Antes do Carnaval, Bolso editou normas para facilitar o acesso a armas e munições. Agora um cidadão autorizado pode adquirir seis armas de fogo cada (pra que alguém precisa de seis armas?!).
É bom lembrar que a maior parte da população (acima de 70%) é contra a flexibilização das regras de porte de armas no Brasil e discorda da afirmação do presidente de que é preciso armar o cidadão. Já somos o país campeão mundial em homicídios com armas de fogo. Mais de 80 organizações repudiaram os decretos. A campanha Não Somos Alvo lançou a mobilização As Armas que a Gente Precisa São as que Não Matam, visando pressionar o Congresso e o STF a barrar as medidas.
Como todo mundo sabe, o decreto de Bolso é para armar as milícias, para que elas possam blindá-lo e atacar os opositores quando o genocida quiser dar um golpe, como fez Trump agora em janeiro, comandando a invasão ao Capitólio. Naquela explosiva reunião ministerial de abril último, o genocida afirmou: "Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado".
O deputado bolsonarista marombado, preso ontem pela PF a mando do STF, já havia dito no ano passado: “Nosso trabalho é retirar esses do poder. Manter a governabilidade do presidente. Se o povo sair às ruas de fato, e resolver cercar o STF, o Parlamento... invadir mesmo, cercar lá e retirar na base da porrada". Mais claro que a intenção de armar os amigos do presida é promover um golpe de Estado, impossível. Reproduzo aqui o manifesto que o Instituto Sou da Paz publicou na semana passada, com a chegada do Carnaval e do decreto:
O Instituto Sou da Paz expressa indignação com os novos decretos que facilitam o acesso a armas de fogo. Novamente, o Governo Federal expressa seu desprezo pela ciência e sua falta de aptidão em dar respostas qualificadas aos maiores desafios do Brasil.
Algumas das mudanças trazidas preveem o aumento, de quatro para seis, do número máximo de armas de uso permitido para pessoas com Certificado de Registro de Arma de Fogo, a possibilidade de substituir o laudo de capacidade técnica – exigido pela legislação para colecionadores, atiradores e caçadores (CACs) por um “atestado de habitualidade” emitido por clubes ou entidades de tiro, a permissão para que atiradores e caçadores registrados comprem até 60 e 30 armas, respectivamente, sem necessidade de autorização expressa do Exército, além do aumento mil para 2 mil da quantidade de recargas de cartucho de calibre restrito que podem ser adquiridos por “desportistas” por ano.

Com esses decretos, já são mais de 30 atos normativos publicados nos dois últimos anos que levaram ao aumento recorde de armas em circulação no ano passado – contrariando todos os cientistas que dizem que mais armas em circulação no Brasil nos levarão a uma tragédia em perda de vidas e deterioração democrática. Dados preliminares de 2020 já indicam que houve um aumento nos homicídios mesmo em ano de intenso isolamento social. Este governo parece ter conseguido reverter a pequena queda que tivemos a partir de 2018 e conquistada a muito trabalho.

Além disso, o momento em que esses novos decretos são publicados é muito emblemático. Sexta-feira de um carnaval em que nossa festa identitária foi cancelada porque temos uma pandemia fora de controle e 230 mil famílias de luto pela falta de uma política nacional para gerir uma resposta coordenada. Um dia em que milhões de empresários refazem suas contas em busca de um milagre com a economia parada vendo avançar mais um ano sem turistas, mais um ano sem serviços. Um dia em que milhões de trabalhadores apertam os cintos vendo suas rendas sumirem com o país à espera de um milagre.
A única resposta que o Presidente da República conhece é liberar armas.
Não consegue implementar um plano de segurança pública apoiando os estados e as instituições policiais em escala nacional? Publica decreto de armas. Não consegue dinamizar a economia metendo os pés pelas mãos dia sim dia não? Publica decreto de armas. Não consegue criar soluções de escala nacional para as milhões de crianças que estão há um ano quase sem estudar? Publica decreto de armas. Não consegue comprar vacinas de forma coordenada salvando vidas? Publica decreto de armas.
Nessa mórbida política de pão e circo, já nos tiraram o pão. Resta ver quem ainda consegue rir.