quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

GUEST POST: RESUMO DE UMA VIDA AOS TRANCOS E BARRANCOS

Fiquei arrasada com este relato que recebi da F, que hoje tem 30 anos e coleciona vários prêmios literários. O mais horrível do relato é como ele é comum. Parece que a sociedade prepara vítimas e predadores. Bom, isto vai acabar com o seu dia, mas acho que dá pra ver algum otimismo nas palavras da F.

Sempre fui uma menina sensível, sonhadora, apaixonada e carente. Escrevia poesias ao som de canções românticas pensando nos meninos da escola, os mesmos que me tratavam mal por ser gordinha, ou me viam como “um dos caras” e contavam comigo para aproximá-los das meninas. Isso, inclusive, é uma realidade até hoje. 
Quando criança, eu não era propriamente gorda, era fofinha, tinha problemas de equilíbrio e pânico do playground, começando a me isolar socialmente gradativamente. Na escola, virei a gorda.
A partir desse ponto, passei a voltar chorando todos os dias para casa, meus colegas contavam piadas e aprontavam comigo diariamente. Minha irmã chegou a ameaçar alguns colegas e até partir pra agressão, de leve, mas dentro de sala de aula, eu estava sozinha.
Meus pais pouco podiam fazer. Minha mãe chorava comigo, me abraçava e incentivava meus dons artísticos que afloravam dentro da dor. Meu pai dava conselhos de “sobrevivência”, e ambos me levavam a médicos buscando uma forma de reverter minha crescente obesidade. A ansiedade de ter que passar horas no inferno todos os dias não me permitia viver sem meu breve prazer da comida.
Troquei de escola na esperança de ver minha vida melhorar, e ela piorou. Entre as gentilezas que recebi estava uma surra. Isso mesmo, apanhei por ser gorda. A situação chegou a tal ponto que a escola me trocou de turma pela minha segurança. Foi a melhor parte da minha adolescência.
Passei dois anos e meio me sentindo “normal”, embora mais sensível que a maioria das pessoas que eu conhecia, até terminar o ensino fundamental. Entrei no ensino médio com minha turma dissolvida e integrei a turma do fundão, a única menina da turma do fundão. Exceto que eu não era vista como uma menina.
No ano seguinte, meus parceiros da turma do fundão ficaram pra trás, fui a única do grupo que seguiu para o segundo ano do ensino médio e me vi novamente nas garras do bullying, me forçando a trocar de escola. Me aproximando dos 16 anos como motivo de piada, resolvi mudar. Minha mãe me levou a um médico homeopata e, com essa ajuda, até o final daquele ano eu havia perdido os 15 kg que tinha acima do meu peso ideal, mas não a fama de a gorda da turma.
Devido ao meu histórico de bullying, minhas inseguranças e autoimagem distorcida, mesmo estando no meu peso ideal, nunca tomei coragem de usar roupas curtas e justas, mantive meu estilo calça jeans e camisetão.
E foi vestida assim que o atraí. O homem que mudaria para sempre os rumos da minha vida. Era verão de 1999, fevereiro, eu tinha 16 anos e era rejeitada por todos os meninos que conhecia. Mas um homem, alto, moreno, musculoso, mais velho, discordou. Quando ele se aproximou de mim, fiquei empolgada. Estávamos na praia, uma praia pequena em que eu reconhecia cada canto, e era conhecida por todos, me sentia perfeitamente segura. Ele era um funcionário temporário do hotel.
Eu havia levado um fora de um menino no dia anterior e a aproximação desse homem me fez me sentir bonita. Eu era virgem, cheia de sonhos, e estava feliz com a ideia de ficar com ele. Ficar, para mim, era troca de beijos. Não cogitava nem remotamente transar com alguém que não fosse um namorado.
Ele me convidou para ver uma sala do hotel que tinha vista bonita. Fui. Jamais imaginei que algo poderia me acontecer em um ambiente tão familiar. Uma vez lá, senti que as coisas não corriam bem quando ele trancou a porta. Sentou calmamente em um sofá e me convidou para sentar do lado. Eu não sabia o que fazer, então obedeci. Até então estava tudo bem, nem acho que até esse ponto tenha estado acuada ou coisa assim (apesar da porta trancada). Ele me beijou carinhosamente, permiti, eu queria aquele beijo. Com o beijo e toda a sua gentileza, me tranquilizei: estava com um homem gentil.
Me beijou mais uma vez e suas mãos começaram a me deixar desconfortável. Foi nesse ponto que desejei ir embora, mas pensei que tudo terminaria rápido. Ele botou a mão com força em meu seio enquanto o outro braço passava por trás do meu ombro, impedindo que eu me afastasse. Fui pega de surpresa e reagi imediatamente, tirando a mão dele. Talvez aí ele tenha percebido que eu não queria e veio com mais vontade, dessa vez forçando para tirar minha camiseta. Foi nesse momento que eu disse, claramente, "Não, eu não quero".
Eu era imensamente menor que ele. Ele se jogou pra cima de mim, forçando-me a deitar sob o peso do corpo dele. 
Eu tentei ainda insistir que não queria, mas ele começou a forçar ainda mais para tirar minha blusa e me mordeu, por cima da blusa mesmo. Não foi forte, não me lembro de ter doído fisicamente, mas me doía a sensação de impotência. Foi então que consegui empurrá-lo, mas a porta estava trancada. Alguns minutos depois ele não somente abriu a porta como me acompanhou até a rua e me beijou outra vez.
Cheguei em casa chorando, me sentindo suja, e fui direto pra cama tentar dormir. Fiquei quieta. Naquela época, por causa do bullying, eu vivia simulando dores de estômago para sair da escola e minha mãe já não me levava mais a sério, então tive medo que ela não acreditasse, e tive medo que meu pai quisesse matá-lo, então achei melhor simplesmente não contar pra ninguém.
A partir dali minha vida virou de ponta cabeça. Quase dobrei meu peso em poucos meses e passei a fugir de qualquer contato com homens, embora ainda seguisse me apaixonando pelos rapazes mais impossíveis. Nunca mais fiquei sozinha com um homem, exceto meus amigos gays, e foi justamente numa conversa com um deles, dez anos depois, que admiti para mim mesma que havia sido estuprada. Eu tinha bloqueado o "durante" completamente da minha mente. Com ajuda desse amigo, desbloqueei. Não que relembrar os momentos de terror (embora sejam em flashes) seja uma coisa boa, mas foi isso que me fez procurar ajuda pela primeira vez.
Naquela semana do desbloqueio, procurei minha ginecologista e contei a ela. Os olhos dela se encheram de lágrimas e, mesmo dez anos depois, ela me examinou. Como eu nunca mais deixei homem nenhum me tocar e, consequentemente, nunca fiz sexo consensual, pedi que ela visse se eu ainda era virgem ou não. Como eram lembranças turvas, tinha esperança que não tivesse acontecido exatamente como os flashes me diziam. Infelizmente foi comprovado que o hímen não se fazia mais presente. O estupro era real e não tinha mais como fugir disso.
Ainda antes do estupro, eu já me sentia diferente da maioria e com certeza não foi ele que me causou algo que viria a seguir, mas contribuiu muito para eliminar qualquer chance de eu ter uma vida normal. Acabei diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline, tenho a automutilação como uma prática corriqueira e meus braços não me deixam esquecer quem eu me tornei. Tenho crises de depressão com frequência e quase me matei acidentalmente ano retrasado, após uma crise de desespero em que exagerei nos remédios. Pouca gente acredita que minha lavagem estomacal tenha sido fruto de um acidente, já que há muito tempo pensamento suicidas são parte da minha rotina com a mesma facilidade com que decido a roupa que vou usar.
Decidi ser sozinha. Sou gorda, automaticamente vista como lixo pela sociedade, sou difícil de conviver por causa do TPB e minhas crises acabam afastando muito as pessoas de mim. Na verdade foi justamente num período cretino da minha vida, em que perdi um emprego que eu amava e minha avó, no mesmo mês, que eu descobri que, apesar de tudo, conquistei amigos incríveis, amigos que compartilham os mesmos sentimentos anti-preconceitos. Às vezes pergunto a eles como me suportam quando entro nas minhas crises que me deixam na beira do abismo muito próxima de me desfazer da vida, eles dizem "você vale a pena". Isso me dá esperança e força, porque cada vez que preciso dizer num debate que estupro é arrasador, eu me sinto violentada outra vez.
Não é raro que eu me culpe pelo que aconteceu comigo, afinal, eu fui até aquela salinha com minhas próprias pernas. Eu saí "ilesa" (não morri, nem fui espancada), então me questiono se lutei o bastante. Não é raro que me perguntem "tem certeza que você não queria?". Tenho. Disso eu nunca tive dúvida, duvidei de mim, duvidei da minha força, dos meus sonhos, da minha vida, mas nunca, em momento algum, duvidei do meu "não".
Consegui dar a volta por cima em muitos aspectos e levo uma vida, a princípio, normal. Trabalho, me sustento, vou lutando pelos sonhos que tenho condições de realizar, mas toda noite antes de dormir, junto toda a fé que me resta e peço a quem quer que seja que está lá em cima, se tiver alguém, que não me permita acordar. Não digo isso deprimida, até porque não estou deprimida nesse momento, digo isso com toda a tranquilidade de quem revela aos amigos sem medo que deseja morrer jovem. Todos meus amigos mais próximos sabem que não desejo passar dos 30 anos. Estou com 30 anos e continuo com o mesmo pensamento.
Tenho esses amigos maravilhosos que me dão um motivo e tenho uma família incrível. Contei para minha mãe ano passado e ela chorou, lamentou que eu tenha enfrentado tudo sozinha por tanto tempo. Meu pai não sabe, pretendo que jamais  saiba, as vezes acho que ele não suportaria conviver com a ciência de que a filhinha que ele lutou tanto pra proteger foi vítima de estupro. Melhor que não saiba. 
Esse é um pedaço da minha história, uma história que me entristece ver sendo diariamente repetida na vida de tantas mulheres. Queria que as pessoas entendessem que piadinhas preconceituosas e comentários maldosos muitas vezes para elas não significam nada. Para mim não, aquilo fica para sempre marcado como mais uma cicatriz, só que na alma. Invisível aos olhos alheios, mas muito mais dolorida do que aquelas que tenho nos braços.

74 comentários:

Carlos disse...

As pessoas falam tanto em preconceito... mas elas próprias são implicitamente preconceituosas.

"Mas um homem, alto, moreno, musculoso, mais velho, discordou. Quando ele se aproximou de mim, fiquei empolgada."

E se fosse um homem max plus size que "discordasse"?

Com certeza nem olharia na cara dele.

Anônimo disse...

Eu poderia escrever muitas e muitas coisas aqui sobre mim, mas, tudo que vou dizer, é que de muitas formas, o seu post podia ter sido escrito por mim mesma. Talvez, a única diferença seja que nunca sofri bullying por estar acima do peso. Não sei como saio ilesa disso, até hoje. O pior que me aconteceu foi na quinta série um menino dizer que não "ficava" comigo porque eu era gorda (e naquela época eu nem era, magina, era só fofinha). Foi a partir daí que ganhei bem mais peso. Mas nunca mais ninguém falou nada.

Mas, juro que sinto tudo que você sente. Já fui violada sexualmente, tenho transtornos de humor, recentemente voltei a me cortar depois de anos sem fazer isso, penso em suicídio com frequência, e todo dia penso que não gostaria de acordar. Quando acordo, meu primeiro pensamento é que não quero fazer isso de novo. Não faço questão de viver muito, e as pessoas sabem disso também.

Queria dizer que te entendo completamente, e você não é a única, mas a gente vai vivendo, cada dia, cada minuto, cada segundo. Um momento de cada vez, até não viver mais. Muita força pra ti.

Anônimo disse...

"A ansiedade de ter que passar horas no inferno todos os dias"

Eu só tinha liberdade na rua quando brincava com a vizinhaça,nao no colegio,colegio fui isolada nos 4 ultimos anos do ens. fundamental.
Liberdade em colegio vivi antes do ens.fundamental.

Tigra disse...

lágrimas definem

lola aronovich disse...

Carlos, vc é um mascutroll babaca sem coração ou inteligência (desculpem se estou sendo redundante) e, de agora em diante, todos seus comentários serão deletados. Tenha uma boa vida.

Anônimo disse...

Abalou meu dia. :/

Querida, eu compreendo você. Há pouco tempo me livrei da depressão, e sei muito bem como é ir dormir todas as noites e rezar para que alguém te leve, desejar ardentemente não acordar mais.
Confesso que eu convivia com a doença sem saber, e quando descobri demorei para criar coragem para me livrar dela. Sempre fui uma ótima aluna, ótima amiga, ótima filha. Mas a doença me tirava o mais importante: a minha felicidade. Eu vivia a fazer os outros felizes e agia normalmente perto de outras pessoas, nunguém disconfiava da minha situação, e essa é a relidade: se você não fala, ninguém sabe, ninguém vê. E até quando você grita, muitos irão te ignorar e falharão em te compreender.
Procurei ajuda médica mas o que me curou foi a minha força de vontade e o amor próprio que estou recuperando cada vez mais com a ajuda do feminismo. Descobri que a vida não é fácil para algumas pessoas, e que depende unicamente de nós para pelo menos sobrevivamos. E descobri que eu consigo tirar forças para continuar de relatos como os seus, de situações como as que eu já passei e de todas as outras que vejo. Descobri que lutar vale a pena, que por mais que estejamos nadando contra a corrente, o que importa é não desistir de nadar.

Desejo a você muita força, e que você possa tirar sua inspiração para cada dia do feminismo e da busca pelo amor próprio. Você consegue, acredite. Você não está sozinha.

Abraços bem apertados de uma amiga anônima!

att, Bia.

Eva disse...

Eu não sei o que dizer. Só queria poder te abraçar.

Eva disse...

Carlos,
Vá se foder.

(desculpa Lola, mas é tenso demais aguentar esse mascutroll ridículo em posts assim)

Moço Ocupado disse...

Só vontade de te abraçar bem apertado e chorar junto contigo. Chorar tanto, mas tanto, tão forte e tão profundo, que lave a alma e leve embora toda essa dor e sofrimento.

Na minha inocência e "polyanismo" quero acreditar que seja possível, por mais terrível que tenham sido as experiências do passado, as pessoas possam simplesmente olhar para frente e começar um novo dia como se fosse o primeiro. Mas sei que não é assim que funciona nossa cabeça...

Anônimo disse...

E ainda tem babaca (pra dizer o mínimo) contra a lei antibullying porque seria uma lei que protege "perdedores". O bullying não é apenas uma criança ou adolescente sofrendo ofensas de colegas, não. Não é porque cresceu que ficou tudo pra trás, aquelas "brincadeiras de coleguinhas". Ele acompanha a vítima durante a vida toda, causando essas situações. É a origem de muitas vidas infelizes.

Anônimo disse...

Carlos, tudo isso porque você só fica com mulheres fora do padrão para não ser preconceituoso e não fica empolgado quando uma gostosona no melhor estilo Top Model dá em cima de você, né?

Emy disse...

Realmente, acabou com meu dia.

Me vi em muitos trechos dessa história.

Veronica disse...

Vc pede todos os dias para morrer? uma vez li, que quando se morre, naquele momento do fim, tudo que mais se quer é estar vivo. Vc quer morrer pq não sabe lidar com a força da vida que grita dentro de vc.

Vc só tem 30 anos!! É jovem inteligente, saudável... e está sendo carrasca de si mesma e até um pouco egoísta. Já pensou como ficaria a sua mãe sem vc?

Lute, toda essa angústia que vc sente e a força da vida querendo ser vivida e vc fugindo....

O que aconteceu vc não pode mudar, mais o que vai acontecer, a vida que vc terá, depende só de ti.

Desejo que vc encontre o caminho, que deixe fluir toda essa ansia de viver que vc tenta sufocar a todo custo.

Um grande abraço

Fabiana C. disse...

Não entendi muito bem se ela foi ou não penetrada tal moreno... Mas de qualquer forma deve ter sido super traumático, fiquei com o coração apertado. Bullying é algo muito cruel e me irrito muito quando ouço dizerem que 'faz parte da vida'. Matar a auto-estima do outro deveria ser crime.

Ana Carolina disse...

Nossa, não tenho palavras sobre esse post, apenas sinto muito. Até porque muitas das coisas aconteceram comigo (apesar de meu diálogo com elas ter sido bem diferente).

Eu só queria saber se a autora está em tratamento, até desejo que ela esteja, pq quem sabe a situação não melhora...

Anônimo disse...

Eu não sei o que dizer. Só queria poder te abraçar. (2)


Entrei para escrever isso. Não tenho nem palavras para dizer.

Leio Lola Leio disse...

Posso dizer que imagino como a autora do guest post se sente, embora eu saber que nunca conseguiria mensurar sua dor.
Faz pouco tempo que consegui contar algumas coisas que me ocorreram à minha psicóloga. Estou ainda elaborando para mim mesma a experiência ocorrida e tentando criar coragem para compartilhá-la com mais alguém. Lendo os depoimentos aqui no blog, eu percebo que é libertador para quem conta e para quem lê, eu mesma me identifico com uma série de situações que são expostas aqui. Mas, nesse caso, não consegui ainda me expor a vocês.

SeekingWisdom disse...

F.,
Eu não sei bem que tipo de palavras vão sair nesse comment. É triste constatar através de mais um relato o mundo triste e cruel que compartilhamos.
Mas sabe, acho que há motivos para você estar aqui compartilhando toda a dor conosco. E há motivos para você continuar inspirando mundos com suas palavras.
Não sei se a vida mundana é exatamente uma vida pra gente. Muitas pessoas mais espirituais acreditam que estamos em um processo de aprendizado contínuo, mas não estamos sós.

As vezes acho que o isolamento, a autoinjúria e autopiedade são reflexos de defesa do individuo e às vezes acho que elas criam barreiras para o mundo. Mundo no sentido mais amplo possível. Acho que essas ações nos dão segurança, mas não acho que segurança seja algo bom. Eu não gosto da segurança, gosto da liberdade. Quando tomamos conhecimento das amarras que nos limitam começamos a encontrar os nós mal feitos e começamos a escapar dessas barreiras.

Desejo tudo de bom pra você. Espero que as palavras de apoio sirvam de remédio para essas marcas que a vida deixou pra ti.
Um beijo.
Phillipe.

Nina Bandini disse...

Eu sinto muito por tudo que você passou/passa. É um comentário meio bosta, mas é só o que eu consigo dizer. É aquela velha sensação de ler uma história terrível acontecendo com uma pessoa boa (ainda que desconhecida) e ter vontade de abraçar e espanar seus problemas... sinto muito também por não poder fazer isso. Eu ou qualquer outra pessoa ):

Esse post me lembrou um pouco uma série que eu terminei outro dia, a inglesa My Mad Fat Diary. Apesar do nome e de uma ou outra cena típica de seriados adolescentes, é um dos programas mais lúcidos que eu vi recentemente. A protagonista (Rae, uma personagem feminina não-caricata e FORTE, devo dizer), acabou de sair de um hospital psiquiátrico e tenta se recuperar/se reacostumar com a vida "normal". Apesar de ser uma série de comédia, muitas vezes é totalmente doloroso de assistir

Anônimo disse...

O tal bullying vem de muito tempo e tinha outra forma de expressão. Era perseguição, exclusão. Eu estudava em uma escola pública e passava por isso, pois nadava contra corrente, embora a instituição era estadual, o bairro era nobre e muitos que lá estudavam moravam na região. A escola era excelente, pois na década de 80/90 o ensino público não era de conteúdo fraco em determinadas escolas, atualmente não, todas tem um conteúdo sofrível devido a Lei de Diretrizes e Bases. Eu era excluída por vários motivos, entre eles ser um tanto alternativa, abomino roupas de grife até hoje, era baixinha e adorava literatura e quadrinhos de horror e terror, nunca fui de muitas amizades e até evitava muita intimidade, ainda hoje isso prevalece. Eu gosto de ser solitária, acho que é da minha personalidade, no ambiente de trabalho sou desenvolta, porém evito muita aproximação, pois o ambiente não é propício e existe muita intriga e conversa vaga. Faculdade? O meu TCC eu fiz sozinha e me sai muito bem, nada de aproximação. Eu só tenho carinho, consideração e apreço pela minha mãe, parente é serpente, até com meus irmãos tenho cautela. Cada um tem uma reação quanto a exclusão, desprezo e crueldade. O meu foi o isolamento, mas viajo muito, faço cursos, não parei de estudar ou trabalhar em nenhum momento, cuido de minha saúde, mas evito muita aproximação.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

"Carlos disse...
As pessoas falam tanto em preconceito... mas elas próprias são implicitamente preconceituosas.

"Mas um homem, alto, moreno, musculoso, mais velho, discordou. Quando ele se aproximou de mim, fiquei empolgada."

E se fosse um homem max plus size que "discordasse"?

Com certeza nem olharia na cara dele."



Nossa, com tantas palavras que essa moça disse, vc só guardou isso? Como vc é fútil, hein?


Sobre o relato da F, não vou mentir que desceu lágrimas dos meus olhos e como mulher me dói muito na pele o tamanho de discriminação e misoginia que sofremos diariamente. Principalmente numa sociedade tão dissimulada como a nossa.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sara disse...

F vc vale a pena..
É tão jovem ainda, pode iniciar uma nova historia, e se aguentou até agora, pode aguentar muito mais, mas sendo feliz dessa vez.

Marcia disse...

Eu queria pode te abraçar (3).

Por onde começar, eu queria ser capaz de solidificar ideias e mandá-las por comentário. Seu texto me fez chorar muitas lágrimas e já três pessoas no centro onde estou, perguntaram se eu estou bem. Um exemplo de que hoje trabalho num lugar bem mais tolerante do que os anos infernais de colégio e universidade.

Olha, eu já adoeci (depressão) e quase desisti de tudo o que eu amava e tenho um relação de amor e ódio com meu trabalho que não consigo explicar facilmente. As vezes travo, não quero escrever, não quero trabalhar, não mais nada. A não ser ficar em casa no meu canto, esquecendo do mundo babaca que tenho que enfrentar toda vez que saío da porta.

Consegui passar dos 30. A maturidade que começa a dar o ar da sua graça na minha vida tem me deixado mais tranquila, mas não menos sensível para a truculência alheia. Nenhum caminho que se ande é igual a outro, e não tem como lhe dizer o que fazer, então vai um desabafo:

Se é verdade que o mundo é cruel e que as pessoas tem prazer em ferir as demais, também é verdade que há pessoas que podem se importar com você por que você é só mais um ser humano vunerável como qualquer outro. Não conheço, não sei seu nome, endereço. Não importa, só de ler o seu texto eu gostei de você, da sua sinceridade duída, da coragem de dizer o que sente. Quero muito que você resista e passe a quer viver até os 100. Se goste, por favor... O mundo certamente seria um lugar ainda mais feio sem você nele. Eu sei. E só li um texto seu, imagine como isso é verdade para todos aqueles que amam.

Abraço carinhoso, muito cafuné e lágrimas sinceras de identificação.
Espero que você fique bem.

Anônimo disse...

...vou aqui de desabafo: que ódio gente... Que ódio desse e de todos os outros caras que acham que podem penetrar a força o corpo de uma mulher, que ódio, que dor na garganta que me deu esse post, só posso chorar e desejar que eles morram

Gueibs ManoMona disse...

Quando eu comecei a visitar o Escreva Lola Escreva li tantos textos ao mesmo tempo que me fizeram pensar sobre muitas atitudes que eu tinha como naturais, pois sempre achei que eu fizesse tudo certo, sabe? Não sabia que também agia errado.

Quero confessar que eu era Gordofóbico. De verdade. Não que eu agredisse as pessoas por serem gordas, mas sempre ficava pensando: porque diabos cicrano ou fulana não emagrecem?

Foi aqui que descobri que eu não podia pensar assim, quando as vezes eu achava estranha a questão de que todo mundo precisa emagrecer.

Eu era incoerente.

Enfim, descobri a tempo e tento melhorar o tempo todo.

Relatos como o seu colega, me fazem pensar o quanto somos responsáveis pelos males do mundo.

E desejo que você continue encontrando forças todos os dias para sair da cama e viver. Todos os dias. Que sua mente te engane todas as noites. Que você sempre amanheça.

Você só vai melhorar. Acredite.

Felipe disse...

Sua história é muito parecida com a minha. A diferença é que sou homem e fui abusado por pessoas muito próximas e mais de uma vez, dos 5 aos 12 anos. Tb nunca consegui me relacionar sexualmente com ninguém, hoje tenho 24 anos. Compartilho essa dor angustiante com vc. Sei muito bem como é.

Bruno S disse...

Certas histórias fazem nossos problemas ficarem tão pequeno que fico sem saber o que dizer.

Às vezes penso que todos devemos ter pessoas por perto passando por situações como passa a F e não conseguimos enxergar.

E também espero que a autora encontre motivos para ficar mais um ano e a cada ano renove essa expectativa.

Anônimo disse...

Nossa! Fico feliz em saber que a Lola nõa vai mais publicar os comentários desse Carlos. Leio o Blog todos os dias e também leio os comentários. Esse Carlos NUNCA disse nada mínimamente inteligente ou humano. O comentário que ele fez sobre este post é a coisa mais estúpida que ele já fez, e realmente intolerável. Só posso acreditar que ele nem leu o post, já que só está aqui para atrapalhar.

Para a autora do post, só posso desejar força e superação. Ela me emocionou muito.

Anônimo disse...

Eu sinto tanto, tanto. Palavras não podem expressar. Chorei com e por você. Recomendo uma terapia e psiquiatra, remédios podem realmente te ajudar com seus sentimentos suicidas e com a auto-mutilação, e terapia para falar de todos os seus fantasmas. É cansativo, é difícil, no começo vc não confia naquela pessoa mas com o tempo o alívio de esvaziar todos os seus pensamentos e medos em um lugar sem julgamento (pq se o psicologo for bom e sério vc nunca irá se sentir julgada) faz um bem danado. Só posso te desejar que vc procure essa ajuda e fique bem. Eu sinto muito por tudo que vc passou, eu tenho ctz que vc é uma pessoa linda. <3

Anônimo disse...

Muito triste, mas acho estranho as suas constantes reclamações de "não ser vista como menina" pelos seus amigos. Mulher também é friendzoned, mas isso não é motivo para ficar chateado, de acordo com feministas.

Christian Barreto disse...

Fico arrasado com esse relato. Eu não cheguei a passar por tanto sofrimento, mas sei o que é ter uma autoimagem distorcida, sei o que é dormir torcendo pra não acordar.

Tenha esperança, as coisas podem mudar. Siga forte, continue com sua arte, não desista.

Anônimo disse...

"uma vez li, que quando se morre, naquele momento do fim, tudo que mais se quer é estar vivo"

Imagino que quem escreveu isso deve ter um MONTE de experiência no assunto... Deve ter sido algum texto religioso, imagino.

Nina disse...

Poxa Lola, vc tinha razao, acabou com o meu restinho de dia :-(

Essa pequena escreve tao bonito, tao correto,e de forma tao sentida que faz a gente sentir toda a sua dor. Nao dá pena, dá odio, ódio dessa sociedade machista e tao injusta que acha que o corpo de uma mulher nao pertence a ela.

Mas eu sentia tbm mt amor vindo de todas as pessoas que ela tem em volta de sim, desses pais tao cuidadosos, amorosos, da irma que batia nos colegas na infancia em defesa da irma agredida emocionalmente, dos amigos tao carinhosos e ternos que ela tem. Nossa, garota, vc está rodeada de amor! pensa bem,que magico isso. Qts gostariam de ter o que vc tem? Todo esse amor? Esse cuidado, esse prazer em ter vc por perto. De tudo o que vc escreveu, foi isso que mais mexeu comigo, vc está cercada de amor. Tomara que vc possa enxergar isso de verdade e no fundo da sua alma e com a ajuda desses amigos e familiares tao queridos, transfira esse amor pra vc mesma. Vc merece...

e sabe, desconfio que vc nao vai embora tao cedo :-) Há mt ainda o que viver e vc tem dado mts passos gentis em direcao a si mesma, nao é?! Um dos mais bacanas, foi ter escrito este guest post, ajudando a si mesma e a tantos outros, a pelos menos, se compreenderem.

Sorte e bencaos!
ps. tbm queria te dar um abraco :-)

Anônimo disse...

Gente com borderline tende a ser muito carente, ter auto-estima muito baixa e interpretar gestos normais como sinais de abandono ou ódio. Talvez você tenha tido mais amigos do que você acha, mas o seu transtorno não deixou que você percebesse que eles gostavam de você.

Pecador disse...

Também tentaram abusar de mim na infância. Mas não conseguiram.

O sujeito mora no mesmo "ambiente" que o meu, e toda vez que o vejo...

Tenho certeza de que sou uma boa pessoa...

pois faço todas as forças possíveis para não matá-lo.

Anônimo disse...

nossa q coisa,mas olha força joga todo esse passado ruim na lata do lixo ,e segue em frente pq o q essas pessoas do passado querem é tiver na pior de a resposta p eles seja feliz, preste atenção ao seu redor vc tem pais q te dão amor, amigos e veja a natureza como tudo é lindo, se isso n for o bastante lembre-se q vc pode lutar p q outras pessoas n sofram coisas assim procure um modo

Liana hc disse...

F. espero que você esteja recebendo a ajuda de que precisa, lidar sozinha com traumas é muito difícil. Assim como aprendemos a nos rejeitar, também aprendemos a nos aceitar e a sentir que somos merecedoras da felicidade. Procure não entrar numa espiral de culpa por causa das suas crises, elas são um sintoma do que você precisa curar e conciliar dentro de si mesma, e não motivos de auto punição. Nessas horas, em que a dor ainda é grande e a vontade falha, ter apoio é importante, inclusive profissional. E manter o passo constante sempre que possível, se afastar daquilo e daqueles que não te fazem bem, cercar-se de qualquer coisa que te traga satisfação, felicidade, por menor que seja, e continuar insistindo porque a felicidade não cai no nosso colo, mas podemos construir aos poucos no nosso dia-a-dia, podemos dar valores e significados diferentes às coisas que nos cercam e ao que sentimos. Desejo ânimo e força pra que você siga em frente e faça as mudanças que trarão mais leveza aos seus dias. Abração.

Amanacy disse...

Em primeiro lugar, queria dizer algumas palavras para você, F.. Te desejo muita força. Não tenho como saber como se sente, porque como diz meu ditado preferido, "coração alheio é terra que ninguém anda". Mas posso dizer que me comovi muito com seu relato, e espero sinceramente que as coisas melhorem para você. Fico feliz em saber que tem bons amigos e uma família. Não te conheço e não sei se o que vou aconselhar é o melhor para você... Mas peço que não se sentencie a solidão. Você merece todo o amor do mundo. Permita-se aproveitar estes amigos e família, e também, de repente, conhecer pessoas novas. E você é linda; suas palavras transparecem uma pessoa linda e sensível, e creio que faria falta neste mundo!

Agora queria comentar umas coisas.

Anônimo das 17h12: já li uma teoria muito similar, e não foi em texto religioso, mas sim em livros para uma aula de Psicologia, que cursei na faculdade. E a teoria não foi elaborada com base na experiência do próprio autor, é evidente, mas sim em entrevistas com pessoas que tentaram o suicídio, mas sobreviveram. Esta teoria também dizia que o suicida não deseja a morte, mas sim uma vida diferente. Daí o tal desespero em se estar vivo. Não sei se esta teoria é a mais aceita, se ainda é ensinada, porque li o texto há algum tempo. Mas o importante é que pertence ao ramo da psicologia,e foi baseada em relatos de pessoas que sobreviveram. E, enfim, mesmo que fosse um texto religioso, as pessoas tem liberdade de crença.

Anônimo das 17h08: você está confundindo as coisas. Todo mundo - mulher ou homem - pode cair na friendzone e ficar chateado com isso. É natural ficar triste, decepcionado; afinal, rejeição dói. Somos humanos. E foi isso que a F. relatou, sua tristeza em se sentir rejeitada. Agora, o que é questionado por feministas não é esta tristeza, mas sim o ódio que algumas pessoas criam por serem colocados na friendzone. Por exemplo, dizer "todxs xs mulheres/homens não prestam (porque alguns me colocaram na friendzone)". Ou então, achar que, porque você foi legal, o seu alvo tem a obrigação de retribuir o seu interesse. Obrigação de retribuir - eis o ponto problema. Não foi o que a F. disse. Ela não disse que os homens não prestam porque a colocaram na friendzone, e nem que os caras tinham obrigação de gostar dela. Ela tem dificuldades em se relacionar por conta do trauma que passou, o abuso físico. É bem diferente. E por fim, poxa, diante de um relato tão triste, a primeira coisa que você pensa em fazer é questionar a dor da autora/ provocar ideias feministas? Tente ter um pouco mais de empatia, por favor. Questionamentos e debates são ótimos, mas há momentos mais propícios. E se estou debatendo isso agora, é pela autora do post, pois não concordei com suas palavras e à maneira como se dirigiu à ela.

Aline A. disse...

Olha, F., força irmã... Eu leio isso e fico pensando que qualquer coisa que se diga vai soar tão cretino, tão clichê... Se sinta muito abraçada (4).
E sabe, é tão triste saber que a maioria de nós vai sofrer algum tipo de violência. E isso vai marcar a vida de uma maneira tao profunda, tão "inescapável"... As vezes parece que ta tudo perdido mesmo, mas não está... Mil beijos...

Sara disse...

Sei muito bem o que ela passa,nunca fui violentada mas sempre me humilharam por ser gorda.
Eu nunca tive auto estima muito boa,nem quando era magra,começei a engordar com 16 anos.
E desde que me lembro sempre tive vontade de me matar e isso pirou quando um garoto na escola que me zuava,começou a dizer q era apaixonado por mim,eu n acreditei muito mas com o tempo ,parecia ser verdade,ficava olhando pra mim direto,onde eu ia ele ia e enquanto isso os outros colegas idiotas dele continuavam debochando de mim,nunca fiquei com ele pela insegurança e por n saber se era verdade.
Ate um dia ouvi ele falando q eu era gorda e então pq n queria nada com ele.então ele achava q eu era uma merda e ele estava fazendo um favor olhando pra mim.

Fiquei o ano inteiro pensando em me matar,chorava todo dia,n ligava mais para as aulas e quase fiquei reprovada.
Depois de um tempo percebi q toda a minha raiva n era deles e sim de mim pq no fundo,eu concordava com eles,eu era mesmo uma porcaria.

Nunca falei nada disso pra ninguém,sempre chorava escondida e hj com 26 anos ainda n namorei e nem sei se vou .
Tento me odiar menos mas n é facil.

Demorei para conseguir emprego pq me achava um nada,então ninguém ia me contratar.
Auto estima é tudo mesmo,se eu gostasse de mim nada do que aquelesx lixos me disseram ia me afetar.

Eu melhorei um pouco,começei a pensar q era capaz sim de ter um emprego e só depois disso consegui um.

E de vez em quando volta a vontade de me matar,eu n sei se sou depressiva,pelo q eu ouvi a pessoa fica mal direto,eu fico uns 3 dias mal e depois melhoro.

Sinceramente quando vejo que alguem morreu na tv eu fico com inveja,acho injusto que tenha tanta gente q gosta de viver e morre,enquanto eu estou viva até hj.

Caroles disse...

Ai, Lola. Doeu meu coração.
Eu passei toda minha experiência escolar ouvindo piadinhas sobre ser gorda. E eu nem sou tanto assim. Não considero necessariamente bullying porque porque nunca fui excluída por isso, mas mesmo as meninas que quando bem jovem (até uns 12, 13 anos) eu considerava minhas ''melhores amigas'' usavam minha aparência física pra me xingar quando a gente brigava. Só fui ter amigas que não me enxergavam como ''a gorda'' a partir dos 15 anos... Daí eram só os meninos que me zoavam, claro. Mas eram meus ''amigos''. Isso tudo me deixou marcada psicologicamente. Eu não sou mais uma criança de 12 anos, nem uma adolescente de 15, já passei por muita coisa e li muita coisa e vi muita coisa, mas continuo me achando (sendo) gorda, e por isso feia, na minha cabeça. Ao meu ver ninguém nunca vai me querer, mesmo eu sabendo que isso não é verdade porque as pessoas já me quiseram e me querem. Ninguém sabe como me ajudar, já fiz terapia, tudo. Já aceitei que não me gostar faz parte de mim - mas teu blog tem me ajudado a mudar algumas coisas nesse sentido.
Enfim, toda essa introdução egocêntrica pra dizer que mesmo me sentindo triste comigo e às vezes me sentindo isolada, eu não consigo nem imaginar como é pra F. Mas sinto um certo alívio porque percebi o amor que ela recebe dos amigos e da família. Eu acho que ela ainda é jovem, 30 anos ainda dá pra mudar tudo... Ela tem que se agarrar nesse amor que ela tem ao redor dela e deixar todo o ódio pra fora. É muito difícil, mas eu acho que vale a pena tentar ser feliz. Ela é tão talentosa, uma pessoa boa... Não pode querer morrer cedo. O mundo precisa de all the good people it can get. Como um monte de gente disse, a vontade é de abraçar essa moça e dizer que vai ficar tudo bem. E vai ficar tudo bem.

Anônimo disse...

Olha, esse texto deixa qualquer pessoa arrasada.

Eu espero que você esteja recebendo ajuda profissional. Ter amigos, pessoas que a amam e que a gente ama, também nos dá força pra seguir em frente.

Espero que você fique bem.


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Ao Carlos, do primeiro comentário:

Sim, Carlos. Há uma certa constância no fato de que, mesmo pessoas fora do padrão físico de beleza imposto pela mídia e sociedade, que foram vítima de bullying por sua aparência, se sintam atraídas por pessoas dentro do padrão de beleza considerável ideal.

E isso só mostra que todos nós podemos ser vítimas dessa imposição excludente e totalmente inatingível para a maioria de nós no que diz respeito a aparência.

E outra: se sentir atraído por alguém muito bonito não é e nunca será o mesmo que maltratar alguém por não ser bonito. Ela merece gostar de quem quiser e é tão digna de ser gostada por pessoas consideradas bonitas quanto qualquer um de nós.

Bia disse...

Chorei lendo seu texto. Já sofri bullying por ser gordinha e apesar de não ter sido tão pesado quanto o que você sofreu, sei como essas coisas acabam nos afetando bastante. Torço do fundo do meu coração para que você tenha de volta sua vontade de viver e que você consiga superar todas essas coisas :) Um beijão e muita força pra ti :)

Anônimo disse...

F. Continue firme, acredite em si, veja o quanto já aguentou até agora, você é muito forte! O seu relato aqui já deve ter ajudado muita gente. Não desista de si mesma, tenha a esperança de que amanhã será melhor, mais uma oportunidade de ser imensamente feliz, que tudo o que você passou te fez mais forte e um dia isso não vai ser nada além de uma lembrança ruim. Com certeza você vale a pena!

Pecador disse...

Querida F.

Você disse que toda noite vc vai dormir desejando não acordar....

Mas todo o dia em que você acorda é um TAPA NA CARA daqueles que desejaram seu mal, e desejaram a sua morte por indiferença. Você SOBREVIVEU 30anos....tá na hora de começar a VIVER....

VIVA PELO MENOS MAIS 60anos pra assistir a maioria dos BOSTALHÕES que você conheceu padecerem e morrerem do próprio veneno de suas miseráveis almas.

VIVA...
um abraço.

Pecador disse...

Amanacy --

não perca tempo com o anônimo das 17h12, porque aparentemente é só uma pessoa que VOMITA ódio sobre religião. Essa pessoa desconhece estudos psicológicos/psiquiatros, além de estudos sociológicos, e aparece aqui pra dizer que religiosos é que são ignorantes.

Seu comentário foi muito interessante, e me fez (um pouco tardiamente) recordar sobre um estudo a respeito das mulheres da África subsariana, que estudava o fato de que elas em estágio final de inanição (onde é impossível movimentar qualquer membro do corpo) e concomitante à própria morte, ainda davam a luz a mais de 1 (um) filho.
O estudo indicava que o "grito" de sobrevivência, não é apenas psicológico, mas uma das muitas funções físicas (e desconhecidas) do corpo humano.

Infelizmente não possuo o artigo, o caso me foi comentado por uma colega (professora) Socióloga.

Paola disse...

Querida, sinta meu forte abraço, mesmo q de longe...
A parte boa da história é q vc tem pais bons e amigos q se importam com vc, e eles fazem toda a diferença (boa) na sua vida.
Se as coisas estão mto difíceis, tente fazer terapia, pode te ajudar bastante a lidar melhor com os seus traumas e a ter uma vida mais feliz e com menos dor.
Vc é mto nova ainda e merece ser mto feliz.
Torço para que essa guerreira q tem dentro de vc se mostre cada vez mais presente.

Jéssica disse...

Me desculpe mudar um pouco o assunto, mas isso me deixou com raiva:

"um estudo a respeito das mulheres da África subsariana, que estudava o fato de que elas em estágio final de inanição (onde é impossível movimentar qualquer membro do corpo) e concomitante à própria morte, ainda davam a luz a mais de 1 (um) filho."

Certo.

Ou eles deixaram uma mulher morrer de fome na frente deles, e obtiveram dados da observacao.

Ou eles entrevistaram pessoas que viram alguma mulher, provavelmente um ente querido, morrer na frente deles, aumentando mais ainda o trauma dessas pessoas.

Acho altamente improvavel que esse estudo tenha sido realizado sem ser por uma dessas duas tecnicas.

E' mesmo necessario saber o que acontece no corpo humano quando ele morre de fome? Para que uma informacao desse tipo e' util?

E' cruel.

Marina P disse...

F., você é uma sobrevivente e fico muito feliz de poder ler seu relato pois sei que com ele você está ajudando outras pessoas que também passaram por situações de violência e todos os leitores de modo geral.

Hoje eu recebi, encaminhada da Vara de Infância uma paciente adolescente, de 15 anos, que foi estuprada pelo padrasto. Psicoterapia, é o que pedem. Você não imagina o numero de pacientes assim que o serviço de Psicologia onde eu trabalho recebe em um mês. Agora que estamos triando direitinho todos os pacientes que chegam ao serviço de Psicologia eu incluí varias perguntas diferentes (e incomuns) no questionário que usamos para fazer a estratificação de risco; uma delas fala sobre abuso sexual (de todos os tipos). Estou tabulando os dados dos questionários preenchidos pelos pacientes nos últimos 6 meses e até agora o resultado é alarmante: 23% das pacientes declararam ter sido estupradas. Não sei exatamente o que elas chamam de estupro, mas pelo pouco que analisei parece que só dizem que foram estupradas as pacientes que passaram por estupros com penetração vaginal e/ou anal. Isso quer dizer que o número real provavelmente é muito maior. Esses dados ainda não têm nenhum tratamento mais cientifico, são uma simples análise superficial, mas estou considerando a possibilidade de fazer um mestrado usando essas informações. Por enquanto o que eu fiz foi voltar grande parte da minha atuação para a prevenção e combate a violência de todos os tipos. Trabalho muito com grupos terapêuticos somente com mulheres e o abuso sexual é um tema recorrente nos relatos. Na faculdade nenhum dos meus professores indicou um texto que fosse sobre esse assunto e isso é preocupante. O que eu sei sobre esse assunto veio das minhas leituras, da minha especialização na área e da experiência no SUS.

Espero que compartilhar o seu relato aqui no blog seja mais um passo no seu caminho de superação de tudo o que aconteceu. Todo meu carinho e meu afeto vão para você hoje.

Anônimo disse...

Sem palavras, menina.. Como essas coisas têm impacto em nossas vidas! E como poderia ser diferente?
Olha, respeito muito teu sofrimento. Que injusto alguém julgar ter o direito de fazer conosco algo que só na cabeça desses seres é sexo! E a vontade do outro?
Olha, há pouco minha mãe viu falecer seu cunhado, que abusava dela quando ela era criança, e o que poderia ser libertador, trouxe a tona a sensação de impunidade que ficou. Conversamos muito sobre isso e ela disse que doeu muito saber que todos o achavam um homem de bem e não sabiam o que ele tinha feito.
Como te disse, respeito muito as marcas que essa agressão deixaram em ti, mas pelo que entendi, tú estás longe de ter superado. Não seria pela sensação de impunidade? Olha, o hotel pode fornecer informações sobre ele, nem que seja através de ordem judicial. Pode até não resultar em prisão (não sei como funciona isso), mas seria a oportunidade de as pessoas saberem (e ele refletir sobre) o mal que causou. Será que não tá na hora de esse cara ter sua vidinha mimosa virada do avesso, também? Sou de Porto Alegre, e no que eu puder ajudar, estou aqui. Julia

Ana Carolina disse...

"E' mesmo necessario saber o que acontece no corpo humano quando ele morre de fome? Para que uma informacao desse tipo e' util?"

Para curar outras pessoas que estejam morrendo de fome?
Algum especialista pode esclarecer melhor, mas a inanição em seus estágios finais já não tem tratamento. O corpo não responde ao tratamento.
Então essas pesquisas são úteis, utilíssimas, para no dia em que houverem outras pessoas morrendo de inanição, elas possam ser salvas.

Pecador disse...

Jéssica...

Sim...o mundo é muito mais cruel do que você havia pensado...

"E' mesmo necessario saber o que acontece no corpo humano quando ele morre de fome? Para que uma informacao desse tipo e' util?"

Não sei se você está questionando de fato a importância da pesquisa científica, ou fato de eu ter postado isso como exemplificação....mas vamos lá...
Do meu ponto de vista (e posso estar enganado em uma série de coisas) essa informação é tão útil quanto saber como uma doença como a AIDS, câncer entre outros quadros clínicos se comportam no organismo humano (excluídas, a priori, as causas -- sociais, políticas, entre outras, causadoras diretas ou indiretas do quadro).

"Ou eles deixaram uma mulher morrer de fome na frente deles, e obtiveram dados da observacao.
Ou eles entrevistaram pessoas que viram alguma mulher, provavelmente um ente querido, morrer na frente deles, aumentando mais ainda o trauma dessas pessoas."

O mesmo só não se aplica ao suícidio, porque o suicídio (pelo menos esse tipo) o qual estamos considerando é do tipo "egoísta" -- ocorre longe das vistas de outros....Mas eu falei de África subsariana!!!...lá homens e crianças também morrem de inanição...e no estágio final há muito pouco o que se fazer, porque quando o corpo começou a se consumir, há uma mudança na química do cérebro e mesmo a alimentação comum se torna nociva. É possível (mas muito complicado) fazer retornar o quadro.
Aí a questão é olhar, estudar, tentar reverter o quadro. O pior seria NÃO OLHAR e esquecer, como o resto do mundo faz. De qualquer maneira, eu disse que a informação me foi passada em meio acadêmico, mas não tive acesso ao estudo, pra confirmar a veracidade.

Em suma. Toda moeda tem dois lados.

É cruel....mas é CIÊNCIA. Um lado mais obscuro ainda é considerar que se usam ratos de laboratório sem dó alguma, seria inocente pensar que não usariam humanos, em um país, e em uma condição esquecida pela humanidade (pra testar uma série de medicamentos), isso é só a ponta do iceberg.
Será que todo mundo que testa as novas medicações (mesmo no mundo dito civilizado) é voluntário?

E nem por isso eu vejo gente aqui levantando a bandeira contra a ciência(Ironia mode on).
Porque afinal a ciência não é ruim...ruim são as pessoas que a usam de modo sórdido (fato).

Mesmo no Brasil a inanição ocorre, com menos frequência agora (}até onde eu sei), mas ainda ocorre.

Ana disse...

Força, F! Desejo que as coisas melhorem pra você.
Nem consigo imaginar o que deve ser passar pelo que você passou, mas já tive probleminhas de auto-estima. O que sempre me ajudou: pensar nas pessoas que eu amo e que me amam também e me lembrar das coisas que eu já conquistei.
Parece bobo, mas pra mim existem duas coisas que dão um pouquinho dessa sensação todos os dias: cozinhar e fazer esportes. Acho que é porque são coisas simples, em que é possível se aperfeicoar facilmente (ao menos pra mim) e as melhoras se notam bem facilmente também. Conheço gente que sente isso desenhando, cuidando do jardim ou até arrumando a casa.
Deve existir algo que você goste, e que te dê um prazer que seja só seu. Acho que é bom se refugiar nessas atividades, às vezes. (já perdi algumas noites por sentir uma necessidade urgente de assar biscoitos).
Como eu não tenho uma história parecida com a sua pra contar, vou mandar o link de uma entrevista com uma moça que conseguiu superar problemas que acredito serem semelhantes aos seus e aos de muita gente.
http://revistatrip.uol.com.br/revista/196/reportagens/ela-tem-a-forca.html

Anônimo disse...

Sofri grande parte da infância e adolescência por causa de bullying. Era gorda e ganhava todos os apelidos possíveis. É claro que isso afetou a minha autoestima e afeta até hoje. Sofro com "efeito sanfona" e, quando engordo, me sinto uma pessoa horrível. Não imagino o sofrimento que deve ser passar por isso tudo e ainda ser violentada. Eu espero que sua vida melhore, F. Que você consiga equilíbrio e felicidade. Saiba que você vale muito e vale mais do que essas coisas terríveis que aconteceram com você. Há muitas pessoas horríveis no mundo, mas também há pessoas maravilhosas. Sei que a vida pode parecer um fardo pra você, mas acredito que você pode conseguir mudar essa situacão. Um beijo,

Anônimo disse...

Acompanhei os comentários sentindo uma emoção gigante pelo carinho de todos, se eu imaginasse essa reação, teria tomado coragem antes de contar minha história.

Aos que perguntaram se estou tendo acompanhamento: estou, faço terapia há 4 anos (já passei por outros profissionais antes, mas agora estou com um maravilhoso que confio mais do que em mim mesma). Psiquiatra ainda não consegui me acertar, nem medicação, já troquei várias vezes, mas tenho me virado bem.

Faço parte de grupos de pacientes TPB e acabei fazendo outras amizades incríveis, compartilhando vivências, dando e recebendo ajuda. Também me tornei uma ativista atuante de causas sociais e isso me faz bem, uso as palavras como "arma" e já consegui mudar algumas mentalidades.

Depois de todos esses anos, recentemente concluí que meu estuprador é um desses casos de "ele não sabe que é um estuprador", me dei conta que na cabeça dele, era óbvio que rolaria sexo, já que fui à sala com ele. Na minha era claro o contrário, mal nos conhecíamos. Não que isso vá apagar o trauma e a dor, mas estou em um processo de perdão. Talvez ele seja mais um cara que foi ensinado que pode ter sexo quando quiser. Não o isenta de culpa, mas diminui, na minha cabeça, a sensação de que fui vista unicamente como uma vagina.

Não me sinto confortável em denunciá-lo, se foram 14 anos, acho que tentar uma denúncia agora provocaria toda uma nova humilhação, acho que tentar perdoá-lo de alguma forma pode ser o segredo para seguir em frente.

Infelizmente o border não tem cura, mas a ajuda que recebo, principalmente dos meus melhores amigos, tem feito os sintomas recuarem, sutilmente, hoje sou uma pessoa muito mais consciente do que imaginava que poderia ser, há 4 anos, quando fui diagnosticada.

Fico satisfeita de saber que minha história pode ser útil para ajudar outros. E quero que saibam, todos vocês que comentaram de coração aberto, que vocês fizeram muita diferença para mim. Me senti acolhida, compreendida, me senti genuinamente abraçada. Isso não tem preço.

Toda história tem dois lado, esse é o segundo lado da minha: o lado que passo de vítima a agente ativa da minha própria vida.

Estou viva. Sofro com minhas crises, inclusive reforço uma pessoa que comentou sobre como é ser borderline, é exatamente assim que fico - carente e paranóica, mas estou aqui. Todo dia é uma luta, e, como também foi comentado, saio vencedora 365 vezes ao ano. Isso tem que significar alguma coisa.

Muito obrigada.

Com todo coração,

F

Leonardo disse...

Acho que o Carlos, do comentário lá em cima não entendeu a ironia quando ela fala do "moreno alto".

Não sou blasê disse...

Sabem, fico absolutamente impressionada com a quantidade de depoimentos semelhantes que esse blog consegue agregar.
Considero importantíssimo que seja possível espaços em que as pessoas possam relatar suas histórias.
Mas os número são tão, tão impressionantes, né? Fico assustada e muitas vezes, sinto-me impotente.
Mas creio que a possibilidade de encontrar um refúgio, de poder ver que você não está só e a partir daí esboçar algum tipo de reação positiva seja maior do que qualquer reação "não, não quero saber de mais nada sobre isso". Porque fugir ou ignorar não faz com que essas coisas desapareçam.
É preciso saber. É preciso saber pois tanta violência só é possível se é naturalizada. E nesse processo de naturalização todos nós fazemos parte.
Tornar nosso olhar cada vez mais amplo e compreensivo, muitas vezes pode parece uma maneira meio frágil de fazer frente a todo esse horror. Mas não é não.
Sei (pelo menos suspeito que sei) como funciona a complexa alquimia social para mudança de perspectivas e comportamentos. Não é de uma hora para outra.
Mas não há um dia em que eu não deseje que algum elemento mágico surja e torne possível que todas, absolutamente todas as pessoas desse mundo possam compreender que nossa própria felicidade depende MESMO da felicidade e bem estar do outro.
Enquanto isso, continuemos...
Só assim é possível continuar.

Marina disse...

Marina P. , eu tbm sou Marina P., psicóloga tbm, rs fiquei interessada no seu trabalho! Se puder, me manda um e-mail: mari.psico05@yahoo.com.br.

Marina P disse...

Marina (que também é P... rsrsrsrs). Te escrevo hoje à noite, ok? Os dados ainda são bem informais, mas posso te passar meu artigo da pós em combate à violência com o estudo de caso de uma pcte que passou por incesto praticado por seu avô. No mais, trocaremos figurinhas, tá?

Abço

Rebeca disse...

"junto toda a fé que me resta e peço a quem quer que seja que está lá em cima, se tiver alguém, que não me permita acordar"

Gostaria de dizer à F que Ele vai te ouvir um dia, quando for a hora e que também vai te dar forças, porque vc ainda tem muita pelo que percebi, enquanto você acordar todos os dias. espero que esse seu desejo de não passar dos trinta sej asó isso mesmo, um desejo, e não um plano para dar cabo á sua vida. Se vc aha que tem todos os motivos para não mais viver, viva extamente por isso! Viva! Você mesma disse que tem uma família incrível, amigos maravilhosos, viva, que seja por eles, mas principalmente por vc mesma. Tal como sua ginecologista, tenho lágrimas nos olhos agora... :)

Rebeca disse...

Coloquei um link para o seu blog em uma postagem minha, Lola, e acabei escrevendo um poema para F, espero que leiam:

http://escrevendopraviver.blogspot.com.br/

Tayná disse...

Durante minha infância, sofri bulliyng por ser um pouco acima do peso, não muito, mas o suficiente para ser hostilizada. Era uma fase muito ruim da minha vida, onde não me dava bem com minha vó e minha mãe morava em outra cidade, então a via raramente e usavam até isso contra mim.
Com 11 anos, depois de uma "brincadeira" que meus "amigos" fizeram comigo em uma festa de aniversário, tentei o suicídio pela primeira vez com remédios e na semana seguinte de novo, tentando me jogar na frente de um carro, porém fui segura por um aleatório na rua. COm a depressão, engordei muito, hoje sou obesa.
Passei a me cortar constantemente. Tenho marcas nas pernas com coisas como "fat, gorda e feia". Só a dor física, diminuía a minha dor emocional.
Hoje eu tenho 19 anos, quase 9 anos depois, ainda enfrento constantemente minhas crises de autoestima. Não me acho bonita, não me acho atraente, não tenho ânimo de me arrumar. Me tornei uma guria tímida, desanimada. Sempre antes de dormir também me pergunto por que ainda estou viva. Não consigo ficar com ninguém, tanto que meu relacionamento mais duradouro durou 4 meses. Tenho medo das pessoas.
Comecei até a faculdade de psicologia para tentar entender a mente humana. Tentar entender o "prazer" que eles sentem quando nos humilham, quando nos fazem sentir um lixo.
Nem terapias fizeram com que eu aprendesse a me amar. :(

Pecador disse...

Olá R.B...

Por favor não me leve a mal...(por favor mesmo)sei que sua intenção é boa...mas sua frase...

"Ele vai te ouvir um dia, quando for a hora e que também vai te dar forças"

É um pouco fora de contexto pela própria ótica da história. Se ela (a F.) tem essa fé...é certo dizer que "Ele" já ouviu, e a hora é sempre o agora, momento no qual ela permanece viva. Porque mesmo com a ajuda de amigos e família, e contando somente com suas próprias forças, outras pessoas ainda se matam. Mas ela não.

Não existe estudo científico, nem conceito religioso, que DETERMINE por que uma pessoa deseja sua própria morte....mas existem INÚMEROS motivos para se permanecer vivo. Quando ela abre os olhos todos os dias, abre pra enxergar tais motivos, segundo a sua fé (R.B) você não vê a resposta "Dele" nesse fato?

Ela não tá esperando uma carta, um cartão, uma voz vinda do céu...ou que anjos lhe entreguem uma mensagem (bom..espero que não...hehehe)...ela conseguiu até o momento, acordar e viver mais um dia. Agora o resto é busca incessante pela felicidade (que todos buscamos).

Me desculpe escrever, é porque frases assim sempre remetem a um deus que fica lá..paradão sem fazer nada, ouvindo o povo gemer de dor...e um dia....um dia...ele responde.
Acho que mesmo sua fé, não apreciaria se fosse desse jeito.
Só a F. sabe dos pequenos milagres das os quais ela tem que enxergar e se apegar pra continuar respirando.

PS: a R.B:
Li seu poema, achei algumas partes muito interessantes.

Abraço a todos.

Marcelle disse...

Como uma pessoa que sofreu muito bullying na escola, eu fico me perguntando: qual é o prazer que as pessoas têm em fazer outras pessoas se sentirem mal? Eu fui xingada de tudo: saco de merda, baleia, bujão...Tem como uma criança/adolescente passar por isso e não ser afetada? Hoje sou uma mulher de 30 anos, emagreci, faço terapia, mas ainda tenho dificuldade de me relacionar com as pessoas, principalmente com os homens. Se algum homem olha pra mim, já acho que ele está procurando um defeito em mim, vendo minhas imperfeições...
Sei que o que a F relatou é muito grave, o abuso, mas acho que a pressão psicológica que muitas crianças sofrem também é terrível para a autoestima. F, fique com todo o meu carinho.

Camila disse...

Acho difícil, atualmente, encontrar alguém que não tenha sofrido bullying em alguma parte de sua vida. Muita gente que sofre tem vontade de praticar como forma de se sentir melhor.
Quando eu tinha uns 6, 7 anos fiz amigas que me zoavam por ser gorda (inclusive uma delas era gordinha também, era zoada também e me zoava da mesma forma), e comecei a comer mais ainda, toda tarde me entupia de besteiras, era tudo menos saudável.
Hoje em dia sou gordinha do mesmo jeito, porém saudável. Me esforço pra me amar e me aceitar, e passar a mesma mensagem para outras pessoas.
Então, F., tudo que eu queria depois de ler esse relato era te dar um abraço. Espero que cada dia que acorde, perceba que se sente um pouco melhor. E que, não importa o quanto ainda viva, aproveite esse tempo o máximo que puder.
Muitos beijos.

Lorena disse...

Estou impressionada com o fato de você (Lola) ter postado esse desenho do olho, porque ele foi feito por uma amiga minha que tem TPB. O_O"

Anônimo disse...

eu nao fui abusada sexualmente, mas me identifiquei muito com a historia da F. (e pelo visto varias outras pessoas nos comentarios tambem).

fui muito rejeitada e sacaneada por ser gordinha, mesmo me esforçando muito para emagrecer. pesava uns 80 ou 90kg e me tratavam como se eu fosse uma aberração de circo.

como a autora, tb negavam a minha feminilidade, se alguem se aproximava de mim dando a entender que gostava de mim, era sempre deboche.

eu era perseguida por grupos de vários garotos, a grande diversao deles era me sacanear. alias, todos os homens q eu conheci na vida eram imbecis querendo me sacanear, à exceção de um.

e até mesmo minhas "amigas" achavam que ser gorda era a pior coisa q podia acontecer a elas (nao as culpo totalmente, as mulheres sao ensinadas a serem neuroticas com o proprio corpo mesmo q elas sejam magras) e eventualmente me xingavam de gorda se a gente brigasse.

quando criança, eu me lembro de conseguir me achar bonita, gostava de tirar foto. durante a adolescencia eu praticamente nao tirei fotos pq me achava horrivel em todas (e pq nao tinha vida social). me dói saber q eu nao tenho recordaçoes daquela fase da minha vida em que eu era bonita e nao sabia

acabei me tornando alguem nada sociavel, que odeia as pessoas, odeia eventos sociais, tem medo o tempo todo, desconfia de todo mundo e só consegue sentir afeto pela propria mae (a unica pessoa que nunca vai me sacanear nessa vida).

tive um namorado, mas ficava o tempo inteiro tentando entender oq ela via em mim e pensando quanto tempo ele ia demorar ate perceber q eu era uma merda. as vezes nao queria q ele me olhasse e me tocasse, pq eu tinha nojo de mim. acabei me afastando dele e nunca mais namorei ninguem (e nem quero).

hoje eu tenho 25 anos hoje e engordei 50kg, ou mais. me acho horrivel e nao tenho a menor pretensao de ser desejada por ninguem. a minha vida é um fracasso em todos os campos, nao tenho amigos, nao consigo o emprego que eu desejo, me arrestei pela faculdade sem o menor ânimo.

alias, foram esses 2 fatos q me fizeram ficar deprimida engordar tanto: o fim do namoro e a perspectiva de nunca ser amada, nunca casar, nunca ter companhia para viajar, nunca ter filhos (felizmente tenho me recuperado desse sentimento depois q me tornei feminista) e o fracasso na faculdade/trabalho (no colegio eu era uma boa aluna, cheia de planos de sucesso, e me resignar a ser mediocre e nunca ganhar dinheiro me deprime). alem disso, minha mae piorou de saúde e tenho muito medo q ela morra, pq ela é minha unica fonte de afeto e companhia.

muitas e muitas vezes eu desejei nao ter nascido, ou que eu simplesmente ja fosse bem velha e estivesse esperando a minha hora de morrer. se eu tivesse uns 70 anos, acho q me sentiria mais livre, menos vigiada pelo meu corpo/beleza/falta de macho. me irrita demais isso, me sinto limitada, nao me sinto bem para ir a uma simples piscina ou fazer uma aula de dança, q eu tanto adoro.

nao penso em me matar ou me cortar pq sou covarde e nao gosto de sentir dor. mas eu nao tenho o menor gosto pela vida da forma como ela é hoje. acho q no dia q minha mae morrer, vou me matar.

Morg. disse...

Me solidarizo com a sua história amiga, também poderia ser minha. Alias, o que difere é a forma com encarei tudo isso, todo o preconceito que sofri. Aprendi muito com ele, cada lagrima que derramei me fizeram mais forte. E a vida também me presenteou com um amor de verdade. Tenho 26 anos, casada, me formando em Serviço Social e feliz com meu manequim 46. Os 4 anos de terapia na adolescencia deram resultado. Se essa é a sua escolha de verdade,tudo bem. Mais se não for, se essa solidão for so uma fuga, saiba que a força pra mudar vem é de vc mesma, não de fora.
PARE DE COLOCAR NAS MÃOS DOS OUTROS A SUA FELICIDADE!
^^

Anônimo disse...

Anon 05:09, queria dizer que li seu relato e me identifiquei em muitas passagens.
Sua vida pode tomar ainda tantos rumos... assim como a minha.
Eu não vou desistir, não. Nem a pau. Espero que você faço o mesmo.

Anônimo disse...

Linda, eu me solidarizo contigo (óbvio) mas meu comentário aqui é pra outra coisa.
Na boa, na pele de quem já foi estuprada: você é vítima da violência, certo, mas de mais nada. Você não é vítima do teu corpo: você constrói o teu corpo. Para com esse lamento de "eu sou gorda, a sociedade me odeia". Ok, adapte-se. A gente não vive no mundo ideal. Você mesma admite que usa a comida para resolver a ansiedade. Má escolha. Vai correr, fazer música, ocupe-se. E construa o corpo que você quer ter. Forte, como forte pode ser a tua mente. Vai fazer terapia, toma remédio se for o caso, mas toma as rédeas da tua vida. Você foi vítima uma vez, não precisa ser todo dia.

Anônimo disse...

anônima de 01:51, obrigada. eu tb nao quero me matar, mas muitas vezes eu gostaria de nao existir, gostaria de ficar em paz para reencontrar a minha paz. força pra você também.

Anônimo disse...

Anônimo das 18h58

Sério?
Sério que você basicamente disse "ah, deixa de ser fresca e supera"?
Obesidade, em muitos casos, é uma "defesa" psicológica contra a sexualidade, fora que obesidade é doença, uma pessoa não simplesmente acorda um dia e diz "vou subsituir minhas frustrações por exercícios, yay, minha vida tá resolvida".

Você banalizou o problema (sério) da menina.

E não só, ignorou o diagnóstico psiquiátrico dela, e ignorou o que ela escreveu depois, nos comentários, sobre estar fazendo terapia.

Você assume que ela foi vítima do estupro, da violência sexual, mas renega todo o resto como se ter sido emocionamente torturada uma vida inteira não significasse nada. A maioria dos comentários aqui, inclusive, destacaram o poder de destruição do bullying e você acha que, tirando o estupro, ela está se fazendo de vítima?

Desculpe Lola, mas as vezes eu prefiro os mascus troll a esse tipo de coisa, pelo menos eles não foram feitos para serem levados a sério, e eu considerei, pessoalmente, esse comentário mais insensível do que o do Carlos, lá no começo.