quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

"MINHA IRMÃ ACUSOU MEU PAI DE ESTUPRO. O QUE EU FAÇO?"

L. me enviou esta dúvida em maio, e eu respondi nessa época também:

Olá Lola, tudo bem? Descobri seu blog há pouco tempo, e já li praticamente todas as postagens. Preciso dizer que, assim como vários outros leitores, mudei minha visão sobre muitas coisas depois de ler seu textos, e acho que por essa razão venho tentando me tornar uma pessoa melhor.
Aconteceu algo em minha família há um tempinho, que ainda não processei direito e até hoje não sei como lidar com a situação. Acho que preciso contar um pouco sobre como é a minha família pra que você possa entender o fato em si.
Tenho 23 anos, uma irmã de 20 e um irmão de 19. Meus pais se separaram há 5 anos. A dinâmica do casamento deles era a seguinte: minha mãe, professora universitária, sempre trabalhou das 7 da manhã até às 10 da noite pra que os filhos tivessem um ótimo padrão de vida. 
Do outro lado meu pai, com ensino médio, ganhava bem pouco e nunca contribuiu com as contas de casa, o dinheiro dele só tinha a finalidade de colocar combustível em seu carro (que foi comprado pela minha mãe) e gastar em bares com amigos e amantes. Ainda assim, mesmo dependendo financeiramente da minha mãe, ele era extremamente machista, batia nos filhos, "cantava de galo", como se diz. Os três filhos sempre morreram de medo dele.
Mas preciso mesmo é falar sobre minha irmã. Desde bem pequena ela tem comportamentos estranhos: dedurava os irmãos para que apanhássemos, fazia maldades gratuitas, mentia muito, não se dedicava na escola, batia na minha mãe, e outras coisas do gênero. Nunca nos demos muito bem. Minha mãe se preocupava com ela, e durante a vida toda minha irmã fez acompanhamento com psicopedagoga e posteriormente, com psicóloga. Até que ela resolveu não fazer mais terapia, e minha mãe acatou sua decisão.
Porém, há alguns meses, minha irmã decidiu fazer terapia novamente, e dessa vez realmente se dedicar a melhorar. Uma noite ela entrou no meu quarto, chorando muito, me pediu perdão por todas as coisas que havia feito de ruim comigo, e me contou uma bomba: meu pai a havia estuprado quando ela tinha uns 7 anos de idade, e isso teria acontecido uma única vez. 
No momento em que ela me contou isso, chorei bastante, a abracei, disse que poderia contar comigo, e que aquilo que havia acontecido não a definia, e não era culpa dela. Ela disse que queria contar pra minha mãe, mas precisava de ajuda pra isso, e eu disse que a ajudaria.
No dia seguinte fomos juntas contar pra minha mãe. Foi um dia bem triste... Minha mãe se culpando por não ter percebido, por minha irmã ter passado aquilo tudo sozinha, mas novamente minha irmã recebeu todo o apoio do mundo.
Porém, conversando com a minha mãe depois, começamos a perceber muitas incongruências no relato da minha irmã. 
De acordo com ela, meu pai havia ficado em cima da minha irmã e mantido relação sexual com ela no chão do apartamento onde morávamos. Lola, meu pai é um homem grande e bem gordo, ele a teria machucado muito. Além disso, quando éramos crianças, aos domingos minha mãe dava banho na gente, ela lavava e enxugava todas as partes de nossos corpos minuciosamente, já que durante a semana tomávamos banho sozinhos e muitas vezes criança não é lá muito higiênica. Minha irmã teria ficado muito machucada, e minha mãe teria visto algo.
Minha mãe resolveu então ir até a psicóloga da minha irmã pra ver o que ela achava disso tudo. A psicóloga disse que também se questionava, mesmo porque minha irmã já contou duas versões do estupro: na primeira, ela tinha 13 anos (nessa época, nós já não morávamos mais no apartamento onde isso teria acontecido). Na segunda, teria 7. E a terapeuta, que já atendeu tanto abusados quanto abusadores, diz que dificilmente nesses casos acontece apenas uma vez, como contou minha irmã. Por outros relatos dela, a terapeuta diz que ela pode ser mentirosa compulsiva, e que isso demanda tratamento.
Por tudo isso que expus aqui estou completamente perdida. Sempre tive uma relação dificílima com meu pai, mas ele nunca tocou em mim, sugerindo algo sexual. Tenho medo de acusá-lo, cortar relações com ele, e tudo o que minha irmã contou não ser verdade... Por outro lado, morro de medo de não apoiar minha irmã, não acreditar nela, se ela realmente tiver passado por isso. É claro que jamais vou mostrar a ela essa minha desconfiança, mas estou sofrendo com isso, já chorei muito e sinceramente não sei o que fazer. Gostaria muito da sua opinião.

Minha resposta: Difícil mesmo saber o que fazer. Mas por que você precisa fazer alguma coisa? Vc já apoiou sua irmã. Já chorou com ela. Ela está fazendo terapia. Não acho que no momento vc precise fazer mais alguma coisa.
E seu pai é separado da sua mãe, então você não deve vê-lo com tanta frequência. 
Pelo que vc conta, vc já tinha inúmeros problemas com seu pai muito antes da revelação da sua irmã. E é compreensível que vc o veja com tantas reservas. Ele foi um pai abusador. Ainda que sua irmã esteja mentindo e que ele não abusou dela sexualmente, ele batia em vcs, vcs tinham medo dele, ele não era nem bom pai, nem bom marido pra sua mãe.
Mas ser acusado de estupro é grave. Se alguém tiver que confrontá-lo sobre isso, será sua mãe ou sua irmã, não vc.
Acho que sua mãe agiu bem em conversar com a psicóloga. Pode ser sim que sua irmã seja uma mentirosa compulsiva, como sugeriu a psicóloga. Ou pode não ser uma mentira proposital, e sim uma fantasia (não no sentido d'ela desejar aquilo, mas de construir na sua mente que aquilo aconteceu). Ou pode ser que ela de fato tenha sido estuprada. De qualquer modo, sua irmã parece ter muitos problemas, e é fundamental que ela continue na terapia.
Entenda: você não precisa tomar um lado. Dê todo o apoio que sua irmã precise, não duvide dela, e não a chame de mentirosa de jeito nenhum. Mas também não fale com seu pai sobre isso. Não ainda.
Independente do estupro ter ou não ocorrido, é certeza que vc tem muitas coisas pra resolver tanto com seu pai quanto com a sua irmã.
Posso publicar seu relato tirando qualquer coisa que te identifique? É um caso difícil, e talvez as pessoas tenham outras sugestões.

Resposta da L.: Lola, impressionante como me sinto mais leve depois de ler sua resposta. Acho que você não tem a menor dimensão do quanto atinge a vida dos seus leitorxs, e principalmente das pessoas que te procuram com um problemão em busca de alívio e conselhos. MUITO obrigada, de todo o coração.
Pra mim ainda é extremamente difícil encontrar com meu pai, nas poucas vezes em que isso acontece, e conseguir conversar normalmente com ele, apesar de toda a repulsa e tristeza que o relato da minha irmã me cause. Por outro lado, é aquela questão né, é difícil apontar o dedo e acusá-lo de algo que não tenho certeza que aconteceu...
Pode publicar sim Lola, será muito bom ler as sugestões de seus leitorxs. Mais uma vez agradeço, e pode acreditar que toda essa energia positiva que você emana, volta pra você com toda a certeza.

55 comentários:

Anônimo disse...

Vou postar como anônimo, pq neh? Sabe como é... Meu irmão abusou de mim por algum tempo quando eu tinha uns nove, dez anos. E quando a minha irmã mais nova chegou nessa idade, eles eram mto grudados. Dormiam juntos e tal. Hoje, sempre q falo com minha irmã tenho vontade de perguntar se aconteceu com ela tb. Só que é diferente neh? No meu caso, ele abusou sim de mim. Então se ela me dissesse eu não teria nenhuma dúvida de que aconteceu com ela tb. =/ Malditos homens. Meu irmão acha até hoje q tudo q ocorreu foi normal. Q eu era uma safadinha.

RAQUEL LINK - blog me falaram que ia ter bolo disse...

Isso me deixa tão triste, pensar que um pai pode fazer isso. juro que não consigo entender.

tem horas que dá vontade de desistir da sociedade, porque é tanta podridão, tanta gente com intenções ruins.

O melhor que a gente pode fazer é se afastar dessas pessoas e tentar se unir as pessoas que são boas mesmo que sejam poucas.

Anônimo disse...

E muito fácil duvidar da vitima e criar mil teorias a respeito, tipo "mentirosa compulsiva"
O difícil e se por no lugar dela,se a menina esta afirmando que o pai abusou dela, ele deve ter credito e pronto,ninguém afirmaria uma coisa destas só de maldade.
E pelo descredito que os homens tem com o machismo, eles não tem muta moral de questionar nada não.
E como um texto da excelente Susan Brownmiller que eu li.

"A descoberta dos homens que sua genitália poderia servir como arma pra gerar medo deve ser classificada como uma das descobertas mais importantes dos tempos pré-históricos, junto com o uso do fogo e o primeiro rudimentar maçado de pedra"

Verô! disse...

Que situação complicada… eu acredito que nesse momento é preciso manter a serenidade por mais difícil que seja. A acusação é gravíssima, é preciso investigar mas tomando extremo cuidado para não acusar injustamente o seu pai. Se até a terapeuta está em dúvida há sim a possibilidade da sua irmã estar mentindo, talvez não por ser uma pessoa ruim, mas por ter algum desvio de personalidade. Acho importante, antes de tudo, identificar se sua irmã possui algum problema psicológico. Você disse que ela fazia coisas ruins quando era mais jovem, isso pode ser fruto do suposto abuso ou ela pode ter criado o abuso para justificar o comportamento ruim. Dado o histórico da sua irmã e as versões contraditórias da história tente não julgar o seu pai previamente. Ele pode ser um machista violento (pleonasmo?), mas isso não faz dele um abusador de crianças necessariamente.

De todo modo vai ser difícil equilibrar essa equação, ao presumir a inocência do seu pai você está colocando em dúvida o relato da sua irmã. Mas sinceramente, diante da gravidade da situação, eu acho mais sensato ter o seu pai como inocente até que se prove o contrário.

P.S. Anon das 11:53 - sim, os homens tem o machismo contra eles nesse tipo de situação, mas isso não torna todos os homens previamente culpados. Apesar da esmagadora maioria dos abusos serem perpetrados por homens não quer dizer que todos os homens são abusadores.

Anônimo disse...

"Ele pode ser um machista violento (pleonasmo?), mas isso não faz dele um abusador de crianças necessariamente"
-
E isto o que torna o feminismo difícil na pratica, a complacência de algumas para com os algozes históricos das mulheres, e obvio que todo machista e abusador, eles nos abusam com seus falos, seus olhares suas leis sua moral patriarcal tudo.
Muitas me chamam de rad fem por eu ter posições firmes e enxergar os inimigos como eles realmente são INIMIGOS.
Pois que seja!Os numeros de abusos de mulheres e feminicidios me dão embasamento para ser combativa.

Anônimo disse...

Se o pai fosse um cineasta mundialmente famoso,com certeza a garota estaria mentindo.Pessoas famosas,poderosas e ricas não abusam de crianças.

Anônimo disse...

É muito complicado mesmo.
Tinha uma prima que uma das minhas tias "adotou" quando ela ja era adolescente. Ela vinha de um lar bem complicado, em que a mãe era drogada e morreu de hiv (parente bem distante nossa). A menina mentia compulsivamente, dizia que tinha sido assaltada quando na verdade tinha perdido o bilhete unico, falava que a irmã dela (também adotada pela minha tia, mas quando ainda nenem) tinha feitos coisas que ela nao tinha feito pra mãe brigar com ela entre outras mil e uma coisas. É bem complicado.

Verô! disse...

Anon das 13:03 (imagino que seja a mesma pessoa que postou as 11:53), você está querendo dizer que todos os homens são inimigos? Me desculpe se eu te entendi errado, mas é isso que me parece.

Eu discordo de você, não são os homens os nossos inimigos, é o machismo, e o machismo não é monopólio dos homens. Há mulheres machistas e há homens que são importantes aliados contra o machismo.

De todo modo eu compreendo sua posição, mesmo sem concordar, eu compreendo.

Anônimo disse...

Eu acho assim: é muito, muito difícil uma mulher simplesmente mentir sobre ter sido estuprada. Não que não aconteça, apenas é difícil, assim, do nada. Mas a memória é complicada. Pode ser que a sua irmã lembre de algo que não faz muito sentido, e esteja tentando juntar as peças. Por isso a história dela apresenta inconsistências. Pode ser que ela realmente acredite que isso aconteceu, e nesse caso, sendo verdade ou não, ela precisa de apoio como qualquer outra vítima. Talvez você nunca saiba se é verdade sobre o seu pai, a menos que outra pessoa fale alguma coisa.

Mas a verdade é que as vezes pais escolhem uma das filhas, e isso nunca teria acontecido com você de qualquer maneira. E não é sua culpa. De forma alguma.

André disse...

Dado que o cara é um canalha, não vejo tanto problema em se acusá-lo (acusar é diferente de prender, matar, etc), mesmo que ele seja inocente. Não vejo muito sentido em ter tanto cuidado em preservar um canalha de qualquer tipo de dissabor. Claro, desde que isso não gere ainda mais sofrimento para a vítima.

Anônimo disse...

Gente, pelamor votem NÃO a essa petição conservadora:

http://www2.camara.leg.br/agencia-app/votarEnquete/enquete/101CE64E-8EC3-436C-BB4A-457EBC94DF4E

O SIM está ganhando. Vamos mostrar q tb temos VOZ.

Juliana disse...

Anon 13:03, não tenho muito embasamento teórico sobre feminismo mas leio tudo sobre o assunto que cai na minha mão. Achei esse texto muito interessante, se chama "Porque você é tão boa com homens". Me ajudou a entender algumas coisas. Deixo o link aqui.

http://saforiana.blogspot.com.br/2014/01/por-que-voce-e-tao-boa-com-homens.html?m=1

Anônimo disse...

Meu pai sempre foi um péssimo marido, bebia, batia na minha mãe, tinha amantes,nunca ligou para os filhos, MAS NUNCAAA JAMAIS posso dizer que ele sequer olhou para um de nós de forma sexual.

Foi um pai HORRÍVEL, tínhamos medo dele, levamos surra e tals, tipo assim ,mil defeitos, mas não foi um estuprador de crianças.

Morávamos numa casa com um só banheiro, mas nuncaaaa, por mais bêbado que ele estivesse, nunca nem vimos o meu pai de toalha, de cueca...

Vale analisar um pouco, como foi o comportamento do seu pai assim "no geral" .

Ainda existe também a possibilidade da menina ter sido abusada por OUTRO homem, e por causa do trauma, as lembranças estarem confusas.

Acho que o conselho da Lola foi perfeito. Não deixe de apoiá-la, mais não confronte-o.

Jacqueline disse...

Eu acho que o que importa nisso tudo é que tem uma pessoa que está dizendo que foi abusada sexualmente e o mais importante nesse momento é ajudá-la.

Anônimo disse...

Bom, é difícil dar um conselho à autora do guest, já que não a conheço e nem as pessoas envolvidas.
Pela versão dela dos fatos, apesar de o pai ser um canalha, o abuso parece não ter acontecido (pois a mãe dava banho aos domingos, teria visto, a menina teria ficado muito machucada, etc.)
A questão é que a menina pode ter ficado machucada e ninguém percebeu, pode ser que no domingo daquela semana a mãe não deu o costumeiro banho em todos, pode ser que a ideia do abuso seja tão repugnante que mãe e irmã estejam criando justificativas "racionais" para deslegitimar o discurso da vítima e poder seguir com suas vidas sem essa grande tristeza...

Mas o fato é que a irmã da autora, definitivamente, precisa de ajuda, apoio, amor, independente de ser "mentirosa" ou "vítima". Todos nós precisamos disso. É de amor que toda a humanidade precisa, é o amor que fortalece, cura, e preenche o vazio de nossas vidas...

Anônimo disse...

Lolinha querida, sou tua fã, tu mudou e muda a cada dia meus conceitos, me faz refletir sobre a opressão que sofro diariamente e ter argumentos para combate-la, e me faz ter mais fé num futuro legal para a humanidade toda! Sério, nunca te vi, mas tenho certeza de que te amo!

Dito isso, queria te fazer uma pergunta (sem provocações bobas ou ironias, apenas uma coisa que me causou estranhamento, ok?): Tava zapeando seu blog (minha atividade favorita nos momentos de lazer) e achei esse post http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2008/05/da-vez-que-escapei-de-um-linchamento.html

Ok, li o um, o dois e o 3 e realmente achei a atitude das colegas um exagero, quanto ódio meldels!
Mas sabe, na crônica tu deixa bem explícito que detesta crianças e não tem qualquer pudor com as piadas! E é claro que isso incomoda quem ama crianças (eu p. ex. tenho dois filhos, fiquei chatiada! mimimi)

Daí pensei num exercício que poderia ser feito nesse texto, apenas substituindo a palavra "pestinhas" por vadiazinhas e "crianças" ou "aluno(s)" por mulheres... veja como o texto fica esdrúxulo e desrespeitoso...

Crianças também são oprimidas em nossa sociedade. São consideradas burras e suas idéias, sentimentos e discursos são constantemente desvalorizados... Bater nelas ainda é uma forma válida de educação pra grande parte dos brasileiros, e isso é muito muito triste!

Como politicamente correta e defensora das minorias oprimidas assumida (\o/), o que você acha desta crônica agora, milênios depois de ter sido escrita??

Desculpe desvirtuar o tema dos comments, mas não sei em que outro espaço poderia fazer essa pergunta!

Um beijão e continue com seu trabalho fantástico!

lola aronovich disse...

Querida anônima, copio aqui o comentário que escrevi na semana passada:

Alguém, não sei se nos comentários daqui ou no post sobre a ocasião em que quase fui linchada por uma crônica que escrevi, me deu um puxão de orelha, daí partindo pra algumas comparações bem esdrúxulas (como "estudante de pedagogia é tudo mal amada", algo que nunca foi dito ou sugerido por ninguém. Aliás, os mais "vocais" entre o pessoal que se reuniu fora da minha sala e começou a gritar palavras de ordem contra mim eram homens, pelo que me lembro). Isso aconteceu uns doze anos atrás, então o que lembro foi o que escrevi na época (senão eu não lembraria de nada). Sim, achei uma reação totalmente exagerada, achei a minha crônica inocente (eu tirava sarro de mim mesma ao dizer que eu seria péssima professora de crianças; é uma crônica curtinha, 2 mil caracteres -- que era o espaço que eu tinha pra minha coluna duas vezes por semana no ANCidade --, e metade do tempo eu falo de abacaxi. O pessoal de Pedagogia não gostou porque eu dizia que não queria ser professora infantil, que estava lá pelo diploma, e eles acharam que uma crônica dessas manchava a imagem deles, como se eu em algum momento estivesse falando por eles. Que eu me lembre, duas ou três cartas foram publicadas no jornal, em repúdio a minha crônica. Uma da minha ex-turma de Pedagogia na Univille, e outra da minha turma na ACE, e talvez outra de outra turma da ACE, não lembro. O que me chateou na ocasião foi que, quando as fofocas começam a rolar, inventam qualquer coisa. Tipo: inventaram que eu havia sido expulsa da Univille! Putz, apesar de eu não me esforçar muito nas aulas, eu era boa aluna. Estava bem evidente que eu me transferi pra outra faculdade pra economizar tempo e dinheiro. Aliás, muita gente sabia disso, nas duas faculdades, porque sempre que me perguntavam "por que vc está mudando/mudou de faculdade?", eu respondia a verdade. E até citava a quantia que eu ia economizar.
Enfim, eu fui bastante punida pela minha crônica. Tive que refazer todo meu estágio na primeira série, por exemplo -- o que, pra quem não tinha tempo nem pra almoçar, foi bem difícil.
Hoje eu sou uma pessoa bastante diferente da que eu era com 33 anos, e provavelmente não escreveria aquela crônica, até porque eu gosto muito de crianças. Mas, na época, parece que eu tinha a necessidade de afirmar que não gostava de criança. Até entendo minha atitude, porque a cobrança da sociedade pra que mulheres casadas da minha idade tivessem filhos era fortíssima. Vou publicar um post esses dias de uma leitora em que comentamos isso. Mas é difícil analisar a situação sem ver o contexto. Minhas crônicas pro ANCidade e pro ANVerão eram assim, levinhas, irresponsáveis, curtas, divertidas. O que mais tinha era diálogo com o maridão, e havia um público pra isso, muita gente gostava. E, óbvio, muita gente não gostava. Normal. O pessoal de Pedagogia tava no segundo grupo. Ou melhor, nem estava, porque nem sabia que eu tinha coluna no jornal. Ficou sabendo com aquele episódio.
E minha crônica sobre censura, patrulha e receita de bolo, que eu publiquei como resposta, essa eu continuo considerando muito boa. Ainda acho estranho que alguém não possa escrever uma crônica falando do seu "estágio sabor abacaxi" (e isso porque havia um abacaxi de verdade envolvido), sem citar nome nenhum, nem da escola, nem da universidade, nem de ninguém. Aquilo foi humor auto-depreciativo.

Anônimo disse...

Lola, eu não sabia um melhor lugar para te pedir isso... eu gostaria que você falasse sobre diferenças entre o cavalheirismo e machismo, se é que há. Gostaria muito de saber sua opinião. Desculpe estar vindo numa publicação completamente fora do assunto... eu estava numa discussão entre amigos, surgiu tal assunto, eu jamais achei que seria machismo uma atitude de gentileza, até porque eu mesma o faço com homens... exemplo: abrir porta de carro, pagar conta, segurar mochila, essas coisas banais. Em questão do sexismo, sei que ainda há disparidade na sociedade, cada sexo ainda "possui um papel". Enfim, estou quase implorando, preciso de uma luz, hahaha sua opinião será importante pra mim, bjs

Unknown disse...

Já conheci uma mentirosa compulsiva. Mentia sobre tudo e a toda hora, e quando descobrimos esta característica nela, ficou difícil de diferenciar o que era realidade da fantasia. A maioria das pessoas se distanciou dela. Ela não mentia por maldade, nem para aplicar golpes ou para obter algum benefício (apesar de ela também já ter mentido para conseguir vantagem). Inventou relacionamentos amorosos, gravidez, abusos,...

Alguns comentários anteriores acham difícil que uma mulher invente um estupro. Que eu saiba, apenas 1% das acusações de estupro são comprovadas como mentira. Mas, se uma pessoa for mentirosa compulsiva, eu acho muito provável que ela seja capaz de inventar uma mentira desse tipo.

Além dos mentirosos compulsivos, há os psicopatas sociais, que podem mentir não por compulsão, mas por maldade mesmo, ou para obter benefícios.

Pra ilustrar, temos aquele caso da brasileira que mentiu sobre ter sido atacada na Suíça, a ponto de perder uma gravidez de gêmeos:
http://inacreditavel.com.br/wp/desmorona-farsa-de-advogada-brasileira-na-suica/

Apesar de tudo isso, há pouquíssimos casos de psicopatia, principalmente entre mulheres. Mentirosos compulsivos também são raros, assim como falsas acusações de estupro. Com certeza há mais estupradores à solta, de forma que nunca se deve duvidar da vítima. Deve-se dar crédito à irmã da "L". Mas, como a mentira existe, também nunca se deve fazer linchamentos morais no acusado antes das conclusões, de forma que eu acho errado que a família trate o pai da "L" como um criminoso.

Dizer que a irmã da "L" é psicopata social, ou mentirosa compulsiva, é assunto para os psicoterapeutas. Se o que ela diz for verdade, e o estupro realmente aconteceu, o assunto continua sendo com psicoterapeutas.

Quanto ao pai da "L", o fato de ele ser um machista nojento não faz com que ele seja um provável estuprador ou pedófilo. Não devemos acusá-lo só por esse comportamento. A maioria dos estupradores e pedófilos nem de longe possui o mesmo comportamento que a "L" descreveu, como bem fala essa postagem da Lola:

http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/11/guest-post-homens-de-confianca-nao.html

Anônimo disse...

Nossa, situação super difícil. Quando eu estava na escola, tinha uma amiga mitônoma. Ela inventava um monte de histórias sobre um primo que morava longe (e que portanto a gente não tinha como conhecer) e uns amigos e rolavam várias histórias de abuso, doença, acidentes. A vida da turma era uma desgraça so. Olhando pro passado, hj eu entendo que ela fazia isso para chamar a atenção. O pai dela não deixava ela sair nem pra tomar um sorvete na padaria, então acho que ela criava esse mundo de fantasia para compensar. No caso do post acho assim: saber se é verdade mesmo vai ser muito difícil. Acho que ela e a mãe jamais terão certeza. Mas o fato é que a dúvida na cabeça delas já surgiu e qdo isso ocorre é mto difícil mudar. Mas no final, seja verdade (ou seja, o pai abusou e até por isso ela sempre teve tantos problemasu), seja mentira ou fantasia (e ao dizer isso em nenhum momento estou dizendo que ela faça isso de maldade), seja o que for ela precisa de ajuda. Eu não a confrontaria, pelo menos a princípio, aceitaria a verdade de que existe um sofrimento real e tentaria ajudá-la com compreensão. Acho que eu só a confrontaria se ela quiser denunciar pq aí vai haver confronto (com o pai, advogados, polícia, etc.). Então é melhor ter uma discussão inicial com as pessoas que a amam antes de enfrentar esse povo todo.

Anônimo disse...

ai gente, alguém viu isso? Ó os justiceiros da jornalista do sbt...

26/02 'Justiceiros' agiram após o jovem de 17 anos roubar um celular


http://oglobo.globo.com/rio/adolescente-amarrado-apos-cometer-assalto-em-botafogo-11718111

Love Gótic disse...

É um caso polêmico, mentirosos compulsivos são muito convincentes, mas nem todo estupro deixa marcas, hematomas e tal. Só a a garota em questão pode por fim nisso. Já que ela sempre foi perversa é de estranhar que ela confesse algo assim chorando e triste. E não se dava bem com a irmã , mas choraram juntas, Não sei pode ser verdade. Estou realmente confusa.

Elaine Telles disse...

Anônimo 16:46, o cavalheirismo machista é evidente quando a pessoa usa de gentileza (abrir porta de carro, dar carona, pagar bebida) com a intenção de ter algo de volta, e se sente revoltada quando não tem, porque acha que adquiriu um "direito" ao ser cavalheiro. Assim, o cara que dá carona a uma menina e se acha no direito de "tirar uma casquinha", "levar pro motel", ou achar que a aceitação da carona implica que a pessoa que dizer sim para tudo é cavalheirismo machista. Acho que a palavra gentileza é bem melhor que cavalheirismo. Assim, todos podemos ser gentis uns com os outros (abrir porta, dar carona, pagar algo para alguém) somente para ser gentil, e não pensando em obter algo de volta. Cavalheirismo tem preço. Gentileza só gera gentileza :-)

Mônica disse...

1. Alguém pode me esclarecer se a psicóloga podia ter falado com a mãe sobre a filha? Não existe um sigilo psicólogo-paciente ou coisa assim?

2. Por que a autora do guest post trocou o "e" pelo "x" em leitores? Quem usa essa técnica do "x", quando vai ler, que som produz? Como se lê, em voz alta, uma palavra tipo leitorxs?

Julia disse...

Mônica, o x só se usa na escrita, não é pra falar. Algumas pessoas preferem a @. Na fala você utiliza as duas formas, feminina e masculina. É só uma maneira de burlar o nosso idioma machista.

Anônimo disse...

Mônica, eu como psicóloga, fiquei bastante desconfortável como a atitude da psic. em questão. No meu entender, ela jamais poderia falar sobre o que fora dito em sessão para a mãe. Acredito que não se faz isso nem quando se trata de crianças. O que poderia ter feito era sugerir a mãe, quando a procurou, que pedisse a filha para fazerem uma sessão em conjunto e ambas conversarem sobre isso com a psi, sem que a psi fizesse relatos do que já havia ouvido. Porque veja bem que situação ela se coloca: esta conversa ficou em segredo? Ficará em segredo? Quer dizer, a psi falou da vida de uma pessoa que ela atende - e tem acesso a informações delicadíssimas - e comunicará isso para a atendida? E se comunicar como a atendida se sentirá? Se contar como isso influenciará a relação da mãe e filha? O compromisso da psic é com a atendida. Eu desconfiaria dessa psi. Eicram

Camila disse...

Essa situação é complicada, e eu sei como é.
Tenho 3 irmãs mais velhas, e desde que éramos crianças elas acusam nosso pai de abuso sexual, elas dizem que ele passava a mão, e entrava no quarto quando estavamos nos trocando, dessa parte eu me lembro, e outras coisas.
Minha mãe sempre disse que era mentira, mas minhas irmãs confirmam até hoje, mais de 20 anos depois.
Além disso já sofri outro abusos, tentativas de estupro, ataques, uma delas eu estava com minha irmã mais próxima, ela é 2 anos mais velha do que, não lembro nossa idade na época mas tínhamos entre 8 e 10 anos, eu, ela e mais duas meninas, estavamos brincando na rua, um carro parou o homem abriu a porta e puxou uma de nós pelo braço, eu nem lembro qual das 4, mas lembro do medo e dos gritos que demos, e ainda ficamos numa disputa contra ele, ele puxava a menina por um braço e as outras puxavam e gritavam pelo outro, ele desistiu e entramos correndo em casa, e eu simplesmente não lembro quem foi a menina mais atacada, perguntei pra minha irmã, e ela também não lembra, disse que acha que foi uma de nossas amigas, acredito que elas também não consigam lembrar.
O que eu quero dizer com tudo isso, é que devemos acreditar na vitima até que se prove o contrário, sem linchamentos claro, mas o que a psicóloga afirma, não serve como argumento pra mim, diante de um trauma, a gente tende a tentar apagar pra não sofrer, a lembrança sempre volta, mas volta embaçada.
Quanto a menina que enviou o texto, digo pra ela confiar na irmã, quanto a confrontar o pai, eu gostaria de encorajar essa atitude, mas eu nunca consegui confrontar o meu, não falo com ele há anos, e nem quero falar, tenho medo de confirmar o que eu já sei.

Anônimo disse...

Também fiquei com um pé atrás com a atitude da psicóloga. O ideal seria primeiramente ela ter perguntado para a paciente se esta se sentiria confortável e se permitiria que ela conversasse com a mãe dela sobre tal assunto e o que exatamente poderia ser dito ou não. Mas sei lá, talvez isso tenha sido feito, não fica claro no post pq não é esta a questão. Mas achei estranho.

Anônimo disse...

Roberto Vercelino= homenexplicanismo puro.

Anônimo disse...

Ela foi avaliada por uma profissional, que constatou que ela e uma mentirosa compulsiva.Porem o pai e um verme machista, como a maioria dos homens.

So vejo uma solução, elas se unirem,e confrontarem este sujeito, na pior da hipóteses, ele realmente a estuprou, e devem denuncia-lo.
Ou então ela esta realmente mentindo, realmente tem um quadro pisicologico instável,e precisa de tratamento e compreensão, quanto ao pi, depois disto ficaria insustentável a convivência, mas e tratando do lixo que ela descreve, seria melhor que fosse embora viver sozinho, elas estariam livre de carregar esta mal machista.

Anônimo disse...

Eu acho que a autora não teria a intenção de confrontar o pai exatamente, acho que depois da confissão da irmã fica meio que implícito que se ela acredita e apóia a irmã, ela deve cortar relações com o pai, né? Deve ser isso que a irmã esta esperando que ela faça e deve ser isso que ela não tem certeza se deve fazer.
Então eu acho que ela vai ter que se posicionar, não tem saída, ou ela corta relações com o pai ou ela deixa claro pra irmã que não acredita nela, por que quem manteria um relacionamento com o pai depois dele ter abusado da da irmã? Se ela continuar a se relacionar com o pai como se nada estivesse errado e ao mesmo tempo disser à irmã que acredita nela, não será um comportamento coerente.

Anônimo disse...

Qual a necessidade da figura patriarcal em uma família feminista?

Qual a importância de um pai, em uma família de mulheres que aprenderam que todos os homens são seus inimigos? e não me venham com esta de " os machismo e nosso inimigo, e não os homens" isto e tão incoerente quanto " sou feminista e amo meu namorado"
Isto e afirmar que e contra o machismo, mas não contra seus agentes naturais.Sentir sentimentos românticos pelo opressor não tem o menor cabimento( a Lola poderia escrever sobre isto)

Eu crio que chegará a hora, que a figura de pai em uma família, não passará de um cheque no fim do mês.

Anônimo disse...

Roberto Vercelino, pq vc não vai pastar, seu verme?

Love Gótic disse...

Convivi com uma mentirosa patológica. Ela dizia que tinha sofrido abuso sexual e que tinha depressão, depois que tinha problema cardíaco e não podia se exaltar, depois possessão demoníaca e que quebrava tudo. E eu tentava ajudar até que um dia ela jogou para mim . passou a dizer que eu tinha problemas psicológicos, que eu não podia me exaltar e que o diabo reinava em mim. Quando eu soube dessas mentiras me afastei dela. E hoje algumas pessoas falam que ela diz que o pai a violentou, que tentaram matar ela algumas vezes, que ela tem a doença chamada ossos de vidro. Nunca que ele tem ossos de vidro ela joga futebol e ossos de vidro é doença rara de descalcificção severa alguns bebês já nascem com fraturas e crescem muito frágeis as vezes até são cadeirantes e as fraturas ocorrem até em espirrar. Ela fala com uma emoção que convence mesmo. Mas também pode ser alguma das mentiras seja verdade aí cabe investigar. A única certeza que tive dela é que ela faz tratamento psiquiátrico.

Anônimo disse...

eu tenho como dever de sororidade jamais duvidar do relato de uma vítima de estupro, tenha o pai famoso ou não, tendo uma mãe louca ou não, sendo mentirosa compulsiva ou não

prefiro acreditar em uma vítima mentirosa a correr o risco de defender um estuprador que se vale da fragilidade mental de alguém

e muito me estranha essa "psicóloga" contando as coisas para terceiros... ética mandou beijos fortes pra essa aí.

Anônimo disse...

prefiro acreditar em uma vítima mentirosa a correr o risco de defender um estuprador que se vale da fragilidade mental de alguém
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Você parou para pensar no inferno que se torna a vida de um pai falsamente acusado de estupro?
Não que se dane ozomi não e verdade?!

Anônimo disse...

acho que o importante nesse caso é apoiar a sua irmã, não duvide de sua história. independente da veracidade, parece bem claro que o sofrimento é real e intenso. converse bastante com ela e a encoraje a prosseguir com a terapia para que as causas desse sofrimento possam ser encontradas. e esqueça o seu pai, pelo que vc falou ele não vale a pena. se ele for estuprador de fato acho que nao seria benéfico para a sua irmã confrontá-lo nesse momento de fragilidade psicológica... por hora acho que o melhor é manter distancia dele.
o foco é fortalecer sua irmã.

Unknown disse...

muito esquisito a psicóloga ter falado isso pra mãe. MUITO mesmo.

L. disse...

Eu sou a L., e muitas pessoas não sabiam muito bem qual conselho dar por falta de dados no relato. Bem, a sessão com a psicóloga da minha irmã que a minha mãe foi, foi marcada pela minha própria irmã. Minha mãe disse pra ela que queria conversar com a psicóloga sobre o relato da minha irmã, inclusive pra poder ajudá-la melhor, e ela não se opôs em nenhum momento que a minha mãe fosse até lá.
Uma pessoa disse que seria incoerente que eu acreditasse na minha irmã, mas ainda mantivesse contato com o meu pai. Esse é bem o x da questão mesmo... Minha irmã, dos 3 filhos, é quem mais mantém contato com o meu pai. Hoje, ele não mora mais na mesma cidade que a gente, e ela já foi passar o final de semana na casa dele, sozinha, por livre e espontânea vontade, pq fica com pena da solidão que ele vive atualmente. Sei que isso não quer dizer nada, que ela poderia ter sido estuprada e ter desenvolvido um sentimento meio dúbio em relação a ele, enfim... Mas ela mesma não quer cortar contato com ele. No dia em que ela me contou, eu disse que me encontraria com ele e o confrontaria, que não queria vê-lo nunca mais, e ela me implorou pra que não fizesse isso. De acordo com ela, desde que o estupro ocorreu, ela já o confrontou algumas vezes, ele disse que era invenção dela, e ameaçou bater nela caso contasse pra minha mãe. Sinceramente, pra quem convive com ela, a ocorrência de um estupro tanto pode justificar uma série de comportamentos que ela teve a vida toda, ou pode ser o contrário... Os comportamentos dela podem levar a crer que ela criou isso, sei lá.
O que mais me incomoda é que, ainda que eu o confrontasse, tenho certeza que ele negaria tudo, e eu e minha mãe continuaríamos com as mesmas dúvidas.
Hoje consigo viver relativamente em paz com isso, encontrando com meu pai algumas poucas vezes por ano. Não consigo mais agir com naturalidade perto dele, não consigo bater papo, a distância que existia hoje é um abismo. Se realmente isso aconteceu, eu teria prazer em não olhar pra cara dele nunca mais, mas sei que jamais vou saber com certeza. Eu odiaria ser julgada por algo que não fiz, e ainda que meu pai não seja uma flor de pessoa, é meu pai, cuidou de mim da forma limitada que ele aprendeu a cuidar, e eu odiaria condená-lo se a minha irmã estivesse mentindo.
Mais uma vez Lola, agradeço pela boa vontade e atenção. E seu conselho, no final das contas, foi o que conseguiu trazer um pouco de alívio.

Julia disse...

Alguém pode me explicar onde o Roberto Vercelino fez homexplicanismo? Não percebi.
Parece que há pessoas querendo tumultuar a conversa..

Julia disse...

A figura do pai em uma família geralmente sempre foi um cheque no fim do mês.. até as feministas exigirem maior participação masculina na criação dos filhos. Se os homens hoje se dedicam mais a educação dos filhos, no sentido de acompanhá-los em atividades, darem carinho, participarem da vida da criança e não apenas impor regras, isso se deve ao feminismo.

Quanto aos sentimentos românticos pelo opressor, as mulheres heterossexuais não têm muita escolha, né? Resta tentar conscientizar homens (e mulheres) sobre os males do machismo. Mudar a orientação sexual das pessoas é tarefa impossível.

Anônimo disse...

Olha so pelo q vc relatou do seu pai p mim seria mais do q motivo para cortar relaçoes com o seu pai (isso sem considerar o estupro). Sei q tem mtas coisas q estao contra o relato da sua irma, porem td oq foi dito sobre ela e o relato dela se enquadra perfeitamente em alguem q foi abusada. Isso da mentira, contar uma historia depois outra, mas vitimas contam uma historia antes para depois contar a historia verdadeira, pq tem medo, vergonha , se sentem culpadas entao querem ver como seria recebido esse tipo de relato p ai sim falar o q realmente aconteceu. Isso dela nao ter feito com vc tbm nao prova nada, meu pai abusou de mim , mas nao abusou da minha irma (ate onde eu sei), ou as vezes aconteceu com vc mas vc nao se lembra. Nosso cerebro tem dessas tbm qdo o trauma eh mto grande as vezes ele apaga, as vezes ele mostra partes, e as vezes ele inventa coisas p esquecermos do q realmente aconteceu. Agora acredito q vcs deveriam questionar a pscicologa , nessa atitude nada etica e ate criminoosa, pq ela nao pode revelar anda do q foi dito e trabalhado em consulta sem a autorizaçao da paciente, existem se nao me engao algumas situaçoes em q o sigilo pode ser quebrado, e essa q vc expos nao se enquadra nisso. Outra coisa uma profissional dizer q ja atendeu mtas pessoas abusadas e dizer q nao acredita pq primeiro ela disse uma coisa e depois disse outra , desculpa, mas quem esta mentindo eh ela, nao deve ter atendido pessoas abusadas nao , pq o q mais acontece eh as pessoas nao contarem td a verdade, ou estarem confusas, ou contar uma outra historia ate se sentir confortavel par contar a verdadeira. E por fim me lembrei da historia do pedro e o lobo. Pedro sempre mentia sobre ver o lobo, ate q uma tarde o loobo veio e Pedro avisou mas ninguem acreditou em Pedro. ( Ou seja nao eh pq a pessoa eh mentirosa q ela nunca vai contar a verdade, e em um assunto serio com esse eh melhor pensar bem p nao ser comida pelo Lobo)

Panthro disse...

O pessoal tá violento aqui, né? Tenho a impressão de que os comentários subiram de tom. É o efeito Sherazade?

Lígia T. disse...

mesmo depois da resposta de L. aqui, continuo chocada com a declaração dessa psicóloga... ética zero ai hein... sigilo profissional é algo muito caro pra psicologia, ta no código de ética da profissão, gente.

Se bem que, nem todx terapeuta é psicólogx.

Anônimo disse...

Não quero duvidar do profissionalismo da psicóloga, mas ela poderia ter tido essa conversa com a mãe e com a irmã da paciente?

Anônimo disse...

Sobre "mentirosa compulsiva".

Não teria a possibilidade de ao invés dela ter mentido de ter sido abusada, por ser uma mentirosa compulsiva, ser, na verdade justamente o contrário, de que por ela ter sido estuprada muito pequena, ter este comportamento "problemático"?

Unknown disse...

Não entendi o motivo de dois comentários (ironicamente, anônimos) virem me insultar. Estou me iniciando na leitura de textos feministas, não apenas no blog da Lola, e realmente gostaria de aprender.

Já admito que não quis ser machista no comentário, de forma que até o postei com a minha identificação. Mas estou ciente de que há o machismo que não vemos, e queria saber se meu comentário houve algum machismo que não percebi.

P.S.: ofensas anônimas não vou nem levar em consideração.

Anônimo disse...

Sera que pode chamar esse filho da puta de pai ele não passa de um pedofelo o lugar dele ê na cadeia......

Jennyfer Silva disse...

Ola, meu nome e Jennyfer tenho 14 anos, mais ou menos 2 meses veio a tona uma história perdubante, horrível, triste demais,a historia e que meu pai abusou sexualmente da minha irmã, minha irma nao e filha biológica dele.
Essa historia veio a tona porque eu mi lembrei de uns fatos que ocorreu no passado e contei para minha mãe, minha mãe ficou nervosa muito mesmo, quis bater no meu pai, mais ele fugiu pra casa do pai dele,no dia seguinte minha mãe e minha irmã, foi pra delegacia, logo apos eu tive que depor contra o meu pai , conta o que eu disse e etc...
Depois de uns dias minha mãe teve que fazer uma medida protetiva contra meu pai, por que ele ficava atormentando eu, minha irmã, e minha mãe, dai ele foi preso por 30 dias mais ele ia ser liberado, mais agora ele foi transferido pro presidio, meu vo pai do meu pai fica mi culpando dizendo que eu coloquei ele lá mi falando cada absurdo que eu to começando a acreditar
E muito sofrimento cada vez que eu lembro eu choro, tenho medo que ele morra la, e eu nao quero carregar esse peso na consciência.
Espero que isso seja só uma fase, logo logo isso ira acabar, eu oro pela vida dele todos os dias, não quero que ele sofra e morra lá sabe, mais também nao quero que ele saia e fique ameaçando minha mãe, ele já bateu nela, ele reclamava por tudo tudoooo mesmo, tudo pra ele era motivo de brigar, ele e minha mãe era separados mais vivia na mesma casa porque nao e fácil sair de uma casa com 6 filhos, mas deus a de resolver tudo.

Amanda disse...

Jennifer, não se sinta culpada pelo que aconteceu ao seu pai. A culpa é só dele. Tire esse peso da sua consciência. Não dê ouvidos ao seu avô. Se mantenha forte do lado da sua mãe e irmã. Você fez o certo. Foi muito corajosa.

Fique bem.

Jennyfer Silva disse...

Muito obrigada ����

Amanda disse...

De nada, querida.
Espero que você, sua irmã e sua mãe estejam bem.

Beijos!

Anônimo disse...

Amigo, eu já passei por isso.
Minha irmã também foi abusada pelo meu pai, na época eu tinha 9 anos e ela 13.
Assim que aconteceu isso, meu pai foi embora para fora do pais, ele foi morar na america, estados unidos...
Logo após sua partida, a minha irmã confessou o que havia acontecido para minha mãe, que logo então, contou a todos da família o fato...
Apesar de já estar com 9 anos , eu era um menino muito inocente, e quando minha mãe me disse que meu pai havia abusado da minha irmã, eu não consegui compreender aquilo fácil, o que me deixou confuso, porque era um assunto delicado e eu nao me sentia confortavel perguntando sobre isso pra minha mae, eu pra ser sincero estava com saudades do meu pai na epoca, o que me da nojo hoje...
Eu lembro que eu cresci sem entender o porque as pessoas me olhavam com tanta preocupação e pena, no fundo eu nao entendia nada, mas eu sabia q algo mto ruim tinha acontecido comigo e com minha família, então começou a minha tormenta... Conforme eu fui crescendo eu continuava a falar com meu pai pelo telefone, ele morava fora.
Eu continuei amigo dele, eu era criança, não sei por que eu fiz isso, mas eu amava o meu pai, apesar de todos me contarem o que aconteceu, eu ainda nao consegui parar de falar com ele, ele quis fortalecer o laço que tinha comigo, eu nao conseguia associar o fato dele ter saido do pais com o abuso da minha irmã, ele me dizia q estava lá por mim e por elas, que queria mandar grana pra gente e etc.. mas no fundo ele estava fugindo do que fez...
Conforme eu fui crescendo eu consegui perceber oq ele tinha feito, e eu me senti mal, por ser amigo dele, mas eu nao conseguia parar de falar com ele, eu continuei, dps de 10 anos ele veio a voltar para o Brasil.
A minha familia nao tinha boa relação com ele, eu cheguei a perceber uma coisa, todos da minha familia, ainda mantinham contato com ele, por minha causa. se nao fosse por mim, todos teriam excluido ele de suas vidas e o ignorado pela eternidade...
Mas chegou uma hora da minha vida aos 20 anos, ele me chamou para morar com ele, ele havia voltado para o brasil e coneguiu um emprego na sua antiga area de trabalho... eu quase aceitei a proposta, mas aquilo me fez pensar...
No fundo eu acredito que crianças nao tem como ter esse entendimento do que é um estrupo, ainda mais quando vem do proprio pai, pelo menos eu consigo entender isso.
Eu cresci com esse trauma, nao consigo explicar, alem de nao ter uma figura paterna eu tinha um pai que era um duente mental estuprador.. e pra somar, o olhar de pena de algumas pessoas se tornaram olhar de raiva contra mim, por ter se tornado amigo dele. Isso me deixou mto triste, ate hoje eu nunca falei do assunto com minha familia, e ja tenho quase 30 anos... Depois que o meu filho nasceu, eu resolvi ignorar a existência do meu pai. Ele ainda me manda msgs e emails, eu nunca respondo, mas acho que hoje depois de tanto tempo, ele sabe o porque eu o ignoro. Mesmo sem ter falado sobre isso com ele eu sei que no fundo ele sabe que ele fez errado, primeiro em ter abusado dela, e depois abusou da minha mente, considero o que ele fez um estupro mental, eu tenho vontade de enfiar a porrada nele subitamente.
Eu queria agradecer a quem chegou a ler isso, eu só consegui entender isso tudo dps de anos que ja passou, eu perdi tanta coisa por causa disso, tantas oportunidades que joguei fora por causa de um sentimento de tristeza q me emplacava todas as vezes.
Eu me culpava, me sabotava na adolescência, por causa dessa confusão na minha cabeça, e também aconselho a todos que passaram por isso, DENUNCIE na hora o filha da p...

Anônimo disse...

continuando...
Eu acho q na vdd, minha mae nao denunciou ele, pra policia do brasil, por minha causa, e também pelo fato de ele ter sumido do pais.. Ela também ficou mto fragilizada eu entendo todas as partes, um abuso dentro da familia causa destruição gigantes para todos.
Espero um dia conseguir entender melhor tudo isso, por enquanto eu so cortei relações com ele, e procuro identificar as falhas de carater que tenho e conserta-las, meu pai devia ter sumido dps daquilo, ao contrario ele me usou como um ticket de volta pra vida, so q no fim das contas todos o desprezam, eu sinto muito nao ter feito isso antes... Obrigado

Anônimo disse...

Li todas as respostas e de longe a sua é a que concordo pelo simples fato de eu ter passado pelo mesmo e minha irmã não! Ainda acrescento: a memória no sentido de tentar apagar esse horror, pode facilmente confundir as informações. Do mesmo modo que a terapeuta cogita a dúvida da mentira como patologia, não é coerente não cogitar o fato de que a mente perturbada por tal abominação, esteja de todo sã para detalhar com precisão o ocorrido....