sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

FACADA FEST, UM ATO QUE PERTURBA BOLSO E SEUS LACAIOS

Ontem de manhã o pessoal do Facada Fest entrou em contato comigo, e pouco depois saiu uma matéria extensa na Folha de SP sobre o coletivo de punk rock de Belém. Hoje o #FacadaFest chegou ao topo dos Trending Topics do Twitter. 
O festival acontece na capital do Pará desde 2017, ou seja, bem antes da "fakeada do mito". Em junho do ano passado, Carluxo se incomodou com uma das imagens de divulgação do festival, que mostrava um palhaço com faixa presidencial sendo empalado por um lápis. Um ex-delegado e agora deputado federal do Pará pela extrema-direita compartilhou o cartaz na sua rede social. 
O autor da imagem do palhaço, o artista Paulo Victor Mauro, explicou que, quando fez a arte, o país estava no meio das manifestações em defesa da educação. "Por isso me deram a ideia de fazer o lápis, que representa a educação, derrotando essa palhaçada. [...] Não tem incitação de matar ninguém. Não passamos a ideia de fuzilar oposição", alfineta ele. 
Mas Carluxo não viu desse jeito, e tuitou: 
"Tá valendo tudo nesse país da p*taria da esquerda. Está na hora de agir antes que seja tarde". Os organizadores então adiaram o festival, já que ele aconteceria em lugar aberto (em frente ao Mercado de São Brás) e poderia atrair reaças para brigar. O Facada Fest 3 foi remarcado em julho para um lugar fechado. Porém, meia hora antes do início, quase vinte viaturas policiais chegaram para impedir o evento. Inventaram que um dos alvarás estava vencido.
Finalmente, após a mobilização da esquerda contra a censura, o Facada Fest ocorreu dois meses depois, com grande sucesso. E ainda gerou outras edições em cidades como Belo Horizonte, Campinas, Curitiba e Marabá (com cartazes que também incomodam muito). 
Mas a censura não dorme em serviço. 
Graças ao presidente do Instituto Conservador, que fez representação criminal contra os organizadores por crimes contra a honra de Bolsonaro, o assunto acabou na Procuradoria-Geral da República e no Ministério da Justiça, comandado por Sérgio Moro, que ordenou a abertura de um inquérito por apologia ao crime. Depois Moro negou que a investigação foi sua, mas que "poderia ter sido" (mentira!). Ontem quatro integrantes do coletivo foram chamados para depor na Polícia Federal.
Uma das fundadoras do Facada, Josy Lobato, aponta que o Facada Fest não é um festival de rock, mas um ato político e cultural. E ela compra a briga: "Ficamos surpresos, mas não vamos parar por conta disso [do inquérito, da perseguição policial]. O Facada nasceu na periferia, já sofremos violência todos os dias. Se incomoda é porque estamos fazendo barulho".
Segue o manifesto que o Facada me enviou ontem:
SERGIO MORO PERSEGUE FESTIVAL DE ROCK PARAENSE
Cartaz de Marabá, PA
Os integrantes do festival de rock Facada Fest foram intimados a comparecer a Polícia Federal para prestar depoimento. Em despacho assinado pelo Ministro da Justiça, Sergio Moro, e pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, a organização do festival é acusada de "apologia de crime" e "crimes contra a honra" do presidente da república, Jair Bolsonaro. O motivo, alega o Ministro da Justiça, é a ilustração do cartaz do evento. Em tom satírico, ela mostra o triunfo da educação sobre o obscurantismo ao retratar um palhaço empalado por um lápis. Realizado em junho do ano passado, o Facada Fest foi um sucesso de público e não registrou nenhuma ocorrência policial, além de ter arrecadado brinquedos para o instituto infantil Bianca e Adriele. Os depoimentos acontecem hoje [ontem] às 14:00 horas, na sede da Polícia Federal em Belém do Pará. 
A perseguição ao Facada Fest começou em junho do ano passado. Na ocasião foram mobilizadas quase duas dezenas de viaturas -- entre PM, Polícia Civil, Choque, Secom e Bombeiros -- para reprimir o evento, que acabou sendo cancelado e realizado um mês depois. Com um público estimado em três mil pessoas, o Facada Fest contou ainda com shows de rock, punk rock, hardcore, rap, oficinas de reciclagem e compostagem de lixo, exposição de artes plásticas, leitura de poesia e arrecadação de brinquedos para o instituto Bianca e Adriele, que cuida de crianças carentes no bairro da Pratinha, região metropolitana da capital paraense.
Com tantos problemas ocorrendo neste momento no Brasil -- motim das polícias militares, degradação ambiental na Amazônia e os indícios cada vez mais fortes de ligações entre políticos e milicianos -- causa-nos espanto o uso do aparato judicial e policial de nosso país na repressão de um festival de música. Criminalizando a atividade artística e a liberdade de expressão, garantidas pela Constituição de 1988, a Constituição Cidadã.
Seguiremos em frente. Certos de que o bom senso e a justiça prevalecerão. E que, em respeito a nossa Constituição, o direito à atividade artística e à liberdade de expressão será assegurado.
NÃO NOS CALARÃO.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

FAZENDO PIADA DE MASCU

Inédito! Tentei (não com muito sucesso) iniciar minha carreira de comediante de stand-up. O maridão perguntou três vezes se eu queria mesmo manter a piada inicial no vídeo, e eu disse que sim. 
Melhor continuar com o emprego de professora, né?   
Mas vejam e digam o que acharam (a menos que vc seja um mascu, um inseto, e aí sua opinião não tem a menor importância pra humanidade). 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

BOLSO COMEÇA A TECER SEU GOLPE DE ESTADO

Até ontem à noite, eu estava achando o Carnaval morninho comparado ao golden shower do ano passado. E de repente tudo mudou. 
A jornalista Vera Magalhães foi quem deu a notícia em primeira mão de que Bolsonaro havia divulgado um vídeo nos seus grupos ontem à noite. No vídeo com o hino nacional tocado ao fundo, o capetão é apresentado como um salvador da pátria, que "quase morreu" pelo seu país, enquanto imagens da fakeada aparecem.
Prontamente, quase todas as pessoas públicas do país (tirando o sinistro da justiça particular do governo, Sérgio Moro), manifestaram seu escândalo (até FHC, cujo partido participou ativamente do golpe de 2016!). Como assim, o presidente convocava a população a sair às ruas para pedir o fechamento do Congresso e do STF? 
Porque é isso que o protesto do dia 15 de março está prometendo para o "Dia do Foda-se". Começou semana passada, quando o general Heleno disse que parlamentares chantageiam o governo. Um dos textos golpistas diz "Os generais aguardam as ordens do povo". "O povo" será aquele que for às ruas para dar as ordens. Parecidíssimo com o discurso de 1964. 
O pavor de mais um golpe tomou conta das redes. Fiz uma enquete rápida sobre o que faz ter mais medo, a chegada do coronavírus no Brasil ou a caminhada do golpe de Bolsonaro. Ganhou de lavada o "coronévírus". 
Hoje Bolsonaro não negou nem desmentiu a informação da jornalista. Apenas alegou que divulgar a manifestação foi algo de "cunho pessoal": "Tenho 35Mi de seguidores em minhas mídias sociais, c/ notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. No Whatsapp, algumas dezenas de amigos onde trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República". Quem está tumultuando a República, ô golpista filhote da ditadura?
Obviamente seu Jair incorreu em crime de responsabilidade (mais um!). É o que diz o artigo 85 da Constituição, que o presidente não pode atentar contra a Constituição e "o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos poderes constitucionais das unidades da Federação". A Lei 1.079 deixa claro que não se pode "tentar dissolver o Congresso Nacional". 
Uma das maiores avalistas do Golpe de 2016, a deputada estadual Janaina Paschoal disse que Bolso se envolver com ato que pede um novo AI-5 "não dá impeachment, apesar de brega". Claro, o que dá impeachment é pedalada fiscal... que seu Jair também promoveu! Tentar golpe, envolver-se com o crime organizado, fazer rachadinhas há 30 anos -- isso é só brega!
Para o ministro do STF Celso de Mello, Bolso divulgar protesto mostra "a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!”. Os três pontos de exclamação revelam que ele está exaltado, mas e daí? Vai ficar só nisso mesmo?
Tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ambos do mesmo partido de direita (DEM), ambos viajando fora do país, puseram o rabinho entre as pernas mais uma vez. Não mostraram qualquer firmeza. Tá mesmo tudo liberado pra Bolsonaro se tornar um ditador militar.
E a nossa oposição se consterna no Twitter, mas, na vida real, parece que quem vai entrar com um pedido de impeachment é o... Alexandre Frota! O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), acha que ainda não é  o momento para falar de impeachment. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), alertou que "é preciso cautela, frieza e objetividade. [...] Pacientemente, vamos fazer o degelo das relações que andavam interditadas". Como tem paciência esses políticos que estão sendo ameaçados!
Já o jornalista Renato Rovai, da Fórum, pede o fim do "bundamolismo"
"O ministro general mandou o Congresso se foder e não fizeram nada. Com base nisso centenas de memes atacando políticos e instituições explodiram nas redes convocando atos no dia 15 de março. Continuaram quietos, como se nada tivesse acontecido. Aí veio o presidente e convocou o tal ato pedindo o AI-5, ou seja, o fechamento do Congresso e do STF com cassação de parlamentares e ministros. E os presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo continuaram calados por toda uma noite. O que fazer numa situação dessas?" 
Rovai acha que não tem nada que marcar manifestação em outro dia para evitar brigas. Tem que partir pra cima: "É preciso impedir nas ruas com os nossos corpos e ao mesmo tempo buscar impedir pela lei que as pessoas saiam com bandeiras do Brasil pedindo o fim das instituições".
É muito, muito grave o que está acontecendo. 
Pra quem duvida, pra quem acha que é só mimimi nosso, basta ver que a movimentação de mensagens pró-Bolso para a manifestação que pede o golpe é a maior em grupos bolsonaristas desde as eleições (tanto que os bolsobots emplacaram não uma, mas duas hashtags de apoio a Bolso entre os primeiros cinco trending topics, tudo com a conivência do Twitter, que permite que robôs controlem a narrativa). Ou seja, eles estão investindo pesado. Não é brincadeira, é golpe!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

AS MENSAGENS DAS ESCOLAS DE SAMBA, MAIS ESCOLAS DO QUE NUNCA

Neste carnaval de 2020, a rainha da bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, disse
"Jesus pode ser de todos os gêneros. E se fossemos ensinados, desde criança que Jesus também poderia ser uma mulher, será que o Brasil estaria no topo do feminicídio?"
Olho no texto de Mauro Sérgio Farias, de um grupo de Whats do Psol:

Comissão de Frente da Portela, 2020
A Sapucaí vai estremecer no carnaval 2020... 
É o reflexo do  Brasil do Desemprego, da miséria, da falta de moradia do abandono, da violência, da Fake News, da intolerância, da ganância...  mas  também da resistência!  E ainda dizem que carnaval não é coisa seria.

1. MANGUEIRA  
"Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão..."
2. PORTELA 
"Nossa aldeia é sem partido ou facção
"Não tem bispo, nem se curva a capitão..."
3. SÃO CLEMENTE 
"Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu
E o país inteiro assim sambou
Caiu na fake news..."
4. UNIÃO da ILHA
"O chumbo trocado, o lenço na mão
Nessa terra de Deus dará
Eu sei o seu discurso oportunista
É a ganância, hipocrisia..."
5. MOCIDADE 
"Brasil
Enfrente o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar..."
6. BEIJA-FLOR 
"Eu me encontro em tuas asas, Beija-Flor
Por mais que existam barreiras
Eu vim pra vencer no teu ninho
É bom lembrar
Eu não estou sozinho..."
7. UNIDOS da TIJUCA 
"A minha felicidade mora nesse lugar
Eu sou favela.
O samba no compasso é mutirão de amor
Dignidade não é luxo, nem favor..."
8. UNIDOS do TUIUTI 
"No Morro do Tuiuti
No alto do terreirão
O cortejo vai subir
Pra saudar Sebastião..."
9. GRANDE RIO
"Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé
Eu respeito seu amém
Você respeita o meu axé
(Respeita o meu axé)...!"
Viradouro 2020
Guarde para as eleições de 2020 e 2022 as valiosas lições que o Carnaval desse ano te ensinar. 
Portela
Porque as escolas de samba estão mais escolas do que nunca.
Não adianta cantar que “não tem futuro sem partilha nem messias de arma na mão” e votar em quem defende que bandido bom é bandido morto.
Não adianta cantar que “faz o seu quilombo no Abaeté” e votar em quem pesa os quilombolas em arrobas como animais.
Salgueiro
Não adianta cantar sobre “Brasília, joia rara prometida” e votar pra colocar lá milicianos e falsos religiosos.
Não adianta cantar que “índio é dono desse chão” e votar em quem diz que o índio ainda não é um ser humano como nós e é contra a demarcação de suas terras.
Estácio de Sá
Não adianta cantar que “aqui o negro não sai de cartaz” e votar em quem responsabiliza os próprios negros africanos pela escravidão.
Não adianta cantar “os filhos do planeta fome” e votar em quem critica programas sociais.
Marcelo Adnet brilhou na São Clemente
Não adianta cantar que “todo mundo um dia sonha ter seu cantinho na cidade” e votar em quem chama de vagabundos os sem-teto organizados.
Não adianta cantar “salve o Rio de Janeiro” e votar em quem quer ver essa cidade nas mãos de milícias armadas.
Não adianta cantar “Eu respeito o seu amém, você respeita o meu axé” e votar em quem é apoiado por falsos cristãos que desrespeitam as religiões de matriz africana.
Não adianta cantar que “a voz do rancor não cala o meu povo” e hostilizar aqueles que lutam e protestam por mudanças sociais.
Não adianta cantar que “o povo é o dono da rua” e votar em quem demoniza o povo de rua e suas manifestações.
Não adianta cantar que “o país inteiro assim sambou, caiu na fake news” e votar em quem baseia sua campanha em mentiras compartilhadas em rede social.
Não adianta cantar sobre a devastação da natureza “do Pará dos Carajás” e votar em quem deixa a Amazônia queimar enquanto afaga madeireiros e ruralistas.