terça-feira, 23 de junho de 2009

UM POUCO DIFERENTE


E tem este comercial, recomendado por duas leitoras, que rompe um paradigma. Interessante porque poderia ter sido feito com um negro no lugar da mulher, ou qualquer outra minoria historicamente discriminada. Compare com aquela babaquice (habitual) do Stillo, de uma mulher ir com outro cara por causa do carro que ele dirige. Mas, mesmo assim, neste do Fusion, ainda não é a mulher no volante. A gente pode in
terpretar que quem está no volante (no leme, como diz Maria Mariana) é quem está no comando (e repare como, num almoço de negócios, ela não come). Ou eu que estou tão distante dessa realidade de chofer que não consigo nem compreender a relação de poder? Note o slogan “Quem dirige o novo Ford Fusion fez por merecer”. Quem tá dirigindo não é ela. O slogan não contradiz as imagens?
Bom, dois terços do comercial são típicos. Há os detalhes do carro, música de poder, mensagem de que o produto é para poucos, e se você está entre esses “happy few” (os raros felizes), é porque você mereceu, você lutou e venceu, que é bem o que acredita quem tá contra o sistema de cotas na universidade, por exemplo. Mas todo mundo se esquece do outro lado: o Bill Gates mereceu estar onde está, mas a menina pedindo esmola na rua e se prostituindo pra sobreviver também mereceu estar onde está, certo? Não funciona só pro Bill Gates. A meritocracia é pra todos.
Não estou dizendo que não gostei do comercial. Gostei. Mas o conceito de “merecer” é elitista demais pro meu gosto. O sistema permanecerá o mesmo, ainda que, no mundo da ficção, a moça branca, jovem e bonita (ou seja, totalmente dentro do padrão) tenha um chofer.

42 comentários:

anália disse...

Oi, Lola!
Não gostei. O que eu entendi: o cara está apaixonado por ela, se vê daqui a 5 anos dirigindo o carro de seus sonhos com a mulher que ama a seu lado. Ela percebe que ele esta a fim, e meio que se aproveita disso: ela se vê daqui a 5 anos sendo servida pelo cara que gosta dela. Acho muito ruim essa mensagem...
E realmente, o dirigir está esquisito.
E tb não gosto dessa história de merecer tal coisa. Eu devo consumir isso porque eu mereço!´
Bjs,
Anália

Masegui disse...

Eu vejo a coisa assim: O cara sonha com um carrão e uma mulher linda ao seu lado (até eu que sou bobo). Já a mulher quer ascensão profissional, o carrão (motivo do comercial, claro) e no caboclo como seu motorista.

Pode ser muito simplório, mas é isso que eu acho que o comercial transmite.

Ps.: pelo visto as pesquisas do google sifu...

Anônimo disse...

Não posso deixar de observar a diferença de "ângulo" com que é analisado o comercial dependendo de quem o analisa, se homem ou mulher, independentemente de ser "macho" ou "fêmea"; é uma questão realmente de gênero, e não que um seja necessariamente melhor que o outro. Repito: diferença. E diferenaç não implica necessariamente erro. Pensei exatamente como o Masegui expôs, e o fez com concisão e correção (do meu ponto de vista). João

Lord Anderson disse...

Ola Lola, concordo com a maioria das suas observações ,mas não com a de que a meritocracia seja elitista.

Nada na vida vem de graça, e não me refiro a coisas materiais, dinheiro, etc.

Conhecimento, prazer, amizade, amor... todos são "coisas" pelas quais temos que nos esforçar, lutar p/ conseguir, ampliar, manter...

Desprezar o conceito de "conquista" é desprezar todo o esforço que colocamos naquilo que consideramos importante, pelo qual lutamos.

Veja o seu depoimento sobre sua defesa: vc mesma não achou que "mereceu" uma nota maior? vc tb não ficou desapontada por não ver o seu esforço devidamente reconhecido? tb não queria ser premiada de acordo com o seu merito?

Então como considerar a meritocracai como um conceito deireitista desumano?

Quanto ao exemplo sobre Bill Gates e a menina de rua, vc disvirtou a questão. Ela não "mereceu" estar lá. apenas não teve as oportunidades que ele teve.

Em vez de cruficar gates pelo que ele conseguiu , eu acho que o correto é lutar p/ que menina tenha a chance de batalhar por seu proprio "sucesso" (entre aspas, qpq isso é algo pessoal, e o senhor microsoft não precisa ser o modelo)

Fora isso, bom ver vc de volta com a rotinas de varios posts.

Babi disse...

Do comercial eu gostei, só o slogan que é muito ruim... Eu sempre usei essa frase "fez por merecer" num sentido ruim, normalmente quando algo ruim acontece a alguém que nao tem atitudes boas... Por isso nao entendo, o carro é tao ruim assim, ou só os publicitários???

Unknown disse...

A Lola acha q todo negro merece entrar na facu pq foi escravo em vidas passadas... e eu pensava q inteligencia era necessario.. agora que vi pelos comentarios de quem nao ficou satisfeito com nota de monografia..... estudo sequer é importante...

Gabriela disse...

odiei esse comercial, meu namorado chego a fala "nao quero ter esse carro POR CAUSA dessa propaganda (se tivesse dinheiro ehuahe) enfim, nao sei que que os caras que fazem esse tipo de coisa pensam, eh triste.. a melhor propaganda no ar atualmente eh a do mercado livre que o cara quebra tudo ehaueh acho mt boa :D

Tina Lopes disse...

O slogan é péssimo e a mulher merece um chofer por quê? Não tem talento pra dirigir, pra apreciar os detalhes do carrão. Pode até ser bem-intencionado mas achei um comercial babaca. Mais um.

Andie disse...

Ei Lola! To de volta ao seu blog! Ao menos ate o final do verao hehe

Me parece que carros ainda sao o "ultimate" simbolo falico, e mesmo quando tem uma mulher no voltante, ainda assim estamos falando do "phallus." Sera que tem jeito de mudar isso?

Juliana Felipe disse...

Ai Lola. Eu já tinha visto o comercial... aliás isso é uma coisa que me irrita profundamente, esse discursinho de quem consegue alguma coisa na vida e só pq fez por merecer... Tipo "dois filhos de francisco" que conseguiram sucesso e uma dinherama às custas de muitas tentativas, a perda de um irmão e blá blá blá... e os outros milhões de duplas sertanejas que tentam um barzinho pra tocar e cantar e ganhar uns trocos? É, provavelmente eles NÃO MERECEM a fama e o dinheiro... Fácil de explicar...
Tá difícil mudar esse mundo né, Lola?

Lord Anderson disse...

Flor, talvez, só talvez, eles realmente não "mereçam", talvez eles não tenhma tido o talento, ou não tiveram o tino comercial de saber aproveitar a opurtunidade que podem ter aparecido.

Ou vc acha que talento e esforço não merecem ser reconhecidos e aprovados?

Somnia Carvalho disse...

Querida Lola. Assim que vi o post vi primeiro o video porque nao gosto de ser "dirigida" nos meus pensamentos sobre um comercial ou qualquer coisa que seja. Dai que odiei o comercial... rs..

Quando ele pergunta pra mocinha o que ela onde ela vai querer estar eu ja imagino a cena, foi automatico pra mim: ela, claro, dirigindo o carro na companhia dele. Ou imaginei ela dirigindo sem ele... O comercial cria a expectativa de que os dois são colegas de trabalho, com capacidades iguais e ganhos iguais... então nao entendi bulhufas como uma mulher indepedente, inteligente e bonita vai achar graça de usar chofer. Juro! é tão elitista e no mundo da fantasia que pra mim passaria batido de idiota!

L. Archilla disse...

quando vi a propaganda, no sentido do machismo, achei uma coisa dúbia. porque sim, mostra uma mulher na mesma posição q dois homens, e parece q ela dá uma "rasteira" no cara em termos de "planos futuros"... pq ele só pensa em TER o carro, ela pensa em TER o carro e ainda por cima um chofer... que por sinal é o seu colega de trabalho; logo, ela vai ser tão rica, mas tão rica, q o empresário q hj é colega dela, um dia vai ser chofer!

por outro lado, ficou um pouco daquela imagem do "homem no comando", mesmo. "homem dirigindo". de alguma maneira, ele está no controle.

levando só isso em consideração, acho a mensagem boa. "boa", claro, levando em conta q é um comercial, e comerciais nunca são bons como um todo.

agora, a questão do merecimento é de lascar. não se trata de não levar em conta o merecimento. é claro q tem pessoas de origem humilde q conseguem subir na vida, e isso é resultado, entre outras coisas, do esforço de cada uma. mas dizer q é SÓ pelo esforço é piada.

Deborah disse...

http://aqueladeborah.wordpress.com/2009/06/23/vida-de-madame/

Obrigada Lola, me inspirou pra escrever sobre este comercial (link acima) :D

Lembro que quando vi na TV fiquei muito brava.

Juliana Felipe disse...

Anderson, claro que o esforço e talento devem ser reconhecidos,não questiono isso e sim o fato de existir uma imensa legião de ótimos artistas no anonimato que o são não por falta de talento... mas geralmente por falta de um "empurrãozinho",que nem sempre significa reconhecimento e sim jogadas em que quem ganha muito mais não é o artista... dura realidade da arte no nosso país, só isso.

Lord Anderson disse...

Flor.

Não discordo quanto a isso. E não vale apenas p/ a questão artistica, mas sim p/ inumeras outras profissões e opurtunidade de vida.

Só não acredito que esses casos sejam motivos para considerar a valorização do merito como uma coisa de direita elitista (redundancia eu sei), quando oq deveriamos fazer é lutar p/ que todos tivessem chances iguais, opurtunidades justas, e quem sobressai-se fosse realmente os melhores.

Andie disse...

Comentario numero dois... lembrei de um comercial que anda me matando de raiva ultimamente. Nao sei se passa por ai, porque acho que as batatinhas da Flat Earth nao sao vendidas no Brasil, mas eh irritante como o comercial explica o suposto mundo das mulheres

Juliana Felipe disse...

Anderson, entendo o que diz.

Acho que então as questões são duas:

Uma é se a valorização desse mérito é algo elitista ou não e

a outra é a questão das oportunidades... certo?

Como disse, entendo seu raciocínio, o que me preocupa é que o modelo de sucesso disseminado é o mesmo para pessoas pobres, que lutam para sobreviver, para botar comida no prato dos filhos e para as pessoas mais abastadas, que têm menos degraus a galgar quando a questão é conquistar algo que se deseja...

Meu enorme descontentamento é esse.

É triste saber que uma população tão sonhadora e esforçada tenha que depender da sorte...

Entende?

Lord Anderson disse...

Entendo sim, muito.

Meus pais foram agricultores por quase toda a vida. Eles e minha irmã mais velha se sacrificaram muito, em todo tipo de colheita, inclusive em usina de cana de açucar, p/ que os filhos mais novos pudessem ter um chance de vida digna.


Vc esta totalmente certa (ou ao menos assim eu penso) ao dizer que são duas realidades completamente diferentes entre aqueles para quem exito é ter comida p/ mais um dia e aqueles que lutam p/ comprar um iate.

Para mim valorizar o merito é algo bom, como elogiar uma criança que se esforçou p/ conseguir um dez na prova, ou p/ construir um carinho de madeira, só é preciso rever oq nossa sociedade considera como merito e sucesso e fazer mais pessoas terem mais chance de alcança-lo qualquer que seja a forma que ele assuma.

Aline disse...

O que achei interessante nesse comercial, e o motivo pelo qual deixei o link no post anterior, foi que ele meio que quebra paradigmas... até a hora do slogan.

Seria um final muito fácil e lugar-comum mostrarem a mulher dirigindo com o homem ao seu lado, primeiro que seria a versão feminina dos desejos do homem, assim, não teria nenhuma surpresa no comercial.

Segundo que corroboraria com o pensamento de que "o sonho de toda mulher é ter um homem ao seu lado", mesmo ela estando em posição de poder.

Como já foi exposto antes, acho que o que importa para aquela mulher é sua ascenção profissional. Ela não precisa estar acompanhada para ser feliz ou realizar um sonho. Nesse sentido acho a propaganda original e com uma mensagem boa.

O slogan, porém, não foi feliz, pois quebrou um pouco o sentido da última cena. Talvez se fosse "Quem TEM o novo Ford Fusion fez por merecer" ficaria melhor e mais condizente com o comercial.

Paula P. disse...

Concordo com a Aline. Eu gostei do comercial, achei ele diferente.
Alguns podem achar que continuou machista porque tem o homem dirigindo, mas é importante perceber que os comerciais contam muito com o impacto que causam.
Quando o comercial vai mostrar o sonho da mulher, a princípio o telespectador pensa que vai ser a mesma coisa machista de sempre e então ele é surpreendido vendo que ela sonha com ascenção profissional.
Não teria o mesmo impacto se mostrasse ela dirigindo, até porque seria muito óbvio.
Mas concordo que o slogan não tem muito a ver.
Ah, e eu repudio o comercial do Stilo. Muito ridículo.

Oliveira disse...

Caros, Lola e demais comentaristas:

O slogan "Fez por merecer" é simplesmente uma tentativa desesperada da Ford de salvar um carro que ficou tachado de carro de tiozão por outra propaganda de carro concorrente.

Na propaganda o homem quer estar ao lado da mulher; a mulher quer o homem de como seu motorista. É isso que o feminismo quer? Errar como o homem errou? Não era pra mulher ser melhor que o homem?

Manu disse...

Andie, que comercial ridículo esse das batatas. Mas o pior de tudo, sabe o que é? É ler nos comenários das páginas anteriores "nossa, eu sou igualzinha aquela tentando perder peso!" ou "lembra eu e as minhas amigas", essas coisas

às vezes eu me sinto tão tranquila de viver bem longe desse mundo de "feminilidades" (entre milhões de aspas, claro!)

Luiz disse...

galera, acho que de vez em quando a gente deve tirar a mão do joelho... não achei o comercial lá essas coisas também não. No entanto, achar que o fato da mulher não estar dirigindo faz dela uma incapaz, é torpe. Dentro do contexto do comercial, em que elitismo é a tônica, ter um chofer mostra que ela, depois de cinco anos, está em melhor situação que o próprio homem. Foi uma tentativa de subverter a questão do gênero, mesmo que pra fins demasiado "nobres".

Ju Ribeiro disse...

eu to com o luiz.

mas que fizeram de forma xexelenta, ah, isso fizeram!
meio que pintaram a mulher não como incapaz de dirigir, mas como exploradora, mercenária.

Somnia Carvalho disse...

Ainda que a intencao do comercial seja so simplesmente a de mostrar que ela estaria melhor, por isso ele esta de chofer continua sendo ridicula, totamente ultrapassada a ideia = ainda mais se ela e reforcada num comercial = de que ainda pode ser moderno ter alguem para ser SEU chofer...

e tao pobre que me da pena.

e tentativas desesperadas parece que nao conseguem inspirar ideias muito criativa inteligentes, apesar de diferentes.

Somnia Carvalho disse...

ahhh! essa propaganda so faz sentido feita no Brasil, ou em paises onde alguem ainda pode olhar a propaganda e se identificar com esse sonhinho escravagista de consumo...

rapha disse...

Oi lola, adorei teu blog. agora estou com um aparece lá também
abraços
Rapha

http://www.aboyfromschool.blogspot.com/

Robissaum disse...

Que neurose...

o comercial chama a atenção, também gostei...

Acho que independente do ponto de vista, ele sempre será visto com ligeiramente politicamente incorreto, o que é bom. Nada mais chato do que não se poder ser p.i....

Gustavo Ca disse...

Lendo o post, pensei tbm que no final a cena poderia apenas se inverter: a mulher dirigindo com o homem ao lado. Mas na primeira vez que vi o comercial, entendi assim: a mulher TAMBÉM pode ocupar uma posição superior ao do homem, é uma possibilidade. O fato dela ter um chofer não quer dizer que seja incapaz de dirigir ou que o homem está no comando, e sim que, além de provavelmente saber dirigir, ela conseguiu uma posição alta em sua vida, o suficiente para ter alguém dirigindo PARA ela, e que é um homem, na verdade é uma "resposta" ao conceito que se tem de "homem sempre no comando".

Mas o slogan realmente contradiz, concordo com um dos comentários, ficaria melhor: "Quem TEM o novo Ford Fusion fez por merecer". Eu não entendi o lado negativo do 'merecer'. Quando eu quero algo que considero bom, e consigo, penso que mereci.. ou não?

(ah, eu sou o Gustavo C.)

Ju Ribeiro disse...

tb to com a sonnia hahaha!

Aline P. disse...

Não entendi qual o problema de alguém ter um chofer. Isso faz da pessoa alguém ruim ou com ideias escravagistas por quê? Da mesma forma, ela estará explorando o homem por quê?

Pensei que motorista fosse uma categoria registrada em carteira assinada e fosse um trabalho remunerado como qualquer outro.

E esse lance de elitismo, faça-me um favor. Atire a primeira pedra quem nunca se estressou no trânsito ou procurando vaga para estacionar; quem nunca teve medo de ter seu carro roubado na rua; quem nunca pensou que seria melhor ficar no banco de trás (ou do carona) lendo um livro, jornal, mexendo no laptop, falando ao celular, admirando a paisagem, dormindo ou fazendo qualquer coisa diferente de dirigir.

Pode apostar que quem tem chofer não precisa se preocupar com os três primeiros e estará livre para fazer os últimos.

Enfim, não acho nenhum crime e nada demais alguém ter dinheiro suficiente para PAGAR uma pessoa para ser seu motorista.

Nos dias de hoje, longe de ser uma questão de status, acho uma questão de comodismo. Afinal, não preciso ter um motorista para dizer o quanto sou rica (não, eu não sou): é só ter um carro importado super caro e desfilá-lo, eu mesma, por aí.

DJ PATRONIQ disse...

lola , vc está com muita boa vontade com a publicidade. propaganda de carro é que nem de cerveja: tudo uma porcaria. eu também achei esta um pouquinho melhor. também depois do stilo, é até covardia. mas vejamos: qual é hoje o apelo de se cpmprar um carro? hoje se vc não tem carro está fadado ao sistema público de transporte. ou seja, não é exatamente uma opção (para a classe média, claro). mas isso não vai impedir o cidadão de passar horas parado no trânsito. então posso concluir que a idéia verdadeira é: já q vc vai se fú, faça com classe, com este carrão.

Te disse...

Olá Aline P, concordo completamente! Aliás vc transmitiu o que eu penso de uma forma bem mais elegante e clara do que eu conseguiria me expressar.

Luciana Picoli disse...

Já tocaram em vários pontos que me incomodaram, como ela não estar dirigindo, meritocracia, blablabla.

Só posso adicionar um ponto:

Acho injusto implicar que o homem feliz tem de ter uma gata ao lado, e portanto uma vida emocional/sexual boa, e que mulher de sucesso não tem ou não se preocupa com isso, e sim só com ser poderosa e rica. Por isto o sonho dela vai além na escala de poder...

Sério, dá pra imaginar a personagem tendo filhos? Namorando?

Ainda assim gostei do comercial. É parcial, mas ao menos tenta mostrar um ângulo novo, incluindo a mulher como público alvo de um produto tipicamente de desejo/acesso masculino.

Não sou muito antenada, e posso estar errada... mas não lembro de ter visto outro comercial de carro de luxo com uma mulher tão em foco.

Inspira discussão.

Somnia Carvalho disse...

Oi Aline!

Eu nunca vou achar que ser chofer é se menos que alguém. Penso completamente o contrário. Não sou eu quem disse que ser chofer é ser "menos" do que o outro que "fez por merecer".

O sonho de consumo dela era fugir do transito? Não me parece isso. O que me parece é que a representação do que seria ser bem sucedido seria, claro, ter um chofer. E por que? Por que, exatamente como você disse é sim questão de status. Aí voce poderia me perguntar: e qual o problema de ter status?

Ter status significa marcar minha condição de diferença. Significa admitir que eu posso sim ser tratado diferente porque estou num outro nivel que o outro.

Se a gente ficar so no comercial vai ver que ela fez por merecer estar num nível SUPERIOR que o ex-colega que agora a serve, sendo seu chofer.

Então, de novo, não sou eu que digo que ser chofer é ser menos, é o comercial que você gostou.

Se não fosse feito nessa leitura não haveria porque dizer que ela mereceu estar naquele lugar.

Um outro grandissimo problema que vejo - e pra mim, desculpa todas as mulheres extraordinarias que participam do blog da Lola e ela mesma - é o do elitismo, muito mais do que pensar se a diferença entre homem e mulher parece ser dissipada ou não na ideia da propaganda.

Quando faço os comentarios tenho tido em mente a nova realidade onde vivo. Sem fixar-me nos problemas da Suecia agora eu digo que pensar em ter um chofer com certeza seria sinal de escravidão. E seria, sobretudo, se o chofer ganha 10 vezes menos que o patrão, ou muito menos.

Eu acredito que qualquer profissão deva ser muito respeitada. E que as pessoas tem vocacoes diferentes. Alguem pode odiar estudar, mas adorar pintar casas. E por que ele não merece ganhar o mesmo que o outro que estudou 5 anos para ser engenheiro? não entendo como a gente no Brasil justifica as diferenças de salario, condições sociais e tudo o mais dizendo que um merece e outro não.

Concordo totalmente com a Lola nesse ponto. É claro que é excelente quando recebemos por aquilo que trabalhamos, mas merecer ter um chofer, nesse comercial, ainda significa merecer parecer melhor, merecer ser servida, merecer estar na posição de chefe, merecer mais do que o outro.

Só para finalizar a resposta gigante e meia confusa (estou com meu menininho aqui do lado e preciso voltar): em dezembro passado, visitando o Brasil no Natal vi no shopping iguatemi uma montagem de Natal que tinha as bonecas branquinhas e de olhos azuis como as donas da casa do papai noel. A velha loirinha era a mamae noel e lá atras tinha uma outra senhorinha gordinha, limpando a casa montada no shopping. E claro! ela era negra!

e todo mundo tirando foto da montagem linda de Natal! a ideia de diferença social, o preconceito de tantas formas e tao enraizado que a gente ja nao percebe mais...

sorry pelas divagaçoes... beijocas

Aline P. disse...

Desculpa, Somnia, concordo que a questão do elitismo é muito importante, mas estamos falando de um comercial de carro.

É inútil levantar essa questão (no sentido de chover no molhado) visto que as pessoas que podem comprar esse carro estão num nível sócio-econômico mais alto que a maioria, entende?

Se pensarmos por esse ângulo, qualquer comercial de carro é elitista.

"Então, de novo, não sou eu que digo que ser chofer é ser menos, é o comercial que você gostou"

Desculpe novamente, mas em nenhum momento disse que você acha isso. Pelo contrário, indaguei qual é o problema de alguém ter um chofer e por que isso faria da pessoa um escravagista, que foi o argumento usado num comentário anterior seu:

"por isso ele esta de chofer continua sendo ridicula, totamente ultrapassada a ideia = ainda mais se ela e reforcada num comercial = de que ainda pode ser moderno ter alguem para ser SEU chofer [...] ahhh! essa propaganda so faz sentido feita no Brasil, ou em paises onde alguem ainda pode olhar a propaganda e se identificar com esse sonhinho escravagista de consumo"

Olhando o ponto de vista que você colocou AGORA, aí, sim, concordo contigo. Mas insiro um adendo: as relações de emprego são hierárquicas. Uma pessoa sempre irá ascender profissionalmente em detrimento de outra, e querer discutir esse sistema, que serve como uma luva ao capitalismo, numa propaganda é ingenuidade.

Sobre a relação entre ganhos do patrão X empregado, se pensarmos assim, pelo menos 90% da população do Brasil é escrava. E, sinceramente, há patrões e patrões. Conheci um motorista que num mês ganhava mais do que eu em três. Ele ainda ganhava menos que o patrão? É claro, mas muito mais que a uma grande parcela da população.

Enfim, o que eu quero dizer é que a questão imediata do comercial é a de gênero, a quebra de paradigmas. A outra seria a infeliz escolha do slogan sobre merecimento. O resto, ao meu ver, se esvazia pelo caráter e natureza da propaganda em si.

Nesse sentido, acho muito mais válido e prolífico questionar as práticas do dia a dia ou outros meios de comunicação formadores de opinião como novelas, revistas, livros e filmes.

Bem, é isso. Desculpe também pelo loongo comentário.

Somnia Carvalho disse...

Bom dia Aline!

Pois é, eu sempre penso duas vezes antes de mandar comentários no fever da paixão pelos posts porque escrevo numa tacada e é claro que as milhões de coisas que passaram pela minha cabeça para que eu concluísse um argumento não ficam no comentário se eu o fizer com pressa.

Foi assim que falei da idéia de "escravagismo".

Eu entendi perfeitamente o que você disse agora e eu concordo com seu ponto de vista: se a propaganda é dirigida para uma elite então ela usa a linguagem dessa elite e ela está okey.

Se eu pensar a propaganda para mim - que apesar de ter sido pobre de marré de si hoje tenho condição, se quisesse, de comprar o tal carro - ainda assim eu não engulo a propaganda. E mais isso que quis passar. Ela não faz sentido pra mim.

Eu acho que e isso ai que vc disse mesmo: tem chofer, tem faxineira que tira muito mais por dia do que um advogado recém formado no escritório. Mas não é a regra né...

A nossa discussão fervorosa me fez querer escrever um post que eu vinha adiando ha um tempo... vou me alongar sobre a montagem do natal...

Então, de fato no Brasil a maior parte trabalha em situações muito ruins para uma pequena minoria. E por mais que isso seja a realidade, para mim Aline, ela não é aceitável. Eu sei que é o que é e que é difícil de mudar, mas eu acho injusto. Acho que é isso que faz a gente ter tantos problemas, tantos e tantos... então, mesmo quando to vendo tv, vendo um comercial eu não consigo não pensar nisso. Penso mais do que na questão do gênero. Acho que tá em mim. Tem a ver com a formação mesmo.

E voce? nao tem blog? não vou usar o espaço da Lola pra fazer entrevista, mas voce trabalha na area da propaganda também como a Marjorie e mais outros leitores que passam por aqui?

até mais ver!

Aline P. disse...

Oi, Somnia!

Entendo o que você diz com pensar duas vezes antes de escrever. Demorei quase uma hora para terminar o comentário anterior porque queria ser o mais clara possível e não levar a desentendimentos...

Agora também entendo seu ponto de vista. Concordo que a realidade em que vivemos não é justa e não devemos ficar calados. Só ainda não cheguei ao nível de questionar tudo. É o caso desse tipo de comercial; não consigo colocar tudo num mesmo balaio pela natureza da propaganda em si. Como falei anteriormente, seria chover no molhado.

Mesmo a questão feminista, ainda estou engatinhando. Tem muitas coisas que a Lola fala que assino embaixo, mas outras eu fico ainda com o pé atrás.

Acho que seu caso poderia ser um paralelo com o do guest-post do blog: por sua bagagem de vida, você consegue enxergar a questão da desigualdade social logo quando ela se manifesta e isso é muito importante, pois nem 30% da população o consegue.

No meu caso, além de não fazer parte desses 30%, não sou o público-alvo no comercial, logo, sobre isso, ele não me diz nada.

Bem, esse é um assunto que rende muito pano para manga e eu não quero me alongar, pois não tenho o conhecimento necessário.

Sobre suas perguntas, tive alguns blogs, mas nenhum voltado a essas questões. Para falar a verdade, não tenho paciência e disciplina para ficar escrevendo continuamente, então, todos morreram. Penso em abrir um para resenhar livros infantis e juvenis, uma de minhas paixões, mas estou esperando o resultado final de minha pós.

Apesar de não trabalhar com propaganda, meu segundo grau foi em publicidade, por isso sei umas coisinhas ou outras. Acabei desistindo por achar o meio muito competitivo e cheio de prazos; o que não combina com minha natureza (embora eu tenha consciência que trabalho melhor sob prazos). Assim, fiz faculdade de letras e hoje sou professora de japonês.

Já você tem blog, né? Qual é? Sabe que tenho muita vontade de ir para a Suécia. Parece ser um lugar maravilhoso, apesar de frio. Quem sabe um dia?

Somnia Carvalho disse...

Oi Aline, a nossa conversa rendeu um bom caso de amizade! rs..

uau! professora de japones! inevjavel! sou a pessoa mais lerda para linguas que conheco... ainda assim tenho conseguido me comunicar no sueco.

meu blog e o borboleta pequenina, acho que se clicar no nome aparece la. A gente se cruza!

Anônimo disse...

Olá! No inicio, tinha adorado o comercial.. principalmente pelo fato dela estar lendo jornal no banco de trás, e nao fazendo as unhas ou retocando a maquiagem. Mas a frase "quem dirige fez por merecer" me deixou realmente brava. Muito contraditório... quiseram mostrar a superioridade feminina, colocando a mulher no poder ao contratar um homem para dirigir, enquanto ela mesma poderia fazer isso!
Anyway, se retirassem a ultima frase, seria um dos meus comerciais predileto!
Sofia :)

Unknown disse...

Certamente é elitista, mas depois da propaganda da Ruffles, achei um comercial legal.