Hoje publico o relato de Daniel, um brasileiro que mora há muitos anos em Seattle, no estado de Washington. A cidade, conhecida por suas inovações tecnológicas, é vista como o marco zero da covid-19 nos EUA.
Meu pai era professor de física em escolas particulares no Rio, mas decidiu levar a família toda pra Inglaterra em 1990 adivinhando que o Collor ia fazer merda. Voltamos em 1996 mas não nos adaptamos. Moro em Seattle já faz 23 anos, onde meu pai teve pizzaria e restaurantes.
Sou carioca, casado com uma mulher de Goiás que conheci aqui. Embora saí muito novo do Brasil, sou brasileiro 100%, mas admito que às vezes me sinto um pouco um homem sem pátria. Estudei sociologia, mas não terminei meus estudos.
Hoje sou representante de vendas pra uma companhia local de telhados. Eu visito em média 3 a 4 donos de casa por dia. Eu gosto porque meu território é a parte central de Seattle, onde a maioria das pessoas são cultas e de cabeça aberta. Tenho altos papos com meus clientes e a maioria odeia o Trump.
Como ainda tenho família no Brasil, gosto de me informar sobre o país e a política. Mas, toda vez que visito o Brasil, sempre me assusto com a desigualdade social, o machismo, o racismo casual. De qualquer jeito, o Brasil é sem dúvida um lugar especial.
O estado de Washington foi onde houve supostamente a primeira morte de Covid-19 nos EUA, na cidade de Kirkland, no dia 29 de fevereiro.
Em menos de uma semana, Microsoft, Amazon e muitas outras companhias mandaram seus funcionários pra casa. O governador baniu encontros sociais, espirituais e de recreação com mais de 250 pessoas no dia 11 de março. Dia 12 fechou todas as escolas.
Dia 15, ele fechou todos os restaurantes, só permitindo entrega ou take out. O grupo para encontros caiu pra no máximo 50 pessoas. No dia 23 de março o governador anunciou a ordem de "ficar em casa" por duas semanas. Depois esse prazo foi prolongado até 4 de maio.
Mais tarde ele avisou que a quarentena continua além de dia 4. Nesse tempo todos os trabalhos considerado essenciais continuaram. Muitos supermercados têm limitação pra pessoas entrarem. Em todos os caixa foram instalados uma proteção de plástico entre o cliente e o funcionário.
Interessante (e na verdade eu concordo) foi que as lojas de maconha ficaram abertas. Existem mais de 100 no estado e muita gente depende da erva pra dores crônicas, depressão, etc.
Todos os parques foram fechados, mas a saída de casa pra exercitar foi permitida usando o distanciamento social de 6 pés.
"Quando o mundo para": capas da revista Time em 19 de março |
Foi banido qualquer pessoa ser despejada por falta de pagamento de aluguel ou hipoteca. E eles também não podem te denunciar e estragar o seu crédito (que e importantíssimo no EUA).
Ninguém vai ter energia, água ou esgoto cortado também.
A maioria das pessoas já receberam dinheiro do governo, 1.200 dólares por pessoa e 500 dólares por criança pra quem ganha menos de 150 mil dólares por ano.
Sem teto em Seattle |
Então uma família com duas crianças que ganha 60 mil por ano recebeu 3.400 dólares. O governo local tem tentado ajudar também com muitas vouchers pra comida. Mas é claro que, sendo um país capitalista, existem muitas falhas.
Até agora foram 16.230 casos e 891 mortes no estado de Washington. Mas, como no resto dos EUA, o número de testes é um problema, ainda mais quando comparado com países como a Coreia do Sul.
Mas eu acho que o governador tem feito muito melhor do que muitos outros, inclusive ele brigou feio com Trump sobre a pandemia e o criticou bastante. O país já passou das 80 mil mortes por covid, um número que poderia ser menor se Trump não tivesse negado a pandemia por tanto tempo.
Meu dia a dia durante a quarentena tem sido consistente porque eu tenho seguido o isolamento.
Eu tenho uma filha de 4 e um filho de 2 então é alimentar, brincar, levá-los pra caminhar em volta de casa, que é o típico subúrbio americano classe média, pacato e silencioso. Brinco com eles no quintal, leio pra eles. Tenho cozinhado muito também.
As únicas vezes que saímos foram pra comprar comida, e outra duas vezes, uma pra ver as cerejeiras florindo na Universidade de Washington, e a outra vez pra ir numa vista da Space Needle (uma torre de observação da cidade), que estava liberada. Nesses dois lugares o número de pessoas era pequeno e não tinha ninguém muito perto. Tem sido ótimo ter mais tempo com as minhas crianças.
Começo a trabalhar semana que vem, mas sem contato físico com clientes. Irei lá pra ver o telhado, converso com os clientes por telefone e depois mando o orçamento via e-mail.
Aviso em loja fechada: "Isso também vai passar" |
Um comentário:
Lola você viu o teeet da casa branca sobre a vitória da segunda guerra mundial, o Trump só parabenizou o EUA e a Inglaterra e não os outros países que lutaram.
Link.: https://youtu.be/Yq6h2gu7IUI
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