terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

CRÍTICA: CLOVERFIELD / Uma câmera na mão e o quê mesmo na cabeça?

Times Square, NY, duas semanas atrás. Repare no cartaz de "Cloverfield", no canto superior à direita.

O mais interessante de “Cloverfield – Monstro” foi ver o filme-catástrofe da vez logo depois de passear por Nova York, mas desconfio que não é todo mundo que pode ter esse prazer. Lá estava eu (e o maridão) no meio de Times Square, procurando o bueiro de onde a Amy Adams saiu em “Encantada”, e vejo um imenso cartaz da Estátua da Liberdade sem cabeça. É fascinante como americano adora destruir “the city so nice it was named twice” (ouvi isso recentemente: “a cidade tão legal que recebeu dois nomes”, porque é New York cidade, em New York estado). Até entendo que terroristas muçulmanos adorem acabar com a cidade, mas americano?! E tudo bem que desde os primórdios do “King Kong” de 1933 dessem trela pra essa fantasia coletiva, mas continuar depois de 11 de setembro parece estranho. Voltando à Estátua da Liberdade, ela não é apenas símbolo de NY, e sim de toda a América, quiçá do mundo. Se você mora em SC sabe que a loja de departamentos Havan, “a Casa Branca brasileira”, fez uma réplica (menor) da Estátua. Já contei que uma vez eu estava no ônibus em Floripa, e passamos em frente à estátua da Havan, e uma mulher fez o sinal da cruz? Tá vendo como é simbólico?

O maridão tirou algumas fotos da estátua legítima, a que fica em NY (ver fotos tremidas). Espero que dê pra reconhecê-la. Não sei se você sacou a semelhança, mas é como se o maridão tivesse filmado “Cloverfield”. Se dessem pra ele uma câmera hiper duper, dessas de “Cloverfield”, com bateria inesgotável e que não quebra nem que um monstrengo a mastigue, o maridão sem dúvida faria um filme-catástrofe. Ele e o cara que segura a câmera no filme têm esse mesmo talento pra coisa. Tanto que, durante a sessão, eu só podia pensar: matem o cameraman, por favor!

Mas quando chega no ponto de ter um monstro por perto pra usar o cameraman pra palitar os dentes, aleluia! Acho que há pelo menos meia hora de enrolação, ou seja, de apresentar personagens que não têm a menor importância (ou alguém na platéia pagou ingresso pra ver atores desconhecidos, e não o monstro ou NY em ruínas? Quer dizer, tirando as mães dos atores desconhecidos?). Virei pro maridão e disse: “Pô, o filme demora pra começar, hein?”. Ele não respondeu porque tava dormindo. Perdi a paciência quando o cameraman espalha pros convidados da festa que dois adultos heteros, independentes e solteiros transaram, e todo mundo diz “Ohhh! Não posso acreditar! Sério mesmo? Puxa! Você tem certeza?”. Nessa hora tive que me controlar pra não gritar “Monstro! Monstro! Monstro!” (se bem que a surpresa toda por um casal transar talvez dê um novo sentido à “city that never sleeps”. E eu que não tava sabendo que NY vive uma escassez de sexo...).

O que mais posso falar sobre este que deve ser o filme com câmera tremida mais caro da História? Ele é um tipo de Bruxa de Blair encontra Godzilla. Tem até close de uma moça chorando com melequinha saindo do nariz. Ah sim, pra você não deixar esta crônica achando que não leu nada de útil, apresento um número real, que vi na minha recente viagem a NY: passear de helicóptero pela cidade custa 115 dólares por doze minutos. Em “Cloverfield” sai mais em conta.

Ah, não fique pros créditos, que são intermináveis. Não acontece nada. Só tô tentando poupar o seu tempo, porque eu fiquei até o finzinho, na vã esperança que no final da lista eles pelo menos explicassem por que diabos o negócio se chama “Cloverfield”. Sei lá, vai que aparece uma pasta confidencial do governo com manchas de café em cima? Uh, aí seria “Coffeefield”? E o que o “field” tem a ver com isso? Coffee Fields Forever? Viajei. Não, é só que “field” tem pinta de arquivo. “Clover” é uma leguminosa da família das ervilhas. Ahá! Sei o que você tá pensando: por que eu não falei antes, pra você decifrar o mistério?! E também é “trevo”. Será que a razão de ser do título seja porque o monstro é uma espécie de amuleto da sorte (trevo de quatro patas) pra alguém? Ok, talvez não pros habitantes de Nova York, mas pros parasitas que moram no Cloverfieldzinho? Melhor parar com esse devaneio, que você já deve estar quase tão enjoado quanto um espectador vendo uma hora e meia de câmera tremida.

Mas é impressionante como tem gente envolvida nessa produção. Pensei que eles só tivessem tomado uma câmera de mão, saído por Manhattan e incluído uns monstrinhos de “O Nevoeiro”. Nada disso. Custou 25 milhões de dólares, e tudo pra gente não ver nada com a tremedeira e os ângulos da câmera (e alguém recebeu uma fortuna pra compor música só pros créditos). Ainda assim, não achei o filme tão ruim. Gosto quando a cabeça de um dos personagens explode no cantinho do quadro, en passant (pena que não é a cabeça do cameraman). A aventura promete ser uma franquia lucrativa. Imagina, dá pra pegar qualquer vídeo caseiro do mesmo dia e fazer um “Cloverfield 2, 3, 4”... Ou o governo pode captar imagens feitas com telefone celular do monstro atacando outras cidades. Ou dêem logo uma câmera pra uma das pulgas do Clô que ela vai encontrar ângulos espetaculares! Acho que uma pulga gigante filmaria melhor que o cameraman e o maridão... juntos.

15 comentários:

Liris Tribuzzi disse...

Depois de parágrafos intermináveis acabando com o filme, eis que surge um 'até que não é tão ruim'!

Anônimo disse...

Olá a todos voces cinco. Como não apareceu ninguém pra me defender (ainda), resolvi fazer justiça com minhas próprias mãos:
em primeiro lugar as fotos da estatua foram tiradas em um barco em movimento em meio a uma tempestade de vento gelado quando já quase nao havia luz (graças à lolinha que resolveu fazer hora na hora errada)
em segundo lugar a foto foi tirada com uma camera digital bem simplezinha (porque quando eu falo em comprar uma um pouco melhor é um Deus nos acuda)
Em terceiro, já consultei uns advogados especialistas em divórcio litigiosa, e, assim que pararam de rir, disseram que vai ser a causa mais fácil da vida deles.

Anônimo disse...

Aeeeeeee!!!!! Vingança do maridão! Já temos mais um filme!!!

Anônimo disse...

escrevalolaescreva.blogspot.com: parada mais que obrigatoria :)
Muito bom o teu blog, e como tem estado movimentado nesses ultimos dias! Que prolificidade!

E o maridão injuriado tem o meu apoio! Poxa Lola, logo tu que és uma defensora das minorias, maltratando desse jeito o maridão...

E como assim "não apareceu ninguém pra me defender"?? Eu ja defendi o maridão publicamente aqui neste blog! :)

Enfim... abraço pra vocês! :)
Elton Jones

Anônimo disse...

Olá Lola,

Sempre fui fã de suas crônicas e agora poder ler suas aventuras neste blog é um sonho!
Me divirto muito. Seu senso de humor é único...

Mas neste momento preciso dar meu apoio ao "maridão". Afinal, naquelas circustâncias, nem o Duran faria melhor! [risos]

Abraços,

Ju disse...

Tudo bem, eu nem queria ver mesmo. E nem estou com inveja das viagens que vc e o maridão têm feito por aí. E vc falou uma ótima: celular, esse é o futuro. Gastar fortunas para produzir um filme que pareça ter sido filmado com uma câmera de celular. Pelo menos é mais fácil que ter alguém carregando uma câmera realmente, pq câmera de verdade pesa. Se bem que eu , numa hora de desespero, não ia lembrar nunca de deixar a câmera ligada. Aliás, provavelmente jogava a câmera no primeiro canto que aparecesse pra poder correr mais rápido.

Andrea disse...

Lola, não tire sarro das fotos do maridão, por que sua leitora aqui mesmo com as câmeras mais potentes consegue tremer e estragar muitas fotos... uhauhaahauha

Agora fazer um filme inteiro nestas condições é no mínimo inaceitável!!!

lola aronovich disse...

Oi, Liris: ate parece que vc nao ta acostumada com o meu estilo...
Sobre a defesa de vcs ao maridao injuriado, me aguardem! Em breve vou postar outras fotos pra provar que o maridao eh tao bom fotografo quanto o cameraman de Cloverfield. E eu o incentivo a comprar uma camera melhorzinha (ta dentro do nosso orcamento). Ele que eh um pao-duro indeciso e precisa de 3 meses pesquisando antes de comprar!
(nao to exagerando quando digo 3 meses. Acho ate que eh uma estimativa conservadora).

lola aronovich disse...

Elton, eu tenho um monte de duvidas sobre o blog pra perguntar pra vc. Vc responde? (O Elton eh especialista no assunto, mas ou cobra 500 euros a hora, ou nao responde os emails).
McGregor, bem-vindo! Como vai o casamento? Tao pacifico quanto o meu com o maridao?
Ju, eu nem me importo tanto em fazerem um filme filmado com camera de celular. O que me chateia eh que gastem 25 milhoes fazendo um filme que IMITE camera de celular. Sabe, eh tipo o Rodriguez em Planet Terror. Uma coisa eh fazer um filme trash baratinho, outra eh fazer um filme trash caro, imitando os filmes trash baratinhos. Ah, mas vc tem alguma duvida que, se um monstro destruisse a nossa rua, um monte de gente iria ficar tirando fotinho dele com o celular? (eu nao ia, que nao sei nem atender um celular, quanto mais tirar foto com ele).

Liris Tribuzzi disse...

Pior que tô, Lola, mas foi tão, tão, tão contraditório!

lola aronovich disse...

Ah, Liris, tem diferenca dizer que um filme nao eh tao ruim e elogiar um filme, nao tem? Apesar de todos os defeitos de Cloverfield, se eu tivesse que dar uma nota de 0 a 10, acho que daria 5. Ou 4? Agora nao tenho certeza. Mas, de qualquer jeito, um filme pra qual dou 4 ou 5 ta na categoria de "nao eh tao ruim". A palavra chave ai eh o TAO.

Anônimo disse...

20 milhões foi gasto só com marketing.

lola aronovich disse...

Levo em conta o número da Entertainment Weekly, que afirma que Cloverfield custou 25 mi pra ser produzido. Pra ser vendido é outra história... Um filme desses depende totalmente de marketing. Acho 20 mi em divulgacao ate pouco...

césar disse...

nunca li tanta merda num post só

lola aronovich disse...

Tentarei melhorar da próxima vez, César. Sua opinião é muito importante pra mim.