sábado, 1 de fevereiro de 2014

GUEST POST: ESTA DOR SERÁ TRANSFORMADA EM AÇÃO

A Carol me enviou este relato:

Estou te escrevendo esse email para ver se a angústia que eu estou sentindo diminui. A cada dia que passa eu tenho mais certeza de que sou feminista e que não posso abandonar esse movimento, não posso abandonar a luta enfrentada por ele. Fico me perguntando: quando é que isso vai acabar? Sonho com o dia em que não vamos mais presenciar todos os dias relatos de mulheres agredidas, desrespeitadas, abusadas.
Tem horas que me sinto tão pequena, tão insignificante.
A primeira vez que ouvi falar sobre o feminismo foi há cinco anos. Eu estava estudando para o vestibular. Trabalhei muito para pagar o meu cursinho, porque meu pai era totalmente contra eu entrar na universidade. Ele sempre me dizia: “Você tem pai e quando não tiver mais terá um marido pra te sustentar”. Eu achava tudo aquilo um absurdo, porque sempre me guiei pelo exemplo das mulheres da minha família, que independente de terem sido privadas de muitas coisas e sustentarem casamentos fracassados, são mulheres fortes e que sempre me incentivaram a ser independente.  
Quando eu passei no vestibular meu pai me disse que isso não era motivo de orgulho para ele, e chegou a me perguntar se entre a minha família e a universidade eu escolheria a universidade. Minha mãe não se envolveu na conversa na hora, mas depois de chamou na rua, e foi nesse dia que descobri que dali para frente o feminismo seria o meu conforto e a minha bandeira. Ela me contou que foi abusada pelo pai durante grande parte da infância e início da adolescência, aliás não só ela, como também todas as minhas tias e meu tio. 
Minha mãe engravidou de mim aos 14 anos para poder sair de casa. Minha avó sempre foge do assunto, me falou sobre isso apenas uma vez, e eu senti o sofrimento nas palavras e na expressão dela. Ela sabia, mas sentia que não podia fazer nada -- quando tentava dar um fim na situação meu avô a espancava, e claro que ela disse que na época era um absurdo uma mulher se separar do marido.
Está muito claro pra mim que minha mãe nunca superou tudo isso, e é incrível como ela casou com um homem que não ajudou a amenizar nada do que aconteceu, pelo contrário. Ela nunca deixou de nos ensinar sobre tudo o que acreditava, mas é uma mulher nitidamente triste. Me entristece muito ver como a vida de mulheres tão talentosas quanto a minha mãe e a minha a avó pode ser destruída, e toda a genialidade minada por uma única pessoa.
Minha mãe me contou tudo isso e depois me disse que eu era a primeira das mulheres da nossa família que chegou mais longe, que ela queria se orgulhar de mim e que eu devia provar para o meu pai que ele estava errado sobre as minhas ações.
Tudo o que minha mãe quer que eu faça no fundo é o que eu sempre quis fazer. 
O problema é que de uns tempos pra cá eu tenho trazido tanto a história da minha mãe quanto todas as histórias e relatos que ouço e leio muito pra dentro. Isso está me consumindo, a dor que sinto chega a ser física. Mas eu não posso e não vou deixar esse sentimento tomar conta de mim, essa dor será transformada em ação. Tenho 21 anos, sou estudante do curso de Gestão de Políticas Públicas e farei tudo o que puder para o quadro atual mudar. O dia em que não ouviremos mais essas histórias de horror vai chegar. Eu acredito! 

7 comentários:

Paula disse...

poxa, eu crente que Lola is escrever sobre o tão aclamado beijo gay na Globo... mas enfim...

cara autora, acho que uma boa alternativa para vc seria fazer faculdade em outra cidade e, quando pudar, trazer a su mãe para morar com vc...

terapia tb vai bem... em universidades costuma-se ter um(a) psicólogo(a) para auxiliar os estudantes... ou no curso de psicologia mesmo..

esse mandamento de "honrar pai e mãe" faz muitas vítimas de pais abusadores...

Ana disse...

Carol, eu imagino o que você deve sentir. No entanto, acho pesado demais você carregar todas essas histórias e se sentir responsável por algum tipo de justiça ou reparação. Faça por você, faça pela sua felicidade, pelo seu bem estar. Você estará fazendo por todas as mulheres,tenha certeza. Mas pare de carregar essas dores como se fossem suas. Elas não são. São de sua mãe e de sua avó. Elas ficarão felizes se você conseguir ter uma vida diferente. Mas tenha a sua vida, por você e por mais ninguém.

Sara disse...

Carol não é pra menos q vc esteja sofrendo, é realmente muito triste a história da sua familia, mesmo seu pai que poderia te dar um exemplo melhor de homem, tb pelo que vc contou é apenas mais um lixo machista (me desculpe) mas dizer pra uma filha que ela não deve estudar e sim procurar por um homem para casar e sustenta-la, é o fim da picada de machismo.
Carol espero sinceramente que vc tenha um ótimo futuro, aproveite e procure por todas as oportunidades que vc possa ter acesso para concluir sua formação, espero que seja muito bem sucedida.
Quebre esse circulo vicioso de machismo e opressão em que vc foi criada.

Amanda Rodrigues disse...

É incrível como o sofrimento de outras pessoas também me atinge! Fico muito mal, já fui vítima e quando leio relatos não tem como não me colocar no lugar delas, força querida você vai provar que é melhor do que tudo isso!

Celly disse...

querida vc nao esta sozinha..sua luta eh minha tbm...não pense no que passou..pense em sua luta daqui pra frente...em todas as mulheres que c pode ajudar..por vc..por sua mãe e por sua avó...


quanto a faculdade...faço serviço social...vou me especializar em gestão publica...

parabéns pela escolha!!! vc será uma ótima profissional...

vivian disse...

minha família tem um histórico foda de abusos também. e cada vez me convenço mais que todas as famílias tem, quanto mais eu converso com as pessoas sobre isso, mais fico sabendo das histórias. é uma pandemia, é terrificante, tem uma horda de estupradores e abusadores pro aí, MUITO, MAS MUITO mais do que se tem ideia, e a sociedade simplesmente ignora o assunto por que ele não sai do armário.

tu está lindamente fazendo tua parte, tu é mulher, teve a oportunidade de mudar a história das mulheres da tua família e agarrou isso. agora vai fundo, guria!

seja grata por ser a pessoa que vai influenciar as mulheres da tua geração em diante, tu vai ser uma luz e um exemplo que vai influenciá-las irreversivelmente.

eu sou grata por você lutar pelo seu próprio caminho. por mudar a história que tua família construiu até agora, você vai botar pra quebrar. não dá pra mudar o que passou, mas dá e muito pra mudar o que temos pela frente. se achar necessário, batalhe e saia de casa. vá sem medo, o mundo é cheio de oportunidades. voa, guria.

Áurea disse...

Nao sei se ajudo, mais vc já ouviu falar de constelação familiar,me ajudou bastante,veja a situação por outro angulo,agradeça por seu pai ser dessa forma,pois ,ele está servindo de estimúlo pra vc ser diferente,,não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos,"crescer dói"mais vale a pena,e vc não tem que fazer nada para provar nada para ningúem,cada um escolhe o seu destino,tb venho de uma familia desestruturada.onde o abuso imperava e a pancadaria era constante,talvez seja por isso,que procurei fazer diferente, estudar sobre autoconhecimento e procurar entender porque certos seres humanos se comportam desse jeito,e um site que muito me ajudou tb foi o amor exigente.já fiz parte de vários grupos de mutúa ajuda, tipo 12 passos e encontrei bastante alívio para minhas dores.http://www.youtube.com/watch?v=KoJHjJqXN-8
http://www.youtube.com/watch?v=6GSqcn0wvyc
http://www.youtube.com/watch?v=LmyMysGu9T0
esses são alguns sites que muito me ajudaram a compreender muita coisa! força e coragem, continue assim, vale a pena!