terça-feira, 28 de novembro de 2006

CRÍTICA: HAPPY FEET - O PINGUIM / Pra quem nunca ouviu falar em Fred Astaire

Pra quem gosta de cinema pra criança, estreou “Happy Feet: O Pingüim”, mais conhecido como “o do pingüim”. Pelo jeito, humanos são fascinados por pingüins. Isso explica por que têm pingüim em cima da geladeira. Quer dizer, eu não tenho. Também não tenho anões no jardim. Mas a mãe de um dos vizinhos pagodeiros tem, o que explica muita coisa. Enfim, ano passado “A Marcha dos Pingüins” fez enorme sucesso. Eu não vi, primeiro porque não passou aqui, segundo porque sigo rígidas ordens médicas. Um documentário desses pode causar morte por afogamento lacrimal.

Agora chega “Pés Alegres”, do George Miller, diretor do excelente “Mad Max” e roteirista e produtor do meu recordista em dilúvios no cinema, “Babe, O Porquinho Atrapalhado”, que me fez chorar dos créditos iniciais aos créditos finais, sem parar, e mexeu tanto comigo que fiquei sem comer presunto por uma semana. Neste do pingüim eu também esfreguei bastante os olhos, porque o filme tava me dando um soninho... Quase duas horas de pingüins imperadores cantando. Só que as músicas são ruins e sem unidade. Descontando uma do Queen e “Boogie Wonderland”, o repertório é bem fraquinho. Pra quem tá acostumado com musicais de Fred Astaire e Gene Kelly, pingüins sapateadores não parecem ter muito jeito pro ofício.

Sem falar que é a maior propaganda enganosa. A gente viu centenas de trailers deste filme e nenhum falava do personagem principal. Por quê? Porque ele é chatinho. Acho que não preciso falar mais nada se disser que suas feições foram inspiradas no rosto do Frodo Elijah Wood. Quem rouba todas as cenas e arranca as únicas reações do público além do tradicional “que gracinha!” é o Ramón, o pingüim latino que fala portunhol. Claro que existe um recado à tolerância. O protagonista é discriminado por não ser igual aos seus pares, mas sem profundidade.

Depois de uma parte estranha em que o filme vira “Footloose”, com anciãos condenando o caos social trazido pela dança, vem uma mensagem ecológica. Até aí, banal. Todo desenho animado desde “Bambi” tem mensagem ecológica, tirando, talvez, “O Bicho Vai Pegar”, que não condena a caça, apenas um caçador. Acho que o recado dos pingüins é: humanos, vocês são malvados porque comem peixe. Eu, que não como nada que venha do mar, fiquei tentada a escrever cartazes dizendo “Salvem as baleias pros pingüins” e promover uma manifestação onde todos balançariam os cartazes enquanto sapateássemos. Aí lembrei que o musical custou 85 milhões de dólares. Com essa fortuna, dava pra alimentar um bocado de pingüins.

Até achei interessante que os animais nos vejam como alienígenas. E se eles nos acham maldosos pela caça predatória, esperem até que derrubemos óleo no habitat deles. No fundo o filme do pingüim só serve pra gente voltar a fazer campanha defendendo a abolição do trema. Ou é da trema? Viu como é complicado?

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