domingo, 27 de janeiro de 2013

GUEST POST: O QUE UM ANÚNCIO ME FEZ PENSAR

Gabi, uma historiadora em SP, me mandou um email que me fez lembrar muito de um lindo poema da Elizabeth Bishop. "Na Sala de Espera" fala de uma menina que, ao folhear uma National Geographic num consultório, percebe sua posição de mulher no mundo.
É bem interessante pensar em momentos assim em que a gente se descobre mulher (ou homem), ou que faz parte do mundo, ou o que significa ser mulher. Eis a epifania da Gabi.

Lembro-me de uma propaganda que a Duloren fez alguns anos atrás [acima], quando eu ainda era adolescente. Eu não lembrava da mensagem favorável à legalização do aborto, mas me lembro da cena da violência, de como eu me senti frágil perante o mundo ao ver aquilo! Tão branco e preto, tão agressivo, tão humilhante. A minha impotência em relação à violência veio à galope, e eu me senti reduzida a nada.
O que aquilo queria dizer? Se eu usar essa marca, eu estarei implorando para que os homens me estuprem e para que eu cometa um aborto? Se eu uso Duloren, eu procuro por essa violência dupla? É muito clara a lembrança de eu estar na sala de casa, segurando a revista aberta na propaganda por longos minutos, inconformada com a cena, mas sem saber o porquê! Qual era o motivo da mulher do anúncio estar apanhando?
Qual a ligação entre uma calcinha e um sutiã, itens que em geral exaltam a beleza e a feminilidade, serem motivos para uma mulher ser punida? Ou a mulher que usa Duloren é 'malvadona' e aborta pacas por ser moderna ou "estuprável"?
Senti um nó na garganta e um desespero (contido na marra) com tudo aquilo: uma que eu, ainda adolescente, não sabia me expressar ou argumentar com clareza, mas sentia que aquilo era absurdo. E outra que eu não tinha com quem conversar sobre o tema, pois os adultos que me cercavam não entendiam aquilo (criação católica, em que meninas direitas -- oi? -- não devem se preocupar com sutiã), ou estavam demasiadamente descrentes na vida para contestar!
Estava perdida.... o melhor foi engolir o nó da garganta e seguir em frente. A diferença é que a propaganda me atingiu tão negativamente que nunca comprei nada da marca. Medo de ser estuprada? Talvez. Não compactuar com aquelas ideias de violência? Talvez também! As duas coisas? Provavelmente! Prometi pra mim mesma que eu não compactuaria com uma marca que não me respeita, que me trata como algo que suporta violências por centímetros de renda. Entendi que a marca não falava comigo.
Lembro vagamente de ler uma outra notícia falando que a propaganda da violência estava gerando muito incomodo e seria removida. Mas aposto que brigaram contra a mensagem do aborto e não da violência do estupro, né? E chocadeira tem o direito de reclamar de alguma coisa?

32 comentários:

LaBrito disse...

Oi Lola, acho que essa imagem já foi usada num outro post antes, que foi a primeira vez que a vi (nasci em 1990, nao devo tê-la visto naquela época...)e achei forte, mesmo pra 2013.
Sinceramente também não consegui ver sentido entre lingerie e estupro. Quem vincularia a própria marca a algo tão vil?
Aquela máxima de que "polêmica tbm é publicidade" é muito verdadeira, mas ninguém pareceu perceber que há a publicidade negativa...
Enfim, ótimo post (as always!), realmente espelhou muitas das dúvidas que me surgiram ao ver este anúncio pela primeira vez!
beijão!!

Mihaelo disse...

Boicote sempre funciona, visto que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso! Enquanto não for possível eliminar o dinheiro e a propriedade, esta é a solução, boicotar todas as marcas,sexistas,homofóbicas,racistas e pobrefóbicas!

Anônimo disse...

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Unknown disse...

Oi Lola!
Te deixei um comentário no post do aniversário do bloguinho, mas acho que vc não viu rsrs.
Eu já passei por muita situação "perigosa" com um empregado que trabalhou aqui em casa...ele passava a mão em mim e no começo eu achava que era brincadeira...mas com 13 anos fui percebendo a malícia das brincadeiras...aí ano passado me tornei feminista (ele ja tinha sido demitido) lendo seu bloguinho fofo! tudo de bom e mto obrigada por me iluminar =) bjos

Unknown disse...

É engraçado, eu tb já me senti assim mto antes de me tornar feminista...

Eu não lembro direito qtos anos eu tinha, acho que uns 12-13. Estava lendo uma dessas Vejas da vida, e naquela seção de frases, tinha a seguinte: "As mulheres são idiotas". Segundo a explicaçãozinha embaixo, era de um diretor de presídio feminino, e ele se referia ao fato das filas dos presídios masculinos estarem sempre cheias de mulheres para visitá-los - enquanto as dos femininos quase não tinham homens.

Admito que é diferente dessa propaganda, porque essa marca fez questão de se vincular à uma violência e "legitimá-la", enquanto que o diretor estava se revoltando com algo no mundo (ainda que colocando a responsabilidade nas pessoas erradas).

Mas, eu tb me senti impotente, sabe? Senti um peso enorme por ser mulher, por viver em um mundo em que era esperado que eu cuidasse de alguém (de um "homem-para-chamar-de-meu") que culturalmente me consideraria descartável, que não cuidaria de mim se os papéis estivessem trocados. Eu me senti tão triste lendo aquilo, foi um peso enorme.

Anônimo disse...

Odeio lingeries! Amigas minhas dizem que é importante sempre comprar peças novas para apimentar a relação; até os homens com quem me relacionei já deram indiretas de que gostariam de me ver de lingerie. Pode ser que procurem parceiras adeptas de arame, mas eu sou é adepta do meu corpo livre, e só uso calcinha (confortável, de algodão e sem grife) e sutiã... às vezes nem isso. Victoria's Secret, Duloren e outras não levam meu dinheiro.

Elisangela disse...

Eu me lembro perfeitamente quando percebi minha vulnerabilidade no mundo: a calça branca que eu amava, 13 anos e sempre tive uma bunda grande, passei em frente a um bar e os "elogios" me deixaram triste por uns 3 dias. Nunca mais usei aquela calça. Como a moça do post, era um mal estar vago, um desconforto. Hoje eu sei, e ainda fico puta por isso.

@satestoni disse...

Que comercial horrível!

Realmente a gente (mulher) cresce engolindo isso até a gente chegar no ponto de fazer algo para mudar ou aceitar de cabeça baixa.

Eu me identifiquei com o texto, pois quando era criança também tinah os mesmos questionamentos.

Bom saber que essa marca, cujo público alvo são as mulheres seja contra as mulheres, pois voi boicotar agora e fazer propaganda negativa a respeito!

Torquato disse...

Essa propaganda não faz nenhum sentido, talvez aquela "psicologia" de araque que diz que a maioria das mulheres tem fantasias com estupro (já ouvi isso da boca de um suposto psicólogo, que depois descobri ser um estuprador), e isso tenha levado o publicitário a fazer algo assim pra chamar a atenção "insconsciente" das mulheres. O que eu tô vendo aqui é que o anúncio só gerou revolta. E ainda por cima vincular isso a uma consigna feminista... Que diabos???!

@satestoni disse...

Que propaganda horrível!

Escolhemos entre mudar a situação ou fechar os olhos.

Não conhecia essa propaganda dessa marca. Achei extremamente contraditória, pois o produto é para as mulheres, certo? Não deveria ter uma propaganda destruindo as mulheres.

#boicote!

Kamila disse...

Somos usadas em todos os lugares, na mídia, ao nosso redor. E o pior é que a culpa é sempre nossa. Se fomos estupradas e porque fizemos algo errado e nunca é do estuprador.
Eu não consigo entender a palhaçada que essa sociedade.
As vezes eu queria morar em Marte só com o meu gato e o meu cachorro...

lola aronovich disse...

Vc tem cachorro, Kamila? NÃO PODE! Assim vc acabará sendo expulsa do clubinho feministas! Segundo a concepção que mascus fazem de feministas, nós só podemos ter gatos, ok? Cães não. E no mínimo 30 gatos. Se vc só tiver 29 gatos, pô, que tipo de feminista é vc?! Além dos gatos, também precisamos viver sós (apenas com a companhia dos bichanos) e sermos muito deprimidas, dependentes de remédios tarja preta.
Eu mesma, preocupada com minha reputação feminista, já estou pensando em dispensar o maridão, começar a tomar Prozac (é isso?), e arranjar logo mais 28 gatos, já que só tenho 2. Um dia eu chego lá! Espero que vc também, Kamila!

Maga disse...

[Oi Lola! Sempre passo aqui mas nunca comento. Esse, portanto, será meu primeiro comentário rs]

Pra mim a ideia da propaganda é:
O 'poder' da lingerie é tão grande que tornaria a mulher irresistivelmente atraente mesmo estando escondida sob a roupa - lingerie atômica? rs. A força não é da mulher, não está vinculada a um poder feminino, de fato, mas como você observou e outra postagem é a Duloren que é capaz e por extensão torna a mulher capaz (como já foi observado, a Duloren é capaz até de "transformar 'até' uma gordinha num ser atraente" que é o que podemos depreender de alguns anúncios); essa força, segundo a marca, não é imanente à mulher. A velha ideia da mídia de causar uma necessidade que não se tem e supri-la, enfim). O poder da lingerie seria tamanho que os homens não iriam resistir. Logo, ela seria estuprada diversas vezes, por diversos homens 'contaminados' pela influência dessa lingerie atômica e consequentemente engravidaria. A questão do 'não esperar' o período da gestação também se vincula a um suposto prazer que a mulher teria em ser estuprada! Ou seja: a lingerie dá um poder absoluto>> os homens não vão resistir a esse poder>> se a mulher engravida ela se torna 'menos desejável' (por talvez haver uma 'sacralização' da mulher, que passa a ser identificada à mãe, na gravidez. Mães, portanto 'santas' não são o público da Duloren), portanto menos 'estuprável'>> se o aborto for legalizado logo as prováveis gestações advindas dos estupros não serão mais um 'problema' e ela poderá seguir sua sina de 'objeto estuprável do patriarcado'.

O que me parece é que há mais uma confirmação de oposição contra o aborto que uma ideia de 'conquista feminina' no anúncio. Me faz pensar que a ideia vinculada é a de que mulheres que fazem abortos querem (e "tem mesmo") que ser estupradas, pois são 'vagabundas', levianas.. Como se a decisão de fazer um aborto fosse simples, principalmente para uma mulher que proclama sua liberdade sexual. É mais uma propaganda legitimando a violência...

Asqueroso, no mínimo.

(Também nunca comprei Duloren por causa do impacto negativo provocado pelas propagandas desde que eu era criança).

Mari disse...

Concordo com tudo, mas achei uns trechos preconceituosos. Acho estranho que alguns preconceitos não têm problema, e outros têm...
Acho estranho que a Lola, também, quando fala dos mascus, escreve coisas como "tudo sic", mas quando é um guest post mantém os erros tensos...
PS.: sou católica e a favor do aborto.

Cris Jolie disse...

Espero sinceramente que meu post apareça.....


Sim , me passou a mensagem que mulher desejável provoca e estupro,e consequentemente o aborto.Quem faz aborto então são mulheres desejáveis, que provocam os homens, que são incapázes de se controlar, e estupram.

Ou seja, a culpa do estupro é da mulher , lógico, e a vítima, é o homem, que coitado, foi seduzido por uma desfrável.

Lindo , não???

Anônimo disse...

Mari, seria interessante se você apontasse que trechos cabem na sua crítica, o que você concorda e deixa de concordar, senão a sua crítica fica inócua, ou, então, deslegitima toda a ideia que se quer passar, afinal, qualquer coisa do que foi dito pode ser preconceito se você não explicar. Afinal, qual é o seu ponto de vista?

Nivaldo Brás disse...

Pela primeira vez sem comentários. Quanto aos gatos, infelizmente é um clichê que marcou as mulheres solteiras.

Julia disse...

Quem prefere passar o resto da vida na companhia de 30 gatos sarnentos e cheios de pulga do que 1 minuto na companhia de um mascu levanta a mão.

Anônimo disse...

Ai, Ju xará! Assim o pessoal não vai conseguir escrever o comentário... Estamos todas com a mão levantada pra garantir distância dessa companhia delícia!

Sophia disse...

Ai que tipo de feminista sou eu, Lola? Nenhum gato, nenhuma depressão e três cachorros kkkkkkkkkkk'
Várias publicidades já me deixaram com essa sensação incômoda. Uma vez, na fila do supermercado a revista capricho(tenho quase certeza que era esta), tinha como brinde lencinho desodorantes íntimos de uma marca voltada pra o publico teen, fiquei meio baqueada com isso. Claramente que isso é publicidade, e só de pensar que as meninas de 14-18 anos, público alvo da revista, estão aprendendo desde cedo, que sua vagina, órgão limpíssimo por sinal, tem um cheiro tão ruim que precisa ser mascarado é um tipo de violência também. É de conhecimento que esses artifícios prejudicam nossa flora, podendo ai sim, causar um mal cheiro real, é uma das razões pela qual as meninas têm vergonha de fazer sexo oral, por achar o cheiro ruim, é uma forma de minar nossa auto-estima, e em escala maior nossa sexualidade. E a marca de camisinha que fez apologia ao estupro? E o que é pior, fazendo parecer uma brincadeirinha a dois. O que dizer das marcas de lingerie, que como defendeste em outro post, coloca a mulher em uma posição de que só se da bem, se usar o corpão numa bela lingerie enfiada na bunda. Essas me deixam com uma sensação de prostituta, estourei o cartão ou bati o carro pago ao meu "macho" com sexo? Em primeiro lugar cartão e carro são meus, segundo, mesmo que seja deles se eu não estiver esperando nua ele vai fazer o que? Bater-me? É essa a mensagem?

Daniele P. disse...

Minha primeira epifania foi quando uma menina da minha rua me convidou para ir ao mercadinho da nossa rua, nos não eramos amiguíssima, pois ela era uns 2 anos mais nova (e nessa fase isso faz diferença), a idade deverias ser uns 13, 15 anos. Bom o fato é que passamos na frente de uma lancheria onde haviam uns 4 ou 5 garotos, todo mais velhos, talvez ate maiores de 18, e eles começaram a gritar o nome dela, e a ofende-la com as tradicionais ofensas a mulheres, pq acho que ela tinha ficado com alguns deles.Fiquei enjoada, revoltada, e foi ai que minha ficha caiu!!!

Anônimo disse...

"(...)e só de pensar que as meninas de 14-18 anos, público alvo da revista, estão aprendendo desde cedo, que sua vagina, órgão limpíssimo por sinal(...)"

Limpíssimo? A vagina humana possui uma concentração de bactérias maior do que qualquer parte do corpo com exceção do intestino grosso. É verdade que a maioria desses microorganismos são uma parte natural da flora bacteriana do corpo humano, e não fazem qualquer dano real. Mas mesmo essas bactérias inofensivas produzem um cheiro forte e ácido. Eu acho que a maioria das mulheres não gostariam de fazer sexo oral em um homem que não cuida da higiene genital (já que um pênis pouco higienizado fica com um odor ruim também), então não acho que produtos para diminuir esse odor sejam assim tão maléficos e machistas.

Moema L disse...

Lola me leva pra Marte com você, também ando um pouco cansada dessas bandas de cá.

Esse post me fez lembrar de uma bronca que eu levei da diretora da escola quando tinha 6 anos.Tenho um irmão mais novo que eu 2 anos, na época ele tinha 4. Como morávamos em um prédio sem muitas criança eu e ele sempre brincávamos juntos, e de todas as brincadeiras, boneca, casinha, carrinho, soltar pipa... (sem preconceitos, até porque crianças não sabem o que é isso)Então uma vez pintei as unhas dele de rosa (diga-se de passagem um rosa tão claro que era praticamente uma base.)Quando ele chegou na escola e a diretora sabe-se lá como viu, eu levei uma bronca tão grande que ninguém aqui imagina.Ela me perguntou inúmeras vezes se eu estava louca, se minha mãe tinha visto aquilo (é claro que ela tinha visto, só que assim como toda pessoa racional não viu mal algum)Que aquilo NÃO ERA COISA DE HOMEM, que da próxima vez que isso se repetisse eu ficaria de castigo o resto do dia... etc um senhor esporro.

Só não disse que ele viraria gay. Mas hoje lembrando dos fatos sei que era isso que ela queria dizer, que era isso que ela dava a entender. Lembro que eu fiquei muito chateada o resto do dia mas não entendia o porque da bronca. O que havia de tão nocivo em um esmalte que prejudicaria meu irmão.

Hoje eu sei que aquilo foi absurdo, preconceituoso, machista e porque não homofóbico.

Meu irmão não virou gay, até porque não se vira gay. e aquela não foi a ultima vez que eu passei esmalte na unha dele.

Lembro também da bronca da mãe de uma amiguinha de infância, falando que minha saia estava muito curta que eu tinha que me dar ao respeito. Ai eu pergunto o que é "dar ao respeito" para uma criança de 8 anos?

Já disse Lola, quando for para marte me chama que eu vou junto.Só preciso arrumar 28 gatos. (vou fantasiar meus 2 cães de gatos mas não conte para os mascus)

Anônimo disse...

Diga-me, Lola, se você não se reconhece na garota que aparece em segundo plano. Creio que todas nos reconhecemos:

http://www.portaldoholanda.com/sites/default/files/andressa_urach-4049%20%284%29.jpg

Eis aí uma boa foto para ilustrar seu blog.

Raíssa disse...

Não vi essa propaganda quando era criança, mas vi outras dessa marca e também não gostava. Eu vivia me magoando com esse tipo de coisa, me lembro de uma vez que meu pai não me deixou jogar futebol no meu aniversário com ele e meus amigos pq eu estava de vestido. Eu lembro de pensar: se vestida assim não posso brincar, por que me vestiram assim????

Má disse...

Eu não consigo me lembrar bem dos meus primeiros incômodos advindos da cultura machista, mas talvez tenha sido no início da adolescência, quando passei a ouvir de algumas colegas que já namoravam coisas do tipo "não vou na festa hoje pq meu namorado não deixou", o que me deixava possessa: como assim, não deixou?! vc precisa de autorização? essa é uma fala bastante corriqueira, que sempre me deixou indignada.

Julia disse...

A minha ficha caiu tantas vezes e eu nem me dei conta...
Eu percebia os absurdos mas as pessoas ao meu redor encaravam aquilo com tanta naturalidade que eu achava que estava vendo pêlo em ovo. A minha ficha só caiu de verdade quando eu conheci seu bloguinho, Lola.


Cora disse...


sinceramente? não entendi qual é a do anúncio. e achei horrível!! a frase não me parece nem mesmo uma reivindicação legítima por um direito, mas antes uma solicitação meio inconsequente, de uma pessoa mimada e não de alguém consciente das violências q sofre cotidianamente. achei tudo péssimo!!

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eu fiquei ciente da vulnerabilidade feminina muito cedo. por algumas coisas q aconteceram comigo (não muito graves, nenhuma violência direta), por coisas q aconteceram com mulheres da minha família (aí sim, bastante graves) e por casos de violência contra a mulher q aconteceram na cidade onde eu morava. comentários julgando a mulher sempre tocaram fundo em mim. sempre me incomodaram, mas eu não sabia como reagir, o q pensar. minha fala nessas situações era desarticulada, apenas a manifestação de uma insatisfação, de um inconformismo com o q eu entendia ser uma injustiça.

só na faculdade comecei a elaborar isso um pouco melhor e reagir de forma mais sistematizada ou elaborada, mas foi só depois de começar a comentar em blogs (aqui principalmente) é q fiz disso uma causa, vamos dizer assim. e hj não deixo passar nada.

mas eu só fui entender q era feminista de verdade num blog sobre política (queria q tivesse sido aqui, Lola!). depois de algumas rusgas, galera começou a pegar no meu pé por conta disso e só aí me dei conta de q eu era, de fato e de direito, feminista e não apenas "revoltada" (era esse meu rótulo antigo, rsrs).

eu sempre “bati boca” na rua (não são brigas de fato, mas eu reajo às situações absurdas sempre q posso. eu tomo as dores mesmo e dou o meu recado. se servir pra plantar alguma pulga atrás de alguma orelha, tá valendo). sou assim pra tudo. e especialmente com situações q envolvam julgamentos injustos de mulheres. e agora, mais q nunca!

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em relação à lingerie, sou toda do contra. passei muito tempo sem usar sutiã. durante a adolescência e faculdade, usava só esporadicamente. depois, trabalhando, é um tanto impositivo. não dá pra dispensar sem uma série de olhares e cobranças. e acaba sendo mais fácil (ou mais prudente?) usar. mas, me liberto deles sempre q posso. (tenho primas e amigas q usam até pra dormir!!) e é td sempre confortável. tecido macio e confortável. tanto a calcinha qto o sutiã. aliás, sou toda trabalhada no conforto. dispenso isso muito raramente e não sem lutar! ;D

Sophia disse...

Anônimo das 10:38, saiba você que a vagina é autolimpante e quando saudável, mais limpa que muita boca por ai, palavra da ginecologista. Recomendo que procure no google, ou converse com algum médica, pois o tema do post não é esse para me delongar na discussão. E eu não usei o termo machista, apesar de achar sim. Por que não ensinam a gente a cuidar da nossa saúde e higiene? Ficam empurrando 1 milhão de produto que mascara nosso cheiro natural e desequilibra o PH e todos voltados a mulheres por que homem no minimo não precisa disso, achas isso justo?

The Light Son of Janus disse...

Acho que comecei a me dar conta do machismo quando a minha irmã, cinco anos mais velha que eu, e na época com uns 15 anos, me disse: "você não sabe o que é andar na rua e algum desconhecido falar pra você 'e aí, b*cetuda'".

Mas ser homem é fácil e cômodo nessa sociedade. Apesar de ficar com isso na cabeça até hoje, foi muito recentemente que comecei a me afirmar como feminista.

Uma coisa que contribuiu foi um episódio que poderia passar despercebido. Faz uns anos, eu estava conversando com um colega (nem me lembro do que falávamos) quando ele me disse que não mijava sentado "porque eu sou homem!". Isso me chocou de um jeito muito estranho. Se o cara não tem liberdade nem para fazer xixi do jeito que ele achar mais confortável, ENTRE QUATRO PAREDES, isolado, como é que ele vai agir na sociedade?

O mais importante, sem dúvida, foi a convivência com a minha esposa e como eu cresci vivendo com ela. Aprendendo o quanto as piadinhas que a gente ouve por aí cortam fundo. Pensar que estamos vivendo juntos, que ela não tem medo de mim, mesmo eu sendo homem, mais forte que ela, mais alto... Pensar que a violência é algo tão presente na vida de muitos casais... Isso me vira o estômago de um jeito muito bizarro.

Em definitivo, me afirmei feminista depois de ter me tornado professor, nos últimos 2 anos. Quando se está nessa posição, você tem que afirmar isso para você, para seus colegas e para os alunos. Não para convencê-los, mas para ensiná-los a viver num mundo em que o feminismo existe, que o machismo existe e o que é tudo isso.

Desculpe-me pela extensão do comentário. Mas é que esse blog é muito importante para mim. É uma referência política e social muito importante, que eu admiro demais.

Anônimo disse...

Enquanto isso, espero que a ciência ache logo uma solução para criar uma pílula masculina que seja realmente eficaz, segura e acessível.

Desse modo, a responsabilidade - que atualmente é quase exclusivamente atribuída às mulheres - de prevenir a gravidez poderá ser compartilhada com os homens.

E, havendo a adesão de quem não quiser ter filhos, a necessidade de fazer abortos vai cair.

OBS.: Sobre a camisinha, é um método relativamente seguro (até porque não faltam casos de camisinhas estouradas) que ainda incomoda a algumas pessoas. E por isso mesmo, costuma ser evitada em muitos casos, mesmo considerando que ela pode evitar doenças venéreas.

Mas pílula masculina+camisinha seria a prevenção ideal para os homens.

CachorroGato disse...

Muito legal!!!!

Cães