismo ou estatismo/ anarquismo.
Não deixarei que minha desilusão com meu ativismo no passado me desencoraje de tentar fazer o bem no futuro. Se você se encontra igualmente desiludido, coragem! Contanto que você aprenda com seus erros, ninguém pode culpar você por tentar ser uma boa pessoa. Não se preocupe. Todos nós temos uma segunda chance.

33 comentários:

Augusto disse...

Por muito tempo de intitulei feminista. Hoje digo sem medo que sou um antifeminista feminista. Eu não acho que a elaboração teórica feminista esteja errada ou que o feminismo é vitimizador (como alguns do feminismo liberal ou do masculinismo tendem a dizer). Eu concordo com praticamente todos os casos em que as mulheres sofrem e são limitadas por seu gênero. Eu até concordo um pouco com as feministas radiciais, mas penso que elas entenderam isso um pouco errado (a vagina não é um determinante, mas um condicionante; a falta de vagina não impede alguém de ser mulher; não basta uma criação de gênero para se tornar uma mulher; a criação mais rígida para que alguém se encaixe em um gênero ainda assim pode levar a que, por exemplo, um XX possua, como gênero, o masculino).
O meu problema com o feminismo é que ele é limitado e ignora o principal: que a cultura violenta masculina (cultura do estupro, feminicídio, subordinação feminina) atinge também homens. Não basta ser homem para ser beneficiado de seu gênero. São homens aqueles que mais morrem (e morrem porque são homens; muitas vezes mulheres são poupadas por serem consideradas um elo mais fraco), homens também sofrem estupro (fazem piadas com os estupros nas prisões; é considerado um problema secundário; os estupros contínuos de homens em guerra também são geralmente teorizados como uma cultura do estupro).
Eu poderia falar, como alguns antifeministas, que o feminismo é inclusivo demais em relação aos problemas das mulheres, mas eu não penso que seja. Discordo pouco com os problemas levantados por feministas (eu não sou um feminista liberal). Acho sim que mulheres têm menos chance no mercado de trabalho em geral, mas tenho muita consciência de que os homens que escolheram carreiras femininas podem sofrer muito mais com o sexismo do que metade das mulheres (isso o feminismo não percebe: o sexismo não afeta igualmente a todas as mulheres e nem todas as mulheres se incomodam com o sexismo; se todos os problemas afetassem igualmente a todas as mulheres, com certeza já teríamos uma revolução).

Anônimo disse...

Talvez o motivo seja: as pautas masculinas não são problema pro feminismo resolver, mas mesmo se fosse, não é o feminismo que acha graça/inventou o estupro, não foi o feminismo que inventou a guerra, não é o feminismo que mata esses homens, e sim o patriarcado e a cultura machista, coisa que tentantos romper desde sempre.

Anônimo disse...

Sabe com o que o homem está preocupado com a parte do machismo que não os convém, quem nunca ouviu um homem falar de alistamento obrigatório? agora a parte que convém eles tão pouco se fodendo e eles odeiam as mulheres relatam abusos preferem falar que é vitimismo mimimi.
pena de homem eu tenho não

Anônimo disse...

nao dava pra escrever de um jeito menos tecnico? desculpe mas não entendi bulhufas

Anônimo disse...

eu desisti foi de ler o texto rebuscado demais

Anônimo disse...

do jeito que o povo é burro ninguém vai conseguir ler até o fim

B. disse...

3 comentários. Mas se fosse um post problematizando a pornografia, ia chover de gente aqui falando que é "libertador". Achei o tema interessantíssimo, vim nos comentários pra ver a discussão e nada?

Anônimo disse...

também reparei isso mas eu pensei que a lola ia falar dos dia dos namorados.

anon A. (radfem) disse...

Olá Augusto, sobre isso:
"a vagina não é um determinante, mas um condicionante; a falta de vagina não impede alguém de ser mulher; não basta uma criação de gênero para se tornar uma mulher; a criação mais rígida para que alguém se encaixe em um gênero ainda assim pode levar a que, por exemplo, um XX possua, como gênero, o masculino"
A questâo é que o seu ponto de vista está aceitando esteriotipos de gênero como algo esperado, que a "criação de gênero" vai ser sempre assim e deu, e assim você iguala ser mulher à gênero. O ponto é que é impossível definir "gênero" sem ser machista. Radfems são contra a existência de gênero, então tambem somos contra "criação de gênero". Consideramos que qualquer pessoa pode ter qualquer personalidade e hobbies, sem automaticamente isso definir a pessoa como "homem" ou "mulher".

Inclusive, vi um post com mais de 45k comentários positivos no Tumblr ontem, elogiando o personagem Shang no filme Mulan porque na música ele cantou quer ser homem era ser bravo e forte (não ter um pênis), e por isso que ele seria um personagem progressista em relação a homens trans. 45 mil pessoas achando progressivo definir homem como "força e bravura" e a ausência disso como ser mulher!


Sobre o post em si, não tenho nada a contribuir, achei o post muito rebuscado e abstrato e fica díficil comentar algo mais específico...

Anônimo disse...


Acho que não vai ter muito comentário com um texto rebuscado desses. Fica difícil de entender e chato.

Anônimo disse...

desde quando mulher é forte anon A? querem brigar até com a natureza.

anon A. (radfem) disse...

Mais sobre o post...

Os argumentos da guest sao bastante genericos, e na verdade da para usa-los para criticar literalmente qualquer coisa: movimentos politicos (mesmo os que forem totalmente opostos), religioes, ausencia de religioes, e organizacoes sociais.

Tambem me passa a impressao, no final da post, que a guest ligou o foda-se para critica social e adotou uma postura conformista em relacao a sociedade. Principalmente na aprte em que ela diz que apos largar a esquerda radical o mundo cinza dela ficou colorido e vivo de novo. O mundo ainda e' o mesmo, entao so' posso imiginar que ela decidiu fechar os olhos para os problemas do mundo.

(Desculpem a falta de acentos)

anon A. (radfem) disse...

"desde quando mulher é forte anon A? querem brigar até com a natureza." (anon 16:09)

Voce ignorou completamente o contexto do post, mas anyway, sim, mulheres sao fortes e muito. Tambem sao bravas. So' nao somos mais fortes porque somos desestimuladas a isso desde sempre, de forma que e' impossivel saber qual e' a real diferenca inerente de forca entre uma mulher e um homem.

Sou uma mulher bastante GNC (gender non-conforming), e que inclusive cogitou seriamente ser um homem trans e so' foi impedida de tomar uma decisao que me deixaria dependende de remedios e cirurgias pelo resto da vida por ter encontrado o feminismo radical.

E com certeza sou forte, sou mais forte que a maioria dos homens que eu conheco.

Nas aulas de luta que pratico, e' batsante interessante ver a diferenca entre homens e mulheres. Homens? No minimo metade sao adolescentes ou criancas, treinando por incentivo dos pais. Dos adultos, a maioria treina desde cedo. Das mulheres? A esmagadora maioria e' adulta, e treina com o dinheiro do proprio salario, e foi fortemente desincentivada a treinar quando jovem.
Nao e' incomum nas aulas mulheres fazerem corpo-mole nas flexoes, nao porque nao tem forca para isso, mas por medo de ganhar musculo no braco e 'ficarem feias'. Foi exatamente isso que uma aluna respondeu ao ser questionada pelo instrutor. Enquanto isso, a esmagadora maioria dos meus amigos homens ja foi ou vai para a academia para ganhar musculo no braco.

Se houver alguma diferenca inerente ao sexo, com certeza e' muito menor do que a diferenca que existe devido a pressao cultural e machista.

(Ainda sem acentos...)

Anônimo disse...

n adianta ignorar a realidade,mulher pode treinar o quanto for que n vai ser mais forte q homem

Anônimo disse...

A "discussão" nos comentários prova o ponto da Autora de que o radicalismo, por si só, não conduz à mudança nenhuma. É preciso a reflexão e teorização das pautas das minorias e, principalmente, como abordá-las na prática.
Fabi

Anônimo disse...

O grande "demérito" do texto é ser... rebuscado? É sério isso? Será que chegamos em um ponto em que os textos precisam ser toscos ou "digestivos" para serem compreendidos? Ou carregados de ofensas ou argumentos senso comum? O que aconteceu com a capacidade de concentração, interpretação (que tanta gente cobra aqui, mas, parece, pouco usa) e de imersão na leitura para poder ter sobre ela (a leitura) um ponto de vista crítico, ainda e principalmente se for para discordar do conteúdo?
Achei o texto muito lúcido, problematizador, para além dos radicalismos que a gente tão frequentemente vê em blogs, sites e afins. Põe em cheque as polarizações exacerbadas e oferece a oportunidade para pensarmos se queremos ou não manter essa postura "radical" ou se estamos dispostos a fazer ajustes na nossa forma de ver o mundo, reconhecendo que nem sempre podemos estar tão certos e só os outros errados.
Ou será que por ser na internet tem que ser "curto e fácil"? Vai ver que a nossa indisposição para ler textos mais elaborados é que aumentou...
Vai saber...

Anônimo disse...

Grupo Flores para Elas faz vaquinha online para apoiar vítimas do estupro coletivo no Piauí

Pq não divulgar uma coisa pratica tb? em vez de ficar só no mundo das ideias? Vc tá ai no nordeste Lola, seria pedir demais?

Se não pudermos cobras das feministas vamos cobrar do Danilo Gentili?

lola aronovich disse...

Divulguei várias vezes no Twitter. E já colaborei.
Não coloquei no post de segunda porque o post foi escrito às pressas e não me lembrei. Vc podia colocar o link em vez de só ficar cobrando, não?
E o que tem a ver morar no nordeste? Qualquer um pode ajudar com uma vaquinha online. Não precisa morar na mesma região. É impressionante: não escrevo sobre um caso --> sou cobrada. Escrevo sobre um caso --> sou cobrada.


Augusto, fiquei sentida com seu comentário. Ao se assumir anti-feminista, vc se coloca ao lado de fascistas, de religiosos conservadores, de mascus. O rótulo "anti-feminista" existe. O rótulo "anti-feminista feminista", não. Lembre-se que o feminismo é plural e que existem muitxs feministas que acreditam, sim, que o machismo é também muito prejudicial pros homens. Essas correntes do feminismo veem homens como aliados, não como inimigos. O inimigo é o machismo, é o sistema.

Jesse disse...

Eu acho que esse texto é excelente e sim, de certo grau, a reflexão proposta aplica-se a outros discursos que não o ativismo, mas o surpreendente, o que provoca espanto, é justamente a postura anti-intelectual no ativismo, pois o que provoca o ativismo é a reflexão profunda. Sim, aqui na caixa de comentários vemos exemplo de dogmatismo, anti-intelectualismo, infalibilidade do oprimido. E a evidência da necessidade do texto é a preguiça de todos em comentá-lo. Eu imaginei paus e pedras, reaças apontando dedos, e o que vejo? "Ahn, texto longo, precisa usar o cérebro"

Kittsu disse...

"Ahn, texto longo, precisa usar o cérebro"
só vou ler isso amanhã. durante o dua tava ocupada e de nioite bêba... dá nem pra raciocibnar.

Panthro disse...

". As pessoas que pertencem a grupos oprimidos são só pessoas, com pensamentos, em última análise, tão falíveis quanto os de qualquer outra pessoa. Elas não são oráculos que distribuem sabedoria eterna. "

Maior verdade. Não é ser mulher que torna uma pessoa feminista, não é ser negro que faz com que uma pessoa seja contra o racismo, não é ser gay que torna uma pessoa contra a homofobia. É a reflexão. E reflexão não vem de graça. É um trabalho contínuo e é um trabalho de ouvir o outro. De entender o que incomoda e porque incomoda e fazer um esforço de mudar. De ouvir a si mesmo e pensar sobre o que lhe incomoda ao invés de fingir que está tudo bem pra não criar tumulto e ser aceito.

Muitas vezes as pessoas usam como argumento: "Ah, mas fulano é mulher/gay/negro e não se incomoda". O que é irrelevante. Se ele não se incomoda, bom pra ele. Mas no final das contas, as pessoas são indivíduos e o que lhes incomoda tem que ser tratado individualmente. Pra isso só resta empatia, já que você não tem como se colocar de fato no lugar das pessoas.

Mas determinar o que é ético, não é necessária essa discretização. Pelo contrário: A ética é geral, não particular. E se chega até ela através de reflexão teórica, não ouvindo casos particulares. É através da reflexão teórica que se chega a propostas que sejam úteis. Eu entendo que muitas vezes as pessoas precisam de apoio psicológico porque tiveram uma vida escrota e até por isso procuram os grupos de militância. Mas muitas vezes isso acaba reduzindo os grupos a comunidade de apoio e suporte, que são muito úteis, mas não podem ser tudo. Em alguma parte, pessoas que já foram empoderadas e reconstruíram suas vidas precisam refletir em como mudar as coisas de forma prática e duradoura.

E o que eu vejo é que essas pessoas evitam cada vez mais os espaços de militância por conta dessa competição por espaço, que é ridícula. São coisas diferentes, objetivos diferentes e igualmente importantes. Se as pessoas não percebem isso, talvez fosse o caso de separar mesmo os grupos. Então você teria, no caso de um grupo de feministas que quisesse trabalhar, sei lá, aborto: de um lado um grupo que daria suporte pras pessoas contarem suas experiências e lidarem com as consequências psicológicas de um aborto e outro que pensasse em formas de legalizar o aborto, de fornecer informações seguras, tipo fazem as mulheres do Women on Waves (http://www.womenonwaves.org/en/page/702/how-to-do-an-abortion-with-pills--misoprostol--cytotec).

Quando uma amiga minha veio falar comigo que estava em pânico porque uma amiga tinha tomado cytotec e não sabia se tinha sido suficiente ou demais, foi onde eu consegui informação. Informação que pode ter salvado a vida dela. É o tipo de ativismo útil que eu tenho sentido falta. Ao invés de pegarmos os pontos que discordamos, que tal pegar os pontos que concordamos e fazer alguma coisa a respeito?

Anônimo disse...

Texto maravilhoso! E acharia ótimo que alguns setores de movimentos estudantis lessem ele e refletissem bastante. Ultimamente os estudantes andam perdendo chances maravilhosas de novas conquistas por pura ortodoxia sem sentido de alguns.

Anônimo disse...

Lola, não é querendo jogar pedras, mas é que existem pessoas como eu que apenas leem seu blog, não possuem Twitter. Você termina sendo uma ponte importante entre ações em prol de outras mulheres que não aparecem na mídia tradicional e as leitoras off Twitter.

Anônimo disse...

"Por isso é que um toque diplomático é tão necessário. Do contrário, tudo se transforma em uma competição de gritos."

Existem várias formas de dizer a mesma coisa. A diferença entre essas formas será o resultado. E o feminismo precisa urgentemente de diplomacia e empatia, caso contrário, vai ser difícil levar a sério vozes que só apontam erros em tom acusatório, sem apresentar soluções.
Tem coisas que não são simples de se solucionar, por isso mesmo se faz ainda mais importante o uso da reflexão e análise, da diplomacia e da inclusão, pra não acabar em cagação de regra e estupidez como é comum em certas correntes feministas, as quais se dizem libertárias e ao mesmo tempo agem de acordo com o que pregam ser contra.
Abandonar nosso ângulo de visão sobre as coisas por um momento e tentar enxergar por outros é um exercício e que exige esforço e paciência, mas é eficaz e necessário pra abordar todo tipo de assunto.
E não é fácil, pois como a autora do texto fala, o processo é árduo, mas compensador. Reflexão e empatia libertam.

Texto maravilhoso.

Anônimo disse...

O texto é muito prolixo e rebuscado. Técnico demais.
Acho que não terá muita discussão aqui acerca do tema.

Anônimo disse...

Nao entendi nada da parte 1 muito menos da 2. Nao da pra publicar esse tipo de texto que nao atinge a todos.

Ilka disse...

Texto maravilhoso e que gera muita reflexão. Não o achei rebuscado, apenas é preciso de atenção e quem sabe mais de uma leitura, pois ele mexe com as verdades absolutas que cultivamos e vai contra o discurso comumente presente no ativismo. Mas é justamente esse repensar que nos faz evoluir, e não simplesmente repetirmos o mesmo discurso sem avaliação. Parabéns à autora e a Lola por publicar um texto com tanta qualidade.

Raven Deschain disse...

Off:

Tinha uma rad enchendo, dizendo que devíamos perguntar a uma criança sobre pessoas trans... Bom, perguntaram...

http://distractify.com/Adrian-Garcia/who-she-should-be/

Unknown disse...

Raven, ótimo link! Eu gostei muito do texto, me fez refletir sobre a minha trajetória no movimento estudantil durante a graduação, e olha, me vi na pele da autora muitas vezes. Mas, quando no mestrado, optei pela tal opção de estudo teórico como carreira, bem, aí fui descobrir os problemas com o dogmatizmo da torre de marfim, e como a preocupação excessiva com o 'bem-pensar' é igual ao 'não-agir'.

Teoria é muito importante, mas, para mim, ela não pode e não deve andar longe de práticas. É, num primeiro momento, confortável sentar na torre de marfim da acadêmia e buscar refinar seus critérios de julgamento do mundo. Só que há tantos custos para essa opção, que no final das contas, você ainda pode encontrar-se no mesmo cenário de depressão profunda da autora do texto.

Há boa teoria feita por ativistas, há boas práticas gestadas por profissionais do pensamento, infelizmente, nenhuma das duas situações foi a regra para as coisas que vi e vivenciei.

Ainda sim, acho que para pessoas que se identificam com ativismo menos ambicioso, há excelentes conselhos no post da autora. Eu, todavia, não generalizaria essa experiência como a única possível. Há muitas radicais, por exemplo, que eu respeito pelas imensas conquistas políticas que seu radicalizmo fez acontecer.

É a minha opção política? Não, mas nem por isso precisa ser errada para outras pessoas.
No mais, acho que quando mais dialogamos, conhecemos as diferenças, mais somos obrigadas a ser tolerantes. Daí a importância de conversar sempre. Gosto dessa parte do texto, de quando a autora fala sobre a necessidade de sempre se questionar com a mesma ferocidade com que nós questionamos o mundo, todavia eu diria que nenhum questionamento pode ser tão duro que faça você parar para sempre ou por muito tempo.

No fundo acho que há pessoas que irão performar diferente no campo do ativismo, e isso não me parece ruim, apenas gosto de pensar que mais tolerância no trato das diferenças nos pouparia energia preciosa que bem que poderia ser gasta outro lugar.

Aline XD disse...

Gostei muito do texto, apesar de bastante técnico e de não ter entendido 100%. Afinal tenho a impressão que nunca entendemos algo completamente, por mais simples que seja.
Enfim, menos divagação e vou ao ponto.
Li um texto outro dia falando como blogs como o da Lola não são a tendência para a comunicação do futuro pois transmite a mensagem majoritariamente a partir de texto do que a partir de imagens, e que a busca por velocidade chegou à comunicação, portanto as pessoas frequentemente~optam pelo meio de comunicação que transmite a mensagem de forma mais rápida, ou seja, a imagem.
O meu ponto é que estamos de um modo geral perdendo a capacidade de interpretarmos texto e que essa falha na nossa formação em vez de combatida tem sido estimulada em nome da velocidade de comunicação.
Independente de qual posicionamento político, o ativismo visa transformar a realidade, e para isso é necessário impactar pessoas. Mas como impactar pessoas e fazer com que elas reflitam se as pessoas estão perdendo a capacidade de refletir? As pessoas mal reflitem a respeito da própria condição, então como incentivar pessoas a respeito de refletir sobre aspectos coletivos?
Textos complexos são necessários, a teoria é necessária, mas basear um movimento numa linguagem inacessível à grande maioria das pessoas é uma boa estratégia?
Acredito que as grandes questões do ativismo atual sejam: Como reunir a teoria às vivências pessoais? Como fazer com que grupos marginalizados e oprimidos que comumente tem seu acesso à educação negados compreendam a teoria? Como fazer com que a teoria não seja uma outra ferramenta de exclusão? Como os grupos excluídos podem mudar a própria realidade se somente suas vivências são consideradas insuficientes e o acesso à teoria é dificultado a eles?
Não seria a hora de o feminismo promover primeiramente entre ativistas, depois as mulheres e depois à sociedade como um todo uma alfabetização social massiva?
Será que a linguagem acessível não é o diferencial de alguns youtubers famosos como a Jout Jout Prazer, o Canal das Bee entre outros?


Anônimo disse...

O texto é mais complicado que os de sempre, mas gostei muito e acho que não custa exigir um pouco mais da concentração e do raciocínio para ler (foi difícil pra mim tbm). Me senti representada por ele, nessa questão de extremismo. Quantas vezes não me peguei "traindo o movimento" por não concordar com certas coisas, como por exemplo, chamar mulher de vagabunda. E isso foi ótimo, pq me permitiu refletir a respeito da minha postura e sim, continuar sendo feminista e continuar achando sim, que algumas pessoas são vagabundas (nunca, JAMAIS só mulheres e nunca restrito apenas á vida sexual, mas á conduta geral). No mais, parabéns pra autora, espero um dia chegar nesse nível de elaboração textual.

Dan

Unknown disse...

Gostei muito do texto. Só achei que a leitura ficou um pouco difícil por causa da disposição do layout muito estreito, e por causa do texto justificado. Uma dica interessante, seria postar no Medium que tem um formato bom pra leitura (só uma dica).

Ainda tenho que processar sobre o que foi falado e ler de novo inclusive, deixei passar muita coisa. Mas no geral, fiquei surpreendido com a capacidade da autora rever seus conceitos e admitir que ninguém é dono da verdade só porque tem "vivência". Como uma certa vez havia lido: "Eu volto atrás sim, porque não tenho compromisso com o erro".

Obrigado pelo texto.

Matheus disse...

Lola, estou pasmo. Com dificuldade de arranjar alguns verbos aqui, pois estou literalmente sem palavras. É a primeira vez que vejo algum militante advogar pelo intelectualismo. No sentido pleno da palavra. Pensar de fato fora da caixa. O que vejo são pessoas fechadas nas suas câmaras de eco. Vivi no mundo libertário, onde pregam que o economicismo resolveria todos os problemas do mundo. Vi que aquilo é tão utópico quanto o marxismo. O pessoal neo-conservador critica os liberais e libertários justamente pelo seu reducionismo. Estão certos, porém com as intenções erradas. Teremos, sem dúvida uma onda TFP que alega aos quatro ventos que irá tirar-nos do buraco, presumo que tomarão medidas tatcheristas. Acredito que sim, teremos alguma prosperidade. Por outro lado, uma tirania social jamais antes vista em tempos recentes. De que adianta dinheiro com uma cultura mediavalista, belicista, hostil, xenofóbica (xeno no sentido de tudo que é diferente, além do sentido comum)? Clodovil mesmo tinha tudo e morreu amargurado em auto-desprezo. Precisamos de ativistas como você mais do que nunca! Um contraponto necessário. Vejo que sua sabedoria está no nível do MENSA. Não vou me abster de rasgar elogios, você merece. Não desanime, as experiências negativas de vida são tão importantes quanto as positivas, como pregam os budistas! Você cresceu em sabedoria e inteligência com toda essa adversidade, o que não nos mata nos fortalece, só um cego não veria tamanha evolução (desculpem-me pelo capacitismo na frase popular). O coletivismo sempre teve um viés e foi característica do fascismo original, comunismo soviético, idem. Todas as formas de totalitarismo. Veja que os minions do militar TFP organizam-se no mesmo molde. Que ironia. Deixar-se levar pelo bando por preguiça ou medo de usar aquela bela máquina entre os ouvidos dá uma merda... Há quem queira vestir uma camisa por medo de pensamento independente, de ficar solitário. Não sejamos covardes diante da injustiça quando temos um insight bom a oferecer. Se de fato queremos fazer algum bem ao mundo, um impacto positivo, algo altruísta devemos fazer como você mesma disse: "não acredite cegamente em si próprio. Questione-se tão ferozmente quanto você questiona a sociedade." Engraçado. A cultura hacker pensa assim. Na sua individualidade, os indivíduos nesse meio convergem para bem no chamado hacktivismo, pelo menos a maioria, claro que existem maçãs podres.

Agora um papo menos sério, lembrei pelo gancho final. Acho que se interessarias pela série Mr. Robot. :)