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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

MARADONA, GIGANTE

Ah, hoje não dá pra falar de mais nada. Estou arrasada com a morte de Diego Maradona, de apenas 60 anos.

Foi o maior jogador que eu já vi jogar. Eu estava bem viva nas Copas do Mundo de 1982, 1986, 1990 e 1994. Só aqueles dois gols contra a Inglaterra na Copa de 86 já seriam suficientes pra imortalizar um atleta. A "mão de deus" e o gol que começou antes do meio do campo, no que pra muitos é o mais belo gol de todas as Copas. 

Eu não entro nessas de comparações. Não tem por que escolher um grande jogador e desprezar os outros. Mas, pra mim, Maradona foi o maior que eu vi jogar, durante a minha vida. Faz parte da minha memória afetiva.

Aqui, os dez maiores gols de Maradona, ao som de outro ícone, Piazzolla. Aqui, os cinco maiores gols (que são diferentes dos outros dez). 

Aqui, o desabafo de Casagrande, um dependente químico, sobre a morte de Maradona, outro dependente. 

Maradona morreu no mesmo dia, 25 de novembro, que um de seus ídolos: Fidel Castro, quatro anos atrás. Tinha uma tatuagem de Fidel (e outra do Che) tatuadas em seu corpo.

Como diz o jornal argentino Clarín num belo texto (em espanhol), sua morte tem impacto mundial. Sua vida foi uma montanha russa. "Gracias a la pelota" (obrigada à bola), ele disse que gostaria de ver em sua lápide. 

Foi sem dúvida um gigante. Inesquecível.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

XADREZ, O JOGO DOS REIS, PRECISA SER TAMBÉM O JOGO DAS RAINHAS

Como todo mundo que acompanha este blog sabe, meu marido é jogador profissional de xadrez, assim como professor e técnico. 
Nós nos conhecemos num torneio em SP, 27 anos atrás. Na época eu também jogava, embora não profissionalmente. Ele começou com 13 anos e não parou mais. Vive disso. Xadrez é a sua vida.
Eu pedi muito para que ele escrevesse um texto sobre xadrez sob uma perspectiva de gênero, e ele me atendeu. Publico aqui orgulhosamente um artigo de Silvio Cunha Pereira, vulgo maridão.

O ambiente enxadrístico não é exatamente amistoso, particularmente se o adversário for do sexo feminino. 
O jogo de xadrez, entretanto, apesar de dominado pelo sexo masculino (rei, bispos, cavaleiros, soldados/ peões), é comandado não pelo Rei, que é tratado como alguém muito mais frágil do que importante, e sim pela Dama/ Rainha –- esta sim a peça mais poderosa do jogo. Mas nem sempre foi assim.
O xadrez foi criado por volta do ano 600 d.C., provavelmente como uma luta simbólica entre exércitos (primeiramente quatro e depois dois), e reproduzia os elementos guerreiros da época, de ataque e de defesa: reis, conselheiros, torres, cavalos, elefantes (pois a origem do jogo foi na Índia) e soldados/ peões. Na época, não havia o elemento feminino nas batalhas. 
Ao longo do tempo, devido ao comércio e às invasões, o xadrez foi sendo popularizado no resto da Ásia, norte da África e Europa (lembrando que os mouros invadiram a península ibérica e lá permaneceram por 800 anos), onde o sistema feudal passou a ser representado. Isso incluía a rainha, que, no entanto, tinha uma movimentação bastante modesta: só se movia uma casa na diagonal, o que a tornava uma das peças mais fracas, superando apenas o peão. A Igreja, que também tinha exércitos e guerreava (os papas iam literalmente às guerras), passou a ser representada. E o elefante (que era desconhecido pelos europeus) foi substituído pelo bispo ou pelo bobo da corte (ou mensageiro do rei). 
A promoção do peão [para quem não conhece as regras, quando um peão alcança a oitava casa, ele pode ser trocado pela peça que o jogador quiser, exceto rei e peão] também teve seus problemas: entre os muçulmanos, a quem era permitido ter várias esposas, promover o peão à dama não criava conflito. 
Mas entre os cristãos, a existência de uma nova rainha, estando a original ainda no tabuleiro, não devia ser admitida. Assim o peão só poderia ser promovido à dama se essa já não estivesse no tabuleiro [hoje isso não mais existe. Na teoria, podem haver nove rainhas brancas ou negras no tabuleiro, ou seja, cada um dos oito peões pode virar rainha].
Mas de onde veio a atual força da rainha? Na vida real, quando um rei se ausentava ou morria, deixava um herdeiro do trono que com frequência era uma criança. 
Muitas vezes quem assumia o poder de fato era a rainha, até que o príncipe herdeiro tivesse idade suficiente para governar. Segundo Marilyn Yalom, pesquisadora de gênero e autora do excelente livro Birth of the Chess Queen (Nascimento da Rainha de Xadrez), algumas dessas rainhas se tornaram extremamente poderosas, como Adelaide, esposa de Oto I em 950, com quem construiu o grande reino ítalo germânico. 
Após a morte de Oto I, Adelaide manteve forte influência sobre o novo soberano, seu filho Oto II, até ele se casar com a princesa Teofânia Escleraina, que impôs o exílio a Adelaide. Teofânia, após a morte de Oto II, assumiu com mãos de ferro o poder, como regente de seu filho Oto III, chegando a assinar documentos como Imperator Augustus ao invés de Imperatrix Augusta. Com a morte de Teofânia, Adelaide voltou do exílio e tornou-se a regente de seu neto Oto III até sua maioridade em 994. 
Marilyn Yalom, historiadora
Tanto Teofânia como Adelaide podem ter sido o modelo para a rainha no xadrez. Mas foi em 1497 que foi observado no livro de Luis Ramírez de Lucena sobre o jogo de xadrez que os movimentos das peças já eram idênticos aos de hoje, com pequenas modificações. No entanto, a grande transformação no jogo foi o enorme aumento do raio de ação da rainha -– que levou o jogo a ser chamado de “a dama louca” por aqueles que se opunham a tanto poder feminino.
Inúmeras rainhas de carne e osso jogaram xadrez durante centenas de anos. Mas, no século 17, elas saíram de cena. Para Yalom, talvez isso tenha acontecido porque, com as mudanças das regras (a própria dama ficando mais forte), o jogo ficou mais agressivo e passou a ser jogado em espaços públicos, vistos como não apropriados para mulheres.
O jovem Bobby Fischer e sua irmã
Joan
Nos 300 anos seguintes, o universo do xadrez ficou amplamente dominado pelos homens. Por que isso
Lógico que os misóginos (incluindo um dos maiores campeões de todos os tempos, Bobby Fischer, cuja irmã lhe ensinou a jogar) diziam (e ainda dizem, como o fez o britânico Nigel Short há dois anos) que os cérebros eram diferentes, ou que mulheres não têm as mesmas capacidades intelectuais.
Besteira. Um estudo de 2013 revelou que meninas de 6 anos já estão cientes do estereótipo de que "bons jogadores geralmente são meninos". Isso afeta como elas jogam.
O seguinte experimento foi realizado recentemente para identificar o grau de ação de estereótipos de gênero: 42 jogadores foram emparceirados, dois a dois, homens contra mulheres, levando em consideração a sua força aproximada. Jogaram pela internet, sem saber de que gênero era o seu adversário. O resultado final foi equilibrado
"Claro que não", diz o subtítulo
Quando refizeram o teste, desta vez informando o gênero do adversário, a performance feminina caiu em quase 50%.
Isso mostra que a capacidade dos dois gêneros para o xadrez é, pelo menos em média, equivalente, mas que o resultado pode ser afetado se os jogadores sabem contra quem estão jogando. O principal motivo da "superioridade" masculina no xadrez é, no entanto, estatístico: há muito mais homens jogando do que mulheres.
Outra situação interessante foi a análise das gigantescas bases de dados de partidas de xadrez (feita na Califórnia) em que se constatou que jogadores homens mudavam seu estilo ao enfrentar mulheres e passavam a jogar de forma muito mais agressiva do que jogavam normalmente contra adversários homens.
O topo da pirâmide dos enxadristas só foi realmente alcançado, até hoje, pela húngara Judit Polgar, que rompeu o recorde de Bobby Fischer e se tornou a mais jovem grande mestre do xadrez [aos 15 anos e 4 meses, em 1991; já foi ultrapassada pelo norueguês Magnus Carlsen, que conseguiu a façanha de ser GM aos 13], e esteve entre os dez jogadores mais fortes do mundo, sempre se recusando a participar de torneios exclusivamente femininos. 
As fantásticas irmãs Polgar em 2012
Sua irmã, Sofia Polgar, hoje afastada das competições, também rompeu a barreira masculina ao ter um dos ratings de performance mais fortes na história (de 2879 pontos aos 14 anos, num torneio em Roma). Sua outra irmã, Susan Polgar -- as três foram fenômenos do xadrez --, foi a primeira pessoa a conseguir a coroa tríplice, ao ficar com os títulos mundiais de xadrez Blitz [jogo que dura apenas 3 minutos para cada jogador, com acréscimo de 2 segundos por jogada], Rápido [o jogo normalmente dura 15 minutos para cada jogador] e tradicional. 
Hoje temos uma imensa quantidade de GMs mulheres, mas ainda muito longe do masculino em quantidade. Entre os cem melhores jogadores do mundo temos apenas uma mulher, a chinesa Hou Yifan (lembrando que Judit Polgar, considerada a maior jogadora de todos os tempos, não joga mais).
Minha experiência de mais de 45 anos como professor e treinador de xadrez mostra que no início as mulheres dominam o jogo em quantidade e qualidade. Raras vezes eu tive um aluno que era claramente melhor do que as meninas. Porém, ao longo do tempo (geralmente perto dos 15 anos), os meninos continuam a treinar e a competir, enquanto a maioria das meninas para. As que não param mantem-se no mesmo nível em relação aos meninos. No entanto, após alguns anos, devido às desistências, o número de meninos jogando bem já é muito maior. 
Minhas aulas sempre tiveram uma proporção equilibrada entre meninos e meninas, mas às vezes alguns professores tendem a tratar os meninos e meninas de forma desigual, desestimulando a participação delas. Competições femininas separadas (onde fica claro que o motivo é “porque elas são mais fraquinhas”) também não contribuem para o desenvolvimento no jogo. Um dos preceitos das irmãs Polgar era só jogar torneios absolutos e, apesar de não terem se tornado campeãs mundiais absolutas, faziam parte da elite do xadrez.
Meu desejo é que mais e mais meninas aprendam e joguem xadrez, inclusive profissionalmente. E que não parem de jogar quando crescerem. Quanto mais jogadoras, maiores as chances que as mulheres se destaquem e conquistem a igualdade também num jogo tão primoroso, em que a peça mais poderosa é a rainha.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ATAQUES A JOANNA MARANHÃO SÃO PROVA DA INTOLERÂNCIA

Desde a semana passada, em posts que não têm nada a ver com as Olimpíadas Rio 2016, tem aparecido trolls com o único propósito de... xingar a nadadora Joanna Maranhão.
Eu deletei todos esses comentários, lógico, mas demorei a entender o ódio que alguns babacas têm dela. É por ela ser de esquerda. E por ela ser mulher. Desta forma, os ataques que recebeu de uma multidão reaça não foram apenas ofensas mil, mas também ameaças de morte e estupro.
Como se não bastasse a frustração e as críticas por não ter conseguido uma boa classificação em provas eliminatórias, Joanna ainda teve que aguentar uma turba ensandecida que tem o costume de xingar todas as pessoas de esquerda. Não foi um ou só ataque, mas milhares, do tipo preconceituoso que fez Rafaela Silva quase abandonar o judô após seu desempenho em Londres 2012. Se tivesse abandonado, não teríamos uma medalha de ouro hoje. E a culpa seria de todos os ridículos que a atacaram.
Joanna ficou abalada, e disse que processará alguns dos haters. Disse, também, algo que esses haters sabem muito bem -- que o Brasil é um país preconceituoso. Os reaças então decidiram fuçar no perfil de Joanna no Twitter algumas mensagens antigas, de 5 ou 6 anos atrás. E encontraram um ou outro tuíte homofóbico e gordofóbico. Esta é a estratégia deles -- em vez de admitirem que, de fato, tem um monte de preconceito e ódio no Brasil, e que isso é desastroso, vão procurar mensagens antigas que comprometam o alvo de seus ataques. É uma grande hipocrisia, pois eles se orgulham de serem preconceituosos. 
Joanna pediu desculpas pelos tuítes antigos, e os ataques contra ela continuaram. Apareceu até um jornalista para reproduzir num texto impresso o nível de virulência que a gente pensa só existir na internet.
Publico aqui um texto de Roselene Cândida, arquivista e mestranda em Ciências da Informação, que colaborou com outro guest post recentemente, e que está indignada com os ataques contra Joanna. 

A ginasta mexicana Alexa
Moreno foi massacrada nas
redes sociais por "estar gorda".
Detalhe: ela pesa 44 quilos
As Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro serão marcadas não somente pelas conquistas femininas em várias modalidades esportivas, como também pelo machismo contra as atletas. Mulheres que deveriam ser motivo de orgulho aos seus compatriotas, na realidade, são xingadas e maltratadas por eles, justamente pelo motivo por serem... mulheres.
Um dos maiores exemplos que está repercutindo negativamente na imprensa internacional são os ataques sexistas contra a atleta da natação Joanna Maranhão, referência na luta contra a pedofilia. Desde que começou a manifestar-se politicamente, Joanna virou alvo da intolerância e do ódio dos próprios brasileiros, que deveriam torcer por ela por mais medalhas e por mais amor.
Semana passada, a nadadora foi vítima de um ataque virtual, em que desejavam que ela fosse estuprada e morta. Gente que é do próprio país, que deveria respeitar uma mulher, incita e despreza alguém por ter se manifestado contra um impeachment fraudulento. E essa mesma gente diz que aqui não temos a cultura do estupro, que a Lei Maria da Penha é uma besteira inútil, que o Brasil não é um país machista...
A gota d’água foi o artigo do jornalista Flávio Quintela, do jornal paranaense Gazeta do Povo, publicado ontem, 11 de agosto. No texto, ele chama a nadadora de “Joanna-ninguém”, incitando o ódio contra ela e criticando os ícones de esquerda com um raciocínio totalmente virulento, machista e desnecessário. O twitter de Quintela contém frases de ódio contra a nadadora, como “Joanna Bagulhão” e até desdém pelo medo de ser processado por ela.

O nível de jornalismo de Quintela faz escola iniciada por Reinaldo Azevedo, o destruidor de reputações, seguido por Rodrigo Constantino, Felipe Moura Brasil, Rachel Sheherazade e outros em que a extrema direita tem se especializado em aumentar a intolerância contra quem expressar livremente suas convicções. Nível de jornalismo que representa as profundezas onde o esgoto alcança, fomentado por políticos brasileiros que precisam de pão e circo, e incentivado pelo guru Olavo de Carvalho, que nunca trata seus adversários sem recorrer a palavrões.
Muita gente ficou tão indignada com os ataques a Joanna e com o nível do artigo de Quintela que haverá um protesto amanhã às 14h em Curitiba, na véspera do Dia dos Pais, em frente à Gazeta do Povo. Até o momento, o número de adesões só está aumentando. Não sei se a Joanna está sabendo do artigo, mas com certeza ela tomará providências jurídicas a respeito. Ela foi ultrajada, insultada, e teve sua dignidade rebaixada por alguém que se autointitula jornalista.
As pessoas estão acordando e não aceitam caladas uma manifestação covarde, machista, contra uma nadadora que foi a primeira mulher brasileira a classificar-se nas eliminatórias de uma Olimpíada. Quem ataca Joanna Maranhão por se expressar politicamente está exercendo papel de ditador, pois a livre expressão está garantida na Constituição da República. Uma coisa é criticar, outra, bem diferente, é atacar covardemente. Algumas pessoas de direita, que juram que vivíamos uma "ditadura bolivariana" no governo Dilma, são as primeiras a defenderem uma ditadura de direita, exemplificada pela Escola Sem Partido, mais conhecida com Lei da Mordaça.
O direito de Joanna de se expressar politicamente jamais deve ser reprimido. O machismo de Quintela é a escória daquilo do que não se deve chamar de jornalismo, mas sim de jornalixo. O fiel aluno de Reinaldo Azevedo pode estar com os dias contados, se o combate ao machismo for eficiente.

segunda-feira, 7 de março de 2016

NÃO SER TÃO GOSTOSA: A DIFICULDADE DA MAIOR SURFISTA BRASILEIRA

"Praias não são passarelas e atletas não são modelos", diz Silvana Lima

Recebi esta ideia para post da Mariana Corrêa, uma fã amadora de surfe que "não entende muita coisa não, só acha o esporte lindo e admira quem pratica". 
Tive que fazer várias adaptações no texto, então não sei se é exatamente um guest post. Mas mantive a voz em primeira pessoa da Mariana sempre que possível. De toda forma, fica aqui minha gratidão por me informar sobre Silvana Lima. E alguém me explica como essa moça linda não é vista como linda?

Eu sempre vejo matérias sobre esse suposto padrão de beleza que querem que nós engulamos. No entanto, nunca pensei muito sobre o assunto. Acho revoltante, mas nunca tinha realmente parado para refletir. Aí vi uma matéria na BBC Brasil. 
Sabe, eu acompanho o surfe há anos. Quando li essa matéria, me deu um nó na garganta. Como os patrocinadores desse esporte podem ignorar o talento e dedicação de uma atleta por simplesmente ela não se encaixar em um padrão imposto por sei lá quem?
Infância sofrida: Silvana e seus irmãos
Silvana Lima é a melhor surfista do Brasil e um modelo de superação. Ela é de Paracuru, Ceará, e morava na beira da praia em uma barraca. Ela vendia adesivos para poder comer. O pai era pescador, mulherengo (Silvana tem outros vinte irmãos da parte de pai, além dos cinco com quem cresceu junto), e batia na mãe. Não sei sobre a profissão da mãe, mas tinha problema com álcool. 
A primeira prancha de Silvana foi um pedaço de madeira que ela mesma furou e colocou uma quilha. Prancha de verdade mesmo ela só teve aos 15 anos, presente de um dos irmãos. Ela não conseguia patrocínio e, para bancar as despesas das viagens para competir (imagina o preço das passagens para Austrália e Nova Zelândia, onde ocorrem as principais competições!), ela chegou a vender o apartamento, o carro, e as crias dos cachorros buldogues que ela tem. Com a vendas dos filhotes, conseguiu ir competir na Europa. 
Silvana mostra as cicatrizes decor-
rentes das cirurgias nos joelhos
Foi vice mundial duas vezes, em 2008 e 2009. Mas, em 2011, rompeu o ligamento do joelho esquerdo. Passou por várias lesões e cirurgias. Disse ela numa entrevista: "Sou muito guerreira. Depois de toda dificuldade que tive na minha vida, não eram três cirurgias que iam me derrubar".
Hoje com 31 anos e vivendo em Itabuna, Bahia, e treinando em Itacaré, Silvana foi capaz de tirar a família da cabana de praia e comprar uma "casa de verdade" para a mãe.
Mas ainda é muito difícil, porque os patrocinadores a ajudam apenas com material, e até recentemente, não com dinheiro. Enquanto surfistas brasileiros homens recebem o apelido de "Brazilian Storm" (Gabriel Medina, Filipinho Toledo, Miguel Pupo, Raoni Monteiro, Adriano de Souza e Alejo Muniz) por se destacarem no cenário do surfe mundial, Silvana, principal surfista feminina e talvez a melhor de todos os tempos no Brasil, fica de fora dessa descrição por ser mulher.
Ano passado os "meninos" foram falar no programa de Ana Maria Braga. Silvana não foi chamada: "Se a Brazilian Storm fosse formada por sete brasileiras e tivesse um homem ali por perto, é claro que iríamos incluir esse cara. Eles só pensam na mulher que eles vão pegar e não na mulher que está ali na batalha pelo mesmo objetivo. [...] Me sinto excluída. Sinto preconceito pelo fato de ser mulher".
Outras ótimas respostas de Silvana em entrevista
(clique para ampliar)
Agora para 2016 Silvana tem um bom patrocínio, que lhe garantirá disputar todas as etapas seis estrelas e duas viagens para treinamento, algo que não fazia há cinco anos. 
Hoje ela tem o patrocínio de uma marca grande, mas espero que seja reconhecida tanto por admiradores do surfe, quanto por jornalistas e pelos próprios surfistas, pela atleta exemplar e talentosa que ela é.
Confesso que acho surfistas como Alana Blanchard, Claudia Gonçalves, Maya Gabeira muito mais bonitas que Silvana Lima, talvez também por eu estar engessada nesse padrão imposto. Mas isso não me impede de ver o quão grande e maravilhosa essa mulher é no surf feminino. Surfista homem não tem que ser modelo para conquistar patrocínio.
Silvana com Fernanda Lima

Não estou querendo desmerecer as atletas que Silvana chama de modelinhos, todas essas que citei que acho bonitas são ótimas atletas também. Só me indigno com o fato de Silvana ser ignorada por não seguir esse padrão de beleza das outras. Como diz Silvana, ela é "surfista profissional, não modelo". 
É absurda a dificuldade de uma mulher como ela, "fora do padrão", num esporte dominado por homens. As mulheres já ficam em segundo plano no surfe e, por Silvana não ser a "loirinha surfista", fica mais fora ainda. Num lindo vídeo, Silvana disse que até poderia colocar silicone nos seios, pintar o cabelo, usar lentes azuis para os olhos, mas não seria ela.