Mostrando postagens com marcador 127 horas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 127 horas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

VOCÊ TEM MENOS DE 127 HORAS PRA PARTICIPAR DO BOLÃO

- Alguém me tira daqui pra eu poder participar do bolão do Oscar?

Participe! Você pode apostar no bolão não-pago, no pago, ou nos dois. Eu ia fazer alguma piadinha como "Se não participar seu braço vai despencar", mas acho que seria de mau tom, sem dizer que pode ser considerado meio spoiler. Então digo apenas que você pode cair num vão entre duas montanhas e ficar preso lá um tempão caso não participe do bolão.
Suas últimas horas pra apostar são agora! E não é por que James e seu filme não tenham chances que você vai ficar de fora, né? Chance de ficar na frente da Lolinha no bolão: praticamente nula. Chance de gostar de ver a entrega do Oscar participando do meu tradicional bolão, na sua 23a edição: enorme.
Vamos lá, participe dos dois (do pago e no não-pago), que as apostas acabam hoje. Amanhã enviaremos uma tabela com as apostas de todo mundo (que deixou email), e colocaremos também um link pra tabela aqui no blog. Não se preocupe, que você poderá acompanhar as apostas vitoriosas da Lolinha passo a passo. (Ha ha. Pra falar a verdade, estou super indecisa).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CRÍTICA: 127 HORAS / Empatia, só pelo James Franco

Infelizmente não poderei ir aí te salvar, James.

Pelo que vi, todo mundo adorou 127 Horas ― menos eu. Não é que eu tenha detestado o mais recente filme de Danny Boyle (Oscar por Quem Quer Ser um Milionário, e brilhante por Trainspotting), longe disso, só não achei nada de mais. Lógico que o drama (baseado em história real) sobre um carinha que passa cinco dias e uns trocados preso num vão de montanha nos EUA é interessante. Como poderia não ser? E é mérito do diretor que um ambiente claustrofóbico em que muito pouco acontece, com poucos diálogos, prenda nossa atenção em todos os momentos. E mérito maior ainda, talvez, do lindo James Franco (namorado do protagonista em Milk, melhor amigo e maior rival do herói do Homem-Aranha), fazer com que a gente empatize com alguém que, na minha opinião, não deveria estar lá. Porque sabe quando eu seria pega escalando uma montanha ou pulando de precipícios em lugares desertos e inóspitos? Bom, nunca diga nunca -- talvez se eu fosse sequestrada e largada num desses locais, ou se meu avião caísse e eu tivesse que sobreviver. Mas euzinha sair do meu conforto de cidade grande, com geladeira, água gelada e supermercado próximo pra me aventurar no meio do nada? Jamais! E é aquele negócio: se você pratica um esporte radical desses, você está se colocando em situações de risco. E poupe-me, por favor, do discurso “Viver é uma situação de risco. Atravessar a rua é um risco. Você pode morrer a qualquer momento” etc. Digamos que ir sozinho pra natureza selvagem, sem avisar ninguém, e sem equipamento muito adequado, aumenta os riscos, né? E as pessoas que praticam esses esportes praticam exatamente pelos riscos. Pela adrenalina que dá. E por se colocarem nessas situações de risco consideram que nós, aversos a riscos e que gostamos de conforto e água gelada, somos uns manés. Por isso, permita-me não ter tanta empatia por pessoas que sofrem acidentes em atividades onde acidentes são esperados (e empatia zero por colocar em risco outras pessoas que irão ao seu resgate porque você se põe em situações de risco pra fugir do seu cotidiano monótono. Eu gosto do meu cotidiano monótono! Viva a minha vidinha! Yay! Uhú! Acho que vou comer um chocolate pra comemorar).
Mas a gente tem toda a empatia do mundo pelo James Franco. Não só por ele ser lindo de morrer, se bem que isso ajuda. Ele passa toda uma aura simpática. Seu personagem é querido. Note como ele se relaciona com as moças que encontra pelo caminho. Ele não é ameaçador, nem quando as enfia num vão entre duas montanhas que se mexem e de onde elas só podem sair nadando (aliás, não entendi como alguém sai vivo de lá, mas isso daria outro filme). Li que Boyle queria o Cillian Murphy no papel, e o Cillian tem um olhar meio psicopático, como se pode conferir em Vôo Noturno e Batman Begins (ele faz o Espantalho). Não deu certo, e Boyle pensou no Ryan Gosling (A Garota Ideal), excelente ator também, mas com um ar um pouco arrogante. E James é pura bondade. Mas, apesar d'ele me fazer querer passar cinco dias sem água num precipício escuro com ele, não me parece material pro Oscar. Deve ter havido outros papéis masculinos mais bacanas no ano, não? E James ainda fará montes de filmes e certamente ganhará suas merecidas estatuetas.Enquanto via o filme, me lembrei de um documentário fascinante que vi graças ao meu irmão, anos atrás, chamado Touching the Void (Tocando o Vazio, 2003). Dois alpinistas enfrentam uma montanha nos Andes peruanos; um deles cai, quebra a perna, e fica pendurado na corda do parceiro, que deve decidir o que fazer: ficar lá pros dois morrerem de frio e fome ou romper a corda e safar-se, sacrificando o amigo? Pra mim essa questão existencial é um no brainer, como se diz nos States, não precisa pensar muito pra decidir. Mas, como eu disse, não sou a pessoa adequada pra opinar, porque eu nunca estaria presa com uma corda a um alpinista. Será que ainda tem chocolate aqui em casa pra comemorar?
O problema desse tipo de filme que lida com a força do espírito humano (e agora, pensando em chocolate, lembrei que, no quesito vencer desafios, o que está reservado ao “heroísmo” das mulheres é fazer dieta pra emagrecer. A força de vontade nos faz sobreviver comendo 500 calorias por dia em situações de fartura) é que ele é extremamente previsível. A gente sabe tudo que vai acontecer: a pessoa sofrerá, pensará em morrer, lutará e, no fim, triunfará. Porque senão não viraria livro nem filme. Uma das poucas vezes que vi história real transformada em filme com final infeliz (o espírito humano não triunfa) foi em Mar Aberto. E só faltou os espectadores incendiarem o cinema. Eles se perguntavam: pra quê a gente veio ver isso? (ninguém tá nem aí pro triunfo dos tubarões, né?).
Mas em 127 Horas não tem tubarões. Nem escorpiões, nem cascavéis, bichos que parecem combinar com aquela decoração. O ambiente pode ser inóspito, mas pelo menos é limpinho ― tanto quanto a ilha de Náufrago onde Tom Hanks passa alguns anos. Em 127 há apenas formigas. Uma formiga, pra ser mais exata. E ela nem perturba muito o James. E o filme apresenta suas inovações, como o protagonista beber seu próximo xixi, mas quer saber o que mais chocou o público americano, tão conservador? Que tem uma hora em que o carinha pensa em se masturbar. Gente, ele não tem muitas opções de lazer!
O que mais me incomodou na trama foram duas coisinhas. Uma, que no final um detalhe é tratado como premonição. Premonição carrega tons fortes do sobrenatural, e não cabe na história. A outra é que, em algumas partes, eu não sabia o que James estava fantasiando e o que acontecia de fato (essas fantasias funcionam maravilhosamente bem em Cisne Negro e A Origem. Aqui não). Ok, sei que é proposital, mas essa dúvida faz colocar em xeque tudo que ocorre, inclusive quando ele finalmente se salva. Por exemplo, a cena da chuva. Choveu? Ele quase foi afogado? Ou nem choveu? Isso tira a força dos fatos reais.
Essa conversa me deu sede. Vou lá na cozinha pegar um copo de água gelada.