A julgar pelo filme, Herodes não tinha idéia que seu inimigo seria um neném recém-nascido. Ele pensava que seria um homem feito. São os reis magos que contam pro malvadão sobre o nascimento do profeta. Aí que tá: que tal Deus dar um toque nesses linguarudos sem simancol? Ele faz Zacarias, o pai de João Batista, ficar mudo durante meses por um mero capricho. Dava pra calar os reis, né? Se bem que o Todo Poderoso dá tanta bandeira apontando uma estrela bem pra manjedoura onde está seu filho, que só a incompetência dos soldados romanos pra explicar como Jesus escapa. Não importa. Por não focalizar o massacre dos inocentes, o drama comete o mesmo pecado de “Paixão”: mostra que a vida de alguns vale muito mais que a de outros. Isso não é exatamente cristão.
Mas “Jesus” tem uma trama bonita. Dirigido por uma mulher, Catherine Hardwicke (do bom e chocante “Aos Treze”), o filme pode ser visto como uma história de amor entre Maria e José, que se apaixonam durante a jornada a Belém, ou uma história de amor de Maria pelo bebê no seu ventre, ou amor dos súditos pelo seu Deus. Só que a recíproca não parece ser verdadeira. Deus podia facilitar um pouquinho a vida de Maria, não? Várias pessoas já escreveram sobre a violência da anunciação. Algumas equivalem essa violência a um estupro. Afinal, Maria não é convidada a ser mãe de Jesus, mas apenas comunicada por um anjo Gabriel que, no filme, misericordiosamente não é loiro de olhos azuis (e nem o bebê Jesus segue o padrão nórdico). Deus bem que podia narrar seus planos a José, e aos familiares próximos, antes de Maria aparecer grávida. Custava?
E já que é pra polemizar, não compreendo porque a Igreja Católica insiste tanto na virgindade de Maria. Tá, pra quem considera sexo o pecado original, posso entender por que Maria tem que ser puríssima até o parto. Mas e depois? Por que querer jogar na fogueira qualquer um que sugira que Jesus teve irmãos? Proibir sexo antes do casamento eu até entendo, é um dogma deles, mas a Igreja, no caso de José e Maria, proíbe sexo até durante o sagrado matrimônio. Pros católicos, a Virgem morre virgem, sem descobrir que sexo também pode ser uma benção.
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