segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A POLÍTICA DO FILHO ÚNICO NA CHINA

Quero falar hoje da política do filho único da China. Baseio a maior parte do meu post nas anotações que fiz durante a aula de Yun Zhou, professora de Sociologia na Universidade de Peking. Ela deu a melhor aula de todas! 
Alunos brasileiros posam com crianças
chinesas no campus da PKU, Pequim
Como vocês sabem, passei 21 dias na China graças ao Programa Top China, patrocinado pelo Santander, que levou 76 alunos e 24 professores de universidades brasileiras a Pequim e Shanghai
A China tem hoje 1,4 bilhão de pessoas, a maior população do mundo. 
19% de todo o planeta é chinês. Só pra traduzir: uma em cada cinco pessoas da Terra é chinesa. Ou seja, é uma multidão de gente. Mas a Índia provavelmente ultrapassará a China como país mais populoso do mundo em 2025. 
Até agora, só aconteceram seis censos na história da China: em 1953, 64, 82, 90, 2000 e 2010.  Há também alguns levantamentos mais simples, com 1% da população, o último em 2005. Quem é contado nos censos são as pessoas com residência permanente. Em 1953, havia 600 milhões de chineses. Em 64, 823 milhões. Em 82, 1,030 bi.
A política do único filho foi implantada em 1979. Antes de passar a lei, o governo começou a tentar mudar o conceito de quantos filhos seria o certo. Um era considerado pouco; três, demais. Dois seria o ideal.
A política foi iniciada porque o governo estava preocupado com os efeitos da superpopulação no meio ambiente e nos serviços públicos, como saúde e educação. Hoje calcula-se que, sem a lei, a China (e, vale lembrar, o mundo) teria mais 400 milhões de pessoas, ou seja, dois Brasis a mais. 
(Só um adendo, para quem ainda acha que no Brasil os pobres têm muitos filhos. Não é mais assim. Em 1960 a brasileira tinha em média 6 filhos. Em 1980, já eram 4. Em 2000, 2. Hoje uma brasileira tem 1,9 filho, e a estimativa é que, até 2020, a média caia para 1,5, que é basicamente a taxa de reposição da população).
O problema de ter poucos filhos é o mesmo em todo lugar: a população vai envelhecendo, há menos força produtiva, e o sistema de previdência fica sobrecarregado. Hoje quase 9% da população chinesa tem mais de 65 anos (os homens se aposentam aos 60, e as mulheres, aos 55). A baixa taxa de fecundidade é na realidade um quadro geral em todo o leste asiático. 
Em 1984, o governo chinês permitiu 1,5 filho em áreas rurais: se a primeira criança fosse uma menina, o casal poderia ter uma segunda chance e tentar ter um menino. Eu ouço essas coisas e dá vontade de chorar. Mas as pessoas com quem falei sobre aborto, infanticídio e abandono de meninas na China se fizeram de egípcias, ou melhor, de chinesas. Todo mundo fala como se isso tivesse acontecido em regiões muito distantes, como algo do passado. Mas o fato é que há 30 milhões a mais de chineses que chinesas no país. 
Meu lindo amigo Vitor (seu nome ocidental) pontuou que ainda é forte o costume de que a família do noivo deve providenciar uma casa para o novo casal. À família da noiva, cabe entrar com a mobília e decoração da casa e talvez com um carro. Como o preço dos imóveis nas grandes cidades chinesas é proibitivo, muita gente está preferindo ter uma filha, segundo Vitor. 
O governo considera que planejamento familiar é uma política nacional básica. Todo cidadão tem o direito de se reproduzir, mas também a obrigação de controlar sua fertilidade. Quando um casal se casa, recebe instruções e um kit contraceptivo. Faz uma espécie de entrevista, em que responde quando planeja ter o filho. 
A professora contou que, no auge do controle governamental, a mulher poderia ser punida se tivesse mais de um filho. Se insistisse em ter o segundo filho, perderia o emprego, por exemplo. Perguntaram pra professora o que acontecia se a mulher grávida do segundo filho não trabalhasse -– como ela seria punida? A professora demorou pra entender a pergunta: “Todas trabalham”, ela respondeu. 
Hoje há incentivos financeiros, em vez de punições, para quem só tem um filho. Mas existe uma taxa de “compensação social” que deve ser paga por quem tem mais de um filho. Paga-se duas vezes a renda familiar anual naquela área. 
No final de 2013, o governo chinês relaxou a política do filho único. Se o primeiro filho tiver algum tipo de deficiência, o casal pode ter outro. Mineiros e pescadores podem ter um segundo filho. Casais em segundo casamento também podem ter um filho, mesmo que já tenham outro do casamento anterior. 
Minorias étnicas não têm restrições. Se marido ou mulher são filhos únicos, podem ter dois filhos. Na realidade, parece que há 22 exceções. E, como disse a professora, se o casal quiser mesmo um outro filho, sempre se dá um jeito. 
Com o relaxamento da lei, 11 milhões de casais podem agora ter o segundo filho. Porém, somente pouco mais de um milhão se inscreveu. A razão para as pessoas não terem mais de uma criança hoje é o custo. Calcula-se que o custo de criar um filho em Beijing é de 2,76 milhões de yuans (cerca de 1,4 milhão de reais do nascimento até a maioridade). Glupt.
No final da palestra, perguntei à professora sobre a “síndrome do pequeno imperador”: seria verdade que toda essa geração de filhos únicos fosse mais mimada, e tivesse mais dificuldade de trabalhar em equipe? Ela disse que não há estudos conclusivos sobre isso. 
Vitor mês passado na Grande Muralha
Falando com Vitor, ele filho único e super amável, vi que ele se sentiu solitário por não ter irmãos na infância. Eu quis saber o porquê, já que tantos de seus amigos também eram filhos únicos. Ele respondeu que eles não ficavam juntos o tempo todo. 
É verdade, mas pelo jeito ele passaria um tempão longe dos irmãos do mesmo jeito, se os tivesse. 
Até os dois ou três anos de idade, Vitor morou com os avós, não com os pais, já que os pais precisavam trabalhar e ele não tinha idade para entrar no maternal. Depois, já em idade escolar, passava o dia todo no colégio. Aos 15 anos, os melhores alunos das escolas de sua província receberam o convite para estudar numa escola de primeira linha. Vitor foi morar longe da família, dividindo dormitório com os colegas. 
Agora, aos 19, está numa das melhores universidades do país, e continua dividindo dormitório com três colegas (eles não podem escolher com quem dividir). A viagem de Beijing para sua casa no oeste da China leva 40 horas de trem (5 de avião). Ele está lá agora, durante as férias na faculdade, sendo mimado pela mãe, que havia prometido por telefone fazer todas as comidas que ele gosta. Mas Vitor me confidenciou que ela não é muito boa cozinheira. 
Mais sobre a política do filho único.
Update no final de outubro: Após 30 anos, governo chinês permite que casais tenham 2 filhos.

60 comentários:

Lord Anderson disse...

E entendo a necessidade do planejamento familiar, mas a ideia de um controle tão grande sobre algo tão pessoal é cruel.

Sem contar que a pressão social para ter filhos de um genero acaba com a liberdade de escolha que o planejamento deveria ter.

E isso de não poder escolher com quem vai dividir nem o dormitorio...

Diferenças culturais a parte não quero isso não.

André disse...

Um porém: uma média de um e meio filho por mulher não repõe a população, tem que ser dois e pouco.

Odara disse...

"Se o primeiro filho tiver algum tipo de deficiência, o casal pode ter outro. "
Ou se for mulher. ....que é um defeito também?
Uma tristeza isso!

Valéria Fernandes disse...

Lola, só para complementar. Em várias dessas sociedades agrárias do extremo oriente, o casamento é patrilocal (a noiva vai para a casa do marido) e é responsabilidade do filho mais velhos cuidar dos pais idosos. Por causa disso é que foi aberta exceção para as famílias camponesas. Tentar de novo e, no caso da China, há uma pensão paramo casal idoso camponês sem fiohos homens. Há vários ditos chineses, indianos e de outros povos da região fazendo alusão ao fato de quem tem uma menina engorda o gado do vizinho, afinal, quando ela estiver na sua fase mais produtiva, irá embora, a família formaria mão de obra para outrem.

Pior ainda, no caso indiano, é a prevalência do dote. Ter uma filha é prejuízo, econômico e mesmo espiritual, pois certos rituais fúnebres só podem ser feitos pelo filho homem. Enfim, a situação é muito dramática.

Anônimo disse...

Acho que a política do filho único é o típico exemplo de como governos em geral, em inúmeras situações, esperam as coisas saírem completamente fora de controle restando apenas medidas desesperadas como solução.
Ao meu ver foi isso que aconteceu - uma medida drástica sob uma condição extrema.

Jane Doe

Anônimo disse...

O controle no nível da lei do filho único é realmente absurdo, mas tenho que concordar que todo cidadão que quer o direito de reproduzir tem também o dever de controlar quantos filhos pode ter (e quem não quiser reproduzir devia ter o direito de não fazê-lo). Podemos ver aqui no Brasil o resultado da ausênca de planejamento familiar, e conversar com qualquer criança vítima disso vai deixar bem claro o quanto é um problema. Infelizmente o maldito conservadorismo moralista hipócrita não permite acesso geral a planejamento fmiliar, contraceptivos e esterilizaçao voluntária. E pior é que se algum dia chegarmos na situação extrema em que a lei do filho único foi assinada, o governo vai mandar a gente sifu e fugir correndo...

Juba disse...

Coisa de um ano ou dois atrás, forçaram uma mulher grávida de sete meses a abortar porque não tinha dinheiro pra essas taxas :(

Mally Pepper disse...

Eu sou super a favor do planejamento familiar e controle sobre número de filhos. Acho que filho deveria ser pra reposição populacional e só. Não faz sentido um casal ter mais que dois.

Não concordo com a forma como a China faz isso, que fique claro. Mas se não colocar um freio, daqui a pouco a Terra vai estar toda detonada, com os ecossistemas destruídos e os seres humanos devorando uns aos outros (tipo Soylent Green). Tem que botar freio sim.

A previdência social pode ser um problema caso a população diminua, mas não tem jeito. Se pra compensar a geração atual a próxima tiver que ser cada vez maior, então onde esse planeta vai parar? ´

"Ain, mas filho é escolha pessoal, mimimi".

Nem tanto. Cada filho que nasce, é um novo ser humano pra consumir recursos, poluir o planeta e terá impacto na vida de outras pessoas tb, logo não é uma questão puramente pessoal de quem tem. É social.

Eu já tomei a decisão de não ter filhos pq não acredito que as coisas irão melhorar no futuro. Se eu tiver um filho hoje, ele vai enfrentar um mercado de trabalho muito mais competitivo, uma sociedade com mais violência, poluição e terá que trabalhar muito mais só pra ter o básico. Fico imaginando o tipo de mundo onde ele irá passar a velhice. Aliás, é algo que as pessoas deveriam pensar tb ao invés de sairem procriando só pra satisfazer seus desejos egoístas.

Vicky_ disse...

Depois daquele post me dei conta que, atualmente, a Índia está pior que o China.
Sei que o Brasil não é perfeito, muito longe disso, mas viver numa cidade média chinesa ou indiana deve ser um inferno pras mulheres.

Como a Valeria falou, essa praga de preferência por bebês do sexo masculino está em países demais, os ditados são cruéis de ouvir e vivenciar. Depois que falamos que para o Patriarcado não somos diferentes de um caixote com especiarias me chamam de extremista feminazi.

Me pergunto que tipo de regras extremas a Índia terá que implantar dentro de alguns anos. Temo pelas mais pobres, óbvio.

nadiaschenker disse...

Adoro seus posts, Lola! Nossa, fui pros USA e lá só tem indiano. Acho que eles vão ultrapassar os chineses antes da data kkkkk

Mila disse...

Eu gostaria de ter contato com um viés feminista em relação ao planejamento familiar. A minha tendência é crer que realmente tem que ter um plano a curto, médio e longo prazo sobre a natalidade. Afinal, colocar um ser humano no mundo significa mais um para consumir recursos no planeta e fazer parte de um mundo que não tá fácil. Por outro lado, me pergunto se estamos interferindo no direito de reprodução...
Temos o exemplo extremo da experiência chinesa. Mas lembro-me agora do casal Ceauscescu (algo assim) que durante as décadas de 80-90 instituíram que as mulheres tinham de ter uns 4 filhos. O resultado foi um colapso social e econômico, aumento no número de crianças orfãs, fome, crescimento do HIV entre as crianças por causa da baixa segurança dos procedimentos de transfusão. Um caos.

Rafael disse...

Se tem 30 milhões de chineses a mais que chinesas, dá para deduzir que houve pelo menos 30 milhões de bebês chinesas abandonadas.

Pelo menos, porque geralmente nascem mais meninas que meninos.


Perturbador

Anônimo disse...

A china fez ter milhoes de homens a mais de proposito... esther vilar afirma que a maioria dos homens procuram um sentido na vida e que na maioria dos casos cai sobre a mulher... como na china proporcionalmente ha muitos homens sobrando (é mais facil controlar homens quando nao se tem mulheres, exemplo nas forças armadas), eles acabam 'abraçando' a patria (servindo exercito).

Anônimo disse...

Oi,Lola! Estou adorando os posts sobre a China e aprendendo muitas coisas interessantes. Gostaria que comentasse um pouco mais sobre a atuação das chinesas no mercado de trabalho, pois, nesse ponto,a China parece estar a passos largos do Japão.
Morei no Japão e fiquei estarrecida com a situação das mulheres, já que a maioria deixa o trabalho logo após o casamento. As leis de trabalho japonesas desestimulam a participação feminina no mercado de trabalho a partir de ações como licença-maternidade muita curta/ sem remuneração adequada ou dedução de impostos para famílias em que apenas um dos membros trabalhe (geralmente são os homens que trabalham...).

Renato disse...

"Homens tem mais direitos que as mulheres"
(os homens se aposentam aos 60, e as mulheres, aos 55).
No Brasil essa desiguldade é maior ainda

"Mulheres deveriam abortar quando quisessem. Meu corpo, minhas regras"
Ah não, chinesas estão sendo abortadas. Que ruim. Só seria bom se fosse com homens.

Meu deus quanta injustiça com as mulheres. Agora entendo porque tanto choro.

Anônimo disse...

Enquanto isso...
Muçulmanos tem muitos filhos e continuam com seu plano de dominação por toda a Europa, que pagará caro pelos seus mais de 200.000 abortos anuais.

Anônimo disse...

Pelos comentarios aqui, acho que as garotas que falaram que os homens odeiam as mulheres estavam certas, obviamente.

Anônimo disse...

Se eu tiver filho homem, acho que eu abortaria. Ou é melhor fazer logo uma inseminação artificial nos eua onde eu posso escolher o sexo. Não quero cuidar de meninos.

Anônimo disse...

Lola, eu, que sou mãe de gêmeos sem ter feito tratamento(para as pessoas tão xiitas com a questão da natalidade, é bom lembrar que a gente não consegue controlar tudo), fiquei com essa dúvida: na época em que a lei do filho único não tinha possibilidade de flexibilização, como era tratada a gestação gemelar? Alguém fez essa pergunta?
Tb tô adorando essa série de posts sobre a China.
Bj, Mariana

Anônimo disse...

Não se preocupe com isso, anon das 21:52. Você provavelmente não vai estar vivo pra ver o dia da dominação muçulmana mundial, já vai ter sido executado pela ditadura gayzista em conluio com as feminazis conspiradoras pra eliminação mundial dos homens...

Caro Renato, se não gosta do blog não precisa mais voltar. A coleção outono inverno de machistas trolls que leem um post e vem tentar polemizar nos comentários sem nunca ter lido o resto do blog já foi lançada e já saiu de moda.

Anônimo disse...

Que loucura, meu sonho ter 3 filhos, sim TRÊS, acho que essa lei idiota deveria ser apenas pra quem é pobre, tenho ja dois filhos, os dois em escola particular, natação, judo, e o caset* a 4, sem contar que temos a oportunidade de viajar varias vezes no ano, agora justificando, acho que pobre não pensa mt porque normalmente pobre tem no mínimo 5 filhos, nao digo pobre de dinheiro e sim de mente, mas eles sao pobre de dinheiro tbm, e aposto que pensam "onde come um, comem dois" e essas coisas porque não é possível sobreviver do bolsa familia e ainda engravidar de um vagabundo

Valéria Fernandes disse...

Mariana, gravidez gemelar não era problema. Há quem diga que ao chamarmos de "Lei do Filho Único" cometemos um equívoco e que a idéia original é de "Lei da Gestação Única". Muito provavelmente - e estou especulando aqui - isso deveria despertar muita inveja nos/as vizinhos/as. ^_^

Quanto à falta de mulheres, quem for procurar em sites sérios de notícia acabará encontrando histórias sobre o retorno do tráfico de mulheres na China. Meninas e mulheres sequestradas em grandes centros (*onde campanhas para que as meninas sejam amadas tanto como os meninos*) estão conseguindo avanços*) para os interiores. Há tráfico, também, de coreanas do norte. Tudo é ilegal, mas controlar o que acontece em uma nação das proporções da China nem sempre é possível. De novo, na Índia acontecem casos semelhantes. As mesmas províncias recordistas em abortamento e infanticídio de meninas são as que mais traficam mulheres, afinal, casar é, também, um deve religioso.

Anônimo disse...

A questão ambiental x planejamento familiar levantada aqui no post foi muito boa!!! Eu estava aqui me coçando pra falar sobre o assunto, mas fiquei "com o pé atrás" por ser um tema, digamos, "emocional"!!!
Esse foi um dos 3462387564756498237283 motivos que me fez não querer ter filhos.

Vários fatores influenciaram o aumento populacional nos últimos dois séculos, e não foi puramente o número de nascimentos. A longevidade aumentou e hoje não é incomum vermos várias gerações de uma mesma família. Na minha mesmo p. ex. Meus avós maternos já tem 5 bisnetos (eles tem 82 ano). Meu avô paterno, com 92 anos (a avó já faleceu há mais de 10 ano) tem 1 bisneto. Quanto mais cedo as gestações acontecem, maiores são as chances de termos mais e mais gerações vivendo juntas por um longuíssimo período de tempo.

Voltando aos nascimentos, mesmo com todas as guerras, catástrofes ambientais e pestilências, ainda há mais nascimentos do que mortes no mundo inteiro.
Segundo dados da CIA, no mundo a taxa de nascimentos está numa proporção de 18,7 nascimentos por 1000 habitantes (fonte: http://www.indexmundi.com/world/birth_rate.html).
A taxa de mortes de 7, 89 por 1000 habitantes (fonte: http://www.indexmundi.com/world/death_rate.html).

Lógico que há muito mais a se considerar do que só quantos nascem vs. quantos morrem, mas a grosso modo, ainda assim tem mais gente nascendo.

continua...

Jane Doe

Anônimo disse...

A princípio, planejamento familiar tem tudo a ver com feminismo.
Eu não consigo vislumbrar algo mais eficiente e mais definitivo para manter uma mulher no seu "devido lugar" do que a maternidade (por isso acho comédia esse negócio de fim do capitalismo = fim da miséria feminina... ha... tolinhos). Mas até mesmo dentro do feminismo esse fato é ignorado.

Eu sou 100% a favor e, também não consigo imaginar uma caminho diferente sem ferir os direitos humanos básicos, da conscientização das pessoas sobre as responsabilidades de se ter filhos. E antes que me queimem na fogueira - nem estou falando aqui sobre condições financeiras - mas sim sobre o impacto pessoal, social e ambiental que isso trás.

Porém sou 100% contra a interferência estatal direta, como foi feito na China. Vejam, a política do filho único foi, como disse anteriormente, uma medida brutal pela falta de vontade de resolver um problema antes que chegasse ao ponto que chegou.
Se houvesse conscientização, educação, oportunidades igualitárias e acesso ilimitado a contracepção, esterilização voluntária e aborto muito raramente a situação escalaria e sairia do controle...

continua...


Jane Doe

Anônimo disse...

Só que tudo isso envolve empoderar mulheres e fazer mudanças estruturais na sociedade. E tais medidas raramente dão voto ou agradam as massas.
Qualquer menção sobre planejamento familiar faz os reaças abrirem as portas do inferno e qualquer tentativa de conscientização sobre as responsabilidades de trazer e criar novos seres humano é visto como um ataque ao direito básico de procriar.

O resultado disso é um mundo abarrotado de gente, consumo parasitário do poucos recursos que ainda restam e mulheres eternamente reféns de sua biologia.

Jane Doe

Anônimo disse...

Obrigada pela resposta, Valéria! Bj!!!
Mariana

Lord Anderson disse...

Obrigado pelas informações Valeria :)

Ajudou a entender a complexidade de tudo.

E concordo com os comentarios da Jane Doe.

Planejamento familiar é importante, a questão é como torna-lo consciente e não imposto.

Mally Pepper disse...

acho que essa lei idiota deveria ser apenas pra quem é pobre

acho que pobre não pensa mt porque normalmente pobre tem no mínimo 5 filhos, não digo pobre de dinheiro e sim de mente, mas eles sao pobre de dinheiro tbm

Olha o elitismo aí geeeeente!

Sim, porque dizer que só pobre tem que ter limitação é puro e simples elitismo. A questão não é unicamente o número de pessoas e sim o impacto que elas vão causar no meio ambiente. classe média/alta consome muito mais do que pobre, gera mais lixo, poluição. Logo, limitar somente os pobres e deixar que classe média/alta procrie à vontade tb não vai resolver nada.

By the way, uma pessoa falar que a outra é pobre de espírito porque nasceu sem condições e ainda agir como se eles fossem assim de propósito, isso sim é uma tremenda pobreza de espírito e eu fico imaginando os valores que essa mulher tá passando pros filhos dela. Ela sim deveria ter sido proibida de procriar, porque está colocando mais três seres humanos elitistas e insensíveis no mundo, que se acharão melhores do que os outros e não terão respeito por ninguém. Isso sim é lamentável.

Mally Pepper disse...

Achei na net e é interessante:

Em uma entrevista (Moyers, 1989) Bill Moyers perguntou a Isaac Asimov

O que acontecerá a ideia de dignidade da espécie humana se o crescimento populacional continuar na sua atual proporção?

Asimov respondeu:

Ela será completamente destruída. Eu gosto de usar o que eu chamo minha "metáfora do banheiro": se duas pessoas vivem em um apartamento e existem dois banheiros, eles podem ambos ter a liberdade do banheiro. Você pode ir ao banheiro quando quiser e ficar lá quanto tempo você preferir ficar. E todos acreditam na liberdade do banheiro; ela deveria estar na constituição.

Mas se você tem vinte pessoas no apartamento e dois banheiros, não importa o quanto cada pessoa acredita na liberdade do banheiro, porque isto não mais existe. Você tem de definir horários para cada pessoa, você tem de bater na porta, “Você ainda não acabou?” e por aí vai.

Asimov concluiu com a profunda observação.

Da mesma forma, democracia não pode sobreviver superpopulação. Dignidade humana não pode sobreviver (superpopulação). Conveniência e decência não podem sobreviver (superpopulação). A medida que você coloca mais e mais pessoas no mundo, o valor da vida não apenas declina, este desaparece. Não importa se alguém morre, quanto mais pessoas existirem, menos cada pessoa importa.

A China e a Índia, mostram muito bem que esse último trecho é verdade. Intervenção estatal é ruim? Com certeza. Queremos isso? Não. Mas se a situação atingir um ponto crítico, é o que vai acontecer. Então só nos resta decidir se queremos fazer isso numa boa ou na marra. Se não puder ser numa boa agora, será na marra futuramente.

Anônimo disse...

Rafael, para 100 meninas que nascem, tem 105 meninOs.
Não sei porque as pessoas insistem em falar que nascem mais menina; isso é falso!!!

outra coisa que galera adora falar: tem ais melher que homem no mundo. FALSO novamente.
48% "apenas" são mulheres.

Lola Aronovich disse...

Muito interessante mesmo essa metáfora do banheiro do sempre brilhante Asimov, Mallagueta.

Ah, gente, defender que pobre não pode ter filho é eugenia.

Valéria, obrigada pelas informações!

Odara disse...

Que ótima caixa de comentários!
Tirando a mãe elitista.....imaginem a quantidade de lixo que os pimpolhos dela devem produzir: embalagens de brinquedos, toddynhos e etc....
Além da visão de mundo que devem estar aprendendo :(
Eu também tenho 3 filhos mas 2 são adotados e acho que isso muda a minha participação na questão da população mundial.
E tenho uma grande preocupação em educá-los com noções de respeito e igualdade (ainda mais que são 3 homens! ). Na minha casa/família não se categoriza gente por $, gênero ou aparência.

Anônimo disse...

Socorro!! Que caixa de comentários bizarra. Uma se metendo no desejo dos outros de ter filhos, outra falando que pobre tem 5 filhos e ela que tem “condições” pode ter quantos filhos quiser e que leva para natação, faz viagens, como se isso fosse o supra sumo da elevação moral, outro falando que brasileiro tem filho d+ (isso mesmo depois de no próprio post a Lola mostrar que isso é falácia).
É um show de horrores. Eu tenho muita vontade de ter filhos e terei quantos eu quiser e ponto final, ah vá povo chato, não querem ter não tenham, isso é decisão pessoal. É nessas horas que tenho medo de o estado intervir d+ nas decisões individuais.
É como falou o Lord Anderson
Diferenças culturais a parte não quero isso não.

Sandra

Anônimo disse...

Mallagueta Pepper
Seu comentário foi muito interessante e educado.
Com certeza enriqueceu este texto.

Sandra

Odara disse...

Como já foi dito, não é só uma questão pessoal, é também uma questão social!
Não estou defendendo o controle de natalidade imposto....mas acho que deve haver mais reflexão do que "terei quantos eu quiser e ponto final" :(

Anônimo disse...

Odara, você está certa, eu me exaltei devido alguns comentários anteriores, tenho consciência que é preciso haver um pensamento crítico a respeito.
Mesmo assim, eu confesso, não me agrada nenhum pouco uma intervenção compulsória do estado neste tipo de decisão, é uma questão muito delicada, e temas como esse podem criar problemas em cascata entende? Tipo, se o estado pode intervir nessas decisões o que o impediria de interferir em outras?
É muito “cômodo” para quem já não tem muita vontade de ter filhos falar ah! É isso mesmo tem que parar de ter filhos. Eu quero ver a galera continuar tendo esse tipo de pensamento quando o estado começar a intervir em outras esferas. É aquele velho ditado pimenta no ... dos outros é refresco.

Sandra

Odara disse...

É complicado sim...
Eu optei pela adoção. Não é nada fácil (o processo pode ser demorado e gerar muita ansiedade, além do preconceito - mais um! - que temos que enfrentar).
Fica aqui uma outra possibilidade para reflexão ;)

Mally Pepper disse...

Eu tenho muita vontade de ter filhos e terei quantos eu quiser e ponto final, ah vá povo chato, não querem ter não tenham, isso é decisão pessoal.

A partir do momento em que sua decisão afeta outras pessoas e o planeta, ela deixa de ser meramente pessoal.

Seus filhos não vão andar pelados e viver de luz, certo? Irão consumir recursos, poluir. Então vc não pode simplesmente se achar no sagrado direito de ter uma penca de filhos sendo que é o planeta quem pagará a conta.

Ninguém está falando pra acabar com a maternidade, mas é preciso que as pessoas tenham mais consciência antes de procriar e entendam que o mundo já está superpopulação.

São mais de 7 bilhões de pessoas, esse número é muito alto e nosso planeta tem um limite. No futuro, vai faltar petróleo, pode faltar água potável, o desmatamento não para, as nascentes estão sendo destruídas e tem até gente falando em consumir insetos no futuro pra evitar a fome. Sério mesmo que alguém aí quer ver seus filhos vivendo essa realidade? Pois eu não.

Nota: E cá entre nós, quem adota tem meu respeito por ser capaz de amar alguém que não tenha o mesmo DNA enquanto a grande maioria só consegue sentir amor se for "sangue do meu sangue".

Tatiana disse...

Oi, Lolinha!

Moro na China há dois anos e sou casada com um sul-africano de origem chinesa, posso adicionar mais alguns comentários ao seu post?

O que tenho a dizer sobre planejamento familiar por aqui é que tudo se dá sem que ninguém fale sobre sexo. A repressão do governo sobre qualquer coisa de cunho sexual (lembra quando você disse que pornografia era proibida por aqui?) impede que exista qualquer tipo de educação sexual nas escolas. Os alunos aprendem na aula de biologia, por exemplo, que o espermatozóide fecunda o óvulo, mas ninguém comenta sobre como ele foi parar lá. A maioria esmagadora das famílias ainda faz de conta que sexo não existe, e as pessoas chegam aos 20, 25 anos sem ter muita idéia de como sexo funciona.

Sou professora de inglês em uma faculdade na Mongólia Interior, região autônoma no norte da China, e quero primeiro deixar claro que o que vou dizer é baseado somente nas experiências e conversas que tive por aqui, e que talvez algumas coisas sejam diferentes em outras regiões.

Uma vez estava conversando com algumas alunas (tendo 27 anos, não sou muito mais velha do que elas), e perguntei, casualmente, como acontecia a contracepção por aqui. A princípio elas não entenderam, provavelmente devido ao inglês, mas quando eu traduzi a palavra "camisinha" para o chinês, elas coraram e deram risadinhas. Uma delas arregalou os olhos e disse "Não, não, não!!! Não usa iso, não!". Perguntei, então, como mulheres casadas - já que nenhuma delas iria admitir ter feito sexo - faziam para evitar terem filhos antes da hora. Elas ficaram confusas e disseram que não faziam idéia.

Há a idéia disseminada de que casais não fazem sexo antes do casamento por aqui - o que, obviamente, não passa da mais pura balela. Embora seja verdade que a maioria chegue virgem aos 20, 22 anos de idade, eles não se casam virgens. E fazem sexo sem saber como se prevenir contra uma gravidez. O resultado disso é que dentro das caixinhas de testes de farmácia é comum vir cartão de desconto para clínicas de aborto. Assim que você conquista a confiança de alguma moça chinesa, elas logo confessam que já fizeram ou conhecem alguém próximo que tenha feito um aborto.

Entenda que, embora eu apóie a possibilidade de uma mulher poder descontinuar uma gravidez indesejada, não acho - e ninguém acha - que abortos devam ser usados como método primário de contracepção.

Outra questão, agora sobre filhos, é que crianças nascidas de pais não casados não podem ser registradas. Isto é devido à própria política do filho único, já que se os pais não forem casados fica difícil monitorar se há mesmo apenas um filho por casal, mas a idéia de que alguém não tenha direito a uma certidão de nascimento - e conseqüentemente não podem freqüentar escolas, ter emprego formal, comprar casa, etc - simplesmente porque seus pais não são casados não deixa de ser revoltante.

B. disse...

Bebês chineses, por que tão fofos?? ounnnnnn <3

Odara disse...

Puxa, deveria ficar registrado um filho por mulher! (exceto se ela comprovasse um segundo casamento, como a Lola disse ser possível)
Não registrar e excluir completamente da sociedade? Não é só pra conseguir comtrolar o número de filhos! É pra controlar o comportamento!

donadio disse...

"Não faz sentido um casal ter mais que dois."

Tem casais que só têm um, casais que não têm nenhum, e gente que nunca forma casais. Se alguns casais pelo menos não tiverem mais de dois filhos, a população vai necessariamente diminuir.

Anônimo disse...

Mallagueta Pepper

Dê uma olhada mais acima, eu já respondi a respeito deste meu comentário.

Sandra.

Anônimo disse...

Olá, Lola!
Tive a oportunidade de conhecer alguns chineses na França, onde estudei por um período. Quanto a política do filho único, achei que você deixou de abordar um aspecto interessante. Fiquei sabendo por intermédio de meus colegas que os chineses endinheirados costumam ter um segundo filho nos Estados Unidos. São os chamados American Born Chinese (ABC). Essa estratégia é comum na elite chinesa, que se orgulha de garantir a dupla nacionalidade às suas crianças (embora seja dito que o segundo passaporte fica escondido, pois esta prática, além de não ser bem vista pelo governo, é proibida na China). É isso. Neste planeta, dinheiro resolve tudo!!!
CN

donadio disse...

"Que loucura, meu sonho ter 3 filhos, sim TRÊS, acho que essa lei idiota deveria ser apenas pra quem é pobre, tenho ja dois filhos, os dois em escola particular, natação, judo, e o caset* a 4, sem contar que temos a oportunidade de viajar varias vezes no ano, agora justificando, acho que pobre não pensa mt porque normalmente pobre tem no mínimo 5 filhos, nao digo pobre de dinheiro e sim de mente, mas eles sao pobre de dinheiro tbm, e aposto que pensam "onde come um, comem dois" e essas coisas porque não é possível sobreviver do bolsa familia e ainda engravidar de um vagabundo"

Então vá foder com seu marido, por que foder com a nossa paciência não vai fazer você engravidar.

Carol Pirlo disse...

Aí chegamos ao X da questão. Quando se fala em planejamento familiar, que inclui métodos contraceptivos, esbarramos nos conservadores puritanos que acham que isso significa que as crianças ficarão precoces. Mas quando é para pobre, todo mundo é a favor da esterilização em massa e até mesmo sem segurança, a fim de "não gerar mais beneficiados do Bolsa Família". Daí isso não é concordar com planejamento familiar, isso é ser higienista.

Vicky_ disse...

Concordo com o cara nessa, creio que maior parte dos países deve se definir um limite de 3 filhos, 2 crianças não dá certos por que há pessoas que não querem ter filhos e quem sequer quer formar casal ou semelhante.
Não é caso do China por conta do número populacional, mas para a maior parte do planeta sim.

Ah, não esquecendo, eu ligo muito para o meio ambiente, mas há informações erradas, a poluição e "superlotação" não é bem por aí. (E não estou falando de Asimov)

Anônimo disse...

Pensei a mesma coisa.

donadio disse...

"Mas quando é para pobre, todo mundo é a favor da esterilização em massa e até mesmo sem segurança, a fim de 'não gerar mais beneficiados do Bolsa Família'"

E depois quando pobre não tiver mais filho vem o chororô do "está faltando mão-de-obra"... meldels como vou fazer sem escrava doméstica, o mundo é um horror, malditos petralhas, isto aqui está virando uma Cuba.

Anônimo disse...

Vichy
Eu gostaria de entender bem melhor estas questões relacionadas ao meio ambiente, pois o que encontro são muitas informações desencontradas, afora o fato de que as vezes me parece que este tema é muito usado para fins políticos e de manipulação também.
Mas não sei que fontes seriam confiáveis sobre este tema.

Sandra

Anônimo disse...

Vc e sua família devem ser um amor, Odara ^-^

Anônimo disse...

Gente que adota crianças tem meu respeito também :)

Vicky_ disse...

Considero o ambientalismo essencial, Sandra, mas parece que as vezes quem discursa esquece que somos animais, não seres a parte. Assim como em outras espécies, consumir recursos É natural.
Por exemplo, há capacidade mundial para alimentar a população mundial atual sim, a questão é administrar corretamente isso(desigualdade social e desperdício de alimentos, por exemplo).

O mundo está com uma população acima do que seria recomendando para o equilíbrio, mas não é como se houver humanos transbordando pelos lados, krl. Nem a favor do capitalismo sou, mas as pessoas comentam como se fossemos uma existência pútrida que só produz lixo.

E me perdoe, não tenho muitas fontes que possa recomendar, busco informações confiáveis aqui e acolá.

Mally Pepper disse...

Assim como em outras espécies, consumir recursos É natural.

As outras espécies não usam roupas, sapatos, computadores, smartphones, não andam de carro e não desperdiçam alimentos.

Os animais consomem apenas o que precisam e pronto. Eles não desperdiçam, não detonam os ecossistemas e não causam a extinção das outras espécies.

Não é que eu odeie os seres humanos, juro que não odeio, muito pelo contrário. Mas a realidade é essa: no momento, a grande maioria se comporta como parasitas do planeta Terra, que só consome recursos e não dá nada de bom em troca. Tanto que se um dia a raça humana desaparecer, não vai fazer falta nenhuma ao planeta.

camila santos disse...

Na verdade rafael nasce mais meninos do que meninas no mundo todo! Renato mostrando que machistas só falam merda.

Odara disse...

Obrigada Camila^_*

Juba disse...

Mallagueta, embora o planejamento familiar seja útil e necessário, perceba o quanto o discurso pode ser tão agressivo e intrusivo quanto o dos pró-vida, o dos gordofóbicos, dos antitabagistas e por aí vai. Sim, cada ato pessoal tem um custo social embutido, as partes influenciam o todo, mas ainda existe a esfera de direito individual. Da mesma forma que você pode achar quem deseja filhos egoísta, a pessoa pode pensar o mesmo de quem não quer ter, pois dá um trabalho horroroso. É muito arriscado, portanto, inferir as motivações alheias, independente de em qual lado do muro se está ;)

Nos países onde não há imposição de número de filhos mas há educação sexual e direitos básicos assegurados, a coisa funciona muito melhor. Mais estudo, mais informação, mais oportunidade = menos filhos. Impor, em lugar de prover essa estrutura, alimenta o sistema de abortos inseguros, de abandono, etc.

Abraços

Valéria Fernandes disse...

Achei alguns artigos que talvez interesse ao tópico. Desculpe tantas intervenções, Lola:

"Na China, em Taiwan, na Coréia do Sul, a ausência de herdeiro do sexo masculino significa a extinção da linhagem da família e do culto aos ancestrais. Na religião hinduísta, ela condena os pais à errância eterna, pois é o filho que, tradicionalmente, encarrega-se dos ritos funerários de seus pais. Na Índia e na China, uma menina está com seus pais apenas de passagem. Quando se casa, ela parte para se devotar à família de seu marido e, a partir de então, não deve mais nada a seus próprios pais. Os camponeses chineses sabem que é preciso "ter um filho para prepara-se para a velhice". "Ter uma menina", diz um ditado chinês, é "cultivar o campo de outros"; para os indianos, é "cuidar do jardim do vizinho"." (http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=1922)

Aborto seletivo gera escassez de 96 milhões de meninas na Ásia (http://noticias.r7.com/internacional/noticias/aborto-seletivo-gera-escassez-de-96-milhoes-de-meninas-na-asia-20100308.html)

Índia, onde meninas nem sempre são bem-vindas (http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/india-onde-meninas-nem-sempre-sao-bem-vindas-ae1k8kfp31xjvvplik65u7qdq)

Pais pagam cirurgia para transformar filhas em filhos na Índia (http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/06/29/pais-pagam-cirurgia-para-transformar-filhas-em-filhos-na-india/)

Procuram-se mulheresÇ Num mundo com 7 bilhões de habitantes faltam mulheres em alguns países. (http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/procuram-se-mulheres)

Mally Pepper disse...

Jujuba.

Sim, cada ato pessoal tem um custo social embutido, as partes influenciam o todo, mas ainda existe a esfera de direito individual.

Por enquanto, porque se no futuro a situação fugir do controle, esses direitos individuais irão pro ralo tal como ilustra a metáfora do banheiro de Asimov. Se eu falo muito nisso agora, é porque não quero ver outras pessoas perdendo sua dignidade e direitos no futuro.

Não sou contra as pessoas terem filhos, mas sou sim contra povo achar que pode colocar trocentos filhos no mundo e ninguém tem nada a ver com isso.

Sim, com educação a coisa funciona muito melhor e é por isso que sempre bato nessa tecla: vamos fazer numa boa agora pra não ter que fazer na marra daqui a uns anos.

Vc pode ter quantos filhos quiser agora, mas que tipo de vida eles poderão ter no futuro? E os filhos deles? É preciso que haja essa preocupação, coisa que a maioria não faz. Só querem ter o filho e o resto que se dane, inclusive o próprio filho. É com esse tipo de coisa que eu não consigo concordar.

Eu tô de boa porque não pretendo deixar descendentes, mas e as crianças de hoje, será que vão ficar numa boa daqui a uns 50 anos?

Juba disse...

Mallagueta, o post tá ficando velhinho mas o papo tá bom... Então, eu gosto muito do Asimov, mas discordo um tantinho da metáfora, que desconsidera a capacidade de adaptação e organização e mesmo a tecnologia (como construir novos banheiros, no caso da metáfora). Ou a barbárie, em que o mais forte mata uns 15 e escraviza os outros pra limpar o banheiro. Essa visão meio apocalíptica do futuro não faz minha cabeça, ainda que na ficção dê obras ótimas. Também sou fã do K. Dick, e você?

Não posso falar pelos outros, claro, mas nada me faz mais temer o futuro que os filhos. É uma espécie de aposta que você faz de que o futuro será, no mínimo, razoável. Para mim, resultou em fazer o possível para deixar um mundo um pouco melhor do que encontrei (sem delírios de grandeza, no trabalho de formiguinha mesmo), e educar os filhos para fazer o mesmo. Penso que para cada coisa ruim que vemos tem outro tanto de coisas boas, de pessoas e movimentos sociais transformando o mundo devagarzinho. Minha avó foi criada em abundância de espaço e recursos naturais, mas eu não gostaria de ter nascido em 1930 pra desfrutar disso e ter montes de direitos a menos. Assim, sei que não vou viver pra ver acontecerem várias coisas em que acredito, mas talvez os filhos vejam.

Não acredito em ter filhos para cuidar dos pais idosos, embora entenda que quando muito idosos provavelmente seremos cuidados pelos mais jovens, parentes ou não. A política do filho único, nesse sentido, é massacrante para a geração que chega. Dois velhinhos para cada jovem, quatro para um casal. Pesa... Me pergunto sobre os efeitos a longo prazo sobre a previdência e mesmo quanto à saúde (não em termos financeiros, mas de quem cuidará desse contingente idoso quando chegar a hora). Por enquanto, geriatria e gerontologia são carreiras em ascensão. Será que teremos tantos idosos a ponto de serem excedente populacional, esquecido e destratado, assim como as crianças em tempos/locais de alta natalidade e mortalidade infantil? Se, sendo poucos, já são desconsiderados...

Continuo achando, porém, que não querer filhos é super normal. Não é para qualquer um e nem para qualquer momento da vida. Tem que estar na vibe...

Se estivéssemos perto eu passaria um café...