quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

EU (CORAÇÃOZINHO) O MICHAEL MOORE

A direita cristã não perdoa o Michael. Esta fotomontagem o acusa de ser um pró-terrorista mentiroso que ama a França e odeia a América. Mas o que ele ser gordo tem a ver com isso?

Ontem vi na TV o Larry King entrevistando o Michael Moore. Sei que já declarei meu amor pelo Michael em toda crítica que escrevi sobre seus filmes, mas preciso repetir: ele não é apenas um cara legal que faz documentários inteligentes e divertidos, mas também uma das poucas cabeças de esquerda dos EUA. Ele é uma raridade e, por supuesto, sua entrevista também tinha que ser.

Primeiro: você sabia que “Fahrenheit 11 de Setembro”, que ele realizou quatro anos atrás, não foi exibido na TV americana até hoje? As emissoras, todas ligadas a grandes corporações, não querem se desentender com o governo. Segundo: Michael revela ser católico, e defende que religião é algo particular de cada um. Portanto, ele é contra criticarem o Mitt Romney por ser mórmon ou o Tom Cruise por fazer parte da Cientologia. E completa: “essa deve ser a única vez que você vai ver Mitt Romney e Tom Cruise na mesma frase”. Terceiro: ele aponta que tem dificuldades morais em apoiar a Hillary Clinton, por ela ter sido a favor da guerra do Iraque mais de uma vez. Michael também afirma não ser cínico (e realmente, talvez o maior problema de seus filmes é que eles estão cheios de esperança). Ele acredita que o povo americano é bom, em geral, e que se as pessoas estivessem melhor informadas, tomariam as decisões certas. Quando Larry King pergunta como ele continua sendo financiado pelos estúdios, mesmo sendo tão anti-corporativista, Michael relata aquela história de que o capitalismo dá a corda pro seu próprio linchamento. Enquanto o público comparecer a seus documentários e comprar seus livros, os estúdios vão seguir dando-lhe dinheiro. Só que ele lembra que, infelizmente, as corporações sabem que sua platéia não vai se levantar da cadeira e fazer alguma coisa. Ou seja, no fundo, ele não representa uma séria ameaça ao sistema.

Mas o momento mais brilhante foi quando o Anderson Cooper apareceu pra divulgar quais seriam as chamadas do seu programa, que vinha logo a seguir – Super Tuesday, tornados no Sul dos EUA, e... o último escândalo da Britney Spears. Com a tela dividida, Larry indagou, sutilmente, se a Britney algum dia deixaria de ser notícia. Anderson tentou sair pela tangente. O problema é que o Michael tava lá, ao vivo, e não ia deixar barato. Michael disse que a Britney deixaria de ser notícia se, óbvio, a mídia parasse de se importar tanto com a vida pessoal dela e tratasse de temas mais relevantes. Coitado do Anderson! Ele ainda balbuciou que fazia tempo que seu programa na CNN não falava dela e que é o que o público quer. Larry quis saber como ele se sentia tendo que noticiar essas futilidades e Anderson, constrangido, confidenciou: “Pensei que a gente teria essa conversa durante os comerciais”. É tão único ver um momento de honestidade desses na TV... Aliás, não só na TV. Vamos incluir nesse rolo toda a grande imprensa também. Ou só eu que tenho a impressão que a mídia vive ou me escondendo coisas ou mentindo pra mim descaradamente?

5 comentários:

Suzana Elvas disse...

De quem já trabalhou na grande mídia: não é "ou", é "e". As duas coisas.

Liris Tribuzzi disse...

Lola, me responde uma coisa: o seu amado Michael Moore é o mesmo que foi auxiliar do Spielberg nos Indianas Jones???

lola aronovich disse...

Pois é, Suzana, é o que eu acho também.
Liris, uma das vezes que vi "Caçadores da Arca Perdida" fiquei com essa mesma dúvida e procurei o Michael Moore no imdb. Tem uns 12 Michael Moores por lá. O nome é comum. O que foi assistente de direção do Spielberg é o M. M. I. E deve ser velhinho, se nasceu em 1914...

Andrea disse...

Eu também (coraçãozinho) o Michael Moore!

É muito bom saber que ainda existam pessoas que se importam com o futuro do país e que são financiadas para continuar denunciando as barbaridades do sistema, mesmo que as "platéias" não façam nada a respeito.

Leonardo Bernardes disse...

Puxa, gostaria de ter assistido essa entrevista. Gostaria também de dominar o inglês para poder entendê-la -- ah, mundo injusto!