segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O PRIMEIRO DEBATE DEIXOU A DESEJAR E FOI MARCADO PELA MISOGINIA

Ontem aconteceu o primeiro debate (veja aqui a íntegra) dos presidenciáveis, na Band. Não foi exatamente bom, nem Lula foi muito bem. 

O debate foi marcado pela misoginia. A jornalista Vera Magalhães perguntou a Ciro, com um comentário de Bolso, se o negacionismo durante a pandemia pode ter afetado as campanhas de outras vacinas (o que é óbvio que sim: o Brasil era craque em vacinação infantil, e depois do genocida, não é mais, o que abre as portas para a volta de várias doenças que haviam sido erradicadas). 

Quando chegou a vez de Bolso falar, ele simplesmente atacou, numa postura inconcebível para um presidente (mas normal para um presidente misógino e que odeia a liberdade de imprensa): "Vera, eu acho que eu não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro". 

O negócio foi tão violento e repulsivo que me rendeu um pesadelo de madrugada (falando sério!). Sonhei que estava num debate e Bolso falou pra mim que eu era obcecada por ele. Eu passei mal e vomitei na cara dele.

Voltando à realidade, a coordenação do debate errou ao não reprovar publicamente a atitude de Bolso. Não é possível uma jornalista ser xingada dessa forma. Lógico que não é a primeira vez nem será a última. Esta é a tônica do pior governo de todos os tempos. Muita gente não gosta da Vera, que sempre foi antipetista e lavajatista, mas não dá pra aceitar uma coisa dessas.

Dá pra ver no vídeo Ciro gargalhando (e depois balançando a cabeça) ao ver e ouvir o ataque de Bolso a Vera. Ciro teve vários piores momentos no debate, mas acredito que este foi o pior. Ele foi o primeiro que poderia ter condenado o ataque, mas não: em vez de se solidarizar com Vera e colocar Bolso em seu lugar, Ciro decidiu condenar o PT pela polarização e os ataques. 

Pra falar a verdade, Ciro tratou Bolso com muito mais carinho do que tratou Lula. Ele só se exaltou depois de Bolso citar Patrícia Pillar. Mas começou assim:

[Leão Serva]: O próximo a perguntar é o candidato Jair Bolsonaro. Candidato, pra quem pergunta?
[Jair Bolsonaro]: Quem tá sobrando aí?
[Leão Serva]: A senadora Simone Tebet e Soraya Thronicke. O Ciro Gomes também.
[Jair Bolsonaro]: Vou perguntar pro Ciro, ter um papo sobre mulher aqui, Ciro. 

Bolso não quis perguntar pra nenhuma das duas candidatas "sobrando", Simone Tebet (MDB) ou Soraya Thonicke (ex-PSL, eleita senadora no rastro bolsonarista, agora no União Brasil), e escolheu Ciro pra falar de mulher! Para tentar fingir que se importa com as mulheres (disse o abestado: “faço muita coisa pelas mulheres, hoje fizemos o dia do voluntariado”. Como lembrou uma leitora, a Alana, "Realmente se tem uma coisa que define a vida das mulheres nesse país é o trabalho não pago!"), Bolso mentiu sobre ser o criador da Casa da Mulher Brasileira, uma das marcas de Dilma. 

Ciro citou a famosa frase machista de Bolso sobre a "fraquejada", e Bolso citou a famosa frase machista de Ciro (sobre a importância de Patricia Pillar, então sua esposa, ser dormir com ele). Ciro então devolveu com alusões às rachadinhas: "Você corrompeu todas as suas esposas, todas elas estão envolvidas em escândalos, corrompeu seus filhos".

Mas parece que tudo acabou bem entre os dois. Tanto que Ciro foi a única pessoa que Bolso abraçou no final do debate. E hoje de manhã Ciro atacou a saúde de Lula num tuíte, e depois apagou. Pegou mal pacas. 

Pra variar, Bolso mentiu adoidado (aqui algumas mentiras do Mentiroso da República). Talvez sua maior mentira de ontem tenha sido: "Tenho certeza: uma grande parte das mulheres do Brasil me amam". Não só a maior parte das mulheres do Brasil odeiam Bolso, como ele sabe disso muitíssimo bem. E se tinha alguma mulher desavisada, após o debate de ontem, não deveria ter mais. 

Uma das mentiras vai colocar Bolso em maus lençóis. No final do debate, em que citou "Deus, Pátria, Família e Liberdade" (um lema fascista), ele inventou que Gabriel Boric, atual presidente do Chile, praticou "atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile". Boric e o país que ele governa ficaram revoltados, e com razão. O embaixador já foi chamado, e pelo jeito Bolso provavelmente terá que se retratar. 

Bolso também repetiu o que as fake news do Gabinete do Ódio espalham há anos: que o governo de Lula roubou 990 bilhões da Petrobras. Qualquer ser pensante vê que é mentira, já que a estatal vale 452 bilhões (a PF calcula R$ 42,8 bilhões em esquemas investigados pela Lava Jato). Mas Lula não respondeu, ou pelo menos não respondeu como devia. Na sua primeira participação no debate, ele pareceu ter se confundido com o tempo.

Lula não foi bem. Seu melhor momento foi ao responder as críticas de Soraya: "Você não viu mudança [no meu governo], mas o seu motorista viu, o seu jardineiro viu, a sua empregada doméstica viu. No meu governo, o pobre vai voltar a ser tratado com respeito, a ter emprego de verdade, a ser tratado com dignidade".

Eu achei que ele errou feio ao não se comprometer em garantir metade das mulheres no seu futuro ministério, como pediu uma jornalista da Folha. Dizem que ele não entendeu a pergunta (pensou que ela estivesse falando de paridade de gênero no STF), mas, de todo modo, sua resposta foi bem ruim ("você vai indicar as pessoas que têm capacidade pra assumir determinados cargos"). Não foi a primeira vez que ele foi cobrado. Por que não se comprometer, oras? Boric fez isso no Chile. Candidatos petistas, como Haddad em SP e Elmano no Ceará, já se comprometeram. Pô, qual a dificuldade de cada um dos dez partidos que apoiam Lula recomendar uma ou duas mulheres para o ministério, em vez do festival de homens brancos de sempre?

Foi uma bola fora de Lula, ainda mais num debate em que a misoginia de Bolso deu o tom. E claro que Simone Tebet se comprometeu com a paridade! É fácil pra uma candidata que tem menos de 4% dos votos e nenhuma chance de ser eleita se comprometer. Mas ainda dá tempo, Lula!

Ah, outro bom momento de Lula foi quando ele disse a Bolso: “Eu fui preso para que você fosse eleito presidente mas depois fui inocentado. Mas vou vencer agora para em uma só canetada ver o que você tanto quer esconder!” No começo Bolso chamou Lula de presidente. Deve ter sido advertido pela equipe, e depois passou a chamá-lo de ex-presidiário. Se eu fosse o Lula, responderia chamando o genocida de futuro presidiário.

Segundo pesquisa Datafolha realizada durante o evento (com apenas 60 pessoas), Tebet ganhou o debate. Ela teve 43% dos votos, Ciro 23%, e Bolso e Lula, 10% cada. Para 51% dos entrevistados, Bolso foi o pior. 21% consideraram Lula o pior, e Soraya, 14%. Já um levantamento da Quaest nas redes sociais apontou que Bolso, Felipe D'Ávila e Soraya lideraram menções negativas. Sobre D'Ávila, concordo com a opinião da atriz Maria Bopp: "Impressiona como o Partido Novo conseguiu arranjar um candidato ainda mais tosco do que o Amoedo". 

Muita gente reparou que não houve um só negro ou negra (como candidato ou jornalista), e nenhuma pergunta sobre igualdade racial ou racismo, o que sem dúvida é uma ausência gravíssima.

Hoje vi bolsonarentos (robôs em sua maioria) cantando vitória e afirmando que "Lula apanhou mais que mulher de malandro" -- quer dizer, eles sabem que são misóginos e se orgulham disso. Ainda bem que nós mulheres vamos chutar seu candidato misógino pra bem longe. Agora, se Bolso foi tão maravilhosamente bem no debate de ontem como (só) seus seguidores pregam, por que sua equipe disse que ele não deve participar dos próximos debates?

10 comentários:

avasconsil disse...

Lula não se comprometeu a compor metade do ministério com mulheres mas ele sinalizou que pode nomear mulheres pra as vagas que surgirem no Supremo. Rosa Weber e Lewandowski completam 75 anos ano que vem. Acho que o STF nunca teve uma ministra negra. Lula pode indicar a desembargadora federal Neuza Maria Alves da Silva, que é desembargadora federal do TRF-1. Também da Bahia, tem uma promotora de justiça chamada Lívia Sant'Anna Vaz, reconhecida como uma das 100 pessoas de ascendência africana mais influentes do mundo. Ela trabalha contra o racismo e a intolerância religiosa lá no ministério público da Bahia. Além de tudo ela parece ser relativamente nova, tipo uns 40 e poucos anos. Ainda teria muitos anos de Supremo pela frente. Não foi por machismo que Lula não quis assumir o compromisso. Ele ganhando mesmo, vai ter que dar ministérios ao União Brasil e ao MDB também. Não é tão fácil assim nomear ministro ou ministra. Nem Dilma, que é mulher, nomeou metade do ministeriado com mulher. Se ele indicar uma Lívia Vaz pro STF, já vai ser uma grande coisa. Uma mulher negra defensora das religiões de matriz africana. Os evangélicos iriam odiar. Mais um bom motivo pra ela ser indicada... Tem muito vídeo dela no YouTube. Quem procurar vai achar.

Luise Mior disse...

Valeu Lola por postar suas impressões do debate. Odeio o Ciro por ficar se alinhando com o tchutchuca do centrão e recebendo em resposta uma das patadas típicas dele. Ninguém que tem 2 neurônios funcionando atualmente e acesso a informações pode querer se alinhar ao tchutchuca do centrão,ele trai todo mundo no caminho e não defende ninguém. Lula foi meio apagado,mas penso atualmente que é melhor assim pois enfatiza o antagonismo que ele tem frente ao bobo da corte. Precisamos de seriedade e respeito atualmente,não de "mitadas". Abraços e boa semana.

avasconsil disse...

Quanto mais o tempo passa mais à mostra fica o péssimo caráter de Ciro Gomes. Ele ressuma arrogância por todos os poros. E é tão hipócrita que não hesitou em adotar a estratégia de usar a corrupção do PT contra o partido, quando aqui no Ceará até as pedras sabem que os Ferreira Gomes ficaram riquíssimos na base da ladroagem. O ministério público pouco faz, pois é o governador quem nomeia o procurador geral de justiça. Além disso, é dando que se recebe (um ministério público duro com um governo não receberia verba pra construir as novas sedes pra as promotorias, na capital e no interior do estado. Nem poderia dar 1 milhão de reais em cadeiras ergonômicas pra suas excelentes majestades....). Nesse ponto Simone Tebet é igual. Se importa tanto com a corrupção que não fez questão de sair do talvez o mais corrupto dos partidos, envolvido nos esquemas desde antes da redemocratização. Entra governo sai governo, tá lá o MDB metido no meio, da ladroagem inclusive. Aqui no estado o tribunal de justiça pegou fogo ano passado e está em reconstrução agora em ano eleitoral. No ministério público também há um show de obras públicas. Quem é que vai investigar se não há caixa 2 pra a campanha de Ciro Gomes e outros do mesmo grupo, como Roberto Cláudio? Ninguém vai. Roberto Cláudio, candidato de Ciro ao governo do estado, gastou rios de dinheiro com obras de mobilidade urbana, que beneficiaram principalmente os bairros mais ricos da cidade e, por tabela, as empreiteiras que vão lucrar construindo nesses bairros. Quem é que vai investigar os caixa 2 e o embolsamente de dinheiro público por políticos e particulares com essas obras? Infelizmente ninguém. E é esse pessoal que agora tá levantando a bandeira anticorrupção. Nenhum deles é melhor que Moro ou Dallagnol. São todos um bando de hipócritas sanguessugas. Pra completar, Ciro Gomes andou dizendo que os LGBTs têm que entender que o povo brasileiro é conservador, e aceitar esse fato, num aceno claro de que ele estava virando a casava, da esquerda pra a direita. Ele quer ser um Bolsonaro instruído. Simples assim. Por suas ambições políticas, pode-se esperar dele tudo e qualquer coisa.

Anônimo disse...

Ciro é tão misógino quanto o Bozonauro.

Anônimo disse...

Bolsonaro foi bem, exceto na treta com a Vera. Ciro foi bem também, mas a melhor foi a tebet, parabéns a mais uma mulher forte nos cargos importantes do país.

Gintoki Sakata disse...

Cara, só vou dizer uma coisa: se a Vera Magalhães (que eu tenho mais diferenças com semelhanças) desse um tapa na cara no Burro da República, não seria tão mal.

Cão do Mato disse...

Pra quem está colocando a Tebet num pedestal, só um lembrete: ela é do MDB.

avasconsil disse...

O inominável foi bem. Bem escroto. Mas nem precisava o debate ter acontecido pra se saber que seria assim.

avasconsil disse...

Favelado - ou seja, gente pobre - não tem inteligência pra alcançar e acompanhar o QI do gênio. Nesse e noutros pontos, Ciro Gomes não é muito diferente de um Paulo Guedes. E do testa de ferro de Guedes... Todos eles pensam que pobre é farofeiro, sujo e burro, a ponto de não saber que a partir de janeiro de 2023, sabe-se lá por quanto tempo, se depender do governo que propôs um auxílio de 200 reais em 2020, os 405 reais não vão voltar aos 600. Vão ter que praticar a "austeridade fiscal". Contra os mais pobres e contra a classe média. O importante é o BTG Pactual e o André Esteves não terem perdas com seus investimentos.

https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/08/31/ciro-gomes-firjan-empresarios-comicio-preparados-favela.htm

avasconsil disse...

Quem sonha com se tornar professor concursado de alguma instituição federal de ensino, se o inominável for reeleito, esqueça. Vão ser minguados os concursos que dependam diretamente do poder executivo.

Vai ter concurso público? Bolsonaro disse a empresários e líderes do setor de comércio e serviços que pretende "evitar" a abertura de novos concursos públicos em 2023, caso seja reeleito, para "proteger o servidor" já na ativa. "Vamos evitar concursos públicos até para proteger atuais servidores. Muitos jovens ficam chateados, mas a máquina está no seu limite", justificou Bolsonaro, ao responder uma pergunta sobre uma eventual reforma administrativa. O postulante à reeleição também colocou a responsabilidade da aprovação de uma reforma a respeito do tema sob o poder Legislativo, mas disse que ano que vem pretende discutir reajustes salariais para determinadas categorias, como para a Polícia Rodoviária Federal... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/08/30/jair-bolsonaro-sabatina-unecs.htm?cmpid=copiaecola