sábado, 16 de agosto de 2008

AS FEIAS QUE ME PERDOEM

Como foi amplamente divulgado por vários sites de notícias, a menininha chinesa que cantou um hino na abertura que não vi das Olimpíadas foi dublada. A verdadeira dona da voz, uma garota de sete anos, foi considerada feia pela organização, e por isso deixada de fora. Revoltante, lógico. Fico pensando se a pobre menina vai encarar isso como um trauma na sua vida: “É, bilhões de pessoas no mundo me ouviram cantando, mas quem apareceu foi uma guria bonitinha”. Pior ainda, no entanto, foi ler alguns comentários de que “tal coisa só pode acontecer num país autoritário”. É piada, né? Vivemos num mundo em que, depois de tantos séculos de opressão, o que ainda se espera das mulheres é que sejamos bonitas. O caso da chinesinha não é em nada diferente ao das gordas barradas numa boate na Grã-Bretanha (o que, por si só, não é nada diferente dos prefeitos lunáticos que proíbem mulheres mais velhas de usarem biquini, ou de sequer frequentarem a praia de seus municípios). Não é diferente dos caras que dividem as mulheres em “essa eu comeria” e “essa eu não comeria”, e falam isso bem alto quando a moça sob avaliação está passando. Somos decorativas. Só servimos pra sermos atraentes ao sexo dominante. Se não somos atraentes, o problema é nosso, não de uma sociedade que não evolui. Todos os dias nos comparamos a imagens de atrizes e modelos “perfeitas”, e nos convencemos de que somos erradas (lembrem-se que vemos mais imagens em um ano do que as mulheres de outras épocas viam em sua vida inteira). A mídia prega que “só é feia quem quer”, ao mesmo tempo que deixa claro que não querer ser linda não é uma opção. Basta consumir, pagar cirurgiões plásticos - quase todos homens - para cortar nossa pele saudável, fazer a dieta mirabolante da semana, comprar roupas de grife que não são feitas para mulheres “normais”, nos escondermos atrás de maquiagem que mais parece pintura de guerra. Tudo isso na ilusão de que, assim, seremos aceitas. Esquecemos que o padrão de beleza único vai só até uma certa idade, e que depois desse limiar, se você, mulher, não for mais desejável e nem pode ser mãe, qual a sua função mesmo?

Um exemplo. Dan Savage é um colunista sexual americano que eu admirava, até notar que suas respostas pros homens que lhe escrevem são muito mais tolerantes que pras mulheres. Ele é gay, e compara a genitália feminina com uma “lata de presunto jogada do alto”, algo que o enoja. Seu tom misógino fez com que eu parasse de admirá-lo. Além do mais, não suporto quando um representante de uma minoria ofende outras minorias. Mas três semanas atrás ele publicou essa carta que partiu meu coração (minha tradução):

Sou uma mulher de 22 anos, e quanto mais velha fico, mais sou ridicularizada por homens heterossexuais por ser feia. Ontem mesmo um homem me perguntou se eu tinha inveja das minhas amigas bonitas e se eu queria ser como elas. Sei que não sou atraente, mas conheci garotas maravilhosas que eu penso serem pelo menos tão pouco atraentes como eu, e que conseguiram encontrar alguém que as ame. Preciso saber se ainda devo me preocupar – é difícil conseguir um emprego, fazer amizades, e basicamente conhecer gente que me tratará como um ser humano. Eu tomo banho todo dia, tento me vestir bem, e uso maquiagem, mas nada disso parece ajudar. Parece que minhas únicas opções são cirurgia plástica ou suicídio, e quanto mais velha fico, mais a segunda opção soa sedutora.

P.S.: Não posso confiar que minhas amigas me contem a verdade, porque elas me amam, o que ou afeta seu julgamento, ou as faz relutarem em machucar meus sentimentos. As únicas referências são de estranhos que sentem necessidade em me dizer o quanto sou feia. Mas não tenho certeza. Devo te mandar uma foto?

Dan respondeu que ela deve procurar um psicólogo(a), disse-lhe que as pessoas ficam menos cruéis com a idade, e que ela deveria continuar vivendo pra ver os caras malvados envelhecerem, ficarem horrendos e morrerem. Pois é, ele não é muito sério. Mas é triste ler um relato desses. Note que a moça não é gorda, disforme nem nada. Ela apenas é considerada feia num mundo que ensina que beleza é algo objetivo. Um mundo doentio que mostra que, se você está fora do padrão, deve ou entrar na faca ou aceitar que as pessoas te destratem. Negras precisam alisar o cabelo e até clarear a pele para se adequarem. Orientais devem ocidentalizar os olhos. Mesmo brancas magras precisam consumir pra serem bonitas. Devem colocar silicone e não serem pálidas demais. Ou seja, qualquer coisa natural é vilanizada, porque mulher não nasce bonita – no máximo fica bonita, se puder se adequar a um padrão inatingível, e essa beleza é efêmera. E nosso poder de atração é julgado desde a mais tenra idade, como no caso da chinesinha. Enfim, se você é mulher, é preciso “investir” na beleza. É preciso esforço e determinação. Mas o que importa mesmo é que é preciso. Como disse Vinícius de Moraes numa frase que é repetida ad nauseam mas raramente criticada, “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” (fundamental, claro, só pra mulheres). Até quando vamos continuar perdoando uma sociedade que nos chama de feias todo santo dia? Não te perdôo, Vinícius.

41 comentários:

Anônimo disse...

No caso de uma criança é pior porque pode gerar um complexo de infeiroridade que vai dar muito trabalho para se ver livre não é?
O pior é quando os próprios pais começam a incutir nos filhos essa noção de beleza-felicidade que é irreal.

Fer Guimaraes Rosa disse...

Lola, eu fiquei tristissima com a historia dessa menina chinesa... Isso nao se faz! :-(

Eu devia ter uns dez anos qdo fui a uma festa com bailinho e tinha um lance da vassoura--voce ficava com a vassoura e escolhia um par e batia a vassoura, pra trocar e dançar. Eu fui com a vassoura em maos toda alegre trocar de par com uma amiga que dancava com um menino. Quando bati a vassoura e o menino viu que teria que dancar comigo, ele soltou uma BUFADA de QUE SACO. Minha amiga era delicada e petit, eu sempre fui altona, desengonçada, com um jeitao de menino arteiro. Nem preciso dizer como eu fiquei perturbada, meu coracao encolheu, dancei triste e sem vontade e acho que ate hoje tenho algumas sequelas dessa rejeicao.

Coitada dessa menina, que levou uma bufada publica, na frente de um bilhao de pessoas... :-((

beijaooo,

Gisela Lacerda disse...

Lola, eu acho que até as meninas/mulheres consideradas bonitas e atraentes já foram, digamos, dispensadas alguma vez na vida. Veja os homens: são dispensados por várias e continuam "lutando". ;-)) Tem muito homem desprezado porque é feio, barrigudo, gordo. Tá certo que o peso é mais em cima de nós mulheres.

Acho o seguinte: tudo bem, existe pressão e é horrível. Essa história na Inglaterra e essa outra da China também são "pénibles", mas acho também perfeitamente possível suportar a pressão, sendo essa mulher considerada bela ou horrorosa. Veja bem que usei a palavra "considerada", por acreditar que beleza é relativo, por mais que nos façam engolir um "certo padrão". No Brasil há várias mulheres pondo silicone no peito; penso que é uma questão de valor e acho que os pais são muito culpados. Falo porque conheço. Esse negócio de que a mídia é sempre a cruel me cansa um pouco. É louvável a luta, e eu admiro que haja uma vontade em mudar e revigorar (anúncios, comerciais, mente das pessoas, valores humanos, etc) mas é preciso haver um equilíbrio entre indivíduo e sociedade: o que pode ser "tratado" por um profissional e o que pode ser alterado na sociedade, seja com trabalhos acadêmicos, blogs, discursos, ongs, passeatas.

Anônimo disse...

Oi lola, eu sempre fui o "patinho feio" da turma, sabe àquela que sempre vai ser a melhor amiga do cara mais bonito da escola? Cresci, meio sem coragem de me encarar no espelho. Só mais velha, depois de muita psicologa, aprendi a me amar, independente de beleza ou etc, valorizo hoje muito mais o meu talento, do que o exterior, mas não dá para abstrair o quanto esse processo todo é doloroso. Sempre odiei essa frase, é como se através dela uma linha imaginária definisse quem fica e que sai. E o pior de tudo, é que a frsse foi dita por um homem feito, muito talentoso, mas feio de doer rs...

Ah, sobre o banner do blog, fui eu quem fiz, posso fazer um para você, se quiser, passa um e-mail com todas as informações que deseja - cores, texto, ilustração etc - que faço para você.

Abraços,

Anônimo disse...
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Gisela Lacerda disse...

Tratado, eu quis dizer - "no divã", mas pode ser qualquer divã... ;-)

ps grandinho: Vinícius é muito mal-compreendido por todos, tanto por ser "aquele cara com várias namoradas, volúvel", tanto pelas suas frases. Acho injusto. Existiu um contexto e quem é carioca sabe disso. Ele mesmo namorou mulheres CONSIDERADAS lindas como a escritora brasileira Hilda Hilst (falecida se não me engano em 2005) e também outras CONSIDERADAS menos formosas. A beleza existe em cada um, é no olhar. As pessoas são tão preconceituosas que nem conseguiram alcançar o que ele dizia na época. Se essa frase é raramente criticada, é porque, graças a Deus, entenderam o cara! "Para uma menina com uma flor" e "que seja eterno enquanto dure". Bjs procê

Anônimo disse...

Apertei sem quere o enter, e entrei como anônimo e duas vezes! Deleta um e me desculpe. Aff !!!

Gisela Lacerda disse...

Aliás, eu acho a garotinha da voz verdadeira supergraciosa e bonita, talvez os dentes atrapalhem. ;-))Quem sabe até ela não é pobre? A miséria deixa as pessoas "mal-cuidadas"; isso ninguém fala, que existe um p. problema social aí por trás. Qualquer pessoa com dinheiro no bolso consegue ficar "atraente". Não entendi sinceramente esse argumento dos responsáveis pela organização/comitê, sei lá o quê! ;-) E mesmo que ela fosse feia, isso que aconteceu foi ridículo.. Mas eles "os china" mestres da falsificação, do fake, do "contrefaçon". ;-0 As sete caras do Dr. lao.. ahahah

Leo disse...

Foi bem chato isso sim! Enfeiou o brilho da festa. O que eu achei mais curioso é que realmente a menina que apareceu cantando era linda, mas a outra não era feia. Não tinha como ser feia. O que a menina cantando representava era maior do que a beleza ou a feiúra.
Mas lí que parece que ela não ficou traumatizada não. Se sentiu honrada com a oportunidade de bilhões de pessoas ouvirem-na cantado. Achei bem legal isso. Não se deixar abalar com tamanha palhaçada e sair como uma boa Polianna, vendo o lado positivo das coisas.

Anônimo disse...

lola, estou um pouco alta [hehehe] então desculpe o comentário truncado e provavelmente sem sentido.

[1] o pessoal que disse que isso só acontece num país totalitário deve ser muito jovem pra se lembrar de um embuste cometido no país que hasteia a bandeira da liberdade: milli vanilli.

[2] a filha de vinícius diz que ele não era um bom partido.

[3] anturdia li num blog de jornalista brasileiro em pequim que um outro jornalista, chinês, ficou espantado com a existência de favelas e do poder paralelo que ocorre nas favelas. ele se espantou porque não entendia como o governo deixou a coisa atingir esse estado. os comentários dos leitores iam todos na mesma linha: "ah, é, é? e no país dele que se fuzilam pessoas", "no país dele isso e aquilo"... em vez de reconhecer que o problema existe, que precisa ser combatido, preferem apontar o dedo e apontar a trave no olho do outro. sei lá. me incomodou.

tinha uma outra coisa, o que era mesmo...? pera que vou reler sua crônica, já volto.

oh! além da dublagem da ode à pátria [que foi o caso das meninas], no mesmo momento pode ter acontecido outra "dublagem": enquanto a menina se apresentava, 56 crianças entraram no estádio carregadndo a bandeira da china. disseram que era 1 de cada etnia do país. agora dsconfiam que quase todas eram da majoritária, a han, e são crianças-modelos, que trabalham em publicidade e tv.

a outra desconfiança é que metade das ginastas olímpicas chinesas não têm a idade mínima exigida para participar da olimpíada, que os documentos que a federação nacional apresentou teriam sido forjados.

a coisa é mais séria do que apenas "aparecer bonito" na tv, é algo mais conhecido no mundo todo, inclusive no ocidental: levar vantagem em tudo, cerrrto?

mas, ah, pelo lado positivo valeu por outra boa crônica tua, que chacoalha os meus noronhos.
:oD

Anônimo disse...

Mesmo colocando fotos de pessoas lindas no blog - porque a beleza realmente é atraente e não se pode negar - concordo inteiramente com você. Claro. No outro dia ia escrever sobre isso, de como nós (e qdo digo nós falo das pessoas que pensam e têm alguma sensibilidade)somos reféns dos conceitos dominantes. Tem que ser jovem, tem que ser bonita, tem que ser magra. São conceitos de uma sociedade (não estou falando só do Brasil, claro) muito atrasada, muito limitada.No outro dia vi a foto de uma atriz na praia, um corpo muito bonito, e a legenda dizia: "Apesar de seus 38 anos fulana continua bonita". Ahn? Não falta muito para: "Apesar de seus 12 anos...".

Um beijo. Espero que vc esteja se adaptando ao caos :))

lola aronovich disse...

Pois é, Cavaca, mas a verdade é que a maior parte das mulheres é condicionada pra se achar inadequada. Isso começa na infância. Difícil superar esse “trauma”. Mas, claro, não acho que a gente deva continuar sofrendo pra sempre por causa de um trama. Por mais terrível que seja (e há traumas piores que o da chinesinha), a gente precisa ir pra próxima etapa da vida, né?


Fer, pra gente ver o que UMA bufada de um menino mal-educado pode fazer com a nossa auto-estima! Mas olha, não sei se é consolo, tanto pra vc quanto pra chinesinha: a maior parte das pessoas CONDENA quem deu a bufada, não quem a recebeu! Isso é bom! (se não for hipócrita. Vai que hoje o homem que te deu a bufada quando criança condena a atitude chinesa!).

Paola disse...

Em um de meus passeios pela Blogosfera encontrei esse texto maravilhoso, adorei, voltarei, muitas vezes!
Concordei com tudo...
beijos
Paola

lola aronovich disse...

Gi, insisto: a situação é muito diferente pra homens e pra mulheres porque a sociedade valoriza os homens por N motivos. Pras mulheres, o principal sempre é a aparência física. Por isso, pra uma mulher, o melhor que vc pode ser, mais que inteligente, divertida, talentosa em várias áreas, é estar dentro do padrão único de beleza. Ou seja, ser bonita. É isso que conta. Quer dizer, é traumático, mas a gente supera os traumas. A maior parte das mulheres encontra alguém que as ame (se são felizes depende muito), e passa a vida lutando pra se auto-aceitar. Tenta buscar outras formas de valorização. E óbvio que não é só a mídia que é cruel. TODOS temos responsabilidade. Todos fazemos parte de uma sociedade que impõe um único padrão de beleza, e que impõe que as mulheres devam ser, acima de tudo, bonitas.
Sobre o seu PS grandinho, Gi, por mais que eu goste de muita coisa que o Vinicius fez, não sei se o tratamento dele às mulheres era tão louvável. Quantas de nós gostaríamos de namorar um sujeito mulherengo e bebum? Por mais belo poeta que fosse? Mas não estou falando dele. Quando eu escrevi “Não te perdôo, Vinicius”, estava sendo irônica. Ele já morreu. Nem tenho o que perdoar! O que não perdoo é o uso que é feito da frase. Vc diz: “Se essa frase é raramente criticada, é porque, graças a Deus, entenderam o cara!”. QUEM entenderam? A frase é usada até hoje opressivamente! Ela funciona pra um certo grupo de pessoas, por isso não é criticada. Se ela tem ou não a conotação que o Vinicius desejava, pouco importa. Importa é o uso que se faz dela hoje. Olha, só o fato dessa frase ser sempre usada e nunca criticada já mostra como vivemos num planeta dos homens.

lola aronovich disse...

Oi, Patricia. Que bom que vc conseguiu superar. Eu (e meu irmão) éramos crianças lindas, dessas que o pessoal parava na rua mesmo: olhão claro, cachos (ele loiro, parecia um anjinho). E minha irmã mais nova não era tão bonita. Ficava uma situação ridícula: todo mundo falava com a gente e a ignorava. CLARO que ela notava! CLARO que a gente notava. CLARO que meus pais notavam. Felizmente, ela não se deixou traumatizar e hoje é uma bela mulher. Mas é so um exemplo de como o mundo é cruel com quem não é tão bonito, ou pelo menos de como o mundo trata melhor quem é bonito.
Odeio a frase do Vinicius porque ela em geral não é debatida. Ela é simplesmente ditada como se fosse uma verdade absoluta e universal. E ela é usada sempre pras mulheres. É verdade, é como se fosse uma linha imaginária pra separar o joio do trigo. E é verdade tb que o Vinicius não era nenhum Tom Jobim (quando jovem) em matéria de beleza. Mas homem pode não ser bonito. Ele era um gênio mesmo assim. Já a Garota de Ipanema não é conhecida pelos seus dotes poéticos...
Patricia, eu falei brincando sobre vc fazer meu banner! Claro que, se vc puder fazer essa gentileza, eu mais que agradeço! Vou te mandar um email! Obrigada!

L. Archilla disse...

pois é, segundo a menina ela não achou ruim ter sido "escondida", mas vai saber...

ela tem 7 anos. nessa idade talvez não faça tanta diferença ser bonita ou feia. o fato é q ela tá começando a formar sua auto-imagem, e já tem a certeza absoluta de que não é bonita. oq vai acontecer qd vier a adolescência, os namoradinhos...? não dá pra gente mensurar se o trauma foi grande ou pequeno a partir de uma fala, ainda mais sendo ela tão jovem.

quanto à outra, aos 9 anos já tem certeza de duas coisas: de que é bonita e de que não sabe cantar. tem uma voz tão feia, que nem sua beleza física pôde elegê-la para cantar na abertura: precisou de uma voz "falsa". será que a voz era tão ruim assim? será que não dava tempo de aprimorar? a mídia não tá dando tanto enfoque pra essa outra falha, mas na minha opinião, as duas foram prejudicadas.

lola aronovich disse...

Gi, COMO ninguém fala que a miséria deixa as pessoas mal-cuidadas?! Isso é o que mais se diz. O padrão de beleza único é totalmente elitista. Note que a Mulher Melancia pode ter bunda grande e atrair os homens, mas não é aceita pelo padrão de beleza de jeito nenhum. Não aguento mais a mulherada falando de como ela é gorda. E o seu ditado “Qualquer pessoa com dinheiro no bolso consegue ficar 'atraente'” é justamente o que nos é repetido diariamente. Ou seja, pra ser atraente vc tem que gastar. Só ter dinheiro e guardá-lo no bolso não basta.


Pois é, Leo, a menina nem é feia! Se bem que eu não consigo achar criança de uma certa idade feia. São todas tão fofinhas, tão bonitinhas (ao contrário dos bebês, que em geral eu acho feinhos). Eu acho ótimo se ela conseguir se centar apenas no lado positivo (sua voz foi ouvida por bilhões de pessoas), e esquecer o lado negativo. Mas não sei como são as crianças chinesas. Tomara que sejam menos cruéis que as nossas aqui do Ocidente.

lola aronovich disse...

Oi, Batata Naomi! Espero que vc não tenha dirigido! Eu também estou um pouco alta agora, quer dizer, um pouco pra lá de bagdá, mas foi por eu ter comido um pastel (seriamente) estragado! Juro que não estou raciocinando direito. Mas obrigada pela contribuição! Muito interessante saber desses pontos todos que vc cita. Pelo jeito, são vários péssimos exemplos do que não se deve fazer. Só que a gente tem que ir devagar. Vc não fez nada disso, Naomi, mas às vezes eu leio comentários sobre os chineses que me deixam meio corada, sabe? Outro dia um amigo meu, um rapaz inteligente, falou um monte de besteiras contra os chineses. Não deu um argumento que prestasse, e só ficava falando: “Se eu fosse atleta, boicotava essas olimpíadas!”. Isso é preconceito também! Ué, e é preconceito RACIAL. Quando ele diz “Odeio essa raça!” é racismo, pô! A China pode e deve ser criticada por muitos motivos, mas generalizar e pensar que os chineses são todos desonestos e autoritários é puro preconceito. Existem 1,3 bilhões de chineses. Desconfio que meu amigo nunca conheceu nenhum.


Oi, Marina! Concordo, somos todos reféns. Por isso que eu acho tão estranho o pessoal ficar chocado com a atitude chinesa com a menininha. Como se o nosso dia a dia não fosse muito parecido! Quem coloca a legenda na foto da mulher de 38 anos tá sendo diferente como? Ele/a tá dizendo que, depois de uma certa idade, não se pode mais ser bonita. Beleza é só pra jovens. É mesmo, não falta muito pro “Apesar de seus 12 anos”. Triste!
Caos? Que caos? O único caos foi ter comido um pastel estragado hoje. Mas a culpa foi minha, que comprei num lugar suspeito, senti que estava com gosto estranhérrimo na primeira mordida e continuei comendo. Agora...

lola aronovich disse...

Obrigada, Paola! Volte sempre, mesmo! Dei uma passadinha hiper rápida no seu blog, e pareceu muito bonito.


Tem toda razão, Lauren. Desde que não fosse uma taquara rachada, qualquer voz serviria! A maior parte do pessoal costuma achar criancinhas bonitas (mesmo que tenham os dentes tortos), e criancinha cantando uma gracinha (mesmo que desafine). Imagino que os organizadores da Olimpíada não esperavam essa repercussão negativa. Teria sido muito melhor sem enganação. Mas, enfim, tomara que as duas meninas afetadas consigam superar os traumas e se valer da fama pelo lado bom do que fizeram.

Anônimo disse...

Lola, concordo com tudo que você falou! Espero que a menina chinesa rejeitada consiga superar isso. Essa semana assisti um documentário no Gnt sobre anorexia e fiquei chocada ao descobrir que existe um movimento chamado "pro-ana" que é a favor da anorexia e pesquisando no google achei vários blogs brasileiros de meninas obcecadas com a magreza e achando que isso é saudável. Em todos o preconceito e a não aceitação do corpo como "sou pro ana porque gordo é horrível" ou "preciso me livrar dessas banhas nojentas que me fazem um ser inferior" e muitos outros comentários inacreditáveis. E o que mais me espantou no documentário foi ver crianças de 9 anos (!) internadas em clínicas de recuperação por já apresentarem transtornos alimentares. A menina falava que começou com um clube da dieta na escola, onde as meninas competiam para emagrecer e ela acabou adoecendo seriamente. É muito cruel uma criança sofrer com isso!

lola aronovich disse...

Dulce, eu descobri esses sites pró-anorexia e bulimia, que as participantes chamam carinhosamente de ana e mia, há uns 3 ou 4 anos, também na internet. Não podia imaginar que fossem tantos. Quase tudo que elas escrevem é chocante. Elas dão dicas de como forçar o vômito, de como enganar os pais sobre a comida etc. O que elas dizem sobre as gordas é muito chato, mas são meninas doentes! Qual documentário vc assistiu? Faz alguns meses eu vi um chamado “Thin”, sobre algumas jovens numa clínica de recuperação. É muito triste. A tendência é que esses transtornos alimentares comecem cada vez mais cedo mesmo. Semana que vem vou publicar um texto de uma leitora que sobreviveu à anorexia. Chocante, mas importante!

Liris Tribuzzi disse...

Sobre a parte de comentários masculinos/machistas sobre as mulheres. Eu já fiz isso, só que com homens e nunca num tom de voz alto, mas as vezes, quando junta eu e minha irmã ficamos observando e avaliando o 'produto' que passa. Com certeza nenhum deles ouviu o veredito.

Anônimo disse...

que tal?

http://tinyurl.com/6qpuq5

andrebs

Anônimo disse...

Adorei o texto! Eu cansei de correr atrás dessa máquina miserável: me assumi enquanto crespa e gordinha. E olha, me acho muito melhor do que muita plastificada e alisada. Acho que existe pressão, sim, mas não só da mídia: de toda a sociedade. Muita gente que me encontra tem a "delicadeza" de dizer: "Tá gordinha, hein?". Aí respondo: faltei a academia e fui ler um livro!

Beijo!

Anônimo disse...

excelente post!

actualmente com 33 anos, considero-me uma mulher bonita. não sou fotogénica e só fico bonita em fotos quando é o meu marido a tirá-las, não sei porquê...

mas há pouco tempo estava e ver coisas velhas e encontrei o meu cartão da escola de quando tinha 16 anos. estava muito bonita, mas na época vivia oprimida pelas imagens de beleza que me rodeavam, a tal ponto que nem reparava em mim mesma.

mais tarde, já casada, fui para a universidade, e as minhas colegas, que eram 6 anos mais jovens, perguntavam umas às outras como era possível eu ser casada, querendo dizer com isso que achavam incrível que algum homem quisesse casar com uma mulher com eu, não conforme com os estereótipos do que é considerado uma mulher atraente.

passado algum tempo, elas pediam-me conselhos sentimentais sobre as suas relações com os namorados.

Anônimo disse...

Eu acho que beleza, além de efêmera, é um conceito muito relativo. O que é bonito para mim pode não ser para você, e vice-versa. Eu nunca me preocupei muito com isso de estar bonita nem com a beleza das pessoas com quem convivo. Inclusive, todos os homens com quem me relacionei afetivamente eram feios, para os padrões estabelecidos pela sociedade. Mas existem pessoas tão boas que se tornam bonitas aos nossos olhos.
Eu acho, por exemplo, um absurdo nós termos de nos depilar para que um homem não pense que temos uma floresta. Claro, há mulheres que gostam, e para elas é válido. Mas há mulheres, por outro lado, que fazem esse tipo de coisa simplesmente porque serão melhor aceitas assim.
Eu sou completamente desleixada: só penteio o cabelo quando eu lavo: do jeito que ele acorda, eu saio. Raramente uso maquiagem, não me visto de forma deslumbrante - jeans, camiseta e tênis é mais que suficiente, além de confortável.
Não me considero feia, mas prefiro que as pessoas próximas a mim gostem de mim pelo que sou e não pelo que aparento ser.
Acho mais sincero.

Beijoca.

lola aronovich disse...

Li, mas meninas falando isso de meninos é completamente diferente. E os caras fazem questão de falar bem alto o veredito, não fazem?


Andrebs, obrigada pela notícia. Uma lei passada por influência de um programa de TV tipo The Biggest Loser... Sei não!

lola aronovich disse...

Gisele, obrigada pelo carinho. Muito boa a sua reposta! Vou usar da próxima vez que alguém me disser alguma coisa.


Sarah, vc deve ficar bem nas fotos que o seu marido tira porque é com cuidado e carinho. Acho... Eu fico horrível nas fotos que o meu tira, mas ele é péssimo fotógrafo, tadinho (embora se ache um Sebastião Salgado). Isso da gente encontrar foto antiga nossa e pensar, “Puxa! Como eu era bonita!” é bem comum, né? E a gente se achava um lixo na época. Mas quem disse que a mesma coisa não vai acontecer com as fotos de hoje?! Será que a gente, daqui a 20 anos, vendo fotos de hoje, não pensará a mesma coisa? É bem possível. Obrigada pela sua contribuição, Sarah. Mostra como todos só têm a perder se nos atermos a noções de um padrão único de beleza.

lola aronovich disse...

Concordo totalmente com isso de beleza ser relativa, Juliana. Inclusive, já escrevi um texto sobre isso, linkado no post. E eu também nunca me preocupei com a beleza dos outros, ou com a minha. Quem me conhece sabe o quanto sou desleixada... Bom, eu me cuido minimamente. Penteio o cabelo, mas não uso maquiagem, e pra mim roupa tem que ser confortável. Salto alto, tô fora. Nunca usei. Não tenho orelha furada nem nunca na vida pintei as unhas das mãos ou dos pés. E me depilar com cera quente (ou fria) eu parei faz um tempinho, quando decidi que isso deve ser herança de alguma tortura medieval. Agora é só na base da gilete mesmo. Mas já tive problemas com uma mulher que confundiu minha falta de “vaidade” com falta de higiene. E sinto muito, mas sempre fui limpinha. Tomo banho todo dia e lavo o cabelo dia sim, dia não, ué. Mas pra essa moça pra ser higiênica eu deveria fazer como ela – passar três horas por semana (no kidding!) no cabeleireiro. E isso eu não faço, porque tenho mais o que fazer. Pelo jeito, somos bem parecidas, Ju!

Nita disse...

no caso de crianças eu acho que é pior, mas nada justifica uma atitude dessas. O que você disse que orientais terem que ocidentalizar os olhos, apesar de parecer absurdo, acaba sendo verdade. Quando eu era mais nova eu era super complexada com a minha cabeça grande e o meu rosto redondo de oriental, agora eu percebo o quão melhor é ser diferente. Uma vez fui a formatura de uns amigos do meu namorado e fiquei abismada quando percebi que todas as meninas da festa eram iguais de costas, exatamente iguais. E pensei comigo mesma: será que eu prefiro ter meu rosto redondo e bochechudo ou ser igual a todas essas meninas? Acho que prefiro minhas bochechas fofas. E que fique bem claro, eu adoro elas.

Gisela Lacerda disse...

Engraçado, mas não vejo o povo ter esse senso crítico, não, Lola. Só a gente aqui discutindo. O povo tem isso inconscientemente.

A propósito: dizem que é preciso ter e gastar pra ficar bonito, mas não disse que essa é minha opinião, hein?! ;-) Aliás, nem sabia que dizem que a Mulher Melancia é gorda. Tô aqui rindo porque ontem eu e meu namorado saíamos do cinema e ele apontou pra uma mulher loira com uma bunda imensa e falou: "olha a mulher melancia". hehe Eu acho lindo mulher carnuda e hoje em dia adoro meu corpo, porque sempre fui magrinha e às vezes enjoava dessa "coisa Lolita". ;-)))

lola aronovich disse...

Nita, acho que é pior no caso de crianças também. Pela foto que vi sua, não reconheço sua descrição de bochechuda, rosto redondo de oriental, nada disso. Só vi que vc tem olhinhos minimamente puxados que são um charme! E isso que vc falou da festa... Eu me assusto quando vejo um monte de gente vestida, maquiada e penteada exatamente igual. Penso: “O Ataque dos Clones”!


Gi, parece que é mania nacional pras brasileiras falarem mal da Mulher Melancia! Reconheço que dois ou três meses atrás eu nunca tinha ouvido falar nela. Até agora só vi uma ou outra foto. E, bem, são mulheres-objeto que fazem sucesso por tempo limitado. Lembra da Feiticeira, da Tiazinha? Igual, na minha opinião. Mas o pessoal cismou que a Mulher Melancia é gorda. Ah, não é coincidência que a Preta Gil seja outra eternamente linchada! E no caso dela ainda dá pra encaixar um racismozinho...

Samara L. disse...

Eu jamais perdoei Vinícius. Nunca engoli a filosofia de vida atrás dos versos dele. Crucifiquem-me se quiserem.

Sei que é opressão demais prum gênero só. Eu sigo ignorando. E gostando de ser eu mesma.

Samara L. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renata disse...

O pior é que nós mesmas nos sabotamos. Faz parte da nossa cultura há tanto tempo que a gente pensa, age e sente de acordo com isso sem nem se dar conta. E não adianta negar, por mais conscientes que sejamos. Por isso é preciso criticar, falar, repetir. Sempre. Pra nós mesmas e pro mundo.
Morri de dó da menininha, que nem é tão feia assim.
Beijo
Renata

Nita disse...

É que em foto não aparece muito, mas meu rosto é bem redondo. Tanto que as pessoas realmente me reconhecem como mestiça pelo rosto, porque como você mesma disse, meus olhos são minimamente puxados.
E ótima descrição. "O ataque dos clones". Foi exatamente assim que me senti naquela festa.

lola aronovich disse...

Samara, eu, pra ser sincera, nunca babei pelo Vinicius como poeta, músico e muito menos homem. Sempre o achei overrated. Mas entendo que ele seja reverenciado como poeta e compositor – não pelas besteiras que falou.


Tem razão, Renata, nós mesmas nos sabotamos, sempre. Precisamos pensar antes de agir e nos re-condicionarmos pra evitar esse tipo de comportamento contra nós mesmas.


Isso de “reconhecer como mestiça” é tão estranho pra mim. Eu nem pensaria que vc é ou não parecida com oriental. Tenho uma amiga que pra mim é absolutamente “ocidental”, mas o pessoal a chama de japonesa. E ela nem tem ascêndencia!

Cris disse...

Sim, beleza é um conceito relativo e talz. Concordo plenamente.

Sabe, sofri horrores na escola por ser considerada feia, alta demais, magrela, desengonçada, usar aparelho ... Foi "uó". Minha alto estima se arrastava no chão, era uma tortura ir pra escola... Felizmente, isso passou.

Hoje, eu tirei o aparelho, estou mais bonita e me sentindo melhor comigo. :D(O que sair da puberdade não faz, né?! ) E, bem, hoje estou começando minha carreira como modelo.
Mas, o que também é bem triste é ver com algumas pessoas que são vítimas de estereótipos também rotulam outras.
Não é só porque uma pessoa é preocupada com a aparência que ela vai ser mais burra que a média. Isso não tem nada a ver. Posso dizer, com muita alegria, que sou modelo, uso , sim, minha maquiagem, e adooooro ler, estudar e etc.

O que as pessoas precisam é ver que ser X ou ser Y não faz dessa pessoa melhor ou pior. Isso é tão relativo... A partir do momento em que resolvi deixar o que falavam de lado, passei a me sentir melhor comigo, a me aceitar, e, sabe? Foi a melhor coisa que eu fiz.

Cris disse...

(Aliás, engraçado, né, esse Vinicius... o cara era um canhão, devia ser galinha daquele jeito por necessidade de auto afirmação! )

Anônimo disse...

Até quando as mulheres negras terão de sofrer escovando os cabelos e embranquecendo a pele com blush para serem aceitas pela sociedade burguesa, patrocinada pela mídia?

esqueçamos o ideal objetivo e criamos, então, o real subjetivo.
chega de ignorar e rejeitar a nós mesmas.

A beleza está nos olhos de quem ver

Seria bom que tivessimos um olhar belo para nosa imagem no espelho.

Fernanda disse...

Oi
Vim parar aqui, nesse post de 2008, mas espero que vc ainda esteja ativa e postando.....

Tava aqui no pc vendo umas fotos de minha filha com a amiguinha e uma colega chegou perto e começou a ver as fotos também....Nisso ela largou, mas que menina feia hein!!! Vivi(minha filha) é até bonitinha, mas ela não é nem feia é horroroza....Cara isso me chocou tanto, tanto que tou sem ação até agora....
O que leva uma pessoa a falar isso de uma criança? a rotular alguem de horrorozo ainda mais sendo uma criança? Pior que essa pessoa por tempos me passou uma outra impressão e de repente, me veio com essa...