quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CRÍTICA: SEPARADOS PELO CASAMENTO / O grande mistério

Após semanas passando em outras cidades, finalmente estreou aqui “Separados pelo Casamento”. Sei, eu mal podia esperar. Aliás, que diacho de título é esse? Em inglês é simplesmente “A Separação”. Mas o filme tem tudo pra agradar quem adora ouvir um casal discutindo a relação durante uma hora e meia. O quê, você não acredita que sádicos assim existam? Ué, então por que fariam um filme desses? Taí uma boa pergunta.

“Separados” não é comédia nem drama. Na realidade é meio que suspense, sabe, um filme de mistério: o mistério de por que duas almas sem nada em comum acabam se casando. Imagina se uma mulher que ouve MPB enquanto cozinha algo chique vai se envolver com alguém que conheceu comendo seis cachorros-quentes na torcida de um jogo de baseball. Mas, pelo jeito, como a Jennifer Aniston (a gracinha de “Friends”) e o Vince Vaughn (da refilmagem de “Psicose”) estão de xaveco na vida real, os realizadores devem ter pensado que rola química entre eles. Erraram feio. Deu quinze minutos depois do começo e uma espectadora já resmungou, “Ai, que chato!”. Meia hora e tinha gente deixando o local. E poucas vezes vi tanta gente checando e atendendo o celular durante um filme. Ninguém falava “shhh!”, porque a conversa no celular era mais interessante do que tava acontecendo na tela.

O pior é que o casal não discute a relação apenas entre si. A Jennifer conversa com sua melhor amiga, e o Vince com o seu, que, convenientemente, é um barman.

Outro lado péssimo é que as duas partes do casal são insuportáveis. A Jen é tão chata que dá importância em decorar a mesa com limões prum jantar em família. E o Vince é o típico garotinho de dois metros de altura: deixa as meias jogadas pelos corredores pra mamãe pegar. E quando ele não mora mais com a mamãe, serve a esposa mesmo.

Agora, vale a pena pagar um ingresso de cinema pra ver um casal brigando? Isso tem de graça. Qualquer um que seja casado ou tenha um relacionamento de mais de dois meses conhece o roteiro. É muito simples. A mulher acusa o companheiro de ser um inútil, de não ajudar nas tarefas domésticas, e de não lhe dar valor. Não quero tomar partido, mas obviamente ela tem razão. O homem pode até se revoltar um pouquinho, mas, depois de meia hora de indignação, no máximo, deve bater na porta do quarto da mulher e implorar-lhe perdão. Palavras recomendadas: “Me desculpe, minha paixão, eu sou um verme rastejante e você é minha deusa, e eu não mereço você. Ou você merece alguém melhor do que eu. Por favor, releve meus erros e eu prometo melhorar. Eu não sou nada, e você é tudo”. E a vida segue. (Nesses momentos difíceis não convém a mulher abusar e questionar: “Ah é? Quais são os seus erros?”, porque o cara não vai saber).

O talento desperdiçado por “Separados” é incrível: a Ann-Margret (de “Ânsia de Amar”), velhinha e esticada, aparece num pedacinho, como a mãe da Jen. A Judy Davis (“Maridos e Esposas”) é sua chefa, a neurótica dona da galeria de arte. O Vincent D’Onofrio (“Nascido para Matar”) é o irmão do Vince, e eu que não pensava que alguém pudesse ser mais alto que o Vincent em Hollywood. O maridão até perguntou por que o nome do Vince aparece antes do da Jen nos créditos. A resposta veio fácil: porque ele é produtor do filme, amor. E a culpa pela história também é dele. Mas o público de sábado à noite tava mais preocupado em patrulhar possíveis personagens gays. O colega da Jen, por exemplo. Era só ele aparecer pro público gritar “Hmm....” e “Ihhh”. Ahn, o que esse pessoal faz da vida quando não aparece personagem gay pra pegar no pé?

Fora a implicância com o gay, o público só rompeu sua apatia mesmo quando ouviu que dois copos de cerveja custam oito dólares lá em Chicago. E por falar em dinheiro, por que nos filmes ninguém se preocupa com o vil metal? A chefa da Jen lhe dá um cheque em branco e, como ela é tão virtuosa e mais encucada com limões que com dólares, ela recusa. Um cliente simpático, bonitão e rico o suficiente pra comprar um quadro horrendo por 35 mil dólares dá em cima, e ela nem tchun. Serei eu a única pessoa na face da Terra a pensar em dinheiro? Nessas horas eu lembro sempre de um amigo meu. Na época do impeachment do Collor, rolavam boatos que os deputados tavam recebendo cem mil dólares cada pra votar em favor do nosso mui honroso presidente. Eu quis testar a ética do meu amigo, e perguntei: “Por esse dinheiro, você votaria pela absolvição do Collor?”. E ele: “Por cem mil dólares, eu DAVA pra ele!”. Fim da discussão. Mas em filme americano é diferente.

Olha, só sei que o maridão pode me acusar de tudo, menos de fazer com que ele se vista de vaquinha, como faz a Jen. Assim não tem amor que agüente, tem?

Um comentário:

Anônimo disse...

Respeito sua opinião (até porque, sou uma visitante e não dona do blog) mas adorei esse filme. Vi muitas cenas do meu casamento ali e vi também o meu crescimento ao reassisti-lo hoje. Afinal, pude perceber que já não vejo mais nada em comum com aquela história e discussões. Só restou a lembrança daquela louca neurótica que eu era. E sabe? Tenho até um certo carinho por ela.