segunda-feira, 8 de março de 2021

A PANDEMIA CASTIGA AINDA MAIS AS MULHERES

Em pleno Dia Internacional da Mulher, as primeiras coisas que vi na internet foram tão absurdas que pareciam piada. 

Primeiro, a Folha de SP noticiou numa manchete que o prefeito de Natal, um tal de Álvaro Dias (pensei que os políticos com esse nome fossem do Paraná), do PSDB, estava afrouxando as regras para conter a covid. No entanto, sabe-se lá porquê, o jornal resolveu ilustrar a notícia com a foto de Fátima Bezerra (PT), que não é negacionista como o prefeito. E tem mais: Fátima é a única governadora do Brasil, o que já demonstra uma total falta de representatividade. 

Segundo, a fabricante da armas de fogo Taurus anunciou o lançamento de -- rufem os tambores -- um revólver cor de rosa. Agora sim a violência contra as mulheres vai acabar!

E a terceira barbaridade é imbatível. O pior presidente de todos os tempos, um misógino-mor que ficou conhecido nacionalmente depois de ameaçar uma colega deputada dizendo-lhe "Você não merece ser estuprada", vai se filiar ao PMB (Partido da Mulher Brasileira). Bolso concluiu que é mais fácil e barato comprar um partido que criar um (o Aliança entra na conta de sua inquestionável incompetência). Depois de acabar com o nanico PSL, agora será a vez de liquidar o mais nanico ainda PMB. Lógico que a primeira medida será trocar o nome do partido, porque esse negócio de mulher não tá com nada. 

Mas não é sobre nada disso que eu queria falar. 8 de março é dia de luta, de celebrar conquistas, de fazer denúncias, de tentar conter retrocessos. Como estamos no meio de uma pandemia que, pelo jeito, ainda vai ceifar vidas e atrapalhar nossas lutas por bastante tempo, é fundamental pontuar que esta crise sem precedentes atingiu mais diretamente as mulheres. Não só daqui, mas de todo mundo. 

Só na questão do trabalho, a pandemia representa o retrocesso de uma década na participação feminina na força de trabalho da América Latina. Segundo o relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), muitas mulheres tiveram que deixar o mercado do trabalho para cuidarem de seus lares. A participação das mulheres, que foi de 52% em 2019, caiu para 46%. O órgão estima que 118 milhões de latino-americanas estão em situação de miséria, 23 milhões a mais que no ano pré-pandemia. 

E não apenas as mulheres são maioria entre os desempregados, mas também entre as pessoas que desistiram de buscar trabalho. A excelente revista Gênero e Número lembra como a pandemia "escancarou séculos de desigualdades, especialmente no mercado de trabalho". Já no terceiro trimestre do ano passado, 51% das brasileiras estavam desempregadas e 64% estavam fora da força de trabalho.

Eu estava aqui escrevendo, mas tive que parar pra comemorar o Lula elegível! Parece que acordei de um pesadelo e voltei a sonhar! Respira, respira... 

Como explica este ótimo artigo da Inesc, as mulheres negras são as mais afetadas pelas consequências da pandemia no Brasil. Por isso foi um desastre quando o auxílio-emergencial, que só foi conquistado graças à pressão do povo, já que o governo era contra, foi interrompido. Agora ele vai voltar fraquinho. 

Como são as mulheres que ocupam o setor do cuidado e postos de trabalho como hotelaria, serviços, guias de turismo, comércio, trabalho doméstico, são elas as mais afetadas pela pandemia e pelas medidas sanitárias para combatê-la. Uma pesquisa recente indicou que 50% das brasileiras passaram a cuidar de alguém neste período de distanciamento social (idosos, pessoas com necessidades pessoais, monitorar as crianças que não podem ir à escola). 

E não se pode esquecer também que as mulheres não apenas estão trabalhando mais durante a pandemia (pois pode ter que ser mãe em tempo integral ao mesmo tempo que trabalha fora, ou em home office), mas também a violência doméstica aumentou. 

É por tudo isso, pelos castigos maiores que a pandemia traz para as mulheres, que precisamos de políticas especiais que visem justamente a recuperação feminina. Quando as mulheres penam, a sociedade inteira sofre. Só com a diminuição da desigualdade podemos ter um mundo mais justo. Isso sempre foi óbvio, mas ficou mais óbvio agora com a pandemia. 

E não é que esse dia tão importante acabou com uma boa notícia? Chega logo, 2022!

6 comentários:

Jaime Guimarães disse...

Lola, sem dúvida. As minhas colegas professoras, principalmente da rede particular, viram a carga horária triplicar com as demandas do ensino remoto e trabalho doméstico, e ainda toda essa violência contra as mulheres que aumentou no período.

Unknown disse...

Fátima bezerra tá sendo uma guerreira... infelizmente meu estado RN tá virando um antro de facista evangélicos... Aki na minha cidade em Mossoró o prefeitto alyson bezzera... mandou reabrir as igrejas... já querendo votos dos crentes.. para agradar tá difícil... aki já tá um colapso um terror... eh ainda tem essa misoginia contra a melhor governadora desse estado miserável é pobre...

Unknown disse...

Nem fala Lola, aqui, do front de batalha das mulheres migrantes a violência doméstica não só aumentou, ela também se intensificou. Se ante da pandemia, de 10 mulheres em situação de violência doméstica que eu atendia, 3 sofriam também violência física, agora são pelo menos 4 e quase 35% a mais de casos. O baque, todavia, mais forte foi com as crianças. Entre 10 mulheres com filhos atendidas antes da pandemia, apena em um caso havia violência doméstica direcionada diretamente para os pequenos. Agora é na mesma proporção de mulheres agredidas fisicamente, 4. E aí se incluem violência psicológica (gritos, humilhação, xingamentos, chantagem, deixar trancado sozinho em quarto escuro...), a física e a violência sexual. A pandemia tornou o já restrito mundo social das mulheres migrantes ainda mais pequeno, cercado e lotado de violência. Realmente, vem logo 2022.

Anônimo disse...

O homens são a maioria das pessoas mortas pelo corona vírus, as estatísticas mostram isso.

Anônimo disse...

Bolsonaro decretou: cada brasileiro poderá ter até 60 seringas mais 5000 doses de vacina por ano. Faz seringuinha com a mão!!!

https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2021-02/governo-altera-decretos-para-ampliar-acesso-armas-e-municoes

#NossaVacinaÉdeChumbo

Anônimo disse...

Romeu Zema: “Nós precisamos que o vírus viaje um pouco”
https://vimeo.com/408965367