NOTAS INTERESSANTES QUE TALVEZ DESSEM POSTS SE EU TIVESSE TEMPO

Banquinha na convenção do NRA em Houston, Texas

Mais uma vez, pra variar, estou sem tempo. E tem uma batelada de assuntos fascinantes que mandaram pra mim. Vou apenas mencioná-los.

No início de maio, realizou-se no Texas (onda mais?) uma convenção da National Rifle Association, uma das organizações mais fascistas dos EUA. Um dos expositores lançou um zumbi que sangra ao receber tiros e que é meio parecido demais com Barack Obama. Quando perguntado se a semelhança era intencional, o dono da marca respondeu: "Vamos só dizer que eu dei um pro meu pai republicano no natal".

Parece um tanto insano que dementes pró-armas -- desses que adoram teorias da conspiração, odeiam o governo, e pensam que Obama é o anticristo (não, de verdade! Qual notícia você quer ouvir primeiro, a boa ou a má? Ok, a boa: 73% dos americanos não acham que Obama é o anticristo. Agora, a má: 13% sabem que Obama é o anticristo. E outros 13% "não tem certeza") -- possam praticar tiro ao alvo com o dummy de um presidente que eles sonham em assassinar. Ainda mais num país que tem certa tradição em matar seus chefes. 

Até pro NRA o negócio de atirar num Obama-be pegou mal. Pediram pro expositor remover a peça. A Zombie Industries também tem palhaço, nazista e terrorista (que, evidentemente, é chamado de talibã e é a cara do Bin Laden, não a cara do Timothy McVeigh, terrorista "doméstico" que colecionava armas e montava explosivos). E tem uma mulher. Esta aqui. Conheça "A Ex".

Custa quase cem dólares, uma pechincha pra carinhas que, na melhor das hipóteses, precisam extravasar o ódio que sentem pela ex-parceira, e, na pior das hipóteses, precisam treinar para poderem matá-la de fato. Pareço paranoica? Bom, é o Bureau of Justice que diz que uma em cada três vítimas de homicídio nos EUA é morta pelo "companheiro íntimo".

Depois de reclamações, "a ex" mudou de nome. Agora se chama "Alexa" -- ao que parece, uma homenagem à personagem da Glenn Close num dos filmes mais notórios da reação conservadora dos anos 80, Atração Fatal. 
Misoginia é algo que realmente combina com fanáticos por armas, esses símbolos fálicos.

Por falar em loucura, esta é a doutrina completa da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, igreja do pastor acusado de estuprar fiéis. Os seguidores dessa igreja não devem ter ou assistir televisão (convenhamos: não faz falta), se bem que há um adendo importante: "Claro que usamos a televisão para alcançar vidas, mas não nos contaminamos com a tal". 
Não se pode comer presunto, frutos do mar (tá na bíblia), beber Coca-cola (Pepsi pode?), usar cores pretas e vermelhas ("cores de identificação satânicas"), ter bichinhos de estimação (!), ter plantas ("há possibilidades dos espíritos maus se esconderem nas tais, como nos animais"), ou "tocar" (é o termo usado) antes do casamento. Para bom entendedor... você entendeu o resto.

A mulher cristã deve ser -- dãã -- obediente ao marido, honrada, virtuosa, não pode usar cosméticos, perfumes, método anticoncepcional (!), nem deve cortar ou aparar os cabelos (tipo, nunca?), e deve usar "roupões" ("vestidos longos que não delineiam o corpo feminino").  
Aquela pergunta clássica em casos de estupro -- "o que você estava vestindo?" -- pelo menos cai por terra neste caso. Já é alguma coisa. (Obrigada pelos links, Gabby).

Uma notícia que balançou o Twitter na semana passada foi a declaração do dono da marca  Abercrombie e Fitch de que não quer gordas usando suas roupas. Logo, a AeF só oferece tamanhos XXL para homens, já que pode haver atletas. Mike Jeffries quer que apenas pessoas bonitas, que atraiam outras pessoas bonitas, só os "cool kids" da escola, vistam sua marca. 
Lógico que uma marca tem o direito de querer atender apenas um nicho de mercado (é o que a moda faz o tempo todo), e as pessoas têm o direito de se zangarem com declarações tão infelizes. Mas o que gerou mais memes foi o fato de que Mike não é exatamente um garoto-propaganda da galera deslumbrante. (Update em novembro: ha ha, karma is a fitch bitch).

Isso tem alguma relevância? Não, creio que não. 
É como apontar que o Edu Testosterona -- que cobra que mulheres devem ser todas top models -- seja ele mesmo mas feo que pegarle a la madre, como meu papi costumava dizer. Mas por que será que tantos caras feinhos são tão obcecados com a beleza alheia? É só projeção, ou tem muito machismo embutido, do tipo "eu não preciso ser bonito porque sou homem, mas toda mulher deve ser linda porque é única coisa pra que ela serve"? Ou os dois?

Esta é a foto das candidatas a Miss Bahia 2013. Nada de novo no front. O que chama a atenção é que esta não é a seleção do, sei lá, Miss Zurique. É da Miss Bahia, estado em que 80% da população é negra ou parda. É o estado mais negro do Brasil. E suas misses ou são todas brancas, ou são empurradas pra bem longe da câmera, lá no fundão, pra que  nem apareçam na foto.

Tem algum outro nome pra isso além de racismo? Sim, sim, sei que muitas pessoas apelam pro velho "é só meu gosto pessoal", sem se perguntar porque o gosto pessoal de tanta gente vê como bonitas apenas mulheres brancas e magras de cabelo liso. Pergunta a essas pessoas: vocês acham que seu gosto é natural, ou seja, que vocês nascem achando feio "cabelo ruim"? Vocês vislumbram a possibilidade de talvez terem aprendido a seguir um padrão de beleza racista?

Essas mesmas pessoas, imagino, são as que devem justificar a ausência de negras num Miss Bahia (ou num Miss Brasil, ou num Miss Universo) dizendo que provavelmente nenhuma negra bonita se inscreveu. E essas mesmas pessoas acham um absurdo quando se faz concurso de beleza só pra negras. Porque, né, pra quê? Concurso de beleza negra?! Ahá, isso sim é racismo, gritam essas sábias pessoas. 

Essas sábias pessoas devem saber que hoje se comemoram os 125 anos da abolição da escravatura negra. 125 anos na história de um país é nada, e esse pouco tempo -- somado ao fato de que não houve qualquer tipo de indenização ao povo que foi explorado durante quase três séculos -- explica as gritantes diferenças entre as oportunidades que negros e brancos têm no Brasil. 

Nos últimos dez anos tem havido mudanças, e hoje a maior parte dos negros é de classe média (se bem que considera-se classe média quem ganha entre R$ 291 e 1.109, o que é baixo pacas). Ainda que a proporção de negros e pardos no ensino superior tenha dobrado, é preciso avançar muito mais. Por isso sou totalmente a favor de cotas sociais e raciais (e estou devendo um post sobre isso faz tempo). 
O Blogueiras Negras está realizando uma blogagem coletiva hoje. Recomendo!

E claro que este post ficou muito mais longo do que eu previa...