sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

GUEST POST: A VIOLÊNCIA DA EXTREMA DIREITA NÃO VAI EMBORA

 
Faça os nazistas temerem novamente, diz manifestante

Mais um terrorista de extrema-direita faz vítimas em nome da xenofobia, do racismo e da misoginia. O assassino ainda por cima se assumia incel. 
Erica C. Hassmann, brasileira que vive na Alemanha, acompanhou tudo isso.

Tinha tudo para ser uma noite tranquila de inverno na cidade de Hanau, a 25 km de Frankfurt, no Arena Bar e Café, onde amigos confraternizavam. Um homem armado tirou a vida de 9 pessoas e, não satisfeito, voltou para casa, matou a própria mãe e em seguida se matou.
O assassino, em seu canal na internet, disseminava vídeos antissemitas, racistas, misóginos. A plataforma parece não ter visto nenhum problema com o discurso violento, provavelmente com o argumento costumeiro que muitxs de nós recebemos quando denunciamos esse tipo de conteúdo nas redes sociais: "não encontramos nada que viole a politica de nosso site". A pergunta que fica é: as redes sociais estão a serviço de quem?
"O suspeito estava ativo nas redes antes do crime, publicou um vídeo, e ao contrário de outros assassinatos motivados pela extrema direita, ele provavelmente não fazia parte de nenhum grupo. No entanto, existem semelhanças que conectam R. a esses terroristas".
"Outros usuários baixaram o vídeo e o republicaram em seus canais do YouTube. As cópias permaneceram online até as onze horas e foram vistas centenas de vezes. O Google diz que agora foi criada um tipo de impressão digital que impede automaticamente novos envios".
R. "deixou um manifesto com 24 páginas; entre os escritos, um capítulo inteiro sobre as mulheres. Com 42 anos, escreveu que nunca teve uma namorada, não gostava de se sentir pressionado, vigiado, a paranoia era constante". 
"Nada indica que o assassino participava de grupos extremistas da Deep Web. Ele participava de fóruns fascistas mas era zombado pelos membros, que achavam que ele fazia um desserviço à causa".
A sexualidade parece ser um problema constante entre os terroristas, seja na Europa, nas Américas ou no Oriente Médio. Creio eu que o extremismo político ou religioso está profundamente ligado a desordens psicológicas de origem sexual. Freud explica.
Observem que a mídia alemã não publica o sobrenome do acusado. Isso é necessário para que familiares sejam protegidos da curiosidade popular e para que não haja interferência nas investigações. A lei é aplicada igualmente para todos.
Tive três experiências com a extrema direita alemã em quase 10 anos no país. 
A primeira quando quis um gatinho para nossa família. Vi um anúncio no jornal, entrei em contato com a cuidadora que estava doando os bichinhos, e fui até a casa dela. Chegando lá, minha reação foi de pavor, prontamente controlado por meu instinto de sobrevivência. Nas paredes do apartamento, flâmulas com suásticas e outros símbolos relacionados ao nazismo. Me perguntaram de onde eu era, eu disse que era brasileira e isso, no momento, me pareceu ser um salvo conduto, já que o olhar da jovem se tranquilizou. 
Ela me mostrou o gato que destinaria a mim e pediu meu endereço e telefone, dizendo que poderia fazer uma visita surpresa  para se certificar que o gato seria bem tratado. Até hoje não sei se era promessa ou ameaça, mas nunca apareceram, ufa! 
A segunda experiência foi em Munique, durante uma passeata neonazista. Havia por volta de 300 manifestantes extremistas, 500 policiais e uns 1000 manifestantes anti-fascistas. 
A terceira e última foi ano passado, na cidade em que moro, Rosenheim. A AfD (Alternativa para a Alemanha, partido de extrema direita do país) convocou um comício, a esquerda ficou sabendo e convocou uma passeata. Eu estava lá com minha camiseta que dava o recado em alemão: sou brasileira mas não votei em Bolsonaro. Usei uma bandana Lula Livre, as pessoas sorriam pra mim, vinham me cumprimentar, diziam que nunca poderiam imaginar que os brasileiros, pessoas que têm fama de serem gentis e alegres, elegeriam alguém tão tosco como Bolsonaro. 
Cartum austríaco sobre Brasil
O que me chocou nessa passeata é que a extrema direita em um momento deu o microfone para o líder dos anti-fascistas falar. Foi um bate bola de idéias pró e contra, sem ofensa pessoal, tudo dentro do mais extremo respeito.
Como estrangeira na Alemanha, percebo que o país ainda está vacinado contra a extrema direita por conta do que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial. 
Não há juiz, presidentx, procuradorx ou ministrx que protejam os fascistas ou que finjam que eles não existem. Os terroristas que atentaram contra a democracia no pós-guerra, sejam de direita ou esquerda, ou foram presos ou estão mortos.
Merkel colocou todas as instituições em alerta ontem, mandou reforçar o policiamento em locais mais sensíveis à ação dos marginais e declarou sem meias palavras que o maior inimigo da democracia alemã hoje é a extrema direita. 

5 comentários:

Anônimo disse...

Lola, sou um celibatário involuntário. Nunca transei, nunca beijei e nunca namorei. Tenho 28 anos. Por que vocês, feministas que se dizem tão solidárias e a favor das minorias, debocham de nós? Por que vocês tratam virgindade como piada?

Anônimo disse...

Uma dica para achar tweets antigos: você digita alguma palavra ou frase-chave na barra de busca do twitter, seguido de (from:sua @).

Por exemplo:
gatinhos (from:lolaescreva)

Aí vai aparecer todos os tweets onde foi mencionada a palavra "gatinhos".

Anônimo disse...

Fala do Johnny Depp, Lola

Anônimo disse...

Lola, viu a quantidade de deputados aderindo a estética do vapor? Isso não faz o menor sentido, não sei se vc conhece, mas o vaporwave é uma crítica ao consumismo do capitalismo, não faz o menor sentido a direita aderir essa estética.

Anônimo disse...

"o vaporwave é uma crítica ao consumismo do capitalismo"


Totalmente coerente com a política econômica do Jair BolsoGuedes Queiroz. Ninguém compra nem vende. Fim da indústria local. Existe apenas extração primária para dar tudo ao Trump.